Ponto prévio: aviso já que vou ser um "bocadinho" demagógico, mas, que raio!, por vezes isso alivia...
Na Alemanha nazi, os "untermenschen" (judeus, ciganos, deficientes, etc), estando ou devendo ser, por opção própria, decisão política do Estado ou impossibilidade prática, afastados da participação social, deixando de ser considerados cidadãos, tornaram-se num "custo" que o Estado, mais a mais numa economia de guerra, não queria continuar a suportar. Restava-lhes, portanto, morrer com o menor custo possível para o Estado - industrializando a sua eliminação -, após terem prestado alguns últimos serviços tais como trabalho escravo e utilização como cobaias em algumas experiências pseudo-médicas e pseudo-científicas. Eram desperdício, e como tal foram tratados, tendo essa lógica sido assumida como nunca antes e, na prática, levada às suas últimas consequências.
Claro que nos separam setenta anos de democracia e de progresso, um mundo de evolução, mas ao ver os beneficiários do RSI, os desempregados e os pensionistas pobres poderem ser objecto de medidas de redução pelo governo das subvenções de solidariedade que recebem da sociedade, de todos nós, através do Estado, espero não esteja aqui contido, mesmo que de forma subliminar, qualquer (pre)conceito contra aqueles que, por opção (muito poucos) ou contra a sua vontade (uma enorme maioria), vivem nas margens da sociedade e se tornaram, numa lógica puramente contabilística, um "custo". Espero que não esteja aqui contida, mesmo que de forma não explícita, nenhuma decisão que os considere "expendable", um desperdício, um custo que a sociedade não tem obrigação de suportar e deve reduzir a níveis mínimos de subsistência ou até menos. O problema é que perante tais decisões, tenho dúvidas a lógica não seja essa.