domingo, outubro 31, 2010

O "sintético"

Colocar um relvado sintético no Estádio Alvalade, no limite, até pode contribuir para a melhoria do futebol lá praticado, embora eu me permita ter algumas dúvidas. Mas é um pouco como ter vendido o passe de João Moutinho: financeiramente, até pode ser um bom negócio; mas é desastroso para a “brand equity” da marca SCP.

"Les haricots sont pas salés" - old time cajun music (12)

Ambrose Thibodeaux - "Les Haricots Sont Pas Salés"

sábado, outubro 30, 2010

O acordo orçamental: um PSD ingénuo?

Tal como aqui previ, as últimas declarações do Ministro das Finanças parecem confirmar que o governo pode estar a preparar-se para utilizar as condições exigidas pelo PSD para o acordo sobre o Orçamento de Estado como alibi para uma eventual “derrapagem” da despesa na execução orçamental. Conhecendo o que se passou com o orçamento deste ano, este pode bem ser um acordo armadilhado para o PSD, confirmando que teria sido bem mais ajuizado o partido ter optado pela viabilização sem qualquer acordo negocial.

SLB: depois do jogo de ontem

Já o tinha escrito aqui e vou reforçando essa minha ideia. Sem Di Maria e Ramires, com Cardozo em “petite forme” e agora ausente, o futebol do SLB não perde só largura e profundidade, torna-se menos directo e objectivo, perde acutilância e algum poder físico-atlético. Jogadores como Gaitán e Kardec tendem a “empurrar” a equipa para um futebol mais baseado na posse e circulação de bola, nas “tabelas” e menos nos movimentos verticais e nas transições rápidas.

Assim sendo, a equipa acaba por parecer hesitante entre os dois modelos – o “oficial” e aquele para o qual algumas das unidades nucleares desta época parecem mais talhadas -, acabando por não assumir convincentemente nenhum deles o que emperra a fluidez do seu jogo ficando, como afirmei, um pouco “lost in translation”.

sexta-feira, outubro 29, 2010

Saucy (1)

A leitura da sondagem da "Católica"

Claro que nas circunstâncias actuais uma penalização do PS nas sondagens seria mais do que expectável. Mas atenção: também me parece que esta sondagem da UC, com o trabalho de campo efectuado entre 23 e 25 de Outubro, exactamente nas datas em que PS e PSD se encontravam a negociar o orçamento, pode estar, nos seus resultados muito extremados, claramente influenciada por factores demasiado conjunturais. Sabendo os inquiridos tratar-se de uma sondagem (claro) e estando a amplitude da austeridade em negociação e as feridas causadas pelo seu anúncio ainda bem abertas, isso poderá ter levado muitos desses inquiridos a uma acção de “castigo” que sabem sem consequências ou a manifestar uma intenção de voto que pensam poder ter ainda alguma influência na decisão final do governo e no reforço da capacidade negocial do PSD.

Resumindo: a tendência faz sentido, em termos gerais, mas a sua dimensão requer alguns cuidados de leitura.

"For sentimental reasons" - original doo wop classics (18)

The Chantels - "Maybe"

quinta-feira, outubro 28, 2010

O verdadeiro "tabu"





Da responsabilidade de identificar os cortes na despesa - ou "o rabo a abanar o cão"

Ao contrário do que afirma João Galamba, se nesta discussão PS/PSD sobre o orçamento existe assunto onde me parece o partido de Passos Coelho tem toda a razão, esse é o da competência pelos cortes orçamentais. Expliquemo-nos...

Em qualquer organização – e por maioria de razões no Estado – quando existam propostas ou a necessidade de proceder a cortes orçamentais na despesa, compete sempre à estrutura que gere e assume a responsabilidade pela execução desse orçamento identificar as rubricas onde eles podem e devem ser feitos. Caso essa estrutura conclua da impossibilidade de os efectuar, parcialmente ou na sua totalidade, o que é absolutamente legítimo, compete-lhe também a ela apresentar de modo estruturado o racional que justifique essa impossibilidade. Para dar um exemplo concreto: numa empresa, essa sugestão, “imposição” ou afirmação de necessidade (como se queira), parte normalmente do topo da hierarquia, competindo a cada direcção (“marketing”, produção, financeira, etc) identificar a(s) rubrica(s) onde tal é possível sem ou com um mínimo de repercussão no plano de actividades da sua área e, subsequentemente, da empresa no seu todo.

A explicação é aliás bem simples. Um orçamento não é um conjunto amorfo de rubricas, nem existe por si só; ele tem uma lógica própria e representa o suporte financeiro de um plano de actividades concreto de uma organização. Por isso mesmo, ninguém mais conhecedor e melhor preparado do que o(s) responsável (is) – ou mesmo apenas ele(s) – por esse plano de actividades, sua gestão e orçamento que o suporta saberão identificar onde eventuais “cortes” na despesa podem ser efectuados sem que essa lógica seja afectada ou o seja minimamente, sem prejuízo de maior para os objectivos a atingir. Ou então, também ninguém melhor do que eles para concluir dessa impossibilidade ou dos desvios nos resultados que poderão advir de tais cortes, quantificando-os e apresentando um racional justificativo.

Aplicando este raciocínio ao Orçamento de Estado, parece-me assim ter o PSD toda a legitimidade - e independentemente de quaisquer sugestões que possa adiantar - para sugerir cortes mais ou menos abstractos na despesa do Estado, competindo ao governo, gestor das actividades desse mesmo Estado e executor do orçamento respectivo, identificar se e onde eles serão possíveis sem grande prejuízo da sua lógica estrutural e, no caso de concluir dessa impossibilidade (o que é perfeitamente legítimo, acrescente-se), como parece ter sido o caso, apresentar publicamente as razões justificativas. O contrário, convenhamos, é que me parece ser um pouco “o rabo a abanar o cão”.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Dos célebres consumos intermédios...

Se alguma coisa parece ser possível concluir das negociações sobre o orçamento é que o PSD queria obrigar o governo PS a cortar cerca de 500 milhões de euros numa área da despesa – consumos intermédios – em cujo controle o governo parece ter falhado redondamente na execução orçamental do ano em curso. Penso que Carlos Moedas, membro da equipa negocial do PSD, terá deixado isso bem claro no Telejornal da RTP. Ao recusar, parecendo temer uma nova derrapagem, o governo acaba por demonstrar a sua incapacidade para agir sobre a despesa nessa área. Seria indispensável investigar para chegar à conclusão se a questão é apenas de vontade (ou da falta dela), o que penalizaria apenas este governo, ou, pior, se estamos perante uma questão estrutural da qual os governos futuros, dirigidos por qualquer destes partidos, irão também sofrer as ivetiváveis consequências.

Manuel Vilarinho: o disparate anda à solta no meu clube?

