Aqui há um par de semanas, Luís Campos e Cunha, episódico ex-ministro das finanças de José Sócrates, referiu a necessidade de se proceder à revisão dos grandes projectos de obras públicas, definidos pelo governo, em função da nova realidade financeira internacional. Nada de mais normal: mandam as mais elementares regras da gestão e do bom senso que assim se proceda em caso de alteração do seu enquadramento ou de algumas das premissas em que cada projecto se baseou. A afirmação só teve a repercussão que conhecemos em função da credibilidade reconhecida a Campos e Cunha, o facto de ser alguém que ocupou funções governamentais com José Sócrates e, ainda, pela independência que se lhe reconhece apesar de ser alguém visto como próximo do PS. Claro está que isso obrigou Mário Lino, qual Galileu, a ripostar com uma mentira que seria, na circunstância, a única resposta possível da parte de um membro do governo: que sim, de facto a Terra estava quietinha e não se movia e, por isso, os projectos eram para se cumprir. Cedo irá, também ele, reconhecer publicamente o que no íntimo já sabe: que, no entanto, ela move-se, ou seja, que os projectos terão de ser reequacionados em função de uma realidade já diferente.
Senão vejamos... Mudou uma boa parte do enquadramento macro-económico. As taxas de crescimento previstas para o PIB europeu e português foram revistas em forte baixa, alguns países entraram (ou vão entrar) mesmo em recessão técnica e a confiança nas instituições de crédito e nos mercados sofreu rude golpe. A inflação, essa, ou melhor, o seu comportamento futuro em função das tensões que a injecção de dinheiro nos mercados possa vir a causar, está para se ver, como também estará a atitude que o BCE possa vir a tomar na circunstância, e o petróleo... bom, esse é melhor nem nos preocuparmos muito com ele se quisermos manter a nossa sanidade mental ainda intacta (ou quase). De que modo é que este enquadramento irá afectar muitos projectos, mormente aqueles que têm tudo a ver com o tráfego aéreo e ferroviário, de passageiros e mercadorias?
Não chega? Bom, então falemos da componente financeira. Financiamento dos projectos? Disponibilidades de crédito e seu custo, uma componente com certeza importante no custo total, custo este onde a crise, porventura, apenas poderá trazer consigo de favorável uma diminuição dos custos de mão de obra, partindo do princípio académico que haverá mais gente disposta a trabalhar por menos dinheiro no lower end do mercado de trabalho, isto é, na construção civil (leia-se, imigração).
Mais ainda, e agora vamos às questões da política “pura e dura”, algo que parece andar esquecido nesta discussão. Em face da nova realidade - a crise - as opções políticas estratégicas e de curto prazo do governo devem manter-se? Em que medida? Por exemplo, a estagnação e o aumento previsível do desemprego devem levar o governo a reforçar as políticas que permitam um crescimento económico a curto prazo , reforçando assim a opção pelo betão e sacrificando, de certo modo, o desenvolvimento sustentado de médio longo prazo e a aposta na chamada “economia do conhecimento”? As incertezas do presente, com as subsequentes dificuldades de planear a longo prazo, podem, e devem, levar o governo a, sempre que possível, fasear projectos (o novo aeroporto parece, a este nível, ser um caso paradigmático)? O comportamento do preço do petróleo, nos últimos tempos, é razão para acelerar os projectos ligados às energias alternativas ou aqueles menos dependentes de elevados consumos energéticos, em sacrifício de outros? Em face da realidade ocidental actual, deve ou não o governo fomentar ainda mais os investimentos nas economias emergentes, menos afectadas pela crise mas de maior risco político?
Chega? São apenas algumas perguntas avulso, escritas por um cidadão comum “ao correr do teclado”, que isso da “pena” já lá vai há muito. Uma prova de que o governo deveria reunir, fazer o trabalho de casa e chegar finalmente à conclusão de que, apesar de parada, a Terra parece contudo mover-se. Lá chegará o governo a essa conclusão, esperando não o faça demasiado tarde.
Senão vejamos... Mudou uma boa parte do enquadramento macro-económico. As taxas de crescimento previstas para o PIB europeu e português foram revistas em forte baixa, alguns países entraram (ou vão entrar) mesmo em recessão técnica e a confiança nas instituições de crédito e nos mercados sofreu rude golpe. A inflação, essa, ou melhor, o seu comportamento futuro em função das tensões que a injecção de dinheiro nos mercados possa vir a causar, está para se ver, como também estará a atitude que o BCE possa vir a tomar na circunstância, e o petróleo... bom, esse é melhor nem nos preocuparmos muito com ele se quisermos manter a nossa sanidade mental ainda intacta (ou quase). De que modo é que este enquadramento irá afectar muitos projectos, mormente aqueles que têm tudo a ver com o tráfego aéreo e ferroviário, de passageiros e mercadorias?
Não chega? Bom, então falemos da componente financeira. Financiamento dos projectos? Disponibilidades de crédito e seu custo, uma componente com certeza importante no custo total, custo este onde a crise, porventura, apenas poderá trazer consigo de favorável uma diminuição dos custos de mão de obra, partindo do princípio académico que haverá mais gente disposta a trabalhar por menos dinheiro no lower end do mercado de trabalho, isto é, na construção civil (leia-se, imigração).
Mais ainda, e agora vamos às questões da política “pura e dura”, algo que parece andar esquecido nesta discussão. Em face da nova realidade - a crise - as opções políticas estratégicas e de curto prazo do governo devem manter-se? Em que medida? Por exemplo, a estagnação e o aumento previsível do desemprego devem levar o governo a reforçar as políticas que permitam um crescimento económico a curto prazo , reforçando assim a opção pelo betão e sacrificando, de certo modo, o desenvolvimento sustentado de médio longo prazo e a aposta na chamada “economia do conhecimento”? As incertezas do presente, com as subsequentes dificuldades de planear a longo prazo, podem, e devem, levar o governo a, sempre que possível, fasear projectos (o novo aeroporto parece, a este nível, ser um caso paradigmático)? O comportamento do preço do petróleo, nos últimos tempos, é razão para acelerar os projectos ligados às energias alternativas ou aqueles menos dependentes de elevados consumos energéticos, em sacrifício de outros? Em face da realidade ocidental actual, deve ou não o governo fomentar ainda mais os investimentos nas economias emergentes, menos afectadas pela crise mas de maior risco político?
Chega? São apenas algumas perguntas avulso, escritas por um cidadão comum “ao correr do teclado”, que isso da “pena” já lá vai há muito. Uma prova de que o governo deveria reunir, fazer o trabalho de casa e chegar finalmente à conclusão de que, apesar de parada, a Terra parece contudo mover-se. Lá chegará o governo a essa conclusão, esperando não o faça demasiado tarde.
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