Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
quinta-feira, janeiro 31, 2008
Portrait of a Marriage (14)
O "Público" opta pela propaganda
"Quebras de receita chegam aos 70 por cento no primeiro mês da nova lei"
"Discotecas e restaurantes com menos clientes devido à proibição de fumar"
Lendo a notícia, chegamos às “fontes”: ARESP, Associação de Discotecas e Associação de Bares da Zona Histórica do Porto. Digamos que como “fontes” credíveis e imparciais seria difícil encontrar pior.
Pergunta: alguém confirmou? alguém perguntou em que estatísticas se baseavam? que períodos estavam efectivamente a ser comparados?
Jornalismo ou propaganda?
Fado "blues"
When I woke up this morning (e todos os bluesmen acordam uma manhã), e a propósito da resistência que quase todas as reformas têm de enfrentar neste país, dei por mim a pensar naquela velha história dos escuteiros que, para cumprirem a boa acção devida a cada dia, se juntaram para ajudar a “velhinha” a atravessar a rua. Questionados por quem de direito (professora ou chefe, não sei, nunca fui escuteiro) porque eram precisos tantos, a resposta veio imediata: “Ah, é que ela não queria!”.
Ora aqui está uma boa metáfora, lembrei-me quando acordei de manhã, que já me vai aligeirar das preocupações de ter que “blogar” todos os dias. De facto, existem alguns portugueses que teimam em sonhar Portugal como um país moderno, civilizado, mais europeu e menos tropical. O problema, o pequeno problema, é que os portugueses não querem e, tal como aconteceu certamente com a “velhinha”, resistem e, mal os escuteiros desaparecem na esquina ao fundo da rua, voltam de imediato para trás, qual porco com saudades do chiqueiro. Triste fado, triste destino. Triste tristeza.
quarta-feira, janeiro 30, 2008
Portrait of a Marriage (13)
O Parlamento e o século XXI
A nova ministra da saúde e a especulação política
terça-feira, janeiro 29, 2008
Trocadilho...
Portrait of a Marriage (12)
O 1º grande erro de José Sócrates
História(s) da Música Popular (74)
Pois é o original de Darlene Love e a versão das Dixie Cups que hoje vão encontrar por aqui. Qual preferem? A de Darlene Love, do tipo “Wall of Sound” ou a das Dixie Cups, digamos, talvez mais perto do Detroit Sound?
segunda-feira, janeiro 28, 2008
A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (30)
The political party Izquierda Republicana was formed in the fall of 1934, when Manuel Azaña fused his Acción Republicana with other moderate parties to create a large coalition of like-minded Republicans seeking to regain political power. Izquierda Republicana was the driving force behind the Popular Front coalition, which included the Socialists and Communists, united to curb the advance of the "fascist" right. The Popular Front was able to slimly defeat the conservative coalition in the national elections of 1936, and Izquierda Republicana secured 106 seats in Parliament, second only to the Socialists.
Theft of agrarian products, among other valuables, was a significant problem at the beginning of the Spanish Civil War, and the problem became worse as the war progressed. The food scarcity was exacerbated by constant warfare, and the rapid advances of the Nationalist army forced soldiers and refugees to help themselves to farmland foods. One Valencian collective sent the following complaint to the Minister of Agriculture on November 29, 1937:
[Soldiers and refugees] take whatever they want, break branches, strip our trees, break into and disturb our plantations, etc. Our nut crop has disappeared at their hands, the same is true of our pomegranates. They take vegetables, olives, yank out potatoes from the earth without letting them mature to a proper age and weight, and the oranges have disappeared from trees. We have an anguishing, exhausting, and frustrating situation on our hands.
Posters like this were one way that the Republican left tried to deal with the thefts.
Portrait of a Marriage (11)
Do vinho
Na base de tudo isto está, em primeiro lugar, o crescimento, em número e sofisticação, de uma classe média urbana e suburbana, já embrionário no final da década de sessenta mas que o 25 de Abril acelera. Portugal terciariza-se e, simultaneamente e em consequência, mudam-se também os hábitos e cresce e sofistica-se a restauração. O vinho passa, assim, da pipa da taberna e do garrafão da merenda do trabalhador rural para a casa burguesa e para o restaurante, mais exigentes. Para essa classe média recente e para algum novo-riquismo emergente que os negócios dos anos 80 propiciam, a escolha de um vinho em público é, por excelência, um campo onde podem procurar obter, sem demasiado investimento intelectual, alguma caução social e cultural, num sector onde o “conhecimento” era, até aí, fundamentalmente reservado às “classes altas” e cosmopolitas. Forma-se assim também - e cresce e desenvolve-se - um sector editorial e uma área jornalística específicas que irão funcionar, também eles, como elementos aceleradores do desenvolvimento do mercado e da sofisticação da procura, para além de contribuírem para a emergência de dois importantes fenómenos paralelos e complementares, também eles com papel importante enquanto “vanguarda” dessa renovação: os chamados wine freaks (conhecem e compram todos os vinhos “de garagem”, frequentam leilões, não partilham informação e gastam milhares de euros por mês em vinhos que fecham a “sete chaves” na cave lá de casa) e aqueles que, genuinamente, transformam o vinho e a cultura a ele associada (v.g. gastronomia, turismo) em entretenimento e partilha enquanto consumidores esclarecidos, enófilos interessados e epicuristas militantes. Tudo isto, em conjunto, transformou o perfil da procura fazendo do vinho também uma moda e, para alguns, quase um modo de estar na vida.