Manuel Vilarinho, ex-presidente do meu “glorioso”, afirma hoje em “A Bola” que “melhor presidente depois de Fernando Martins” só ele, Vilarinho.
Duas notas:
  1. Vilarinho teve, de facto, o grande mérito de derrotar Vale e Azevedo. Mas ficou-se por aí: como se verificou em plena campanha eleitoral e se comprovou logo de seguida, era uma candidatura sem estratégia, projecto ou sequer uma ideia para o clube.
  2. Fernando Martins, que trocou uma equipa de futebol pelo aumento da capacidade do estádio quando o domínio das televisões já aconselhava estádios mais pequenos e confortáveis, que estabeleceu um acordo com o FCP para a definição de tectos salariais quando o SLB ainda era dominante, financeira e desportivamente, foi um dos piores presidentes da História do Benfica e um dos maiores responsáveis pela consolidação do domínio portista no futebol português.

Grace Slick (6)

Grace Slick - "White Rabbit Remembering the Good Old Days"

PSD e orçamento: um erro de principiante

Como é habitual dizer-se nas empresas quando da elaboração do orçamento anual e suas revisões, planos estratégicos, de marketing, etc, o papel e o computador aceitam tudo. Isto é, podem lá colocar-se os números mais inverosímeis, os objectivos mais impossíveis, os cenários mais fantasiosos que ambos, papel e computador, se limitam a fazer contas sem nunca se questionarem ou questionarem os seus autores sobre a viabilidade de tais pressupostos. O pior vem depois, claro, quando, eventualmente, a realidade decide entrar a matar e os responsáveis verificam que nada daquilo que, por incompetência, tinham previsto se verifica na prática. Aí, quem embarcou na fantasia tem, de facto, um grave problema a enfrentar e resolver.

Pese embora o governo tenha sido sempre, no mínimo, muito pouco claro sobre os números da execução orçamental do ano em curso (inacreditável como este não é, em termos normativos, obrigado a maior transparência perante os cidadãos/accionistas e seus representes – os partidos), existiam algumas desconfianças no ar que se tornaram bem mais claras quando se começou a falar no Fundo de Pensões da PT, com ou sem submarinos. O caso dava, portanto, e desde há muito, para desconfiar... Tal derrapagem deveria ter constituído um aviso sério para o PSD no sentido de, não existindo um governo de coligação que lhe permitisse controlar, “por dentro”, a execução orçamental, ser bem melhor pôr-se de lado tomando as devidas cautelas e caldos de galinha e, como resultado disso e tal como o fez para 2010 e lhe rendeu dividendos na popularidade, limitar-se a viabilizar o orçamento de 2011 sem se envolver na sua elaboração, não se deixando assim arrastar pelo PS para uma eventual repetição do que se tem vindo a passar com a execução do ano em curso. Não o fez, preferindo envolver-se na algazarra até verificar, já em plena batalha, que nada tinha a ganhar com o seu desfecho. Agora tenta retirar com as suas tropas, na melhor ordem possível, para uma posição (talvez) de não beligerância; mas perdeu tempo, energias e, pior ainda, terá talvez hipotecado alguma da pouca confiança que podia ainda inspirar a um número razoável de cidadãos. Infelizmente, com o esbanjar desse crédito de confiança, não é só o PSD que perde, mas com ele também o regime aliena alguma da sua já não muita credibilidade.

História(s) da Música Popular (168)

Sam the Sham & The Pharaohs - "Wolly Bully"

"Tex
-Mex"
(III)

Pois se a maioria dos não iniciados desconhece o que quer que seja sobre o Sir Douglas Quintet, se desconhecerá também Sam the Sham and The Pharaohs, já se falarmos no mega-sucesso destes últimos que dá pelo nome de “Wooly Bully” talvez o caso mude de figura. Ou não será assim?

Pois o curioso é que Domingo “Sam” Samudio (1937), apesar de texano de uma Dallas de triste memória na História da América do século XX, tem mesmo antepassados mexicanos, o que constitui uma excelente caução para a sua integração no grupo dos “tex-mex” rockers. Curioso também é que o nome “Pharaohs” nada tenha de “tex-mex”, mas se deva a Yul Brynner e ao filme “Os Dez Mandamentos”, onde este representava o papel de um faraó. Mas, no fundo, esta mistura acabou por dar certo (e não era isso que interessava?) e “Wooly Bully” (o nome parece ter derivado da “paixão” de Sam pelo "Hully-Gully”) chegou ao #2 do Billboard, vendeu três milhões de cópias numa época em que a British Invasion dominava (estávamos em 1965, talvez o ano de oiro do pop/rock britânico) e tornou-se quase sinónimo de Sam the Sham.

Mas, claro, como muitas vezes acontece nestes casos, “Wooly Bully” só não fez integrar Sam na categoria dos “one-hit wonders” porque existiu um follow-on. Chamou-se “Little Red Riding Hood”, tem mesmo que ver com o "capuchinho vermelho" e falarei dele em próximo “post”.

Ena tanto estardalhaço!!!

Deixem-me ser perverso – mas se calhar verdadeiro. Governo (PS) e PSD, pressionados um pouco por todo o lado a aceitarem negociações que nunca quiseram, decidiram, de comum acordo, romper com o indispensável estardalhaço as negociações sobre o orçamento para 2011, tendo o PSD garantido antecipadamente ao governo a sua abstenção deste modo respondendo positivamente à opinião de alguns dos seus mais destacados militantes. Claro que ambos, PS e PSD, esperam retirar dividendos políticos desta posição, talvez a que, do ponto de vista estritamente partidário, mais lhes convém... É a política, estúpido!

terça-feira, outubro 26, 2010

Os políticos e o "sorteio dos ceguinhos"

Aqui há já alguns anos (se calhar já mesmo muitos), a Associação de Cegos Luis Braille (ou a Liga de Cegos João de Deus, não tenho a certeza) tinha por hábito realizar um sorteio, conhecido popularmente como "o sorteio dos ceguinhos", para angariar fundos para a sua organização. O prémio principal era normalmente constituído por um automóvel, passeado num camião de caixa aberta pelas principais ruas de Lisboa enquanto colaboradores da associação (ACLB ou LCJD) vendiam as respectivas rifas e um altifalante anunciava, como garantia da seriedade da agremiação e credibilidade do sorteio, que este nunca tinha sido adiado.

Ora aqui está algo que governo, oposição e outras organizações políticas deveriam levar em linha de conta: se querem manter ou recuperar a credibilidade perdida, talvez não fosse mau, como princípio, cumprirem escrupulosamente prazos, horários e datas acordadas para as acções que desenvolvem. Verão que é um bom começo, e acreditem os resultados talvez não se façam esperar.

Spicy (1)

Os portugueses e Cavaco Silva

Não deixa de ser um tema interessante para uma análise sociológica sobre Portugal e os portugueses que o primeiro-ministro iniciador do modelo de desenvolvimento que conduziu Portugal a uma das situações mais graves da sua História recente tenha conseguido ser eleito Presidente da República, depois disso tenha cumprido um primeiro mandato de forma politicamente medíocre e visto alguns dos seus próximos envolvidos em escândalos financeiros e agora, mesmo sem apoios partidários numa esquerda que costuma valer mais de 50% do eleitorado, se prepare para uma fácil reeleição tendo, segundo foi anunciado, como presidente da sua comissão de honra um militar que, embora tenha cumprido um papel relevante na normalização democrática do final dos anos 70 do século passado, se revelou sempre de uma enorme ignorância e inabilidade políticas.

