Parece-me ser visível algum desconforto do PS face ao convite de Pedro Passos Coelho para uma "refundação" do MoU, o que, como aqui disse, significa, em versão descodificada, uma proposta para reduzir drasticamente o Estado Social, uma conquista civilizacional de todos os europeus (socialistas, sociais-democratas, conservadores, cristãos-democratas, liberais e comunistas). Por um lado, o PS não pode recusar-se ao diálogo sob pena de ser acusado por PSD e CDS de tudo o que o profeta Maomé disse do porco (escuso-me de exemplificar); mas deve também convencer-se que essa cedência ao diálogo pode, de imediato, ser vista, logo à partida, como indício de fragilidade e possível sinal de capitulação. De igual modo, caso se mantenha intransigente na defesa das suas posições em favor do Estado Social será acusado pela actual maioria governamental de ser o responsável pela manutenção de um nível de impostos acima do suportável, arriscando-se a assistir a uma possível erosão, no mínimo, a algumas hesitações ou até enfraquecimento sério das suas bases de apoio social e eleitoral, onde a classe média tem enorme relevância e a cultura política está longe e ser sólida. Por outro lado, a mínima transigência para com as propostas de PSD e CDS, para além de também não ser isenta de riscos em termos eleitorais, principalmente na perspectiva do PS poder vir a reconquistar eleitores perdidos para o BE ou potenciais abstencionistas, será vista por muitos sectores do partido e da sociedade como inaceitável e colocará a frágil liderança de Seguro em perigo e até o partido em sério risco de desagregação.
Digamos que é entre estes dois parâmetros que o PS terá, com inteligência e tacto político, de fazer o seu caminho, mas convém admitir desde já que esta proposta de PSD e CDS é assim um pouco a modos que a "Batalha das Ardenas" do governo: apanha o adversário relativamente desprevenido e distraído no seu impulso atacante, fá-lo abanar e hesitar e, não chegando para ganhar a guerra, poderá atrasar o seu fim e, entretanto, causar-lhe alguns importantes dissabores. Convém portanto que o PS não menospreze o assunto.
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