E a nível da oferta? Claro que a emergência do mercado global teve a sua quota parte de responsabilidade, embora o mercado português esteja, de certo modo, defendido, já que, por tradição, o consumidor indígena pouco se aventura nos vinhos estrangeiros - muito menos nos do chamado “Novo Mundo” - e a exportação, fora do tradicional sector do Vinho do Porto e dos rosés, ainda apresente uma relevância relativamente pequena. Mas, fundamentalmente, existe algo de muito específico, que torna o sector único, e que jogou um papel determinante na sua renovação: o facto de um número significativo de produtores, alguns deles anteriormente apenas fornecedores de Adegas Cooperativas (que, não por acaso, foram quem mais dificuldade revelou em responder aos desafios da mudança) ou vendedores de vinho a granel – que se irão constituir como que numa vanguarda -, estar incluído no grupo das chamadas “famílias tradicionais”, com tudo o que isso significa de melhor preparação escolar ou possibilidade de a obter para a geração seguinte, mais “mundo” e visão estratégica, maior capacidade de investimento e mais fácil acesso ao crédito e aos poderes de decisão, enfim, melhor preparação de base para se tornarem portadores de um processo acelerado de dinamização e mudança. Ah, e possibilidade de juntarem, frequentemente, num só produto o vinho e o turismo, tornando a oferta global.
sábado, janeiro 26, 2008
sexta-feira, janeiro 25, 2008
Da importância da assessoria de comunicação
Seguindo o – bom - conselho de Luís Campos e Cunha no “Público” de hoje de “olhar o céu e não o dedo que o aponta”, direi que Santana Lopes, Manuel Alegre e Vasco Pulido Valente não têm qualquer razão e manifestam ignorância ao negarem a importância do trabalho de uma agência (ou de especialistas) de comunicação no trabalho político e parlamentar. Não é isso que está em causa: nos dias de hoje, não há qualquer razão para se recorrer aos serviços de uma assessoria jurídica, económica, etc e não o fazer para a área de comunicação. O que efectivamente se pode colocar em causa é, isso sim e em primeiro lugar, a qualidade/especialização do fornecedor desse tipo de serviços para a área a que se destina e, logo, da adequação da assessoria prestada e sua adaptação ao tipo de trabalho e personalidade de cada político; em segundo lugar, da capacidade e preparação dos destinatários - políticos - para trabalhar com uma assessoria desse tipo e dela saberem tirar o máximo proveito, o que, no caso afirmativo, revela inteligência e por isso nem sempre acontece; em terceiro lugar, last but not least, do peso específico que essa assessoria irá ter e da importância que irá assumir no trabalho político, o que, obviamente, tem tudo a ver com as duas questões anteriores.
Ao colocarem a questão do modo como o fizeram, as três personalidades acima referidas não estão mais do que a passar um atestado de incompetência a si próprias.
Portrait of a Marriage (10)
O PSD e 2009
quinta-feira, janeiro 24, 2008
Portrait of a Marriage (9)
"Big Brother" Fernando Ruas is watching you
Segundo notícia de hoje do Rádio Clube, quase metade das autarquias querem instalar sistemas de video-vigilância no espaço público. Uma pergunta que gostaria de fazer: quantos desses autarcas (presidentes, vereadores, deputados municipais e outros fregueses), agora candidatos a Big Brother de aldeia, embarcaram no coro contra a ASAE e a lei do tabaco alegando que estávamos perante um atentado às liberdades individuais? Outra pergunta ainda: quando verei os comentadores de “referência” assanharem-se contra o projecto, já não direi tanto como o fizeram a favor das colheres de pau e das bolas de Berlim fritas em óleo requentado, pelo menos com a repulsa que o caso bem merece? Uma última pergunta: quando, no mesmo Rádio Clube, ouvi o general Garcia Leandro, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, afirmar candidamente que no prédio de cujo condomínio é administrador tinham instalado um sistema de video-vigilância e que isso tinha sido decidido em assembleia de condóminos, são mesmo o governo, José Sócrates, os ministros, Cavaco Silva, a UE, o Pato Donald e o Mickey que têm tendências autoritárias e querem vigiar a sociedade e condicionar os cidadãos?
PS. (de post scriptum) Já agora: será que vamos ver presidentes de câmara, vereadores, deputados municipais e outros fregueses tornarem-se, de repente - eles ou, mais provavelmente, as excelentíssimas mulheres, irmãos, primos, tios, sogras, gatos e cães - sócios e accionistas de empresas de venda, montagem e reparação de material de video-vigilância?
quarta-feira, janeiro 23, 2008
Portrait of a Marriage (8)
Medicamentos "unidose" - uma excelente iniciativa do CDS
O que vale a pena no "Público"
Algo que ainda vai valendo a pena ler no “Público”: os artigos de Luís Campos e Cunha às sextas-feiras (só em algumas), as opiniões de Pedro Magalhães (ver a última, de segunda-feira passada, sobre a lei dos partidos) e o pequeno artigo de hoje de Paulo Varela Gomes sobre os católicos em Goa. Pequenas coisas que nos aproximam de Portugal mas não chegam para com ele nos reconciliarmos.
Cinema e Rock & Roll (16)
História(s) da Música Popular (73)
The Crystals - "Then He Kissed Me" (Barry - Greenwich - Spector)
Bom, sobre as Crystals e as “trocas e baldrocas” a que Spector sujeitou o nome (umas vezes eram Darlene Love e as Blossoms que gravavavam outras as verdadeiras Crystals com “La La” Brooks) já por aqui falámos, sendo certo que no caso de “Da Doo Ron Ron” (ver post anterior)o tema começou por ser gravado por Darlene Love e depois re-gravado por Brooks. Já no caso de “Then He Kissed Me” (Barry – Greenwich) - e é deste tema que estamos agora a falar - são as verdadeiras Crystals a dar a voz. Chegou a um merecido #6 nos USA e #2 no UK e, mais tarde, em 1965, seria objecto de cover version pelos Beach Boys, integrado no álbum "Summer Days”. O que é curioso é que, no caso dos Beach Boys, passou de “Then He Kissed Me” para “Then I Kissed Her”, o que implica não só uma compreensível mudança de género como também a manutenção do “macho” como sujeito activo (podia bem ter-se chamado “Then She Kissed Me”...). Coisas do politicamente correcto da época.
Outro grande êxito de Barry – Greenwich com Spector nesse ano de 1963 é “Be My Baby” para as Ronettes, considerada por Brian Wilson a melhor canção pop de sempre. Digamos que é um exagero do também sempre exagerado Wilson, mas o tema ficou para a história - também pela introdução de bateria de Hal Blaine, que tocou com tudo o que era gente na época (Simon e Garfunkel, por exemplo). E digam lá que Veronica Benett não era mesmo uma gracinha?
terça-feira, janeiro 22, 2008
No país dos sovietes (3)
Portrait of a Marriage (7)
Presidencialismo ou parlamentarismo?
