"Mulholland Drive" - David Lynch (2001)
O “Gato Maltês” gosta muito de Lynch. É um axioma, pronto, uma boa razão para me poupar a explicações. Mas na obra de Lynch gosta especialmente de duas sequências em que a música assume um papel fundamental. Mas também o silêncio. Uma delas é aquela em que Dennis Hopper, no papel de Frank Booth em “Blue Velvet”, ouve ”In Dreams”, um original de Roy Orbison. Outra, especialmente esta, uma sequência de "Mulholland Drive", talvez o meu filme preferido de Lynch, com Naomi Watts e Laura Harring e que integra o Club Silencio e Rebekah del Rio interpretando “Crying” (“Lloranndo”), também um original de Orbison.
Mais do que o surrealismo presente tão frequentemente em Lynch, a sequência remete-nos para a atmosfera fantástica de “Twin Peaks”, para um certa “realista irrealidade”, se me permitem que traduza sem grandes preocupações de rigor o Lawrence Ferlinghetti de “Dada would have liked a day like this”... É, para mim, das cenas da história do cinema em que a música, a palavra, o silêncio (especialmente este) e o som ambiente melhor se conjugam, juntamente com um rigor de mise en scène (vejam o modo como se harmonizam as cores da roupa de Watts e Harring entre si e com as cores do teatro, mas também como o penteado e o loiro dos cabelos as aproximam, ajudando a criar um ambiente de cumplicidade que estabelece o contraste com o tom de distanciamento geral da sequência) e de montagem admiráveis, para construirem não o “real” mas propositadamente o fantástico, neste caso o do universo Lynchiano. Falta-lhe, aqui, o efeito écran grande e sala escura, como também faltará se o virem na TV já que o cinema para isso não foi feito. Mas não se pode ter tudo, e com Lynch já se tem muito. Mesmo assim, em formato reduzido.
Mais do que o surrealismo presente tão frequentemente em Lynch, a sequência remete-nos para a atmosfera fantástica de “Twin Peaks”, para um certa “realista irrealidade”, se me permitem que traduza sem grandes preocupações de rigor o Lawrence Ferlinghetti de “Dada would have liked a day like this”... É, para mim, das cenas da história do cinema em que a música, a palavra, o silêncio (especialmente este) e o som ambiente melhor se conjugam, juntamente com um rigor de mise en scène (vejam o modo como se harmonizam as cores da roupa de Watts e Harring entre si e com as cores do teatro, mas também como o penteado e o loiro dos cabelos as aproximam, ajudando a criar um ambiente de cumplicidade que estabelece o contraste com o tom de distanciamento geral da sequência) e de montagem admiráveis, para construirem não o “real” mas propositadamente o fantástico, neste caso o do universo Lynchiano. Falta-lhe, aqui, o efeito écran grande e sala escura, como também faltará se o virem na TV já que o cinema para isso não foi feito. Mas não se pode ter tudo, e com Lynch já se tem muito. Mesmo assim, em formato reduzido.
2 comentários:
Assino por baixo.
Obrigado. Às vezes, no meio de tanta pancada que por aqui - no "blog" - levo, até para o meu proverbial mau feitio (dizem) é reconfortante ouvir umas palavras de concordância.
É verdade, vamos lá ver como se porta o glorioso amanhã!
Abraço
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