Se é possível detectar uma teoria, um fio condutor ideológico no discurso político de Manuel Alegre, através da análise da sua entrevista de hoje à TSF e DN (ver também o "Público"), eles estarão certamente muito próximos de um certo justicialismo peronista, de um populismo com traços marcantes de alguns regimes sul-americanos de meados do século XX. Um certo nacionalismo conservador, muito evidente no permanente apelo aos oito séculos de História, à existência de Portugal enquanto país independente. À pátria, tão presente na sua poesia de combate e resistência. A necessidade de valorização da “terra” enquanto factor de riqueza e a referência constante a uma certa autarcia de recursos (neste caso, diferente do apelo do PCP ao desenvolvimento do “sector produtivo”, pois no caso dos comunistas esse desenvolvimento é condição sine qua non da continuidade da sua existência enquanto ideologia e partido). A obrigatoriedade de se referir à defesa da continuação de Portugal como membro da UE para que se não veja no seu discurso muito mais que apenas um eurocriticismo soft. A crítica à, soit disant, incapacidade de sindicatos e partidos (de Mário Nogueira, posteriormente, ouviu o que não queria, fazendo figura de principiante político face ao PCP ) para enquadrarem e dirigirem os cidadãos e os movimentos reivindicativos. O elogio à autonomia popular e o papel de certo modo messiânico que a si mesmo se atribui nesse campo, etc, etc. É, como disse, um discurso político pouco habitual na Europa dos dias de hoje (excepto, talvez, em algumas sociedades do antigo bloco soviético – não sei) e, juntamente com a importância política e social ainda reconhecida ao PCP e a extrema dificuldade do Bloco de Esquerda em assumir, de vez, um discurso e uma prática política pós-modernas, um sintoma inequívoco do nosso atraso.
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