Um post de 2 de Maio de 2008 que, quando se prepara mais uma manifestação de professores, continua a fazer todo o sentido.
- "Faz sentido que os professores sejam colocados por um computador do Ministério da Educação em escolas que nunca viram e nunca os viram, onde porventura não queiram estar e lá os não queiram, sem conhecerem os seus futuros colegas e superiores hierárquicos (se é que na actual organização escolar isso existe)? Conhecem alguma organização bem sucedida que contrate assim os seus funcionários e colaboradores?
- Faz sentido que para a carreira docente tanto valha uma nota de curso (12, por exemplo) conseguida no “Técnico”, na “Nova” ou na “Católica”, na Faculdade de Letras de Lisboa, ou na “Internacional”, “Autónoma” e tutti quanti? Alguma organização bem sucedida utiliza este critério na admissão dos seus funcionários e colaboradores?
- Faz sentido que a direcção de cada escola seja eleita, maioritariamente, pelos seus pares e, depois, tenha de responder pelos seus resultados a terceiros: pais, Ministério, sociedade, etc? Alguma organização bem sucedida utiliza este modelo organizacional e de responsabilização?
- Faz sentido que os professores, salvo algum raro problema de maior gravidade, progridam até ao topo da carreira sem qualquer tipo de avaliação credível e apenas por via dos anos de serviço e de créditos concedidos através da frequência de cursos sobre a “modelação do barro de Estremoz” ou do tipo “Windows para principiantes”? É assim que funcionam as organizações bem sucedidas?
- Faz sentido que um professor colocado numa escola de uma zona problemática, no interior, em turmas com problemas de aprendizagem, ganhe o mesmo e tenha o mesmo resultado em termos de (não) avaliação do que um outro que dê aulas ao 9ºA do Pedro Nunes? É isto que se passa nas organizações bem sucedidas?
- Faz sentido que um professor de Matemática, Português, Inglês, disciplinas básicas para um melhor aproveitamento do aluno e onde estes normalmente apresentam maiores dificuldades de aprendizagem, tenha o mesmo vencimento de um outro de Trabalhos Oficinais ou Educação Física? Será que nas organizações bem sucedidas os responsáveis de Produção, Financeiro, Marketing, Recursos Humanos ou Relações Públicas têm todos vencimentos iguais?
- Faz sentido que um professor que gaste o seu tempo e o seu dia a criticar a política educativa (qualquer que ela seja), fora dos orgãos competentes para o fazer (Conselho de Gestão, por exemplo), a manifestar permanente má vontade no cumprimento das directivas da sua hierarquia, a criar por isso mesmo um ambiente de trabalho desconfortável, deve ganhar o mesmo que um outro que, não se coibindo de expressar as suas opiniões, o faz disciplinadamente e no sentido de melhorar a sua actividade e a da escola? É exactamente isso que acontece nas organizações bem sucedidas?
- Faz sentido que um professor na segunda metade da sua carreira, quando tem mais experiência da função que exerce e isso lhe poupa algum trabalho na preparação e organização das suas aulas, lhe permite obter mais facilmente uma atitude de maior disponibilidade para a aprendizagem por parte dos alunos, veja reduzida a sua "carga horária"? Alguém já observou tal coisa nas organizações bem sucedidas?
Sabem, é que estas são algumas das razões pelas quais as escolas públicas não são – e eu bem gostaria que fossem ou passassem a ser – organizações bem sucedidas. Lamentavelmente, nunca vi os professores manifestarem-se contra isso."