quinta-feira, julho 12, 2007

Os estrangeiros/"alfacinhas" e os portugueses

Descendente de “alfacinhas” de várias gerações (por parte da minha mãe) e de estrangeiros imigrados de nacionalidades várias (família paterna), é sempre com curiosidade que leio e escuto opiniões de estrangeiros a viver em Lisboa, principalmente depois de, já adulto e com filhos, ter ouvido a minha avó paterna confessar que chorou horrorizada quando, com os seus vinte e poucos anos e a caminho do terceiro filho (o meu tio mais novo), na década de vinte do século passado, se viu chegada a Lisboa, pela primeira vez, com a perspectiva de aqui viver o resto da sua vida. Terá achado Lisboa – disse-me – uma cidade pobre e provinciana, um recanto pouco menos do que perdido no mundo. Vem isto a propósito das entrevistas que o “Público” tem vindo a publicar com “estrangeiros/alfacinhas”, tentando saber dos seus agrados e desagrados, paixões e desilusões. O que é curioso é que um dos hábitos tidos por mais estranhos, na sua opinião mais ou menos generalizada, é o tempo excessivo que os portugueses gastam com o almoço (e o que comem, acrescento eu), algo que compartilho inteiramente. Há muito deixei de almoçar durante a semana, excepto por razões profissionais – que evito – ou quando isso é pretexto para um almoço leve e uma hora de conversa com filhos ou amigos. Uma boa sanduíche e fruta substituem o almoço com vantagem. Mesmo durante o fim de semana, só uma boa perspectiva gastronómica, bom vinho incluído, e conversa com amigos (três coisas a que dificilmente resisto – mas há outras), alteram regularmente este meu hábito.

Mas a questão começa bem antes, ao pequeno almoço, refeição que os portugueses substituem por um queque e um galão no café da esquina. Apesar de nunca ter aderido aos cereais (e a minha mãe bem se esforçou por me fazer engolir os corn-flakes ou os flocos de aveia durante a infância), substituídos com vantagem (acho) por pão de cereais e integral, um lauto pequeno com iogurtes, fruta, queijo fresco, sumo e doce – e, se possível, com uns ovos mexidos - é algo cuja ausência me deixaria indisposto para o resto do dia; tanto quanto o cortar-me a fazer a barba!

Mas hoje, uma cidadã polaca de nome Klaudia Palczac (e os polacos estão longe de ser um exemplo de cosmopolitismo), acrescenta a isto mais duas coisas que dificilmente entende, partilhando eu essa sua estranheza: o vestuário demasiado informal que as mulheres usam no trabalho (e eu acrescento: em contraste com a demasiada formalidade no tratamento) e os carros de alta cilindrada. Neste caso, pergunta mesmo: “aonde é que os portugueses, com o que ganham, vão buscar dinheiro para comprar carros tão caros”? Aqui eu respondo, cara Klaudia; acho sei responder... Já entrou nas casas dos portugueses e viu o desconforto em que vivem?

1 comentário:

Anónimo disse...

Estrangeiros e alfacinhas ? Bem cada nacionalidade adopta uma postura sobre nós conforme e por diversas razões. Eu só trabalhei para e com estrangeiros e todos culturalmente acima da média.
Anglófonos,francófonos, italianos e russos.
Pois o que mais lhes agradava eram as comezainas nos restaurantes do parque Mayer ( almoços jantares etc. lanches opíparos no Ribamar,muitas ostras muito magos ou imperiais muitas gambas muitos pregos no prego muitas bifanas etc. as mousses de chocolate pesadissimas do Rei dos Frangos, os carapaus de escabeche da Adega do Pepe, a comida indiana altamente condimentada do islamabad...e de Verão muitas imperiais e gambas e etc.por isso deveriam ser aliens os estrangeiros em Lisboa entre 74 e 90 ?
2- meia de leite e meia torrada e 1 bica eis um pequeno almoço salutar e que nos deixa esfomeados às 10 prontos para mais 1 café e um croissant até às 13.00 hrs.
3- É verdade a informalidade do vestuário das senhoras é um regalo para os olhos.E os carros topo de gama? em Portugal bem é mais fácil comprar um Bentley a prestações do que uma saca de batatas, ora vejam lá os lucros astronómicos da Banca.
É negócio de emprestar $ não é ?