Com interesse, ouvi hoje uma parte da entrevista de Jorge Sampaio a João Adelino Faria, no Rádio Clube. Interessante, também, a referência que o antigo Presidente da República fez ao sector do vinho, como exemplo de uma actividade que soube enfrentar os desafios e actualizar-se, sendo hoje irreconhecível se comparada com os seus padrões de há 15 ou 20 anos. Subscrevo, mas parece-me um exemplo demasiado específico, fruto de circunstância muito particulares e, por isso, dificilmente repetível. Tentemos ir um pouco mais longe, salientando, desde já, que se Portugal há 20 anos, e ao contrário do que era vox populli, não produzia os melhores vinhos do mundo, hoje isso também não acontece, embora existam já uma meia dúzia ou até mais, não incluindo neste número os Vinhos do Porto, que podem, sem qualquer esforço ou dúvida, ser nesse grupo, dos top 100, incluídos, para além da qualidade média ter dado um salto qualitativo tremendo e, arrisco, com escasso paralelo em qualquer outro sector da actividade económica.
Na base de tudo isto está, em primeiro lugar, o crescimento, em número e sofisticação, de uma classe média urbana e suburbana, já embrionário no final da década de sessenta mas que o 25 de Abril acelera. Portugal terciariza-se e, simultaneamente e em consequência, mudam-se também os hábitos e cresce e sofistica-se a restauração. O vinho passa, assim, da pipa da taberna e do garrafão da merenda do trabalhador rural para a casa burguesa e para o restaurante, mais exigentes. Para essa classe média recente e para algum novo-riquismo emergente que os negócios dos anos 80 propiciam, a escolha de um vinho em público é, por excelência, um campo onde podem procurar obter, sem demasiado investimento intelectual, alguma caução social e cultural, num sector onde o “conhecimento” era, até aí, fundamentalmente reservado às “classes altas” e cosmopolitas. Forma-se assim também - e cresce e desenvolve-se - um sector editorial e uma área jornalística específicas que irão funcionar, também eles, como elementos aceleradores do desenvolvimento do mercado e da sofisticação da procura, para além de contribuírem para a emergência de dois importantes fenómenos paralelos e complementares, também eles com papel importante enquanto “vanguarda” dessa renovação: os chamados wine freaks (conhecem e compram todos os vinhos “de garagem”, frequentam leilões, não partilham informação e gastam milhares de euros por mês em vinhos que fecham a “sete chaves” na cave lá de casa) e aqueles que, genuinamente, transformam o vinho e a cultura a ele associada (v.g. gastronomia, turismo) em entretenimento e partilha enquanto consumidores esclarecidos, enófilos interessados e epicuristas militantes. Tudo isto, em conjunto, transformou o perfil da procura fazendo do vinho também uma moda e, para alguns, quase um modo de estar na vida.
Na base de tudo isto está, em primeiro lugar, o crescimento, em número e sofisticação, de uma classe média urbana e suburbana, já embrionário no final da década de sessenta mas que o 25 de Abril acelera. Portugal terciariza-se e, simultaneamente e em consequência, mudam-se também os hábitos e cresce e sofistica-se a restauração. O vinho passa, assim, da pipa da taberna e do garrafão da merenda do trabalhador rural para a casa burguesa e para o restaurante, mais exigentes. Para essa classe média recente e para algum novo-riquismo emergente que os negócios dos anos 80 propiciam, a escolha de um vinho em público é, por excelência, um campo onde podem procurar obter, sem demasiado investimento intelectual, alguma caução social e cultural, num sector onde o “conhecimento” era, até aí, fundamentalmente reservado às “classes altas” e cosmopolitas. Forma-se assim também - e cresce e desenvolve-se - um sector editorial e uma área jornalística específicas que irão funcionar, também eles, como elementos aceleradores do desenvolvimento do mercado e da sofisticação da procura, para além de contribuírem para a emergência de dois importantes fenómenos paralelos e complementares, também eles com papel importante enquanto “vanguarda” dessa renovação: os chamados wine freaks (conhecem e compram todos os vinhos “de garagem”, frequentam leilões, não partilham informação e gastam milhares de euros por mês em vinhos que fecham a “sete chaves” na cave lá de casa) e aqueles que, genuinamente, transformam o vinho e a cultura a ele associada (v.g. gastronomia, turismo) em entretenimento e partilha enquanto consumidores esclarecidos, enófilos interessados e epicuristas militantes. Tudo isto, em conjunto, transformou o perfil da procura fazendo do vinho também uma moda e, para alguns, quase um modo de estar na vida.
E a nível da oferta? Claro que a emergência do mercado global teve a sua quota parte de responsabilidade, embora o mercado português esteja, de certo modo, defendido, já que, por tradição, o consumidor indígena pouco se aventura nos vinhos estrangeiros - muito menos nos do chamado “Novo Mundo” - e a exportação, fora do tradicional sector do Vinho do Porto e dos rosés, ainda apresente uma relevância relativamente pequena. Mas, fundamentalmente, existe algo de muito específico, que torna o sector único, e que jogou um papel determinante na sua renovação: o facto de um número significativo de produtores, alguns deles anteriormente apenas fornecedores de Adegas Cooperativas (que, não por acaso, foram quem mais dificuldade revelou em responder aos desafios da mudança) ou vendedores de vinho a granel – que se irão constituir como que numa vanguarda -, estar incluído no grupo das chamadas “famílias tradicionais”, com tudo o que isso significa de melhor preparação escolar ou possibilidade de a obter para a geração seguinte, mais “mundo” e visão estratégica, maior capacidade de investimento e mais fácil acesso ao crédito e aos poderes de decisão, enfim, melhor preparação de base para se tornarem portadores de um processo acelerado de dinamização e mudança. Ah, e possibilidade de juntarem, frequentemente, num só produto o vinho e o turismo, tornando a oferta global.
É esta capacidade de adaptação a um novo perfil da procura – com, a montante, ligação ás universidades nacionais e estrangeiras no sector da enologia e investigação científica da vitivinicultura, investimentos na vinha e nas adegas e, a juzante, capacidade de actuar com facilidade na área de comunicação e promoção mesmo no estrangeiro, etc – que, pelas razões apresentadas, me parece dificilmente poder vir a ter paralelo em outros sectores da actividade económica - ou, pelo menos, numa maioria deles - fazendo do chamado cluster do vinho e do seu sucesso algo dificilmente “copiável”. Mas é, seguramente, um bom exemplo que oxalá pudesse proliferar.
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