Vem isto a propósito de um sintoma dessa patologia que, várias vezes, por portador diverso, vai reaparecendo sob o nome de reforço dos poderes presidenciais” ou “da vertente presidencialista do regime”. Dantes era só a esquerda, convencida de que o Presidente seria sempre seu por via daquilo que designava por maioria sociológica. Agora, parece que a maleita alastrou a outras áreas do espectro partidário e lá temos Luís Filipe Menezes, aproveitando o 2º aniversário da presidência de Cavaco Silva (sans reproche), a arengar sobre o assunto.
Sejamos claros: ultrapassado o período de transição em que o poder militar coexistia com o poder civil e resolvidos os traumas da 1ª República parlamentar, não existe qualquer razão válida, em termos gerais e abstractos, para o reforço dos poderes presidenciais, algo que só nos afastaria dos modelos vigentes na Europa “civilizada”, das sociedades mais abertas e democráticas, e nos faria aproximar dos países ditos “em desenvolvimento”. Muito pelo contrário: existiriam todas as vantagens, em termos de clareza no funcionamento das instituições (vide o que se passou com Jorge Sampaio/governo Santana Lopes, independentemente das razões que a cada um poderiam assistir), para que se acentuasse o pendor parlamentar do regime, uma vez esgotado o mandato e o período de reeleição do actual presidente. É isso que se passa na esmagadora maioria dos países europeus mais desenvolvidos, com excepção do semi-presidencialismo da França da V República moldado à imagem e semelhança do messianismo “gaulista” num período conturbado e de quase pré-guerra civil (o caso Finlandês é muito específico). Seria esse o modelo que, independentemente de questões de ocasião e demasiado fulanizadas, num país que gosta mais de quem mande do que de quem liberte e onde tudo depende demasiado de um Estado ubíquo, mais nos colocaria ao abrigo de tendências e pulsões endémicas. É que, se até agora tudo correu bem, um dia sabe-se lá quem os portugueses poderão eleger...
Helena Matos e o "Hino de Espanha"
Os políticos, neste caso os espanhóis, não “se atrapalham com os versos dos hinos que os dirigentes desportivos querem ouvir cantar nos estádios” - e Helena Matos sabe bem que o problema não é esse, só que a verdade lhe dá pouco ou nenhum jeito. Os políticos acham, e bem, pura e simplesmente despropositado que a bizarria de adoptar uma letra para um hino (a “Marcha Real”) que nunca a teve com carácter oficial (lá por casa, ás vezes inventávamos algumas nem sempre com o aval paterno), só para que pudesse ser cantado quando a bandeira de Espanha sobe no mastro ou os jogadores se perfilam no início do jogo, iria causar graves problemas políticos e fracturas várias num país composto por várias nacionalidades, com grandes pulsões independentistas em algumas delas e onde, por esse motivo, pelas feridas mal saradas da guerra civil, por alguma recente radicalização ideológica do PP, inclusivamente pela questão da natureza monárquica ou republicana do regime que só o prestígio de D. Juan Carlos atenua, qualquer pequeno incidente, aparentemente menor, pode ter consequências imprevisíveis. Parafraseando o nosso actual Presidente da República referindo-se aos referendos: esse é, em Espanha, o tipo de coisas que se sabe como começa mas nunca se sabe como acaba. Uma letra para a "Marcha Real" era tudo o que Espanha não precisava de momento, a não ser, talvez, os seus sectores políticos mais radicais. Não era, Helena Matos?
Para além do mais, sabe você, Helena Matos, muito bem, em que contexto histórico e ideológico nasceram os hinos, entre os quais o português, o que acentua ainda mais o carácter um pouco vetusto e arcaico de tal iniciativa. Sabe, no fundo, os políticos de Espanha demonstraram alguma dose daquilo que você, qual incendiária em propriedade alheia, parece revelar desconhecer: bom senso! Só isso: apenas bom senso.
segunda-feira, janeiro 21, 2008
"Atonement"
O que tem de melhor “Atonement”, o filme de Joe Wright baseado no romance de Ian McEwan? Para além de Keira Knightley, bonita que dói (confesso o meu fraquinho), a visão apocalíptica, como se de um Exodus surreal se tratasse, da retirada de Dunkirk ( Dunquerque ou Dunkerque, como quiseram). Nunca tinha visto a retirada filmada assim; talvez só em “Apocalipse Now” a guerra tenha despertado em mim esse sentimento.
Nota: Aqui e ali, a história e a beleza de Knightley fizeram-me lembrar “The Go-Between” e Julie Christie. Mas estou em dívida para com o romance de McEwan, que não li, face ao de L. P. Hartley com lugar cativo à minha cabeceira.
Uma vez mais o "Prós & Contras"
Acho que já vi por aí escrito - penso que por José Pacheco Pereira, mas não estou certo - que o “Prós & Contras” funciona, por vezes, como um megafone do governo Sócrates, permitindo constantes idas de ministros à televisão num programa relativamente popular, mas também que se tem constituído frequentemente como ocasião única para o debate de certos temas. De acordo quanto à primeira afirmação; algumas dúvidas quanto à segunda. Penso que o formato do programa, opondo frequentemente defensores acérrimos, mesmo facciosos, de posição antagónicas, não favorece o debate sério e profundo, o mesmo acontecendo em virtude do excessivo número de participantes, da frequente má escolha dos intervenientes da plateia, da existência de claques e de uma Fátima Campos Ferreira mais “animadora” do que “moderadora” ou jornalista. Claro, dir-me-ão que este é o preço a pagar para se conseguir audiências significativas num programa de debate político. Poderá assim ser, mas deste modo o debate esclarecido fica seriamente prejudicado e o papel de megafone do governo não deixa de ser o resultado mais evidente.
Um país em "pronunciamento"?
