Ora vamos lá, mais uma vez, tentar ser claros. A flexibilidade demonstrada ontem pela ministra da educação, o seu estender de mão aos professores e respectivos sindicatos, tem essencialmente um fim em vista: trazer para o seu lado a massa anónima de hesitantes (a “maioria silenciosa” hoje em dia transformada em “povo da SIC”) e aqueles que, como o Presidente da República e as associações de pais, têm apelado ao diálogo e à distensão. Ao fazê-lo, em coordenação com a oportunidade de exprimir as suas posições na “Grande Entrevista” da RTP1, Mª de Lurdes Rodrigues poucas ilusões teria – e terá – no acolhimento que este seu gesto possa gerar nos sindicatos, mas ele permite-lhe que se coloque na posição de “eu e o ministério estamos abertos ao diálogo, vejam a reacção negativa dos professores”, assim esperando robustecer a sua fragilizada posição junto dos sectores que referi. Devo dizer que é uma atitude, à partida, inteligente, mas que esbarra com algumas dificuldades que me parecem difíceis de ultrapassar.
Em primeiro lugar, demonstra claramente que a ministra, ao contrário do que acontece com os sindicatos, não pode, não quer ou não tem coragem de assumir a ruptura, com todas as suas consequências, assim demonstrando à saciedade que as partes estão a negociar em condições de desigualdade absoluta: de fragilidade a ministra e de força os representantes dos professores. Dificilmente estes deixarão de aproveitar a situação, “carregando onde lhes possa parecer mole”. Como na vida de todos os dias, é sempre quem não deseja o rompimento de uma relação, ou aquele a quem um eventual rompimento mais fragiliza, que faz cedências. Esse “horror” ao rompimento, aliás, foi bem visível na entrevista à RTP1, evitando a ministra um discurso de tom essencialmente político (refugiando-se em questões técnico-administrativas), até porque aí se não deve sentir particularmente à vontade, o que é uma das suas fraquezas, e procurando sempre responder ao afrontamento dos sindicatos com "modos" de teor conciliatório.
Por outro lado, qualquer modelo de avaliação que procure alguma justiça nos seus resultados não pode deixar de exigir alguma complexidade inicial na sua definição e implementação, complexidade essa que poderá vir a ser reduzida à medida que os seus agentes se vão familiarizando com o processo e a sua aplicação e adaptação ao terreno vá demonstrando os seus vícios e virtudes. Mesmo admitindo o actual modelo seja demasiado burocratizado (o actual colectivismo centralista dificilmente autoriza que o não seja e a necessária mudança, se não quisermos brincar aos aprendizes de feiticeiros, é trabalho para uma década), uma simplificação excessiva poderá, assim, trazer consigo muito maior injustiça, logo, um aumento da contestação nas escolas. Ou então, pura e simplesmente, transformar-se em algo apenas formal, sem qualquer significado prático.
Que deve fazer, então, um governo que parece cercado à sua esquerda e à sua direita, com alguma contestação no próprio partido que o apoia e a quem o Presidente da República parece não perder oportunidade de tirar o tapete, assim pela “calada” e quando vê a oportunidade de o poder fazer sem grande risco? Retomar a iniciativa perdida, assumindo a possibilidade de ruptura. O que significa assumir o conflito como uma questão política, definir um programa com medidas simples de emergência para a gestão das escolas e, através do primeiro-ministro, explicar politicamente e de forma muito directa aos portugueses o que está em causa e o que se encontra em jogo, com todas as suas consequências. Ah, e depois disso pedir o apoio dos portugueses através de eleições antecipadas, fazendo de um programa com medidas simples e consequentes de modernização da gestão escolar e de melhoria da escola pública, entendível por todos, uma das suas bandeiras eleitorais. Caso contrário, corre o risco ainda maior de deixar apodrecer a actual situação e definhar com ela. Agora escolha, apesar do medo, esse medo que tudo parece tolher.
Em primeiro lugar, demonstra claramente que a ministra, ao contrário do que acontece com os sindicatos, não pode, não quer ou não tem coragem de assumir a ruptura, com todas as suas consequências, assim demonstrando à saciedade que as partes estão a negociar em condições de desigualdade absoluta: de fragilidade a ministra e de força os representantes dos professores. Dificilmente estes deixarão de aproveitar a situação, “carregando onde lhes possa parecer mole”. Como na vida de todos os dias, é sempre quem não deseja o rompimento de uma relação, ou aquele a quem um eventual rompimento mais fragiliza, que faz cedências. Esse “horror” ao rompimento, aliás, foi bem visível na entrevista à RTP1, evitando a ministra um discurso de tom essencialmente político (refugiando-se em questões técnico-administrativas), até porque aí se não deve sentir particularmente à vontade, o que é uma das suas fraquezas, e procurando sempre responder ao afrontamento dos sindicatos com "modos" de teor conciliatório.
Por outro lado, qualquer modelo de avaliação que procure alguma justiça nos seus resultados não pode deixar de exigir alguma complexidade inicial na sua definição e implementação, complexidade essa que poderá vir a ser reduzida à medida que os seus agentes se vão familiarizando com o processo e a sua aplicação e adaptação ao terreno vá demonstrando os seus vícios e virtudes. Mesmo admitindo o actual modelo seja demasiado burocratizado (o actual colectivismo centralista dificilmente autoriza que o não seja e a necessária mudança, se não quisermos brincar aos aprendizes de feiticeiros, é trabalho para uma década), uma simplificação excessiva poderá, assim, trazer consigo muito maior injustiça, logo, um aumento da contestação nas escolas. Ou então, pura e simplesmente, transformar-se em algo apenas formal, sem qualquer significado prático.
Que deve fazer, então, um governo que parece cercado à sua esquerda e à sua direita, com alguma contestação no próprio partido que o apoia e a quem o Presidente da República parece não perder oportunidade de tirar o tapete, assim pela “calada” e quando vê a oportunidade de o poder fazer sem grande risco? Retomar a iniciativa perdida, assumindo a possibilidade de ruptura. O que significa assumir o conflito como uma questão política, definir um programa com medidas simples de emergência para a gestão das escolas e, através do primeiro-ministro, explicar politicamente e de forma muito directa aos portugueses o que está em causa e o que se encontra em jogo, com todas as suas consequências. Ah, e depois disso pedir o apoio dos portugueses através de eleições antecipadas, fazendo de um programa com medidas simples e consequentes de modernização da gestão escolar e de melhoria da escola pública, entendível por todos, uma das suas bandeiras eleitorais. Caso contrário, corre o risco ainda maior de deixar apodrecer a actual situação e definhar com ela. Agora escolha, apesar do medo, esse medo que tudo parece tolher.
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