sexta-feira, outubro 31, 2008

Professores...

Um post de 2 de Maio de 2008 que, quando se prepara mais uma manifestação de professores, continua a fazer todo o sentido.

  • "Faz sentido que os professores sejam colocados por um computador do Ministério da Educação em escolas que nunca viram e nunca os viram, onde porventura não queiram estar e lá os não queiram, sem conhecerem os seus futuros colegas e superiores hierárquicos (se é que na actual organização escolar isso existe)? Conhecem alguma organização bem sucedida que contrate assim os seus funcionários e colaboradores?
  • Faz sentido que para a carreira docente tanto valha uma nota de curso (12, por exemplo) conseguida no “Técnico”, na “Nova” ou na “Católica”, na Faculdade de Letras de Lisboa, ou na “Internacional”, “Autónoma” e tutti quanti? Alguma organização bem sucedida utiliza este critério na admissão dos seus funcionários e colaboradores?
  • Faz sentido que a direcção de cada escola seja eleita, maioritariamente, pelos seus pares e, depois, tenha de responder pelos seus resultados a terceiros: pais, Ministério, sociedade, etc? Alguma organização bem sucedida utiliza este modelo organizacional e de responsabilização?
  • Faz sentido que os professores, salvo algum raro problema de maior gravidade, progridam até ao topo da carreira sem qualquer tipo de avaliação credível e apenas por via dos anos de serviço e de créditos concedidos através da frequência de cursos sobre a “modelação do barro de Estremoz” ou do tipo “Windows para principiantes”? É assim que funcionam as organizações bem sucedidas?
  • Faz sentido que um professor colocado numa escola de uma zona problemática, no interior, em turmas com problemas de aprendizagem, ganhe o mesmo e tenha o mesmo resultado em termos de (não) avaliação do que um outro que dê aulas ao 9ºA do Pedro Nunes? É isto que se passa nas organizações bem sucedidas?
  • Faz sentido que um professor de Matemática, Português, Inglês, disciplinas básicas para um melhor aproveitamento do aluno e onde estes normalmente apresentam maiores dificuldades de aprendizagem, tenha o mesmo vencimento de um outro de Trabalhos Oficinais ou Educação Física? Será que nas organizações bem sucedidas os responsáveis de Produção, Financeiro, Marketing, Recursos Humanos ou Relações Públicas têm todos vencimentos iguais?
  • Faz sentido que um professor que gaste o seu tempo e o seu dia a criticar a política educativa (qualquer que ela seja), fora dos orgãos competentes para o fazer (Conselho de Gestão, por exemplo), a manifestar permanente má vontade no cumprimento das directivas da sua hierarquia, a criar por isso mesmo um ambiente de trabalho desconfortável, deve ganhar o mesmo que um outro que, não se coibindo de expressar as suas opiniões, o faz disciplinadamente e no sentido de melhorar a sua actividade e a da escola? É exactamente isso que acontece nas organizações bem sucedidas?
  • Faz sentido que um professor na segunda metade da sua carreira, quando tem mais experiência da função que exerce e isso lhe poupa algum trabalho na preparação e organização das suas aulas, lhe permite obter mais facilmente uma atitude de maior disponibilidade para a aprendizagem por parte dos alunos, veja reduzida a sua "carga horária"? Alguém já observou tal coisa nas organizações bem sucedidas?

Sabem, é que estas são algumas das razões pelas quais as escolas públicas não são – e eu bem gostaria que fossem ou passassem a ser – organizações bem sucedidas. Lamentavelmente, nunca vi os professores manifestarem-se contra isso."

10 comentários:

Anónimo disse...

Faz sentido que um professor que entre às 8:30 da manhã e tenha reuniões até às 22 horas entre no dia seguinte outra vez às oito e vinte da manhã?

Faz sentido que um professor que tenha 6 turmas, ganhe o mesmo que um professor que só tem uma turma?

Faz sentido que os professores que fazem parte da direcção da escola(Presidente e Vices) não tenham faltas às horas em que exercem esse cargos?

Faz sentido que um professor tenha uma aula às 8:30 só volte a ter outra aula às 17 horas?

Faz sentido que um professor seja avaliado por situações que não consegue controlar como o abandono escolar e a vontade de estudar dos alunos?

Faz sentido que um professor que faça greve num dia em que tem turmas dos cursos profissionais ou cef´s, tenha que compensar as aulas, apesar de ter desconto no ordenado.

Faz sentido que quando um turma de um curso profissional vai uma visita de estudo, os professores que têm essa turma e não foram à visita de estudo, tenham que compensar as aulas.

Faz sentido que um professor quando falta por conta do período de férias, tenha que ter o trabalho de que deixar a aula preparada para outro professor, apesar de lhe ser descontado o subsídio de refeição?