Uma lição também para o Partido Socialista, que não soube, não quis ter ou nunca conseguiu encontrar um candidato credível.

"L'Enfer"

Um dos canais TV Cine, onde o lixo cinematográfico representa mais ou menos 90% da respectiva programação, passou ontem à noite “L’Enfer” ("Hell"), de Danis Tanovic. Assim dito, toda a gente (ou quase) se interrogará: “e depois, que raio vem a ser tal coisa?”. Bom, mas se eu disser que o argumento foi escrito por Krzysztof Kieslowsky, o tal da trilogia “Bleu”, “Blanc” “Rouge” e, principalmente, de “La Double Vie de Véronique”, para mim o filme que mais se aproxima do universo de André Delvaux, talvez já alguns reconheçam do que falo. Vale a pena estar atento a uma repetição, até porque é também uma oportunidade para ver e rever Émanuelle Béart. Mas atenção: ontem, a sinopse e outras indicações dadas sobre o filme nada tinham a ver com este. Assim trata a ZON os seus clientes...

segunda-feira, outubro 25, 2010

Hipermercados, horários e modelo de desenvolvimento

Por razões que têm fundamentalmente que ver com o papel importante sempre desempenhado pela construção civil e pela especulação imobiliária em Portugal, bem como pelo desenfreado incentivo ao consumo que o dinheiro fácil pós adesão à CEE e os juros baixos pós-euro geraram, desenvolveu-se no país uma estrutura de distribuição comercial que pouco tem de europeia, mais semelhante a muitos países do "novo mundo", muito baseada em enormes centros comerciais onde os hipermercados funcionam como lojas-âncora. Ora este tipo de comércio tem uma lógica e filosofia próprias de funcionamento e de gestão empresarial, apenas podendo ser inteiramente rentabilizado com o recurso a horários muito alargados de funcionamento e a vários tipos de actividades complementares (cinemas, por exemplo) que atraiam largos grupos de pessoas para um conjunto de actividades lúdicas que fomentem a compra por impulso.

Claro que este modelo - que, aliás não só não é indissociável como se integra no modelo de desenvolvimento que nasceu com o chamado “cavaquismo” e se prolongou até hoje - está muito longe de não ser contestável, e não serei eu a contar-me entre os seus mais acérrimos defensores. Mas também, em função da filosofia que lhe é própria, não me parece que tivesse alguma lógica permitir a abertura ao domingo dos centros comerciais onde esses hipermercados se inserem e desempenham uma função essencial na sua rentabilização e obrigar esses mesmos ""hipers a fechar as suas portas enquanto todo o restante comércio do mesmo empreendimento continuava a funcionar. Do mesmo modo que não fazia qualquer sentido que fosse a área ocupada a determinar uma decisão, dando origem, por exemplo, a situações absurdas, como o facto do Pão de Açucar das Amoreiras se manter aberto enquanto os Jumbo e Continente se viam obrigados a fechar as suas portas.

A abertura dos hipermercados ao domingo acaba por ser, assim, apenas o desenlace lógico para um modelo de negócio comercial, centrado na grande distribuição, que, em Portugal, se tornou dominante a partir dos anos oitenta do século XX, e a coroação de um modelo de desenvolvimento económico, iniciado com Cavaco Silva, no preciso momento em que ele parece ter chegado ao impasse há tanto tempo previsto. Algo, convenhamos, no mínimo curioso, para não dizer irónico...

Link Wray & Dick Dale (9)

Link Wray - "Fatback"

domingo, outubro 24, 2010

Jorge Jesus, Di Maria e Ramires

Segundo leio no “Record”, Jorge Jesus ainda chora a perda de Di Maria e Ramires. Não percebo porque não as de Eusébio, Coluna, António Simões, etc. Estes, pelo menos, continuam benfiquistas de coração...

Por mim - e acho posso falar por muitos benfiquistas - o que lamento são as “ausências” de Jara, Gaitán, Kardec, Salvio, Fábio Faria e de um defesa-esquerdo que ninguém se lembrou de contratar. Também de um treinador que não abra a boca para dizer disparates e de um presidente que não peça aos adeptos para não assistirem aos jogos.

Les Belles Anglaises (XLVII)









Aston Martin DBR1 (1956-1959)

sábado, outubro 23, 2010

"Gainsbourg"

Vale bem a pena ver o “biopic” de Joann Sfar sobre Serge Gainsbourg, mesmo para quem, como eu, não nutre especial interesse pelo personagem e pela sua música. Então porquê? Bom, “Gainsbourg” representa uma quase total ruptura com os padrões clássicos (Hollywoodianos) do género; tão formalmente perverso como o personagem que se propõe retratar, mas – arrisco – bem mais criativo e inovador na estética e no discurso narrativo. Digamos que o “Gainsbourg” de Sfar está bem mais interessado em construir o personagem Serge que existe ou foi concebido na mente do realizador, mesmo que ele pouco tenha a ver com a realidade, do que em transpor, mais ou menos linearmente, uma vida ou uma vivência para o écran. Uma excelente surpresa num belo exercício de manipulação.

sexta-feira, outubro 22, 2010

Da execução orçamental e do direito à informação

Para evitar este triste jogo de “ping-pong” entre Pedro Silva Pereira e Nogueira Leite, para que a Assembleia de República possa exercer um efectivo controle sobre o governo e o modo como este executa os orçamentos aprovados, para que os cidadãos e todos os interessados possam ter informação relevante sobre tal matéria, não deveria a A.R. aprovar e implementar um sistema de “reporting” e informação transparente, exequível e obrigatório, com periodicidade trimestral, sobre o andamento das contas públicas? Agora que os partidos de oposição estão em maioria, não seria a altura ideal para obrigar o governo a aceitá-lo?

Devo dizer que desconheço, em pormenor, o que existe ou não existe sobre tal matéria, mas o facto é que o incumprimento do orçamento em curso foi conhecido tarde e más horas, de modo incompleto e informal e em entrevistas e conferências de imprensa sobre... o orçamento do ano seguinte, o que é totalmente inaceitável. E, francamente, não gosto de ver um partido da oposição, com razão ou sem ela, “pedinchar” na praça pública informação que, por definição, deveria fazer parte dos seus direitos inalienáveis.