Quem, vindo de outro planeta, aterrar neste país nos últimos meses, se estiver atento aos “media” deve julgá-lo à beira da guerra civil. Não como em 1975, em virtude de valores, concepções ideológicas e formas de organização da sociedade antagónicas e irreconciliáveis, mas sim em função de pequenos (por vezes mesmo mesquinhos) e grandes poderes instituídos e inamovíveis, fomentadores do statu quo; da luta pela distribuição de benefícios e benesses várias, bem raro e escasso numa sociedade tradicionalmente protegida, e contra o incómodo de ter de se adaptar à mudança. Por isso, ao contrário do acontecido no “Verão Quente”, não se contam quartéis, soldados e espingardas, mas espaço, tempo, imagem e líderes de opinião, estes “pronunciando-se” contra ou favor deste ou daquele, desta ou daquela medida, quais velhos generais sul americanos viciados no método mas adaptados às circunstâncias.
Ainda o "poder de compra" da Função Pública
Já depois de ter analisado aqui a questão da variação do poder de compra da Função Publica, que de modo nenhum se pode ou deve confundir com o aumento de salários negociado em cada ano com o Governo, pergunto-me quando, nas suas análises, os jornalistas começam a quantificar ou valorizar o facto de os respectivos funcionários terem garantido o emprego para a vida e a progressão automática na carreira, na prática, independentes das prestações efectivamente conseguidas. Talvez assim qualquer comparação se tornasse mais justa.
domingo, janeiro 20, 2008
Jornais
sábado, janeiro 19, 2008
Vasco Pulido Valente e a defesa do Ocidente
Segundo Vasco Pulido Valente, “o Ocidente não se convence que, para seu bem, a única civilização que deve defender é a sua” (“Público” de hoje, não "linkável"). Digamos que, como último objectivo, até poderei estar de acordo. Mas o que se depreende da leitura do artigo de VPV (de este e de outros) é que essa defesa só pode ser eficazmente conduzida adoptando os valores e princípios ideológicos defendidos por VPV, que se confundem (o termo é mesmo adequado), cada vez mais, com os de uma direita religiosa e fundamentalista. Ora aí é que “a porca torce o rabo”, como só se pudesse ser do FCP defendendo Pinto da Costa ou do Benfica apoiando Vieira. “Cá por mim”, o que parece estar a acontecer a VPV é ter cada vez maior dificuldade em admitir que exista mundo para além dele e do “Gambrinus” (quando ele lá está, claro), com umas, cada vez mais raras e vagas, reminiscências longínquas de uma Oxford já distante.
sexta-feira, janeiro 18, 2008
A propósito de música popular portuguesa...
Da música popular portuguesa - resposta a Pedro Freitas Branco (2)
Bom, tudo isto que citei como bons exemplos de MPP (e acrescento o Júlio Pereira de “Cavaquinho” e também algum Fausto – mas não lhe chame genial porque assim eu começo a descrer do valor das palavras) apresenta uma característica comum que traça a linha de separação entre si mesma e aquela outra que defino, sem demasiadas preocupações de rigor extremo, como “música ligeira”: mergulha a sua inspiração e raízes nas tradições e cultura populares, seja no fado de Lisboa ou por via da canção ou balada de Coimbra, seja em algumas formas musicais populares das zonas rurais (influência mais notada em José Afonso e nos últimos temas do GAC) ou até tropicais (Portugal foi um império colonial), como em algum José Afonso e também em Sérgio Godinho, por exemplo. Mas, acrescento algo de também muito importante, mantém bem vivas e de uma forma intransigente essas suas características originais e populares, não se servindo delas apenas como uma referência longínqua e um selo de "qualidade para caucionar incursões noutros de territórios musicais que lhe já não pertencem.
Poderemos incluir neste conceito o chamado “Novo Rock Português? Sinceramente, não me parece. Como o próprio nome indica, trata-se, fundamentalmente, de uma adaptação á realidade portuguesa, conduzida pela geração cujos pais vieram habitar os subúrbios de Lisboa, Porto e todo o litoral no boom económico dos anos sessenta, de algo que, na música, é estranho à cultura tradicional local: o "rock & roll". Em certa medida, é um déja vue da geração de Bacelar, dos Conchas e do Zeca do Rock (o que não retira a estes a importância do pioneirismo), agora massificado e cantado em português por duas razões fundamentais: o nascimento e crescimento de um novo mercado formado por uma emergente classe média suburbana, com a formação de uma cultura própria gerada pela democratização e liberalização dos costumes e que necessita exprimir-se, e a explosão e democratização dos “media”. Mais ainda, naqueles que considero serem os seus exemplos mais interessantes, e você cita os “Xutos” e os “UHF (outros haverá), existe em si alguma influência do movimento punk (v. cita os Clash), tratando-se assim, e uma vez mais, de um efeito que tem muito de imitativo de um movimento, na origem, gerado por realidades sociais e musicais sem grande paralelo no Portugal de então. Digamos que assim como o "rock" original português nunca passou no “Em Órbita”, pelas mesmas razões o "novo" não passa o crivo da minha intransigência, não sem que isso signifique a negação da existência de alguns bons músicos. Por exemplo, Rui Veloso é um muito razoável guitarrista de "blues", mas – sei que vou ser polémico – não posso dizer o mesmo da sua música e do seu estatuto de “intérprete oficial do regime”. Rão Kyao foi interessante, mas a sua música tornou-se um pouco “música de aeroporto” (ou será de elevador?). Quanto a Jorge Palma admito poder tratar-se de uma questão de geração... Será? Mas vamos para a frente, já que, como você próprio reconhece, 80% da safra era de valor sofrível.
