quarta-feira, outubro 15, 2008

O orçamento: crescimento, "déficit" e aquilo que me parece ser um erro político do governo

Sim, eu sei, isto está mais para professores Zandinga ou para quem tenha dons de pitonisa do que para fazer orçamentos com um mínimo de rigor. Também sei que em tempos de crise e risco de recessão o governo dar sinais de pessimismo não é algo que se recomende e deseje, muito antes pelo contrário. Mais ainda, todos sabemos que um orçamento com algum carácter expansionista era, na conjuntura, inevitável, com o consequente abrandamento do ritmo de contenção do “déficit” público. Mas – mas – por outro lado, também sabemos que o controle do “déficit" é talvez a área de maior sucesso deste governo (o que já não é nada pouco), e que o ministro Teixeira dos Santos assim granjeou uma reputação de rigor e boa governação que muito útil tem sido ao governo no seu todo.

Tendo dito isto, acho que o governo, ao prever um “déficit” para 2009 igual ao de 2008 (2.2%) com um crescimento pouco provável do PIB de 0.6% (o FMI prevê 0.1%, embora saibamos que é, por norma, pessimista, e os 0.8% previstos para este ano ainda não são facto consumado), estará a arriscar demasiado a, pela primeira vez, não cumprir as metas estipuladas para o “déficit” público, arriscando-se a trocar muita coisa (uma área em que granjeou merecida reputação de seriedade e rigor e sucesso) por pouco, nada ou mesmo coisa nenhuma. Politicamente – penso – teria sido bem mais sensata uma previsão um pouco abaixo (v.g. 2%), mesmo que à custa de algumas "benesses" (seria necessário fazer contas), que permitisse uma mais do que provável revisão posterior para um valor que não ultrapassasse os 2.2% deste ano. Assim, no fio da navalha, qualquer revisão “em baixa” dos 0.6% de crescimento (Francisco Van Zeller já invocou a ajuda de Deus e eu próprio, agnóstico, no caso dele, católico, teria mesmo já mandado rezar algumas missas), arrisca-se a “atirar” o valor do "déficit" para um nível superior ao deste ano, o que constituirá um enorme falhanço e um erro político de monta por parte do governo.

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