Para terminar... Sim, eu sei que não estamos perante uma despesa não prevista, mas de uma receita. Mas tratando-se de uma receita extraordinária significativa e com características muito específicas, implicando a assunção de compromissos futuros por parte de Estado, será que a transferência do fundo de pensões da PT não deveria ser sujeita a aprovação do parlamento, isto é, a autorização de todos nós? Fica a pergunta...

quinta-feira, outubro 21, 2010

Jornalismo de taxista

A demagógica campanha anti-regime conduzida pela comunicação social - mascarada de campanha anti-governo - está a atingir os limites do intolerável. Agora, a propósito do Orçamento de Estado, somos literalmente “apedrejados” (é o termo) pelos “media” com a despesa dos gabinetes ministeriais. Para além de generalidades (X para gasolina, Y para comunicações, etc), que nada revelam para além dos respectivos valores globais, nada de substancial também nos é dito sobre o modo como são utilizadas essas verbas, sobre a sua necessidade ou inutilidade para o normal funcionamento dos gabinetes ministeriais e do governo (deste ou de qualquer outro no passado), sobre a existência ou não de desperdícios, etc, etc. Nada, enfim, que nos permita ajuizar sobre a proficiência na utilização dos dinheiros públicos, como se governos e orgãos de soberania devessem e pudessem ser financiados pelo ar que respiramos. Mas como as verbas são da ordem dos milhões, o que sempre impressiona, atiram-se para títulos de jornal ou frase de abertura de noticiário televisivo esperando que o efeito resulte.

Claro que, mais tarde, esta autêntica “intinfada” de atiçamento da opinião pública contra a política e os políticos é devolvida a esses mesmos “media”, com juros, pelo “povo da SIC” nos fóruns de opinião e nas caixas de comentários dos jornais electrónicos, contribuindo assim para o aumento das audiências, mas também fazendo jus àquilo de que realmente se trata: do mais baixo e reles jornalismo de taxista, pois claro.

Mariachi (6)

Irma Vila Y Su Mariachi - "Soldado de Levita"

"Licht und Schatten" - o expressionismo alemão no cinema (7)




"Sunrise", de F. W. Murnau (1927)

quarta-feira, outubro 20, 2010

O Presidente da República

No meio de uma gravíssima crise política, o Presidente da República, em vez de estar visivelmente empenhado, a 100%, na sua resolução, dando conhecimento público, “loud and clear", de todas as diligência efectuadas no sentido de, no mínimo, se conseguir um acordo para a viabilização do orçamento e, idealmente, tentando levar os dirigentes partidários a aceitarem um indispensável governo de coligação, não encontra nada melhor para fazer do que anunciar a sua recandidatura. Melhor prova da inutilidade do cargo a que se recandidata e, consequentemente, do semi-presidencialismo constitucional, seria difícil imaginar.

SLB: uma péssima abordagem ao jogo por parte de Jorge Jesus e o consequente desastre

Comecemos pelo princípio, como dizia o tal senhor francês: a derrota e, pior do que isso, a péssima exibição do “meu” SLB em Lyon começam numa péssima abordagem ao jogo por Jorge Jesus, ao afirmar que uma vitória do Benfica no Gerland seria a coisa mais natural do mundo. Não seria: ao contrário do SLB, o OL tem sido, nos últimos anos, uma presença habitual na Champions League, com passagem frequente aos 1/8 e ¼ de final da competição e, pelo meio, com outros bons resultados, como a eliminação do Real Madrid e etc.

Esta péssima abordagem verbal prolongou-se numa constituição da equipa onde apenas Javi Garcia assegurava os equilíbrios defensivos, como se o SLB fosse jogar a Matosinhos ou Paços de Ferreira (e mesmo assim...). Um suicídio, face ao OL. O ano passado esses equilíbrios eram assegurados por Ramires. E este ano? Pois, apenas existe Amorim (e a um nível diferente) e está lesionado; mas talvez seja tempo de começar a exigir responsabilidades a quem definiu este plantel: Jorge Jesus, Rui Costa e Luís Filipe Vieira.

Claro que tudo isto acabou por desembocar no comportamento da equipa em campo: ansiosa por atacar e pressionada em todo o campo, errava passes e, desequilibrada como estava e desequilibrando-se ainda mais com a sofreguidão atacante, expunha-se às transições rápidas do OL o que contribuía ainda para um maior enervamento, bem visível na expulsão de Gaitán.

Lição: talvez seja altura de nos deixarmos de “faits divers”, como boicotes aos jogos fora e actuações dos árbitros (por muita razão que nos possa assistir), e de centrarmos a nossa atenção naquilo que importa: o treinador, o plantel, a equipa, a sua constituição e o modo como joga.

Duas notas finais:

  1. Que andou Coentrão a fazer escondido a defesa-esquerdo durante ¾ do jogo?
  2. Um tal de Roberto foi o melhor da equipa, e a ele e a um abrandamento de ritmo do OL devemos não ter saído goleados.

IVA: ponto percentual a mais ou ponto percentual a menos?

Ora então, como o assunto veio a público, vamos lá a uma eventual e hipotética proposta de aumentar o IVA (regime geral) menos 1 p.p do que o incluído no orçamento para 2011 (de 21% para 22% em vez de 23%), baixando-o igualmente 1 p.p (com aviso prévio) no ano seguinte.

Em primeiro lugar convém lembrar que tal coisa teria óbvia repercussão nas receitas: mantendo-se tudo o resto invariável, cerca de 500 milhões de euros. Ok, mas podem dizer que a diminuição de 1 p.p. na taxa geral de IVA teria um efeito anti-recessivo na economia e, logo, as receitas arrecadadas não diminuiriam na proporção. Aqui, minha primeira e enorme dúvida: uma diminuição do IVA nesse valor, principalmente se incluída num orçamento recessivo e num clima geral de medo e incerteza, dificilmente traria consigo um qualquer efeito anti-recessivo significativo. Será que ainda nada se aprendeu com aquela peregrina e péssima ideia do governo de ter feito tal coisa em 2009? Quer-me parecer que também não seria por 1 p.p. que a fuga ao fisco diminuiria significativamente em sede de IVA, como se costuma hoje em dia dizer.

Mais ainda: anunciar que a taxa máxima do IVA decresceria 1 p.p. em 2012 poderia ter ainda duas consequências: primeiro, o diferimento para esse ano de uma parte da despesa das famílias (a susceptível de adiamento), principalmente no que diz respeito a bens de consumo duradouro, e empresas, na expectativa desse desagravamento fiscal, o que teria um efeito recessivo; segundo, o sinal errado que se dava à sociedade no sentido de que o sacrifício estaria feito, o pior já teria passado e o futuro voltaria a ser “risonho” – sabemos não será assim. Por outro lado, ainda amarraria o governo (este ou qualquer outro) a uma decisão que poderia ter que ser posta em causa em face de uma nova conjuntura. Depois, lá diriam os políticos mentem!

Bom, mas então isso não poderia ser compensado com uma redução da despesa do Estado em igual montante? Aqui, quase me apetece usar a frase da moda e responder: “poder, podia; só que não seria a mesma coisa”!... Enquanto as consequência do aumento do IVA, em termos de receitas fiscais, são quase certas e imediatas, diminuir a despesa do Estado no curto-prazo, numa máquina tão pouco flexível e com sindicatos e corporações tão fortes (algumas reacções já se fizeram sentir), e desde que não se recorra a mais cortes nos salários da função pública e nas prestações sociais, não só, em termos gerais, não é imediato como é algo cuja taxa de sucesso tem grande dose de incerteza. E, convém lembrar, o compromisso do país com a redução do déficit” é para já! Digamos que em termos de prazo e eficácia esperada, muito dificilmente são acções "trocáveis".

