sexta-feira, julho 27, 2007

"Da cabeça ao rabo é tudo touro"?

Algo que se está a tornar num hábito no comentário, análise e combate políticos é a não gradação dos factos que lhes dão origem, isto é, a sua não hierarquização em função da sua gravidade para a vida democrática ou da sua importância estratégica. Penso que a sua origem estará na subordinação total da agenda política à agenda mediática, num panorama de crescente tablóidização desta última com a necessidade de colocar em destaque os temas mais populares, de maior audiência, e os de maior impacto participativo nos vários foruns televisivos e radiofónicos. Já dei como exemplo dois casos, que incluo na chamada “petite politique”, com peso e importância muito diferentes (o caso dos pseudo manifestantes vindos da província para “aplaudir” António Costa e o da “forjada” sala de aula dos quadros interactivos) mas que foram valorados de modo praticamente idêntico. Outro exemplo é o modo como foram tratados o chamado caso Charrua/DREN e o do Centro de Saúde de Vieira do Minho. Se, no primeiro caso, independentemente do aproveitamento político que se lhe seguiu, mandaria o bom senso, o saudável convívio empresarial, o exemplo e a correcta gestão de recursos humanos que uma delação não visse premiado o seu autor com a abertura de um processo disciplinar ao visado, no caso do Centro de Saúde de Vieira do Minho trata-se de um caso, puro e simples, de insubordinação e indisciplina, permitindo-se um funcionário afixar um cartaz em que se denegria, em local de acesso público, a imagem do ministro da tutela. Por muitas razões que lhe assistissem e por muito bom humor que manifestasse, um Centro de Saúde não será propriamente um anfiteatro numa récita de finalistas.

Por último, um exemplo talvez mais extremo: nenhum destes casos tem importância comparável ao da construção da nova infra-estrutura aeroportuária, do TGV ou da reforma da Administração Pública. Nos casos anteriores estamos a falar de questões pontuais, inerentes ao normal fluir do dia-a-dia da vida política democrática, independentemente dos juízos que sobre eles possamos formular e da correcta ou incorrecta decisão dos intervenientes. A sua repercussão será, naturalmente, limitada. Nestes últimos casos estamos a falar de decisões estratégicas, cujas opções, correctas ou incorrectas, num sentido ou noutro, irão ter enormes e decisivas repercussões na vida do país e no bem estar dos seus habitantes nas décadas seguintes. Seria do mais elementar bom senso ter isto em atenção. Ou será que "da cabeça ao rabo é tudo touro"?

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