domingo, julho 01, 2007

A propósito da Europa

Penso que a grande maioria dos portugueses não se revê nos valores políticos, culturais e civilizacionais dos países mais desenvolvidos do norte e centro da Europa. A adesão à então CEE foi mais obra de uma acção voluntarista de alguns políticos e intelectuais estrangeirados e cosmopolitas, a maioria ligados ao Partido Socialista e, por via disso, à social-democracia europeia, alguns deles tendo mesmo vivido um exílio forçado ou voluntário nessa mesma Europa, do que um retomar do sentido histórico interrompido pela ditadura ou um desejo frontalmente assumido pelo Portugal mais profundo. E se as posições eurocépticas raramente se fizeram sentir “à direita”, isso deve-se mais à atracção pelos fundos comunitários do que a uma partilha de ideais de civilização, não admirando que, hoje em dia, quando é o aprofundamento político da União que está em causa, a abertura dos mercados a fazer sentir a sua lei e algumas brechas se tendem a abrir na aliança Europa-América acentuadas pela administração Bush e pela adesão dos países da zona de influência soviética, o eurocepticismo encontre terreno fértil onde florescer. Acresce que, também em Portugal, uma nova elite ideológica liberal, claramente eurocéptica e atlantista, é hoje quem acaba por contribuir decisivamente para definir os parâmetros da discussão política, atribuindo-se a si própria a marca da modernidade das ideias, em certa medida nela aprisionando o pensamento.

Ao nível das classes populares, do “povo”, a influência cultural dos terceiro-mundismos sul-americanos é claramente dominante, na maneira de vestir, nos gostos televisivos e nos destinos de férias de uma pequena e média burguesia mais endinheirada, nos neologismos que usam, em muita música que consomem, nas imitações do carnaval “carioca”. Até na selecção de futebol que apoiam! Eis, no fundo, ao que aspiram: salários europeus, valores “tropicais”. Por alguma razão, os emigrantes portugueses nas ex-colónias se integraram muito mais na cultura e tecido social locais do que as burguesias coloniais britânicas, que tendiam a recriar aí os seus modelos e modos de vida de origem. Nada disto é contudo novo, e sempre foi esta a receita de uma nobreza vencida em Alcácer Quibir e que para manter a sua independência face à poderosa aristocracia castelhana hipotecou no mar e nos trópicos, em favor do proteccionismo britânico, o desenvolvimento do país.

Ontem, á medida de um zapping já não me lembro a que horas, dei comigo a vislumbrar um programa de viagens na RTPN com algumas imagens de Ljubljana, pequena capital da Eslovénia e cidade onde nunca estive, embora já tenha estado no país e conheça bem Sérvia, Croácia e Montenegro. Uma cidade calma e limpa, povoada de pequenos edifícios com carácter, as pessoas deslocando-se de bicicleta, tudo respirando um ar que me transportou de imediato para as pequenas cidades da Áustria ou da Suíça. É assim a Europa...

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