domingo, outubro 07, 2012

Carta aberta os meus amigos "lagartos" (2)

(continuação)

Esta estratégia, se permite ao SCP durante a primeira década do século XXI um ascendente em termos de resultados desportivos face ao SLB, contém, no entanto e em si mesma, uma debilidade fundamental, os genes que a levarão ao colapso: para ser bem sucedida, depende demasiado de variáveis externas que o clube não controla, mormente duas cuja alteração se viria a revelar decisiva: a gestão do SLB e o número de clubes com acesso directo à Champions League. É o forte investimento do SLB no final da década, com a melhoria evidente dos resultados desportivos alcançados, e o facto do segundo classificado na Liga portuguesa deixar de ter acesso directo à Champions League que começam a criar instabilidade e a colocar em causa  a estratégia sportinguista. A tudo isto junta-se o crescimento do Sporting Clube de Braga, alicerçado numa região em expansão e potenciado por uma Câmara Municipal que se assume como autêntica "dona" do clube. 

Fruto da ausência dos resultados desportivos esperados, a "rua sportinguista" começa a movimentar-se e a pôr em causa treinadores e direcções, o que tem como consequência o clube, como resposta, entre numa situação de indefinição ou mesmo de inversão de estratégia: "abandona" a Academia e volta-se para a contratação de jogadores nos mercados externos, onde não só não consegue competir com SLB e FCP por questões financeiras e de menor atractividade desportiva enquanto clube (não disputa a Champions League), como isso o vai obrigar a um esforço financeiro que excede as suas possibilidades e para os quais, em plena crise financeira mundial, já não existem nem a capacidade nem a oportunidade de endividamento dos anos anteriores. Digamos que, em certa medida, estamos perante algo de vagamente semelhante ao que levou à implosão da União Soviética: os investimentos do SLB dos últimos anos levaram o SCP a um esforço financeiro para o qual não tinha "músculo" suficiente e que o poderão conduzir à "débacle". Isto é ainda mais grave porque, olhando para o plantel do SCP, para além da excepção Carrillo não vemos onde o clube possa realizar mais-valias significativas, sabendo, para além disso, que, fruto das suas debilidades financeiras, o SCP não detém, em termos gerais, mais de 25 a 40% dos direitos económicos da maioria dos seus jogadores profissionais.

Assim sendo, perguntar-me-ão vocês, caros amigos "lagartos", o que poderão fazer. Digamos que não conheço o vosso clube o suficiente para lhes indicar um caminho, embora, como descrevi, me pareça este só possa conduzir ao desastre. Investidor estrangeiro? A Liga portuguesa não tem visibilidade para atrair investidores ávidos de protagonismo, sejam eles árabes, chineses ou pertencentes às máfias russas. Angolanos? Talvez aí a possibilidade seja mais real, mas os sportinguistas lá saberão o que querem para o futuro do seu clube. Mas para já, sabendo que o exemplo SC Braga não é repetível numa cidade como Lisboa e num clube com o passado, a "heritage", a "pressão" e o "caldo de cultura" do SCP (julgar que tal poderia acontecer foi outro erro), talvez fosse boa ideia reprogramarem os vossos objectivos, redefinirem uma estratégia coerente com esses mesmos objectivos, voltarem à Academia (onde foram felizes) e dizerem aos vossos sócios e simpatizantes que - e utilizando a linguagem do momento - o clube vai ter que se "reajustar" (de uma maneira ou de outra, todos terão), "empobrecer", viver com o que tem, até porque, por muito glorioso que seja o seu passado (e é) e por muito relevantes que sejam os seus entusiastas e adeptos, um clube de futebol ainda não é bem um país. E entretanto, conselho de amigo, esqueçam-se lá de nós por uns tempos e tentem mas é ganhar aos "tripeiros". Estes vossos amigos "lampiões" agradecem. 

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