Entendamo-nos: nesta questão das escutas a Pedro Passos Coelho claro que gostaria de ter ouvido ao primeiro-ministro palavras mais veementes condenatórias da violação do segredo de justiça, em vez de uma muito "popularucha" afirmação de que "até teria prazer na sua divulgação". Mas Passos Coelho é quem é, vale o que vale (pouco) e tais afirmações foram feitas de modo relativamente informal, o que, não servindo de desculpa total, serve pelo menos de atenuante. De qualquer modo, mesmo que "en passant", o primeiro-ministro sempre lá foi dizendo que "se aquilo que esse jornal [Expresso] refere tem aderência à realidade significa uma quebra do segredo de justiça. É porque alguma coisa que estava em segredo de justiça deixou de estar e, desse ponto de vista, é preciso saber o que se passou para que essa ilegalidade tivesse acontecido". Enfim, se não foi brilhante, sempre deu para ter um dez e passar.
Mas não nos enganemos: neste caso, a questão fundamental não é essa, como também não é o facto, que reputo de normal, de um banqueiro falar ao telefone com membros de um governo tentando fazer valer os seus pontos de vista sobre a privatização de uma empresa na qual está interessado. Questões fundamentais são mesmo a violação reiterada do segredo de justiça, a sua manipulação à medida dos interesses políticos do aparelho judicial e a transformação pelos "media" de uma "não notícia" (a conversa telefónica de José Maria Ricciardi com o primeiro-ministro) numa notícia, explorada à exaustão, que pretende deixar no ar a dúvida sobre a participação de Pedro Passos Coelho em alguma ilegalidade, a possibilidade deste poder estar implicado em negócio menos claro ou, no mínimo, tentando demonstrar a "tal" "promiscuidade" entre os "negócios a a política". E sobre esta exploração mediática populista de uma "não notícia" vejo pouca gente incomodada.
Já agora: e se discutíssemos política, que até me parece ser algo bem mais susceptível de incomodar Pedro Passos Coelho do que uma simples conversa telefónica com um banqueiro?
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