Uma das “queixas” recorrentes dos professores incide sobre a carga de burocracia, tida como excessiva, que os impede de se dedicarem com total entrega à parte “nobre” (digamos assim) da sua profissão: o acto de ensinar. Digo, desde já, que não me custa a acreditar exista alguma burocracia inútil a ser cumprida, grande parte dela originada, talvez, por uma centralização excessiva no Ministério da organização do ensino público, centralização essa que nunca vi ser seriamente posta em causa pelas organizações sindicais do sector. Controlar à distância exige sempre uma complexidade acrescida. Mas permitam-me, também, deixar uma pergunta. Conhecem alguma profissão ou função intelectualmente responsável, dentro de uma organização complexa baseada no conhecimento e no trabalho intelectual, onde, para além do exercício das suas facetas mais “nobres”, da parte visível do iceberg, da actividade de “front office”, não exista também a obrigatoriedade de cumprir, fazer cumprir e preencher, pelas mesmas pessoas, uma série de tarefas que podemos considerar como burocráticas, menos vistosas e mais dentro da área do normalmente considerado, depreciativamente, como dirty work (reportings, procedimentos, trabalho de organização e restruturação, etc, etc)? E é ou não verdade que só um bom cumprimento e adequada execução dessas tarefas pode permitir a melhoria dos resultados nas tais funções de “linha” - “nobres” - e o progresso da organização no seu todo? Pela sua própria natureza e trabalho realizado durante anos em condições difíceis, melhor do que ninguém o PCP tinha obrigação de o reconhecer.
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