terça-feira, dezembro 16, 2008

CDS

Se o Portugal do 25 de Abril fosse uma folha em branco ou um jogo de estratégia com as condicionantes por definir, podia agoirar-se ao CDS bom futuro. À esquerda o PS seria o partido com vocação de governo, à direita o CDS um clássico partido de expressão cristã-democrata, com vocação europeia, tal como o PS, e ao centro o PPD de então seria um pequeno partido liberal, urbano, tecnocrático, possibilitando, através de alianças e sempre que necessário, soluções de governo maioritárias.

Mas em Portugal não existiu uma transição negociada sob a égide de um qualquer sector reformador do poder de então. A ter existido – esse sector -, ele tinha sido derrotado em 1973. A guerra colonial, fundamentalmente, onde se ancoravam os ultras do regime, terá inviabilizado, em última análise, tal solução e a ruptura revolucionária foi inevitável. Assim sendo, os partidos cresceram na rua e a rua determinou a exclusão do CDS dos governos provisórios, como preço a pagar pelos equilíbrios necessários à viabilidade democrática, viabilidade essa que pressupunha a derrota dessa mesma rua. Este cenário terá sido determinante no alastramento do PPD, tal qual mancha de óleo, até porque se tornava necessário preencher o vazio dos vários poderes locais e regionais provocado pela ruptura revolucionária e era difícil vender, um pouco por esse país fora, a ideia de um CDS imune ao conúbio com a ditadura de Salazar e Caetano. E, no entanto, as personalidades do CDS de então (Freitas do Amaral, Basílio Horta, Amaro da Costa, Luís Barbosa, Morais Leitão, Lucas Pires, mais tarde Mª José Nogueira Pinto, tantos outros), concorde-se ou não com a sua ideologia e práticas – e eu, em boa parte, nelas me não reconheço – não tinham nascido do nada nem eram ilustres desconhecidos: possuíam experiência política, espessura social e cultural, uma respeitável imagem enquanto cidadãos. Exactamente aquilo de que a rua e alguns dos oportunistas poderes emergentes não gostam. Mais ainda, nunca me pareceu que os seus dirigentes ou a sua base de apoio maioritária se situassem claramente à direita dos seus homólogos do PSD.

Terá sido, pois, essa rua tão longínqua que liquidou, em grande parte, o futuro do CDS. Sem espaço político - ou com ele ocupado, parasitado -, problema que o cavaquismo agravou, definhou; abriu-se ao aventureirismo e à inconsequência. Ao oportunismo mais rasteiro. À tal gente com falta de espessura. Resta-lhe a eutanásia, para abreviar o sofrimento de uma morte mais do que anunciada e que se adivinha dolorosa. É pena: um CDS como o de Freitas do Amaral e de Amaro de Costa, de Lucas Pires e Nogueira Pinto – alguns outros – teria sido bem necessário à saúde da democracia portuguesa.

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