António Barreto não é um cidadão qualquer. É um académico conceituado, com obra publicada. Foi opositor à ditadura, ministro, deputado, tem um percurso de comentarista político conceituado e é co-autor de um documentário televisivo incontornável para se entender o Portugal contemporâneo. É também presidente do Conselho de Administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos, instituição com trabalho relevante na edição de trabalhos de teor político e na colecção, organização e edição de dados sobre o país. Por tudo isto se lhe exigiriam maiores responsabilidades nas afirmações produzidas e, especialmente - estamos a falar de um sociólogo para quem o valor dos dados estatísticos e a análise dos factos sempre foi assumida como fundamental -, não falasse sem que o que afirma pudesse ser confrontado com a realidade e comprovado mediante a apresentação de provas e dados irrefutáveis. Vir a público afirmar existirem "cláusulas secretas nas parcerias público-privadas" para de seguida sentenciar não ter provas do que afirma e tudo não passar de uma sua "convicção" (estamos no domínio da fé...) acaba por colocar em causa não apenas o próprio Barreto e o seu percurso académico como também evidenciar, por extrapolação, a crise e o descrédito a que parecem ter chegado algumas das elites e "opinion leaders" que nos habituámos a escutar e, concordando ou discordando, a respeitar. Por mim, leitor habitual de António Barreto desde o seu (com Carlos Almeida) "Capitalismo e Emigração em Portugal" (1970), lamento que alguém com a sua cultura e percurso académico venha agora engrossar as fileiras do populismo dominante. Espero, pelo menos, o tenha feito por lapso e não por por qualquer tipo de "convicção".
2 comentários:
Todos nós temos as nossas convicções :)
Mas é óbvio que António Barreto tem outro tipo de responsabilidades
É isso mesmo. Mas até nós devemos guardar as nossas convicções para as conversas entre amigos.
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