"Hino da Carta Constitucional" (D. Pedro IV de Bragança) - Hino Nacional de Portugal entre 1834 e 1911
Hino da Maria da Fonte (Angelo Frondoni) - Interpretação de Vitorino
Como nem só de pão vive o homem - isto é, de política e crise financeira – e o circo só continua na próxima 4ª feira, continuemos com a abordagem e análise dos hinos e das canções patrióticas, e fiquemo-nos agora aqui por casa. Sobre o Hino Nacional Português e o contexto em que foi composto todos sabemos alguma coisa, mesmo que essa dos egrégios avós nem sempre nos soe muito bem. Também sabemos que o refrão era cantado “contra os bretões” o que diz bem do espírito da época e do conflito que lhe deu origem. Adiante, pois.
O que é menos conhecido é que a “Portuguesa” teve um antepassado, de seu nome “Hino da Carta Constitucional” (fala-se ainda de um outro, anterior, o “Hino Patriótico”, mas creio foi efémero e nunca oficial) e que foi hino nacional português (oficial) de 1834 (vitória dos liberais na guerra civil) a 1911, quando a “Portuguesa” se tornou oficialmente hino nacional após a implantação da República. Como curiosidade o facto do hino ser da autoria (música e letra) do próprio D. Pedro IV (D. Pedro I do Brasil), soberano que outorgou essa mesma “Carta Constitucional” que pôs fim oficial ao “Antigo Regime”. Daí não seja de espantar que a letra do hino (que aqui transcrevo já que não consegui uma versão cantada) glorifique aquilo que eram os pilares fundamentais do regime político emergente, que se pretendiam em harmonia: o rei (e com ele a aristocracia), a religião (clero) e o povo (o célebre terceiro estado), finalmente na posse do poder que era também seu por via da nova constituição liberal. Comparado com a “Portuguesa” é muito menos um hino bélico, expresso num mood & tone musical muito menos marcial, e muito mais uma marcha de regozijo, de felicidade por um novo ordenamento social e político que põe fim a uma guerra e instala uma ordem tida como mais justa, face ao Absolutismo, e capaz de promover a unidade entre os portugueses. Curioso, também, que tal como em Espanha aqui ao lado a mudança de regime, de monarquia para república, tenha gerado um novo hino (em Espanha o “Himno de Riego” substituiu a “Marcha Real” durante a República).
Um outro hino tocado nas cerimónias de estado (é, digamos, o hino de saudação às entidades oficiais: podemos ouvir alguns dos seus acordes dando início às corridas de touros ou nas cerimónias presididas por ministros da República), facto que por vezes se desconhece, é o “Hino da Maria da Fonte”, uma canção revolucionária que nasceu com a revolta popular do mesmo nome, em 1946, composto por Angelo Frondoni. Interessante o facto de, sendo uma canção que exprime um sentimento de revolta popular, essa revolta ter tido um cariz anti-progressista – digamos assim e simplificadamente –, provindo do Portugal rural (Minho – “glória ao Minho que primeiro o seu grito fez soar”) contra a cidade e o mundo moderno, pois tinha por alvo as medidas reformistas e modernizadoras do Estado conduzidas pelo governo de Costa Cabral. Curioso, também, o facto de Vitorino – um intérprete que nos habituámos a situar “à esquerda” – ter uma interpretação de referência do hino. Ou talvez nem tanto assim, se tivermos em conta certas alianças, aparentemente contra-natura, da contemporaneidade.
O que é menos conhecido é que a “Portuguesa” teve um antepassado, de seu nome “Hino da Carta Constitucional” (fala-se ainda de um outro, anterior, o “Hino Patriótico”, mas creio foi efémero e nunca oficial) e que foi hino nacional português (oficial) de 1834 (vitória dos liberais na guerra civil) a 1911, quando a “Portuguesa” se tornou oficialmente hino nacional após a implantação da República. Como curiosidade o facto do hino ser da autoria (música e letra) do próprio D. Pedro IV (D. Pedro I do Brasil), soberano que outorgou essa mesma “Carta Constitucional” que pôs fim oficial ao “Antigo Regime”. Daí não seja de espantar que a letra do hino (que aqui transcrevo já que não consegui uma versão cantada) glorifique aquilo que eram os pilares fundamentais do regime político emergente, que se pretendiam em harmonia: o rei (e com ele a aristocracia), a religião (clero) e o povo (o célebre terceiro estado), finalmente na posse do poder que era também seu por via da nova constituição liberal. Comparado com a “Portuguesa” é muito menos um hino bélico, expresso num mood & tone musical muito menos marcial, e muito mais uma marcha de regozijo, de felicidade por um novo ordenamento social e político que põe fim a uma guerra e instala uma ordem tida como mais justa, face ao Absolutismo, e capaz de promover a unidade entre os portugueses. Curioso, também, que tal como em Espanha aqui ao lado a mudança de regime, de monarquia para república, tenha gerado um novo hino (em Espanha o “Himno de Riego” substituiu a “Marcha Real” durante a República).
Um outro hino tocado nas cerimónias de estado (é, digamos, o hino de saudação às entidades oficiais: podemos ouvir alguns dos seus acordes dando início às corridas de touros ou nas cerimónias presididas por ministros da República), facto que por vezes se desconhece, é o “Hino da Maria da Fonte”, uma canção revolucionária que nasceu com a revolta popular do mesmo nome, em 1946, composto por Angelo Frondoni. Interessante o facto de, sendo uma canção que exprime um sentimento de revolta popular, essa revolta ter tido um cariz anti-progressista – digamos assim e simplificadamente –, provindo do Portugal rural (Minho – “glória ao Minho que primeiro o seu grito fez soar”) contra a cidade e o mundo moderno, pois tinha por alvo as medidas reformistas e modernizadoras do Estado conduzidas pelo governo de Costa Cabral. Curioso, também, o facto de Vitorino – um intérprete que nos habituámos a situar “à esquerda” – ter uma interpretação de referência do hino. Ou talvez nem tanto assim, se tivermos em conta certas alianças, aparentemente contra-natura, da contemporaneidade.
Letra do "Hino da Carta Constitucional"
Ó Pátria, Ó Rei, Ó Povo,
Ama a tua Religião
Observa e guarda sempre
Divinal Constituição
Viva, viva, viva ó Rei
Viva a Santa Religião
Vivam Lusos valorosos
A feliz Constituição
A feliz Constituição
Ó com quanto desafogo
Na comum agitação
Dá vigor às almas todas
Divinal Constituição
Viva, viva, viva ó Rei
Viva a Santa Religião
Vivam Lusos valorosos
A feliz Constituição
A feliz Constituição
Venturosos nós seremos
Em perfeita união
Tendo sempre em vista todos
Divinal Constituição
Viva, viva, viva ó Rei
Viva a Santa Religião
Vivam Lusos valorosos
A feliz Constituição
A feliz Constituição
A verdade não se ofusca
O Rei não se engana, não,
Proclamemos Portugueses
Divinal Constituição
Viva, viva, viva ó Rei
Viva a Santa Religião
Vivam Lusos valorosos
A feliz Constituição
A feliz Constituição
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