Caros amigos "lagartos" (espero que não se ofendam nem achem pejorativo que um "lampião" ferrenho assim se lhes dirija):
Que a questão do treinador, não este ou aquele, mas de um modo geral e abstracto, seja o problema fundamental que têm de resolver, já muita gente o negou e não vale a pena acrescentar o que quer que seja. Muitos outros remetem esse mesmo problema para a direcção ou, de modo mais abstracto, para o que designam por estrutura, que é o mesmo que dizer coisa nenhuma. Sem querer ignorar que treinador e equipa dirigente têm um papel fundamental na gestão e condução de um clube e de uma equipa de futebol, deixem-me, contudo, ir um pouco mais longe, até àquilo que poderia designar como raízes da crise e decadência do Sporting Clube de Portugal. Tenham lá um pouco de paciência para ler o "inimigo", portanto.
Em minha nada modesta opinião (deixo essa coisa da modéstia para os outros), a crise, ou, melhor dizendo, decadência do SCP, mergulha as suas raízes no final nos anos 50 do século XX quando, depois de uns anos 40 e 50 gloriosos, o clube perde para o SLB, pela mão de Otto Glória, a corrida para o profissionalismo. Pior: perde também para o SLB, por deficiente prospecção, por simples casualidade, pelo facto do SLB não poder, por tradição, contratar jogadores estrangeiros ou também por ter perdido essa corrida para o profissionalismo (se calhar, de tudo um pouco), a liderança no mercado de contratações colonial, mercado esse que constituía para os clubes portugueses uma enorme vantagem competitiva. E não foi só Eusébio. Foram Costa Pereira, Mário Coluna, José Águas e Santana, espinha dorsal da grande equipa bi-campeã europeia e que viria a disputar cinco finais da TCE durante a década de 60. Foram estas conquistas, resultado directo do pioneirismo na assumpção do profissionalismo e do domínio do mercado colonial, que catapultaram o SLB definitivamente para o crescimento e hegemonia no futebol português, tendo o SCP apenas conseguido responder com a conquista da Taça dos Vencedores das Taças, em 1964. O que tem todo o mérito, mas é pouco face ao conseguido pelo seu rival. Entramos então na época em que o SCP apenas consegue ganhar o campeonato uma vez em cada quatro anos: 62, 66, 70 e 74.
É, portanto, já numa posição clara de segundo clube português que o SCP sofre o impacto da ascensão do Futebol Clube do Porto, apenas tornada possível pela importância política, económica e social que o litoral-norte assume no pós-25 de Abril. E, claro, estando mais enfraquecido que o seu rival lisboeta e tradicional maior a rival a nível nacional, é o SCP quem mais sofre com o impacto da ascensão do FCP até à hegemonia: apenas quatro títulos da campeão após o 25 de Abril, dois deles (2000 e 2002) aproveitando a época conturbada vivida pelo SLB, contra 12 deste último. Apesar de tudo, o SCP consegue aproveitar bem o período muito difícil e de desnorte que se vive no Sport Lisboa e Benfica na primeira metade da primeira década do século XX: define uma estratégia e um modelo de negócio coerentes (investimento na Academia - permitindo-lhe realizar mais-valias significativas - complementado por contratações "cirúrgicas de jogadores experientes - mantendo assim a competitividade da equipa - optando por treinadores conhecedores do futebol português e com vocação formativa), e consegue assim ultrapassar o SLB no número de títulos conquistados nessa década. O pior, contudo, virá de seguida. (continua).
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