Certo, mas existem aquelas coisas da “parcerias público/privadas”, não é assim? Não se poderia “exterminá-las”? Bom, existe aqui um ponto, mas, em primeiro lugar, não se podem tratar as “PPP” assim todas por atacado, como se fossem todas iguais: TGV, terceira travessia do Tejo e "hub" aeroportuário são uma coisa; outras (hospitais, p. ex. – haverá mais) serão outra. Além disso, desconhecemos as implicações que a sua suspensão teria em termos de possíveis indemnizações, acções judiciais, etc, etc. E, convém lembrar, muitas das obras incluídas destinam-se a melhorar os serviços prestados pelo Estado. Last but not least, têm, essas sim, um impacto significativo na actividade económica e no emprego. As “PPP” são algo a rever atentamente e uma triagem rigorosa deve ser feita? Claro que sim e o PSD pode (e deve) ter aqui um papel muito relevante (Marques Mendes foi o primeiro a chamar a atenção - e bem - para o problema de algumas grandes obras públicas, recorde-se); mas exige-se critério e rigor, pois claro.

De qualquer modo, convém afirmar, parece-me existe também aqui um equívoco: se existe despesa no Estado que é desperdício e algumas grandes obras são sumptuárias e inúteis (não tenho qualquer dúvida sobre ambas as coisas), a sua eliminação não deveria acontecer independentemente de tudo o resto e não apenas para compensar um conjuntural desagravamento fiscal, neste caso do IVA? Este não deveria ser, pois, um objectivo por si só e não algo a incluir na barganha política?

Fica a pergunta...

Pedro Passos Coelho

Ora quando eu me preparava para escrever qualquer coisa sobre o disparate que seria diminuir 1p.p. no aumento previsto do IVA para este ano (fixando-o nos 22%) e voltando a baixá-lo para aos 21% no orçamento de 2012, Pedro Passos Coelho foi suficientemente vago e ambíguo (nada ouvi de concreto e quantificado sobre o assunto) para tornar inútil este meu exercício. Neste ponto, não lhe vou perdoar...

Mas para quem, como eu, sempre tem defendido, nesta especial conjuntura, um acordo, mesmo com incidência governamental, entre os partidos que se reconhecem na democracia liberal, numa economia com base na livre iniciativa e na UE, PPC, independentemente de “avanços” e “recuos que pouca importância têm neste caso, fez bem em abrir, com estas declarações, uma posição negocial que PS e governo terão dificuldade em ignorar.

Ah!, e o resto foi retórica...

"Velvet Goldmine" (5)

Wylde Ratttz/Ewan McGregor - "T.V. Eye"
Banda sonora de "Velvet Goldmine", de Tod Haynes (1998)

terça-feira, outubro 19, 2010

Urban Lavender e "O Gato Maltês" convidam...

Para ficar a saber tudo (ou quase: para saber tudo o melhor é ir à apresentação) veja aqui

The best of SUN rockabilly (10)

Roy Orbison - "Ooby Dooby"

Desaparecido

Desapareceu há longos meses do seu local de trabalho, no Ministério da Justiça, na Praça do Comércio em Lisboa, Alberto de Sousa Martins, de 65 anos de idade, natural de Guimarães. Veste fato cinzento e gravata azul, usava barba à data do seu desaparecimento e ocupava ultimamente o cargo de Ministro da Justiça, embora muito pouca gente tenha notado tal coisa. A quem se lhe dirigia, pronunciava frequentemente algumas frases pouco claras onde se identificavam nomes tais como Associação Sindical dos Juizes e António Martins. Cidadãos aflitos dão alvíssaras a quem indicar o seu paradeiro para o tel. 21 3222300 ou através do endereço electrónico correio@sg.mj.pt

segunda-feira, outubro 18, 2010

O projecto de revisão constitucional do PSD e a dissolução da AR

Não sendo jurista e muito menos constitucionalista, mas tentando ser inteligente alguns minutos por dia, quer-me parecer que a disposição constitucional que impede o Presidente da República de dissolver o Parlamento nos últimos seis meses do seu mandato se destina a minimizar a sua (do PR) interferência nas eleições seguintes para o cargo, o que de outro modo poderia acontecer com maior facilidade. Também para evitar eleições legislativas sucessivas, o que teria maior risco de acontecer caso o P.R. resolvesse dissolver uma A.R. de cor política diferente da sua nos últimos meses do seu mandato e um seu sucessor, eleito com o apoio de forças políticas opostas, decidisse imitá-lo após a eleição. Não será assim?

A sê-lo, parece-me uma disposição constitucional bastante assisada e. mais a mais, não podendo ser aplicada à situação presente, não percebo muito bem a intenção do PSD em modificá-la a não ser como manobra de “agit/prop” para tentar subir mais uns pózinhos nas sondagens. Digamos que, no mínimo, não é lá muito dignificante nem revela grande sentido de Estado.

A entrevista de Ricardo Quaresma ao "Público"

Ricardo Quaresma, que tem enorme dificuldade em entender o que é um jogo de futebol, que desconhece quase por completo os movimentos colectivos de uma equipa e, por isso, dificilmente consegue neles se integrar, optando por ser um “número” artístico à parte, um “artista convidado” em vez de um jogador de futebol, conta ao “Público” que reencontrou no Besiktas a alegria de jogar. Claro!

Eu direi que depois de passagens frustantes por três grandes clubes europeus, Barça, Chelsea e Inter, Quaresma encontrou finalmente num clube mediano como o Besiktas e numa liga da II divisão europeia algo à sua dimensão; um local onde pode esquecer o que é uma equipa e um jogo de futebol e executar mais ou menos livremente o seu número-extra de artista convidado, de vedeta do "show" com direito a palma e gritos de “basta, basta!” vindos da plateia extasiada. É que a vida é mesmo assim: cada um nasce para o que nasce.

Giallo (5)



"Suor Omicidi" (aka, "Killer Nun"), de Giulio Berruti (1978)

António Martins, os juizes tiranetes e a República de S. Teodoro

"Se o Orçamento for aprovado os juízes verão o seu rendimento global reduzido em 18%. Os juízes são os mais atingidos. É a factura de terem incomodado os ""boys do PS, mais recentemente no caso Face Oculta".

Não, não é mentira. Estas afirmações foram hoje produzidas pelo juiz António Martins, presidente da associação sindical do sector. Que um membro de um orgão de soberania, a quem compete administrar a justiça com imparcialidade e isenção de acordo com as leis da República (repito: imparcialidade e isenção), produza afirmações deste calibre, utilizando um tipo de linguagem que se esperava exclusiva dos fóruns de opinião e das caixas de comentários de blogues e imprensa electrónica, é bem elucidativo do estado a que chegaram Justiça e juízes em Portugal, ao nível de uma qualquer república de S. Teodoro dos generais Tapioca e Alcazar. A responsabilidade? Dos governos (este e anteriores), pois claro, que sempre se têm posto de cócoras perante o poder judicial e os seus tiranates de ocasião.