Lamento, mas não posso incluir António Variações no Novo Rock Português. Digamos que é inclassificável, o que é bem demonstrativo da sua originalidade e importância. A melhor definição da sua música vem dele próprio: algo entre o Minho e Nova York, o que o identifica também muito bem em termos culturais – a mãe, Amália e o cosmopolitismo da sua vida e imagem! Variações é autêntica música popular, com todas as suas influências do fado de Lisboa e do folclore do seu Minho natal. Voltando a referir-me ao “Em Órbita”, diria, assumindo algumas liberdades, que está para o Novo Rock Português como o 1111 da “Balada para El- Rei D. Sebastião” estava para o "rock" português dos anos sessenta. É uma ruptura e, além disso, foi (ou alguém por ele terá sido) pioneiro na utilização do “vídeo clip”, aproveitando bem a imagem “gráfica” por si construída. Sem dúvida, o que de mais importante surgiu na MPP nos últimos 25 anos.
Depois disso, o quê? Confesso a minha dificuldade, já que a qualidade é muito pouca (só?). Mas arrisco, uma vez mais, ser polémico, que é mesmo para isso que aqui estou e a blogosfera também. Interessante, interessante mesmo, foi aquele que terá sido em Portugal o melhor e mais acabado exemplo de “one hit wonder”: “Adiafa” e “As Meninas da Ribeira do Sado”. Surpresa? Se me leu com atenção, “olhe que não, olhe que não!”.
quinta-feira, janeiro 17, 2008
Da música popular portuguesa - resposta a Pedro Freitas Branco (1)
Pois responde no Ié-Ié o Pedro Freitas Branco (aka "Filhote") a este meu post publicado aqui no dia 25 de Abril de 2007 sobre a música popular portuguesa (MPP). E responde muito bem, claro, que isto de polémicas educadas e fundamentadas é coisa que me está nos genes. Mas vamos lá tentar dar a tréplica, explicando melhor as razões que levaram PFB a replicar.
Pois diz o Pedro que a minha opinião “não escapa a uma certa parcialidade”. Claro que não, nem pretenderia fosse de outro modo: assumo, de modo firme, os valores que moldaram a minha personalidade neste campo e eles são, fundamentalmente, os da revolução musical e social que constituiu o "rockabilly" e o "rock & roll" (e aqui estou também a falar de "blues") e os da radicalidade, se quiser também do elitismo, que parametrizaram o “Em Órbita”. Claro que haverá outras (ninguém escapou ao Brel e à canção de texto francesa, por exemplo), mas estas são as fundamentais, quase as do berço apesar de andar ainda na 1ª classe quando Elvis Presley gravou “That’s All Right”. Having said this, não estranhe portanto o Pedro que eu “afunile” um pouco (ou muito) as minhas preferências no que diz respeito à MPP, e também as radicalize, centrando-as naqueles que, quanto a mim, protagonizaram um corte (uma revolução, se quiser) muito mais do que uma evolução ou, até, um pequeno salto em frente. De igual modo poderá compreender que, também neste campo da música popular, esteja mais próximo de algumas formas musicalmente consideradas mais primitivas, mais simples, do que de outras musicalmente mais elaboradas ou evoluídas, digamos assim, até poeticamente. Haverá excepções, claro está, mas este é o meu território e é melhor marcá-lo desde já.
Não se admire, portanto, o Pedro da minha preferência pelo fado vadio, rasca, dos prostíbulos e das tabernas, do povo e da aristocracia que com ele convivia (e o dominava...). Não se espante, também, pelo tributo que sempre presto àquele que considero o primeiro grande inovador da MPP e, a par com José Afonso, a maior personalidade dessa música popular no Portugal do século XX: Alfredo Rodrigo Duarte (“Marceneiro”). Exagero? Não acho... Por isso, caro Pedro, a minha preferência no fado (e também nos "blues" – ver neste blog a rubrica respectiva) vá mais para os seus cultores do passado, para as suas formas mais simples da primeira metade do século XX, do que para as suas evoluções mais intelectualizadas, não partilhando o seu entusiasmo por Carlos do Carmo, mas sim pela Amália dos anos 50, a do “Café Luso” (o resto é para esquecer e quanto mais depressa melhor), por Maria Teresa de Noronha e por muitos mais que o espólio de Bruce Bastin trouxe agora à luz do dia.
Bom, se teve paciência para ler todo este arrazoado, não vai estranhar que passe um pouco ao lado de alguma evolução que os “Festivais da Canção” do final dos anos sessenta/início dos anos setenta trouxeram á música ligeira portuguesa (aqui, a utilização do termo “música ligeira” e não “música popular” é propositada), principalmente ao nível das “letras” e do tipo de interpretação. Desculpe lá, mas bem dentro dos padrões de actuação do PCP – que aqui era dominante - foi bem mais uma infiltração nas estruturas existentes do regime do que qualquer outra coisa! Mas já ouviu “Sol de Inverno” e “Vocês Sabem Lá” de Nóbrega e Sousa? Não gostávamos (os da minha geração), pois era a música dos nossos pais - com quem estabelecemos um corte geracional - e também porque a identificávamos com o regime, mas também antes do "rock & roll" havia na América alguma boa música ligeira ("melodias bem construídas" - não sei se a frase é sua e peço desculpa por isso) e não havia ditadura. Havia segregação... e depois guerra no Vietnam, e o "rock & roll" teve aí uma intervenção bem preponderante e decisiva.
Sobre José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho, José Mário Branco, Carlos Paredes e, depois, o GAC (mesmo o da “Luta dos Bairros Camarários” e afins, que inova ao integrar o canto e a música naquilo que os grupos M-L designavam na altura como “lutas populares”) não vale a pena acrescentar mais nada: estaremos ambos, e não só, de acordo, acho. Vamos antes ao que nos separa, não sem deixar de focar que o fado ou balada coimbrã, na génese da grande revolução da MPP, não são muito mais do que o fado de Lisboa levado para Coimbra pelos estudantes e adaptado e aberto à sua vivência e iniciativas. Já reparou que os “futricas” estão à margem dele?
(continua)
quarta-feira, janeiro 16, 2008
As televisões e o comentário político
Vamos ser claros. Só se chega ao ponto de assistir ao triste espectáculo de ver o líder do maior partido da oposição vir a terreiro propor como se devem organizar e quais os intervenientes nos comentários políticos nas televisões porque estas se permitiram convidar dirigentes e ex-dirigentes partidários, com uma agenda política própria, para ocuparem esses lugares, em vez de jornalistas, politólogos, sociólogos, historiadores, etc, como seria lógico acontecer. Agora queixem-se!
