“Es zittern die morschen Knochen” - Hino da Juventude Hitleriana (Hans Baumann)
Hino da Mocidade Portuguesa (Mário Beirão-Rui Correia Leite)
Algo que existe de comum na propaganda dos regimes totalitários - que não são exactamente o mesmo do que apenas ditaduras, puras e simples ditaduras - é aquela ideia de um sacrifício do presente aceite em nome de um ideal superior, de uma ideia, de um partido e/ou de um estado, com a “leveza” e a alegria de quem está convicto marcha num caminho feliz e sem retorno possível para um prometido futuro radioso, para uma espécie de “terra do leite e do mel” que só por si justifica a inexistência de quaisquer dúvidas. É isso que vemos nos cartazes da China de Mao, nas páginas da “Vida Soviética”, nos filmes de propaganda nazi, talvez os três exemplos mais claros e conhecidos do que aqui afirmo.
Claro que a música não escapa a esta descrição e está bem presente onde mais seria de esperar: nos hinos das organizações de massas desses mesmos regimes, chamem-se elas SA, “Pioneiros”, “Komsomol” ou... Mocidade Portuguesa! É óbvio que a Mocidade Portuguesa, fundada por Carneiro Pacheco, ministro de Salazar, em 1936, continha em si mesma muitas das características das organizações nazi-fascistas da Europa de então, pese embora a ditadura de Salazar tivesse expurgado da organização do estado, mesmo nos seus primeiros tempos, as características mais “revolucionárias” e de “massas” dos regimes alemão e italiano. Quando por lá passei (era obrigatório nos antigos 1º e 2º ano do Liceu), no final dos anos 50, já uns largos anos depois da vitória dos aliados e após o “terramoto” Delgado, a ideia com que fiquei, até hoje, foi que a organização era já bem mais forma (a farda, a continência, a marcha) do que conteúdo, neste último caso mais próximo do escutismo do que de uma pré preparação militar e ideológica, razão última de ser das suas ex-congéneres hitlerianas e mussolinianas. Novos tempos, claro, aos quais o regime se ia moldando sem que o essencial fosse posto em causa.
Mas como falamos de forma, no caso da música existia o hino, de canto obrigatório, que, por sinal, mantinha bem viva essa ideia de uma marcha feliz (“Lá vamos cantando e rindo”), conduzida por um grande ideal (“Pela voz do som tremendo, das tubas, clamor sem fim”) em direcção a um futuro grandioso e radioso (“Lá vamos que o sonho é lindo”) perante a qual a própria natureza se inclinava em saudação (“tronco em flor estende os ramos à mocidade que passa”). O que é interessante é a sua semelhança, em termos musicais, com o hino da Juventude Hitleriana, o não muito conhecido “Es zittern die morschen Knochen” da autoria de um tal Hans Baumann. E se em termos musicais essa semelhança é notória, denunciando bem as suas origens comuns, existe uma diferença essencial em termos da “letra”: embora mantendo-se em ambos essa ideia de marcha em direcção a um futuro glorioso, ao qual todos se vergam, no hino da Juventude Hitleriana, ao contrário do que acontece no da MP, a ideia da guerra (“Der Welt vor dem roten Krieg”) e do expansionismo (“Und morgen die ganze Welt”) estão já bem presentes, justificando desde bem cedo a sua inevitabilidade, a razão de existência da organização e anunciando os tempos que aí viriam. Digamos que, também aqui, os meios (musicais) se submetem aos fins, embora dentro da mesma família. Ora oiçam...
Claro que a música não escapa a esta descrição e está bem presente onde mais seria de esperar: nos hinos das organizações de massas desses mesmos regimes, chamem-se elas SA, “Pioneiros”, “Komsomol” ou... Mocidade Portuguesa! É óbvio que a Mocidade Portuguesa, fundada por Carneiro Pacheco, ministro de Salazar, em 1936, continha em si mesma muitas das características das organizações nazi-fascistas da Europa de então, pese embora a ditadura de Salazar tivesse expurgado da organização do estado, mesmo nos seus primeiros tempos, as características mais “revolucionárias” e de “massas” dos regimes alemão e italiano. Quando por lá passei (era obrigatório nos antigos 1º e 2º ano do Liceu), no final dos anos 50, já uns largos anos depois da vitória dos aliados e após o “terramoto” Delgado, a ideia com que fiquei, até hoje, foi que a organização era já bem mais forma (a farda, a continência, a marcha) do que conteúdo, neste último caso mais próximo do escutismo do que de uma pré preparação militar e ideológica, razão última de ser das suas ex-congéneres hitlerianas e mussolinianas. Novos tempos, claro, aos quais o regime se ia moldando sem que o essencial fosse posto em causa.
Mas como falamos de forma, no caso da música existia o hino, de canto obrigatório, que, por sinal, mantinha bem viva essa ideia de uma marcha feliz (“Lá vamos cantando e rindo”), conduzida por um grande ideal (“Pela voz do som tremendo, das tubas, clamor sem fim”) em direcção a um futuro grandioso e radioso (“Lá vamos que o sonho é lindo”) perante a qual a própria natureza se inclinava em saudação (“tronco em flor estende os ramos à mocidade que passa”). O que é interessante é a sua semelhança, em termos musicais, com o hino da Juventude Hitleriana, o não muito conhecido “Es zittern die morschen Knochen” da autoria de um tal Hans Baumann. E se em termos musicais essa semelhança é notória, denunciando bem as suas origens comuns, existe uma diferença essencial em termos da “letra”: embora mantendo-se em ambos essa ideia de marcha em direcção a um futuro glorioso, ao qual todos se vergam, no hino da Juventude Hitleriana, ao contrário do que acontece no da MP, a ideia da guerra (“Der Welt vor dem roten Krieg”) e do expansionismo (“Und morgen die ganze Welt”) estão já bem presentes, justificando desde bem cedo a sua inevitabilidade, a razão de existência da organização e anunciando os tempos que aí viriam. Digamos que, também aqui, os meios (musicais) se submetem aos fins, embora dentro da mesma família. Ora oiçam...
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