Nota: para que não existam dúvidas: onde está escrito PS podem substituir por qualquer outro partido ou instituição que a minha reacção seria exactamente a mesma.

domingo, outubro 17, 2010

Os "cortes" de Nogueira Leite

António Nogueira Leite é de opinião que embora o Orçamento de Estado vá no sentido correcto, o governo está a ser “tímido” e ainda haveria lugar para mais cortes na despesa. Certo, é uma opinião a ter em conta que vinda de um ex-Secretário de Estado do Tesouro esperava-se baseada em argumentação sólida e relevantes exemplos concretos. Infelizmente, tal não acontece e o único caso concreto citado é um agravamento em 20% das verbas inscritas para publicidade, como se publicidade fosse igual a lixo ou desperdício e o valor total (que não indica) pudesse ter alguma relevância no total da despesa.

Sim, eu sei que a luta política tem destas coisas e que Nogueira Leite foi membro de um governo de António Guterres, o que lhe deve acarretar alguns problemas de consciência... Mas não será já tempo de discutir estas coisas com seriedade ou, em alternativa, indicar claramente quando se está a pretender fazer humor?

Já agora, sem mais comentários fica aqui* a lista de cargos actuais exercidos por António Nogueira Leite. Será também possível pensar em dar o exemplo e decidir eliminar algum?

*Professor Catedrático (desde 1995), Faculdade de Economia,
Universidade Nova de Lisboa
Administrador executivo da CUF, SGPS, S.A.
Administrador (não executivo) da Reditus SGPS, SA
Administrador (não executivo) da Brisa, SA
Administrador (não executivo) da Quimigal, S.A.
Presidente do Conselho Geral da OPEX, SGMVM, SA
Membro do Conselho Nacional do Mercado de Valores Mobiliários
Vice-Presidente do Conselho Consultivo do Banif Banco de Investimentos
Membro do Conselho Consultivo da APDC
Vogal da Direcção do IPRI

Country Life (8)










Charleston Farmhouse (home of the Bloomsbury Group)

Bi-centenário do nascimento de Frédéric Chopin (1810-2010) - VII

Idil Biret - Mazurka nº 5, Op.7 nº1

sábado, outubro 16, 2010

1.6 MM: o falhanço da execução orçamental de 2010

Finalmente o governo assumiu, pela voz dos Ministro das Finanças, que os cerca de 2.6 mil milhões de euros do fundo de pensões da PT não se destinam apenas a cobrir despesas extraordinárias (os mil milhões dos dois submarinos), mas também a “financiar” uma diminuição de receitas e alguma derrapagem da despesa na execução orçamental do ano em curso. Quer dizer, ainda que de forma pouco formal, a ficar a dever bastante ao rigor e quase arrancado a ferros através de uma pergunta de um jornalista, está mais ou menos esclarecido o mistério da execução orçamental de 2010.

Duas questões: a primeira para expressar a minha perplexidade pelo modo informal, quase “en passant”, como o país é informado sobre questão tão grave e relevante (uma diferença de 1.5 mil milhões) e de como o orçamento do ano seguinte é entregue sem que, conjuntamente, se forneçam, para comparação, de modo formal e rigoroso, todos os dados relativos à execução orçamental do ano em curso (“real” dos 3 primeiros trimestres e última previsão para o total do ano). A segunda para mostrar estranheza pelo facto da imprensa especializada e até mesmo os partidos da oposição, pelo menos que eu desse por isso, quase não terem dado relevância a tão grave falhanço do governo. Ou será que estou enganado?

Blindness (9)

"Blind" Joe Taggart - "Mother's Love"

Orçamento às 23.30h?

O Orçamento de Estado só foi entregue às 23.30H? Peço desculpa de mencionar casos pessoais, mas, passando-se as cenas em subsidiárias portuguesas de grandes multinacionais, “blue-chip companies” exemplos de gestão rigorosa e contando com profissionais dos mais qualificados, lembro-me de o acabarmos uma vez às 7h da manhã e ter saído com o cão do segurança a correr atrás de mim; de o termos acabado às 4h da manhã, chegar a casa, tomar duche e correr para o aeroporto para o ir apresentar a 4 000 km de distância; de o termos terminado às 5h da manhã e estarmos de volta, cara alegre e bem barbeados, qual "Rui de Sousa que chega da Jamaica", às 9h para a respectiva apresentação (sempre em inglês, claro, para tornar tudo mais excitante).

O do Estado foi entregue às 23.30h e segue-se conferência de imprensa amanhã às 10h? Pff... Desculpem-me a arrogância, mas, só por isto, Teixeira dos Santos não terá muitas histórias para contar aos netos...

sexta-feira, outubro 15, 2010

Receitas extraordinárias...

Já aqui o disse em resposta a um comentário de um leitor, admito se recorra a uma receita extraordinária, como o é o Fundo de Pensões da PT, para fazer face a uma despesa extraordinária, que se prevê irrepetível (submarinos?). Um pouco como quem vende uma jóia da família para fazer face a uma doença súbita, ou, até, a uma oportunidade de negócio irrecusável que assegure mais-valias relevantes. Bom, vamos lá, no limite mesmo para fazer face a uma diminuição pontual do rendimento face ao esperado. Explicando em termos domésticos, como se nos tivesse corrido mal o ano na empresa e o bónus anual ou as comissões de venda fossem inferiores ao esperado - tendo a garantia isso se deveu a factores extraordinários, não repetíveis - sem que as despesas domésticas fossem suficientemente flexíveis para permitir a sua imediata e proporcional redução.

Difícil é aceitar tal coisa quando o aumento de receitas ou a diminuição das despesas no futuro não nos dá garantias de termos de recorrer novamente a expediente tal: vão-se as jóias da família e passado pouco tempo estamos na mesma. No fundo, é isto que se passa com a transferência dos fundos de pensões, independentemente das obrigações futuras com tal movimento contraídas: pensar que com um indispensável orçamento restritivo e uma melhoria da produtividade do tecido empresarial necessariamente lenta existe qualquer garantia de um aumento significativo de receitas fiscais no futuro, que evite o recurso sistemático a receitas extraordinárias, parece-me demasiado arriscado. Resta-nos começar a trabalhar seriamente e não com demagogia naquilo que a rigidez da máquina do Estado pouco ou nada permite seja feito no curto-prazo: reorganizar e reformar, com enfoque no médio-longo prazo e com o mínimo de prejuízo para o apoio e serviços prestados aos cidadãos, a administração pública de modo a eliminar gastos inúteis, desperdícios, ineficiências, adequando a despesa às receitas esperadas. Ah!, e de preferência recorrendo às tão vilipendiadas consultoria e assessoria externas, independentes e profissionais: será de certeza dinheiro bem gasto! Assim haja vontade política, o que até hoje não aconteceu.

"Close Up" - Marianne Faithfull (5 - final)

quinta-feira, outubro 14, 2010

Carros de serviço...

