Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa, comentadores residentes de um canal de televisão, fazem campanha eleitoral nos Açores pelo principal partido do governo; um juiz-desembargador (Rui Rangel), não se contentando em discutir política, semanalmente, num dos canais do serviço público de televisão, integrado num painel onde pontifica o bastonário da Ordem dos Advogados, ainda decide candidatar-se a presidente de um clube de futebol (por sinal, o meu), enquanto a sua associação sindical ameaça enviar o orçamento de Estado para o Tribunal Constitucional onde a respectiva conformidade com a constituição da República será apreciada pelos seus pares, embora de uma instância superior. Nos "gloriosos" tempos do PREC chamar-se-ia a isto a "originalidade do nosso processo". Dispenso-a...
4 comentários:
… os políticos do poder estão na curva acentuada do seu declínio. Quem a abre está nas últimas, já só quer vingança e bodes expiatórios. Num governo que no topo não foi feito nem pelos livros, nem pela escola, nem pela experiência de trabalho, seja de carpinteiro, seja de médico, seja lá do que for, o “saber” veio do Facebook e dos blogues, do pensamento débil que circula na Rede. Por isso, não surpreende que seja também nos blogues que já se vê como os propagandistas estão acossados e muitos a fugir do barco pelas cordas do costume. O ressabiamento cresce, a raiva transparece, os ajustes de contas já começaram. Afinal durou pouco, a “revolução” da “libertação da economia” contra os “piegas”.
A culpa do populismo do encolher dos ministérios, é dos comentadores. A culpa de se escolherem maus ministros é dos comentadores. A culpa de se fazerem propostas eleitorais demagógicas, que depois se esquecem na primeira volta, é dos comentadores. A culpa de se passar do “conhecemos muito bem a situação do país” para a “surpresa com o buraco colossal”, é dos comentadores. A culpa de atirar trabalhadores do sector privado contra os do sector público, é dos comentadores. A culpa de se fazer legislação anticonstitucional, é dos comentadores. A culpa de “o programa da troika ser o nosso programa” e depois de o nosso objectivo passar a ser “correr com a troika” é dos comentadores. A culpa das peripécias do curso de Miguel Relvas é dos comentadores. A culpa dos conluios nas secretas é dos comentadores. A culpa de chamar “piegas”, “cigarras”, preguiçosos, etc. aos portugueses é dos comentadores. A culpa da TSU, é dos comentadores. A culpa do falhanço do défice “custe o que custar” é dos comentadores. A culpa da sublevação dos empresários contra a TSU, é dos comentadores. A culpa da quebra “colossal” das sondagens é dos comentadores. A culpa de haver portugueses que “vivem acima das suas posses”, a comprar Jaguares e malas Louis Vuitton, é dos comentadores. A culpa de tanta mediocridade é dos comentadores.
JPP
A culpa de nem sempre serem isentos é dos comentadores. A culpa de frequentemente terem agendas privadas é dos comentadores. A culpa de muita falta de lucidez é dos comentadores. A culpa de utilizarem indevidamente o ascendente que têm junto da opinião pública é dos comentadores. A culpa de se servirem da mediocridade que tanto desprezam é de muitos comentadores. A culpa de se julgarem acima de tudo e de todos é dos comentadores. A sobranceria de acharem que têm a verdade no bolso é dos comentadores.
A responsabilidade (isso da "culpa" é demasiado católico para o meu gosto) é dos "media" que, conhecendo a sua agenda política (aliás, nada escondida), os convida e lhes dá tempo de antena. Serem melhores ou piores, com opiniões mais ou menos consistentes, mais ou menos superficiais, melhor ou pior preparados, etc, não é, para mim, o fulcro da questão. Essa é a existência de políticos-comentadores, uma originalidade bem portuguesa e um papel (o de comentadores) que deveria estar reservado a jornalistas, politólogos, académicos e por aí.
Cumprimentos
Só agora li o JPP no "Abrupto" e percebo melhor os vossos comentários.
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