Faz sentido que um professor só possa frequentar acções de formação fora do período lectivo (isto é à noite) quando na restante função pública a formação é feita em horário laboral, inclusivamente nas empresas privadas?

JC disse...

1. Faz, desde que isso aconteça esporadicamente ou em periodos limitados de tempo.É isso que acontece nas organizações bem sucedidas quando picos de trabalho assim o exigem.
2. Não faz. Quem tem mais trabalho deve ganhar em conformidade, como acontece nas organizações bem sucedidas.
3. Não faz. Deveriam ser avalidos pelo modo como exercem e cumprem essas funções. Mas sendo eleitos quem os avalia? E não é um facto que os professores não estão dispostos a mudar essa situação, recusando directores de escola?
4.Logicamente, é uma estupidez. Mas se isso é determinado pela direcção da escola o professor terá de cumprir com todas as suas competências e ser avaliado por isso. Ou então demite-se ou muda de escola.
5. Faz. São items que, com o seu coeficiente próprio, devem integrar a avaliação, já que em parte dependem da capacidade e competência do professor.
6. Não conheço o caso em pormenor, por isso não me pronuncio.
7. Depende do que fizeram nesse tempo deixado livre. Se isso corresponder a uma folga, faz sentido.
8. Claro! Qualquer funcionário de uma empresa, quando vai de férias, tem de deixar tudo preparado para que o normal funcionamento da organização não seja perturbado, ou o seja minimamente. E se está ausente do trabalho pq deve receber subsídio de refeição? Não faz parte do salário, mas é uma compensação por ter de comer fora.
9. Não conheço o caso da restante FP. Nas empresas privadas existem acções de formação que se realizam dentro e outras fora do normal horário de trabalho, s/ direito a remuneração extra. Depende das situações concretas.
Cumprimentos e obrigado pela sua colaboração.

Anónimo disse...

Resposta à lista do Gatomaltês:
1. Não
2. Não. Eu tenho especial aversão ao Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros.
3. Sim, Com o governo é a mesma coisa, ou não?
4. Não. Mas também não faz sentido eu querer formação, o meu patrão não ma dar porque escolhe quem vai e eu ficar sempre a ver navios. Uma organização bem sucedida não faz isto.
5. Não, de todo. Há escolas de risco.
6.Faz. Estas coisas são mesmo assim, o canudo é o mesmo. Mas e a co-responsabilização no (in)sucesso é trmenda...
7. Não estamos na tropa.. Depende.
8. Não. E se têm menos turmas e menos alunos e são titulares ( ou não) devem realmente passar o resto do tempo na escola. Mas não a inventar grelhas e artifícios completamente castradores do mínimo lampejo de proactividade e arejamento/flexibilização de processos ou a estudar se o ponto 56 do artº 45 do decreto y carece de um "se".
Devem dedicar a componente não lectiva aos apoios, aos alunos NEE, às bibliotecas, às "flores", aquilo que quem tem 6 turmas e 120 ou 130 ou 150 alunos não pode fazer. E devem ser estes os DT's.

Agora umas perguntas para o gato:
a) faz sentido que duas licenciaturas, uma profissionalização, mais de 9 anos de serviço ainda estejam em regime de contrato? qualquer organização bem sucedida não passa a quadro alguém com mais de 3 anos de colaboração?
2) faz sentido que quando investe na sua formação e se profissionaliza, lhe retirem meio ano de serviço por cada ano em que efectivamente trabalhou e descontou?

Sabe?
Cá em casa fazemos o pleno:
mulher prof, marido gestor de topo numa bem sucedida organização empresarial.
Conheço ambos os mundos. Sei o que pode ser aplicado e o que não pode.
Uma organização bem sucedida tem gestores competentes e inteligentes, que motivam e promovem o trabalho dos colaboradores.
Não é o caso do ME.


Maria

JC disse...

Resposta:
1. Sim, se for competente, competência esta determinada por avaliação credível. Se não o for, no limite pode mesmo ser despedido. Numa organização bem sucedida é fundamentalmente a performance que é medida e determina a progressão, não o nº de cursos, antiguidade, tempo na função, etc, etc.
2. Não percebo inteiramente a questão para lhe dar uma resposta baseada. Mas um dos problemas da FP é essa questão do tempo de serviço ser tão impostante como medida para progressão na carreira, quando o deveria ser, preferencialmente, a efectiva performance medida por uma avaliação credível, efectuada pela hierarquia mediante parâmetros claros.
Claro que um dos problemas reside no próprio Ministério: costumo dizer que ME e Fenprof são 2 faces da mesma moeda. Mas isso não invalida que, com erros e injustiças, as medidas do actual Min. não vão, maioritariamente, na direcção correcta. Nada muda s/ que algumas injustiças possam acontecer, infelizmente. O problema é que a FENPROF quer manter tudo como está! Por exemplo, que raio de coisa é essa de a avaliação ser feita por uma entidade externa? Ou sem quotas?