Portrait of a Marriage (1)
Pois o post de António Figueira “obrigou-me” a ir ao "You Tube" onde descobri a série, em episódios, na totalidade ou perto disso. Uma boa descoberta e um bom pretexto para aqui a passar nos próximos dias.
Os salários da FP, a inflação e os sindicatos
No jornal “Público” de hoje pode ler-se um trabalho comparando as taxas de inflação e os aumentos salariais da função pública nos últimos dez anos, concluindo, dessa comparação, a perda constante de poder de compra por parte dos trabalhadores nesse período. A conclusão pode até estar certa – não sei - mas os instrumentos de análise que a ela permitem chegar por certo não o estão. Se não, vejamos.
Para se chegar a uma conclusão sobre a evolução do poder de compra dos trabalhadores da função pública – ou de outro qualquer sector de actividade, ou empresa - há que comparar com a taxa de inflação não apenas o seu aumento de salário mas o aumento total da massa salarial, o que inclui as verbas destinadas a promoções, gratificações, subsídios, diuturnidades e outras, principalmente quando sabemos que a evolução das carreiras no Estado é praticamente automática, isto é, que, periodicamente, os trabalhadores recebem não só a verba destinada ao aumento de vencimento da categoria onde estão inseridos mas também o aumento correspondente à promoção obtida. Se quisermos ser mais rigorosos, essa verba (aumento da massa salarial), para efeitos de comparação, deve ser líquida da variação do número de trabalhadores, isto é, para esse cálculo não deve ser contabilizada a parte destinada a pagamentosde salários de novos trabalhadores admitidos ou que tenham abandonado o sector.
Tendo dito isto, por certo concluiríamos que uma comparação efectuada nestes termos, mais rigorosos, por certo permitiria chegar a conclusões um pouco diversas, em favor do poder de compra dos trabalhadores e em desfavor da respectiva perda, embora o congelamento de algumas carreiras, nos últimos anos, por certo tenha atenuado as diferenças entre os valores calculados através do recurso a cada uma das metodologias.
Tudo isto vem a propósito de um subterfúgio a que os governos têm recorrido nos últimos anos para, em virtude do déficit excessivo e na tentativa de o controlar e diminuir, “comprimir” os salários do funcionalismo público estimando sempre “por baixo” as taxas de inflação anuais e não procedendo a acertos posteriores em função das taxas efectivamente verificadas. Digamos que é um mau exemplo, uma pequena desonestidade de onde deveriam vir, isso sim, exemplos de outra índole, mas, se repararmos bem, também os sindicatos têm aceite fazer parte desse jogo sujo e viciado. E porquê? Bom, a diminuição do déficit excessivo implica um controle e diminuição das verbas destinadas ao pagamento dos funcionários públicos – a tal massa salarial -, com peso excessivo nas despesas do Estado (e estas com peso excessivo no PIB), e isso só pode ser feito, no limite, de duas maneiras: ou diminuindo o número de funcionários ou pagando pior aos existentes. Não há volta a dar-lhe! Claro que para os sindicatos, defensores do statu quo, e para os trabalhadores com piores qualificações e resultados o cenário de despedimentos ou afastamentos é seguramente o pior dos cenários, mas, afastando desde já propostas económica e politicamente irrealistas, do tipo ultra-liberal, de despedimento de funcionários em massa, será assim para todos? Penso que não: uma diminuição, se criteriosa, do número de trabalhadores da FP, englobada e tendo por base uma reforma da respectiva administração que valorizasse as avaliações, iria permitir não só um aumento da produtividade como, por via dessa melhoria e da diminuição do pay roll, alguma melhoria progressiva nos salários dos que ficassem e apresentassem resultados. Um cenário que iria retirar poder aos sindicatos e do qual estes fogem como o diabo da cruz ou o Conde Drácula dos alhos, claro.
terça-feira, janeiro 15, 2008
História(s) da Música Popular (72)
The Raindrops - "Da Doo Ron Ron" (Barry - Greenwich - Spector)
Mas tal como Carole King, Barry Mann e o próprio Spector – de todos, Carole King a única com qualidade e êxito consistentes – ambos também acharam que tinham talento para a interpretação e se bem o pensaram melhor(?) o fizeram. Nesse mesmo ano de 1963 formaram os Raindrops, que mais não eram do que Ellie e Jeff, embora uma irmã de Ellie, Laura, também apareça em algumas fotografias do grupo, que nunca actuou ao vivo. O grupo teve sucessos efémeros (“What A Guy” e “The Kind Of Boy You Can’t Forget”, este que chegou ao top 20) e gravou um tema que seria um futuro #1 para Tommy James & the Shondells, “Hanky Pank”.
Mas, na realidade, o facto mais relevante ligado ao grupo foi a paternidade de um dos maiores sucessos da British invasion e as peripécias que a ele estão ligadas. Nesse mesmo ano de 1963 Barry e Greenwich escreveram “Do Wah Diddy Diddy” um tema destinado aos Exciters (os tais de “Tell Him”). Enquanto Raindrops decidiram também gravá-lo, mas quando preparavam a sua edição, em 1964, souberam que um cover gravado pelos Manfred Mann em Junho desse ano era #1 no UK. Dois meses mais tarde o tema era também #1 do US Billboard Hot 100. Resultado imediato: o tema gravado pelos Raindrops só seria editado em 1994!!! Quanto aos Manfred Mann, o resto é história.
Bom, mas o que temos então aqui hoje? Algo em grande, claro: as versões dos Raindrops e de Manfred Mann de “Do Wha Diddy Diddy” e, já que estamos numa de nomes estranhos, “Da Doo Ron Ron” pelos mesmos Raindrops e pela Crystals. Help yourself, avisando, desde já, que as versões de Manfred Mann e das Crystals são bem melhores. É que cada um nasce mesmo para o que nasce!
