Confesso não deixar de me sentir perplexo quando assisto a apreciações à actuação dos políticos e dos governos centradas nas manifestações de “arrogância” ou “humildade”, com as quais se define a “bondade” ou não da sua actuação, como se esses mesmos políticos e governos devessem ser julgados pelas suas características comportamentais e não pelas suas opções políticas estratégicas e capacidade para as implementar. Sim, eu também sei que essa perplexidade não deveria ter razão para existir, pois tendo nascido e vivendo neste país de “brandos costumes” (às vezes) sei bem da hipocrisia que está implícita nessas apreciações e o que verdadeiramente elas representam: são apenas um efeito de uma causa mais escondida: da falta de frontalidade e do horror ao confronto que caracteriza Portugal enquanto país dependente e periférico, onde todos dependem demasiado de todos e de tudo. É que "nunca se sabe o dia de amanhã", não é assim?
Por isso, em vez de se afirmar uma discordância fundamental e demonstrar as razões dessa discordância, ou apresentar os resultados da eventual ineficiência das medidas aplicadas (quando isso é possível), fala-se do acessório, principalmente quando as críticas vêm da mesma área de quem se critica, não vá o diabo tecê-las. Principalmente, falar da arrogância fica sempre bem num país em que, pelos motivos já citados, as convicções e quem as tem são sempre olhadas com desconfiança e a “humildade”, tantas vezes disfarce da incapacidade e da dependência, da insegurança, é tão frequentemente incensada como qualidade dos cidadãos da mãe-pátria, numa repescagem, também ela tímida e pouco assumida, da cegarrega salazarista dos “pobrezinhos mas honrados”. É ver o caso de José Mourinho, por exemplo, a quem, fruto da impossibilidade de se contestarem resultados, é sempre assacado o ónus, o “mas”, da sua atribuída arrogância, como se essa autoconfiança assumida não fizesse parte integrante e não fosse factor importante dos resultados obtidos.
Claro que isto vem a propósito das afirmações de Ferro Rodrigues, mas não só, tanto mais de criticar quanto ele nos habituou (fui seu contemporâneo de faculdade e considero-o pessoa estimável) ao risco e à frontalidade (mas aí não seriam de esperar benesses do regime, pois não?). Mais do que falar em “arrogância” ou em “humildade” (se o governo está convicto da razão das suas opções políticas deve implementá-las com convicção e isso contribuirá, por sua vez, para o fortalecimento da sua capacidade política), o que se esperaria de Ferro Rodrigues, político experiente e com ideias próprias, era uma crítica fundamentada a alguma, ou algumas, das opções do governo e do PS, de que eventualmente discordasse (e haverá algumas, certamente – nenhum deles lhes está imune), e não o “mais do mesmo” já escutado vindo de outros, oriundos da mesma área e de quem, ao contrário de Ferro Rodrigues, não seria de esperar muito mais. Desse modo contribuiria melhor, estou certo, para minimizar um dos problemas que foca e tudo me leva a crer seja verdadeiro: a falta de debate político no seio do partido e a sua redução a uma espécie de corpo moribundo nas ideias e na alma.
Por isso, em vez de se afirmar uma discordância fundamental e demonstrar as razões dessa discordância, ou apresentar os resultados da eventual ineficiência das medidas aplicadas (quando isso é possível), fala-se do acessório, principalmente quando as críticas vêm da mesma área de quem se critica, não vá o diabo tecê-las. Principalmente, falar da arrogância fica sempre bem num país em que, pelos motivos já citados, as convicções e quem as tem são sempre olhadas com desconfiança e a “humildade”, tantas vezes disfarce da incapacidade e da dependência, da insegurança, é tão frequentemente incensada como qualidade dos cidadãos da mãe-pátria, numa repescagem, também ela tímida e pouco assumida, da cegarrega salazarista dos “pobrezinhos mas honrados”. É ver o caso de José Mourinho, por exemplo, a quem, fruto da impossibilidade de se contestarem resultados, é sempre assacado o ónus, o “mas”, da sua atribuída arrogância, como se essa autoconfiança assumida não fizesse parte integrante e não fosse factor importante dos resultados obtidos.
Claro que isto vem a propósito das afirmações de Ferro Rodrigues, mas não só, tanto mais de criticar quanto ele nos habituou (fui seu contemporâneo de faculdade e considero-o pessoa estimável) ao risco e à frontalidade (mas aí não seriam de esperar benesses do regime, pois não?). Mais do que falar em “arrogância” ou em “humildade” (se o governo está convicto da razão das suas opções políticas deve implementá-las com convicção e isso contribuirá, por sua vez, para o fortalecimento da sua capacidade política), o que se esperaria de Ferro Rodrigues, político experiente e com ideias próprias, era uma crítica fundamentada a alguma, ou algumas, das opções do governo e do PS, de que eventualmente discordasse (e haverá algumas, certamente – nenhum deles lhes está imune), e não o “mais do mesmo” já escutado vindo de outros, oriundos da mesma área e de quem, ao contrário de Ferro Rodrigues, não seria de esperar muito mais. Desse modo contribuiria melhor, estou certo, para minimizar um dos problemas que foca e tudo me leva a crer seja verdadeiro: a falta de debate político no seio do partido e a sua redução a uma espécie de corpo moribundo nas ideias e na alma.
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