JC disse...

Já agora, as minhas discordâncias em relação à sua lista:
3. O governo é eleito pelo povo e responde perante esses mesmos eleitores. A administração de uma empresa é eleita pelos accionistas e responde perante eles. Por isso mesmo, a direcção de uma escola deve ser nomeada pela comunidade (os accionistas - ministério, autarquias, pais, etc) para que possa responder perante eles pelos resultados obtidos.
4. Não devem ser, fundamentalmente, as acções de formação a determinar a progressão na carreira. Essas - não as actuais, mas as que efectivamente são úteis - são apenas uma ferramenta. Numa organização bem sucedida é a sua hierarquia que decide da utilidade para a empresa dessas acções de formação.
6. O canudo pode ser o mesmo,mas a responsabilidade é bem diferente e, portanto, o esforço e responsabilização exigidos.
7. Experimente numa empresa passar o dia a criticar alto e bom som o seu chefe, suprior hierárquico, administração, etc. Há que haver bom senso!!!

Cumprimentos

Anónimo disse...

Os Professores com uma manifestação nacional única marcada para o dia 8 de Novembro , em Lisboa, convidam todos, a participarem neste grande protesto. Vamos todos: alunos, encarregados de educação, auxiliares de educação, elementos da escola segura, cidadãos preocupados pelo seu futuro e pelo futuro dos seus entes queridos, participar neste evento. Por uma educação nova. Por uma educação melhor.

Anónimo disse...

Olá

é mesmo o que leu.
Suponhamos que numa organização, um colaborador é trabalhador estudante.
Ao fim de algum tempo, licencia-se e concorre a uma função qualquer. Passa a ser quadro superior, digamos assim.

Porque passou a poder ser quadro superior em que a licenciatura é requisito, os anos em que trabalhou na empresa noutra função qualquer descontam-lhe para efeitos vários, um dos quais poderá ser, se se puser a questão, para um concurso público.

Mas passemos ao privado, que é onde o gato se mexe melhor:
Imagine uma candidatura em que são exigidos 5 anos de serviço ao candidato.
O candidato tem 10 anos de experiencia antes da licenciatura; licenciou-se a meio mas só lhe contam como experiencia 5 dos 10 anos.
é isto:)
M

Anónimo disse...

Este modelo de avaliação é absolutamente inválido pois não se estão a avaliar 200 ou 2000 pessoas.
Por outro lado, o sisetma de quotas faz com que quem tenha o azar de ir calhar a uma escola sem contratados, nunca almeje a excelencia, por exmplo.
Na escola onde estou este ano as quotas são insuficientes para haver MB na avaliação dos contratados.

JC disse...

M (mtº James Bondiana a designação) :
Pois é, mas o problema original - a mãe de todos os problemas, se me permite - é no Estado existirem carreiras estanques para licenciados e não licenciados, o que não acontece nas organizações privadas. Nestas, de um modo geral, pode-se ser director ou administrador sem licenciature ou ter uma licenciatura e estar a arquivar papéis. Depende do mérito devidamente avaliado.A licenciatura é, neste caso, apenas uma ferramenta que pode dar a quem a possuí maiores capacidades. Para além de tudo mais, permita-me que o corrija: no sector privado, numa mesma organização, não se concorre para coisa nenhuma. A progressão profissional, quando existe, é feita por promoção decidida pela hierarquia. Se muda de empresa o seu tempo de serviço anterior não conta para coisa nenhuma a não ser para contagem de tempo de reforma. Aliás, mesmo na mesma empresa, o tempo de serviço tem um valor muito relativo e ninguém é promovido por isso. Quando muito - nem sempre - recebe uma pequena contribuição adicional (diuturnidade).

JC disse...

Último anónimo:
Não existe qualquer possibilidade de avaliação rigorosa e com critério sem quotas, como v. bem sabe. Em lado nenhum. Sem quotas entra-se no campo da - desculpe-me a expressão - "rebaldaria", que é o que acontece actualmente. Gera injustiças? Em mtº menor nº do que acontece actualmente. Não conheço em pormenor o problema da sua escola, mas, em termos gerais e abstractos, penso que se a percentagem de classificações de mtº bom aplicada ao sua escola der valores inferiores a 1 deve ser arredondada para cima, para que pelo menos um professor possa ser assim classificado. Mais ainda, se a sua actual escola o limita pessoal ou profissionalmente, o que deveria ser lógico era v. poder concorrer directamente a uma outra escola quando achasse isso seria benéfico, em termos pessoais ou de carreira, sem passar pelo computador do Ministério.
Cumprimentos