sexta-feira, julho 20, 2007

A CIP e os despedimentos "ideológicos"

Tenho por hábito dizer que, não sendo a pessoa mais inteligente do mundo, quando leio qualquer disparate vindo de alguém considero inteligente terei de procurar as razões numa outra lógica, talvez numa quinta dimensão. Ou que então talvez tenha lido mal, valendo a pena uma nova leitura. Ou então, também, algo fruto de emoções incontroláveis, que por vezes nos conquistam e tudo a elas sobrepõem, um pouco como o Dr. Strangelove de Kubrick que, nos momentos de excitação, não conseguia esconder o seu passado nazi.

Vem isto a propósito, a ser exactamente assim - dúvida legítima perante tamanho disparate -, da reclamação das confederações patronais no sentido da eliminação do artigo 53º da Constituição que proíbe os despedimentos por motivos ideológicos. Bom, em primeiro lugar, e buscando a tal outra lógica alternativa, parece-me ser apenas uma tentativa de marcar território, não pensando a CIP existirem quaisquer condições para o sucesso; uma marcação de território que teria como objectivo “empurrar” mais para a “direita” o “centro” da discussão, numa altura em que os sindicatos demonstram alguma fragilidade e se auto-isolam já que as suas reivindicações pouco ou nenhum eco encontram fora do grupo, cada vez menor, dos seus associados e da agenda política do PCP. Mas é um “tiro no pé”.
Primeiro, e dando por caso encerrado na memória distante as ligações à ditadura, está ainda bem viva a memória de um movimento patronal demasiado ligado a um modelo económico baseado nos baixos salários e valor acrescentado, que basicamente conduziu o país à actual situação. Imagem para alguns empresários porventura injusta, seja; mas de maioritária justiça e ainda demasiado presente - e fantasma que a actual proposta ressuscita, deitando por terra trinta ou mais anos de tentativa de aggiornamento . Em segundo lugar porque a CIP perde qualquer autoridade para criticar os sindicatos pelas suas posições “jurássicas”. Como diz MC (Manuel Carvalho?), no “Público” de hoje (e diz muito bem), “Uma coisa é exigir flexibilidade ao Código de Trabalho. Outra, bem diferente...” Já estou a ver Carvalho da Silva, de dedo em riste, a dizer com toda a razão do mundo: “eu não dizia”? Em terceiro lugar, não só dificulta qualquer proposta de entendimentos com o sector do movimento sindical exterior à CGTP, como contribui para que, mesmos estes últimos, possam aumentar o seu capital de simpatia fora da sua esfera de influência, quebrando um pouco o seu isolamento - e, por contraponto, diminuir esse capital às confederações patronais. Por último, questão fundamental, deixa ao governo (a este ou outro qualquer) uma interrogação preocupante: com este movimento sindical e esta confederação patronal, com quem efectivamente contar para modernizar o país?

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