Durante anos tive carro de empresa para uso total; faço parte, portanto, da classe dos “privilegiados”. Trata-se de algo previsto no “pacote salarial” de alguns funcionários, normalmente com funções de direcção ou “middle management”, que oferece vantagens a empregador e empregado: ambos não pagam impostos ou descontos para a segurança social sobre o respectivo valor de utilização e o empregado vê assim resolvidas as “chatices” inerentes à posse de uma viatura em seu nome, mas com uma grande percentagem de utilização ao serviço da empresa: seguro, arranjos, revisões, etc. Fazendo parte das suas condições salariais, caso lhe seja retirado isso significa também uma redução substancial desse mesmo salário.

Penso no Estado as coisas funcionarão mais ou menos da mesma maneira para certas categorias (director-geral, por exemplo). Por isso mesmo, a serem seguidas muitas das sugestões dos fóruns de opinião no sentido de serem retirados os carros para uso pessoal em algumas das categorias mais elevadas do funcionalismo público, estaríamos perante uma real e efectiva redução de salários, a não ser que se encontrassem formas de compensação salariais correspondentes o que acabaria por ser penalizador para os gastos do Estado uma vez que ao valor líquido correspondente à viatura e sua utilização teriam que ser adicionados os impostos e descontos para a segurança social, bem como o pagamento (preço /km) ao empregado das deslocações em serviço.

Então porque ouvimos frequentemente nos tais fóruns de opinião sugestões para o Estado pôr fim aos carros para uso pessoal e não, pura e simplesmente, uma corrente de opinião no sentido de se baixarem os salários dos cargos mais elevados? Por duas ordens de razões: primeiro, porque o carro tem um valor simbólico, de poder; segundo, porque quem normalmente intervém nos fóruns tem um salário mas não carro de serviço para uso pessoal, e receia que qualquer redução do salário efectivo possa vir também a atingi-lo.

Isto significa que não possa existir um maior controlo das despesas com os carros para uso pessoal? Claro que sim: controlo mais apertado dos gastos, normalmente sujeitos a um orçamento anual, renegociação de seguros e utilização de descontos de frota, manutenção adequada, alargamento do número de anos de utilização de cada viatura, revisão da política de carros para uso pessoal no sentido de serem substituídos, a prazo, por carros de utilização mais económica, etc, etc. Mas vender os carros e pôr toda a gente a andar de táxi, como por aí já li? Não brinquem com coisas sérias: primeiro, porque acabaria por sair mais caro, por si mesmo e por ser necessário compensar os visados com a redução do seu “pacote” salarial; segundo, porque só quem nunca vendeu um carro de categoria superior ou média/superior ignora que o seu valor ao fim de três ou quatro anos de utilização é quase... residual.

"Close Up" - Marianne Faithfull (4)

Orçamento 2011: o fim de um modelo de desenvolvimento?

Anda toda a gente demasiado distraída com o orçamento? Claro que a viabilização de um orçamento para 2011 que enfrente e comece a resolver o problema do “déficit” é indispensável, mas é apenas um ponto de partida. Nada mais do que isso. Querendo-me parecer que o PSD caminha no sentido da sua viabilização – assim vão alguns indícios? -, será agora o momento de começar a saber como vai o país, em termos de governo, enfrentar o day after, o year after e os ten years after; e, desculpem-me o pessimismo, aqui o problema é fundamentalmente da economia, estrutural, de competitividade, muito mais difícil, portanto, de resolver. Como sinal de esperança, digamos que esta conjuntura e este orçamento, com as suas enormes restrições e o fim do dinheiro fácil, contêm em si todas as características para poderem vir a marcar o fim do modelo de desenvolvimento iniciado pelo “cavaquismo”, que Guterres e Barroso não tiveram coragem para mudar e perante o qual José Sócrates foi demasiado tíbio e hesitante. O modelo que, fatalmente, nos conduziria, como conduziu, a este “dead end”.

"O Meu Orçamento" ou "O Mau Orçamento"?

Nesta triste história das “sugestões” sobre o orçamento, a demagogia e o populismo andam de braço dado com a ignorância mais rasteira e de quem lhes dá guarida. Mas enfim, a democracia também é isto e nada tenho a opor, mas a esclarecer.

Na secção do “Jornal de Negócios” destinada a tais sugestões dos leitores (“O Meu Orçamento”), pode ler-se a dado passo: “Artur Gouveia declara que o imposto, além do tabaco, deveria incidir nas bebidas de elevado teor alcoólico, dando o exemplo do whisky e do vodka, mas sem afectar o vinho e a cerveja, que são produzidos em Portugal. Por sua vez, dever-se-sai (sic) proceder a um agravamento de 35% do IVA para os produtos deste sector produzidos fora do território nacional, segundo o leitor Ricardo Carvalhas.”

Ora vamos lá aos esclarecimentos:
  1. Talvez o cidadão Artur Gouveia não saiba que whisky, vodka e outros destilados (enfim, também a cerveja, tradicionalmente para defesa do sector vitivinícola) já estão sujeitas ao pagamento do imposto sobre o álcool, que incide sobre grau alcoólico, o que não acontece com o vinho que, para além disso, apenas paga 13% de IVA, e não 23%. Em Espanha e Itália (dois países grandes produtores de vinho), por exemplo, paga 16% e 20% de IVA, respectivamente.
  2. Quanto ao cidadão Ricardo Carvalhas, partindo do errado e absurdo princípio de que as regras da UE permitiriam uma distinção entre importação e produção local (mas esta gente, ao fim de 25 anos, ainda não entendeu o que é a “Europa”?), o que aconteceria com a sobretaxação de álcool importado seria o aparecimento em força do contrabando, da “candonga” e da contrafacção. E lá se iria a receita fiscal, claro!

Que raio, ainda não chega de disparates ou isto também não é enganar o “povo”?! "Participação Cívica"? Bullshit!

Alfredo Margarido (1928-2010)


Um nome quase esquecido, mas incontornável para os que viveram a adolescência nos anos 60 em permanente desassossego.

quarta-feira, outubro 13, 2010

Fernando Ulrich

Uma voz com bom-senso, ou de como os banqueiros não se podem dar ao luxo da demagogia.

A "Noite das Facas Longas" de Passos Coelho?

A 30 de Junho de 1934, Adolf Hitler, sob pressão da Reichswehr e dos interesses da grande indústria alemã, desencadeou uma ofensiva destinada a liquidar a ala “revolucionária”, anti-capitalista e pequeno-burguesa, do NSDAP, corporizada nas Sturmabteilung (SA) dirigidas por Ernst Röhm. Para a História, tal acção, executada pelas Schutzstaffel (SS) e pela GeheimStaatspolizei (Gestapo), ficou conhecida como “Nacht der langen Messer”, ou “Noite das Facas Longas”, e iniciou aquilo que se poderia chamar de “normalização” e “institucionalização” do regime nazi.

