The Beatles - "Love Me Do"
Texto deste "blog" escrito e publicado a 6 de Maio de 2009 - "Não sou um fanático ou incondicional dos Beatles. Aliás, não serei incondicional de ninguém e alguma dose de fanatismo que os já muitos anos de vida ainda não arredondaram deixo-a para o meu “glorioso”, que bem dela tem andado necessitado. Mas, voltando aos Beatles, devo dizer, de ente a sua discografia prefiro francamente os seus 1ºs "singles" e álbums (aqueles que por vezes ainda oiço na base de um acto de vontade), talvez porque, em algum do seu ainda primarismo (no bom sentido) e menor sofisticação, mais perto das raízes do "rock and roll original", o que não quer dizer os considere "os melhores", o que quer que a palavra queira dizer em todo o seu relativismo subjectivo.
O que fará então de um grupo que nem sequer se pode dizer tivesse executantes excepcionais (ao nível de um Jimmy Page, ou de um Eric Clapton, por exemplo, já não falando de um baterista como Ginger Baker) um fenómeno único na cultura dos anos 60 e do século XX? Os Beatles estavam no local certo na altura certa? Sim: como tantos outros grupos britânicos, aproveitaram a época de enorme refluxo do "rock" americano original no final dos anos 50 (dos pioneiros Elvis, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, Little Richard, Buddy Holly, Chuck Berry, etc), do fim das restrições do pós-guerra na Europa e da abertura social e nova cultura de massas que o desenvolvimento económico gerou, para se imporem perante um América mais entorpecida pelo segregacionismo, o conservadorismo e a guerra fria (JFK tinha sido assassinado, lembram-se?), onde essa nova cultura tinha sido comprimida artificialmente numa panela de pressão cujo vapor necessitava expandir-se. Foram para Hamburgo, tocar nos bares de St. Pauli, no que também nada os distingue de tantos outros grupos da “British Invasion”. Mas fizeram algo mais que os distingue desses outros grupos: porque, ao contrário dos Rolling Stones, Manfred Mann, Yardbirds ou Animals, por exemplo, com origem fora daquilo que era nessa altura a cena dos “blues” britânicos (muito centrada no Marquee Club e em Chris Barber, John Mayall, Cyril Davies, etc), mergulhando algumas das suas raízes no Skiffle, foram aqueles que melhor souberam casar o "rock n' roll" com a música ligeira, de variedades (tão presente em algumas das suas melodias) digamos assim, e a rebeldia com o "establishment" em doses adequadas. Usavam o cabelo comprido mas não partiam guitarras em palco; tinham um ar “compostinho” mas irreverência q.b.; e procuraram sempre algum tipo de compromisso. Isso esteve na base do seu "posicionamento" único, que os fez serem aceites, em termos musicais e sociais, por sectores mtº mais alargados do que outros grupos seus contemporâneos como os Rolling Stones, por exemplo. Last, souberam, e puderam, ser musicalmente inovadores e experimentalistas sem perderem esse seu "posicionamento" original como referência. Foram simultaneamente marginais e "mainstream", num equilíbrio difícil cujo rompimento se tornou visível nos últimos tempos do grupo."
1 comentário:
Podiam nem todos ser exímios instrumentistas mas, nas suas especialidades, Harrison e Ringo estavam num virtuoso patamar bem acima.
Onde eles indubitavelmente se destacaram de todos os outros grupos, particular que até hoje estou para encontrar paralelo, é o factto de reunirem logo três génios, três, todos dotados de magnânima capacidade criativa, a saber, McCartney “Penny Lane”, Lennon “Across the Universe”, Harrison “Something”.
Fossem eles puro “mainstream” ou puro marginal que a invulgar essência da sua musica sempre viria ao de cima, subtraindo-os a qualquer sortilégio do espaço ou do tempo ou substrato social.
A prova é, ainda que mudados os tempos, daqui por mais cinquenta anos ainda serão lembrados e escutados por muitos. E não são muitos os que o conseguem.
JR
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