O "Prós & Contras" de ontem
- A construção no Campo de Tiro de Alcochete da megalómana “grande cidade aeroportuária” e a outorga de “compensações”, ou seja, licenças de construção a esmo e à revelia de qualquer plano director anteriormente aprovado, aos autarcas do Oeste vai transformar toda a área compreendida entre Leiria, Setúbal, Santarém e Vendas Novas num gigantesco subúrbio sul americano. A quem for ainda a tempo aconselho a emigração. Aos outros a eutanásia. Depois não digam que não avisei.
- A partir de determinada altura, uma das minhas curiosidades era ver quando o ministro Lino e a inefável Zita Seabra se começavam a tratar por “camaradas”.
- Sobre o novo aeroporto e a competitividade com Espanha ver aqui e aqui dois posts anteriores do "Gato Maltês".
segunda-feira, janeiro 14, 2008
Mais notícias de um país de tristes
Duas pequenas notas de 2ª feira neste país de tristes:
- Basta ter ouvido hoje o fórum TSF, sobre a ASAE, para perceber o atraso, falta de preparação e ignorância do povo português, em pânico perante os mínimos indícios de uma modernidade que não entende, por isso vê como uma ameaça, a ela não conseguindo, sequer, tentar adaptar-se.
- A primeira página do jornal “A Bola” de hoje, quase totalmente preenchida com a notícia da contratação de um ignorado jogador romeno pelo Sport Lisboa e Benfica, é também ela sinal inequívoco do estado de falência a que chegaram o futebol português e os seus principais clubes. Também do estado de degradação moral e profissional de alguma imprensa desportiva em tempos considerada de referência. Patético.
domingo, janeiro 13, 2008
"Conta-me Como Foi"
Decididamente menos bem algumas liberdades que se permitem ao argumento, que se compreendem como cedências para facilitar o fluir da história mas que a fazem o todo cair no facilitismo, na telenovela “pura e dura”. Assim, se podemos aceitar com facilidade que a filha de um alto funcionário do regime seja activa militante do movimento estudantil, já me parece um devaneio (no mínimo) que, na sociedade hiper-classista e estanque de então, sendo os pais simultaneamente grandes e ricos proprietários agrícolas e pertencentes, portanto, à aristocracia fundiária, a rapariga se tome de amores, espere criança e casamento do filho de um contínuo e que ambos falem da mesma maneira e com pronúncia semelhante. Claro que ajuda à dramatização, mas... O mesmo se pode dizer, em termos de verosimilhança, da visita a Londres da filha, cabeleireira de profissão, do casal (ele contínuo e ela costureira/doméstica), que mais não serve do que para acentuar o contraste entre uma sociedade moderna, democrática e aberta (a swinging London dos sixties) e o provincianismo de costumes do Portugal de Salazar. Muito menos que ela oiça, em 1969, como arquétipo da modernidade da música de então, um Cliff Richard de 1961. Sim, eu sei que é apenas um divertimento que se pretende didáctico, mas é exactamente por isso (por pretender ser didáctico) que deveria resistir a esse tipo de “facilidades”.
Rui Costa e Luís Filipe Vieira
sábado, janeiro 12, 2008
MST, VPV. AB, o "Expresso", o "Sol" e o futuro da pátria
O “Gato Maltês” tem estado para aqui a pensar - e o “Gato Maltês às vezes pensa, principalmente quando, como hoje, o Benfica não ganha e faz triste figura –, em propor a tão insignes figuras e instituições nacionais como, por exemplo, MST, VPV, AB, “Expresso” e “Sol” que, pelo menos durante uma semana (uma semaninha, não custa nada), em vez de estarem permanentemente preocupados com assuntos de sobremaneira graves e estruturantes para o futuro da pátria e na nação – e o “Gato Maltês”, apesar de muito arraçado e de ter tido os seus ascendentes e agora os descendentes espalhados aí pelo mundo, lá nasceu e cresceu por aqui – tais como as bolas de Berlim com ou sem creme, colheres de pau, rissóis das “tias” e ginginha “com elas”, por exemplo (é verdade, e das iscas e da fava rica, já algum deles se lembrou?), talvez fosse tempo de fazerem uma pausa e, para variar, descontraírem e arejarem um pouco a cabeça, distraindo-a de tão profundos pensamentos e passando a dedicar, durante essa semana, alguma da sua energia, papel e bytes a assuntos de índole um pouco mais ligeira, quiçá fútil, que os distraiam de tão magnos e preocupantes problemas. É que o “Gato Maltês”, se calhar por não ser fumador (vá lá, de vez em quando lá fuma um “Romeo e Julieta” nº 1, pecado confesso), até se preocupa com a saúde de tão brilhantes mentes e instituições - caraças! - e não os deseja, de modo absolutamente nenhum, ver em sofrimento súbito por via de uma qualquer surmenage!
Assim, e em conformidade com o desejo acima expresso (sem aspas e com letra minúscula), o “Gato Maltês” propõe que tão ilustres e reconhecidos cidadãos e instituições, durante uma semana (só uma, vá lá), dissertem apenas sobre problemas sem importância, que não exijam grande estudo e tempo de consulta, conhecimentos académicos e coisas de magitude tal e tamanha. Para isso, não se importa mesmo nada de deixar aqui algumas pequenas sugestões, que, pensa, poderão bem caber dentro dessa definição, não se importando, contudo, que outras de conformação semelhante ou até julgadas mais discipiendas lhe possam ser ajuntadas. Como exemplo – e, frise-se, trata-se apenas de um exemplo – aqui ficam algumas sugestões e “dicas” (segue lista) à consideração dos referidos destinatários: estabilização orçamental; crescimento económico; desemprego; modelo de desenvolvimento e da nova estrutura aeroportuária; rede(?) de alta velocidade; abandono escolar e modelo de gestão da rede de escolas públicas; reforma da administração; desigualdades sociais; situação da Justiça; sustentabilidade da segurança social e do SNS; reconversão empresarial; integração europeia e futuro da União; modernização e liberalização da sociedade portuguesa nas chamadas questões de sociedade; flexibilidade e legislação laboral, corrupção; actuação sindical e concertação social, etc, etc, etc.
Como se pode sem qualquer esforço verificar, nenhuma delas tem qualquer relevância, mas, que raio, a vida também não se pode levar sempre demasiado a sério, pois não? E, como disse, é só uma semana. Uma pausa, uma simples semaninha.
sexta-feira, janeiro 11, 2008
Novo aeroporto: discutir a remodelação do governo ou focar o essencial?
quinta-feira, janeiro 10, 2008
O "Gato Maltês" e o novo aeroporto de Lisboa
As Capas de Cândido Costa Pinto (38)
Marques Mendes e Alcochete
As decisões do governo numa antevisão do "Gato Maltês"*
Quanto à nova estrutura aeroportuária, sabida da oposição da maioria dos portugueses, tem aqui o governo uma oportunidade de se tornar mais popular tomando uma decisão baseada na razoabilidade e num consenso alargado, definindo um corte, se não radical pelo menos significativo, com o modelo de desenvolvimento adoptado nos últimos decénios. Desconheço qual o grau dos compromissos já assumidos, mas, estando de fora, não me parece que, aqui, a decisão mais popular fosse coincidente com a decisão de risco ou com a decisão errada, antes pelo contrário. Enquanto adversário do projecto “grande cidade aeroportuária” e também enquanto cidadão e eleitor desconfiado da credibilidade das alternativas ao actual governo, espero bem que o governo tome uma decisão sensata. Terá tudo a ganhar, ele e nós."
Ota vs Alcochete?
quarta-feira, janeiro 09, 2008
Don't make promises you can't keep...
Vamos ser claros. O PS e o governo poderiam prometer referendar uma nova lei sobre a IVG: depois do faux pas que tinha sido o referendo anterior - só mesmo ao PCP lembraria alterar o seu resultado por votação parlamentar, mesmo não tendo os resultados sido vinculativos - a iniciativa de convocação de nova consulta popular não só dependeria de si como a questão do aborto era estrutural na sociedade portuguesa. Claro que a consulta poderia ser chumbada na AR caso o PS não obtivesse maioria absoluta, ou pelo PR se este assim o decidisse, mas isso não invalidaria o cumprimento da promessa (a iniciativa da sua convocação). Já em relação ao referendo sobre o então Tratado Constitucional do qual o Tratado Reformador é herdeiro, a questão é mais complexa. Independentemente das posições de princípio de cada um sobre o instituto do referendo (as minhas já por aqui foram expressas por várias vezes), como se veio a verificar a questão era não só demasiado conjuntural (bastaram dois “chumbos” para tudo ser reformulado e isso deveria ter sido previsto), como dependia demasiado de factores não controláveis internamente, sejam, o que aconteceria com os outros estados-membros e quais as subsequentes decisões conjuntas da UE formais ou apenas tácitas. Ao decidir prometer o referendo sobre o Tratado Constitucional o PS esqueceu estes princípios básicos da política e, pior, sacrificou a estratégia (o aprofundamento da construção europeia) à táctica: o PSD era, na altura, favorável ao referendo e é sempre popular dizer que se consultam as “massas” mesmo quando estas resolvem ficar em casa afirmando “estarem-se nas tintas” para a consulta. Assim, meteu-se num “molho de bróculos” de onde dificilmente escapará ileso.
terça-feira, janeiro 08, 2008
Referendo???
"Sou, por princípio e em termos gerais e abstractos, contrário às “democracias” plebiscitárias e/ou referendárias (e não vem aqui ao caso a minha posição favorável ao federalismo europeu), com possível excepção para questões simples e concretas de âmbito local, mas reconheço que, no primeiro caso, uma decisão favorável ao referendo, até pelo contraste que estabeleceria com a decisão já tomada pelo PSD, iria, disso não tenho dúvidas, contribuir para um aumento da popularidade do governo, mais a mais quando se lhe apontam vícios vários de autismo e arrogância. Se este assim o decidir, será uma decisão irresponsável, ditada pela demagogia e o eleitoralismo fácil, arriscando-se a comprar um conflito com os seus parceiros europeus e, eventualmente, com o Presidente da República e a contribuir para hipotecar o futuro do aprofundamento político da União em troca de uma cedência aos vários eurocepticismos e basismos, por princípio seus adversários políticos, à esquerda e à direita. Mais ainda, arrisca-se a uma participação ridícula (não será pessimismo prever uma afluência na casa dos 30%) e, no caso de derrota (será de prever que apenas os partidários do “NÂO” serão susceptíveis de uma mobilização significativa), a actuar tal qual qualquer aprendiz de feiticeiro, criando um problema cuja necessária solução futura, por burocrática ou de gabinete mas sempre obnóxia, o colocaria numa situação de fragilidade política extrema, interna e externamente, e o afastaria ainda mais de qualquer pretensão de popularidade futura."
Escrito e publicado por mim no "Gato Maltês" a 2 de Novembro de 2007
História(s) da Música Popular (71)
Bom, mas no próximo “episódio” lá repescarei Jeff Barry também como intérprete (ou mais ou menos), que também o foi com Ellie formando os Raindrops.
segunda-feira, janeiro 07, 2008
O Benfica e o populismo
Foi este seu perfil e modelo de crescimento que permitiram o seu sucesso, mas que também estiveram na base da sua decadência por inadaptação clara, a partir dos anos setenta, a um novo modelo emergente numa época em que o poder económico e político “viram” conjunturalmente a norte e em que a televisão, patrocínios e merchandising, com a subsequente internacionalização dos clubes/marca, ocupam um lugar cada vez mais importante como fontes de financiamento. É esta sua cultura enquanto instituição, esta sua filosofia de vida qual marca de origem que se lhe cola como se de uma fatalidade se tratasse, que o torna no “grande” que mais dificuldades veio a ter para se adaptar a este “mundo novo”. A capacidade para assim atrair o populismo, com o ror de decisões erráticas e erradas que normalmente lhe estão associadas (e a ampliação do estádio para 120.000 lugares numa época em que a tendência era já a inversa talvez tenha sido apenas a primeira), aparece quase como uma inevitabilidade.