Não querendo estabelecer quaisquer paralelismos ou identificações ideológicas (completamente inexistentes, convém esclarecer os mais apressados), mas sim de situações, parece-me bem que, com as enormes pressões sobre Passos Coelho vindas de importantes nomes do regime e, agora, também da Banca, pode ser que pouco mais reste ao presidente do PSD do que preparar a sua “Noite das Facas Longas”, silenciando (ou “domesticando”) a ala “revolucionária” (leia-se: ultra liberal) e “arruaceira” (leia-se: propagandista e “bloguista”) do partido em favor de uma viabilização do orçamento e de uma subsequente institucionalização da sua liderança que lhe permita vir a ter condições para governar no futuro.

"Black Mask" (12)

Ana Gomes e o PCP

Pergunto: haverá? É que se os há, ao contrário do que aconteceu em 68, quando da invasão da Checoslováquia, estão calados que nem ratos, o que é absolutamente igual à sua não existência! Ana Gomes tarda a entender uma coisa óbvia: que o único comunista "bom" é o que já abandonou o partido. De preferência há muitos anos...

"Close Up" - Marianne Faithfull (3)

terça-feira, outubro 12, 2010

As "ideias" para a redução da despesa

Ora vamos lá ver... Se muitas das medidas propostas vox populi para diminuir a despesa do Estado são, como por aqui afirmei, inexequíveis no curto/médio prazo, apenas idiotas ou não levam a uma diminuição de custos verdadeiramente significativa numa máquina, como a do Estado, por razões históricas, da “cultura” instalada e das funções que exerce, pouco ágil e ainda menos flexível ou respondendo com resistências, e muito lentamente, à mudança (ver a este propósito o que também escreveu Daniel Oliveira), porque se insiste, demagogicamente, na “nova moda” da “recolha de ideias” (PSD, Pedro Santos Guerreiro no “Jornal de Negócios”, etc) que se sabe perfeitamente irão, 99% das vezes, desaguar no populismo mais rasteiro? A resposta é muito simples: por motivos puramente ideológicos, isto é, para tentar demonstrar que existe uma alternativa orçamental exequível que pode passar pela substituição do aumento de impostos por uma maior redução, no imediato, da despesa pública. Não é verdade: pelo menos de modo significativo e não mexendo nas funções sociais do Estado (saúde, educação, segurança social), não existe!

Claro que é sempre possível recorrer a algumas medidas demagógicas, de “encher o olho”, que justifiquem e tornem mais aceitável, perante o “povo da SIC”, a aceitação do agravamento da carga fiscal, muitas delas baseadas no tradicional ódio aos políticos (ora, tudo a andar de Opel Corsa!) ou aos “ricos e poderosos”! Mas não passarão disso mesmo: de um trompe d’oeil que não tardará a deixar bem à vista a realidade nua e crua e assim contribuirá, mais uma vez, para o descrédito dos políticos e do regime.

Políticos profissionais

Se algo ficou bem evidente no “Prós & Contras” de ontem isso foi o contraste entre dois experientes políticos profissionais de longa data - cultos, inteligentes e cosmopolitas; com mundividência (saúda-se um Jorge Sampaio em grande forma) - e um militar que, por estar no lugar certo na altura exacta, se tornou Presidente da República. Um bom exemplo para aqueles que desdenham dos políticos profissionais, os que “nunca fizeram mais nada na vida”.

Um orçamento sem aumento de impostos?

Existe uma campanha organizada de “intoxicação” em favor da aprovação do orçamento do próximo ano? Em nome dos factos, convenhamos que, orquestrada ou não, campanha ou simples conjugação casuística de opiniões, existe na opinião publicada uma forte corrente de opinião nesse sentido. Eu diria que ainda bem, mas, claro, só posso entender, embora contestando-as, as opiniões contrárias.

Mas o que constitui também facto incontroverso é a existência do seu contrário, isto é, de uma forte corrente de opinião política e económica publicada afirmando que esse orçamento (com maior rigor, “proposta de orçamento”) deve ser chumbado por incluir um significativo aumento de impostos, o que o transforma à partida num mau orçamento. Muito bem – ou muito mal.

Mas a pergunta que deixo é esta: alguém honesto, no pleno gozo da sua inteligência (por pouca que seja) e capacidade de raciocínio, acha que, na actual conjuntura e por muito que se corte significativamente na despesa (cortes reais, com possibilidade de se efectivarem em tempo útil e não devaneios de uma noite de insónias ou intervenções do “povo da SIC” fóruns de opinião), é possível passar o “déficit” das contas pública de 7.3% em 2010 para 4.6% em 2011 sem um aumento significativo dos impostos? Eu sei que os portugueses não são lá muito bons em matemática, mas basta fazer contas!

Chegados a este ponto, apetece-me usar uma expressão que ouvia muitas vezes ao meu pai quando este esgotava a sua capacidade para aturar os raciocínios disparatados alheios: “não me lixem”!!!

"Close Up" - Marianne Faithfull (2)

segunda-feira, outubro 11, 2010

No país dos sovietes (16)

Dame Joan Alston Sutherland (1926-2010)

"Porgi, amor" (Contessa di Almaviva) - "Cavatina" do II acto de "Le nozze di Figaro", de W. A. Mozart

O que nos dizem as posições políticas do PCP

Ora vamos lá directos ao assunto: nas posições políticas do PCP, situação ainda mais evidente quando falamos de política internacional, tudo se subordina a uma contradição principal muito simples: o PCP apoia por princípio tudo aquilo (Estados, partidos, organizações, etc) que apresente ou seja susceptível de vir a apresentar alguma rivalidade ou contenha em si quaisquer contradições com os USA - o “Império”, o “Grande Satã” – e a ordem capitalista mundial. Ditadura sangrenta (lembram-se do apoio à ditadura argentina de Videla, aquela que atirava presos políticos dos aviões?)? Regime corrupto? Espezinhamento dos mais elementares direitos de minorias, éticas ou sociais? Primado de princípios religiosos obscurantistas? Pouco importa: “é contra eles, é nosso”. Não se trata, portanto, de uma posição de defesa e melhoria das condições económicas e sociais do "proletariado", da "classe operária", do "povo" (na sua versão "frentista"), mas da assunção de uma rivalidade da parte de quem aspira vir a constituir um novo "império" sobre as cinzas do actual. É assim desde Stalin (pelo menos) e assim será até se extinguirem da face da terra. Se fossem religiosos diria que era um dogma; assim funciona como um axioma. Q.E.D.!

Do PCP...

Para quem ainda tinha dúvidas, assim se prova que este PCP é, de facto, a pior herança da "longa noite fascista".

"Close Up" - Marianne Faithfull (1)

domingo, outubro 10, 2010

Orçamento: ora, resumindo...

...a viabilização do orçamento de 2011, através da abstenção, é, sem dúvida, a opção que mais convém ao PSD: “dá uma de patriotismo”, o que sempre “cai” bem no eleitorado; fica sem o ónus de fazer cair o governo (“demos ao PS condições para governar com o seu programa”), acção - fazer cair o governo - que tradicionalmente (ou será mito urbano?) tende a penalizar quem o faz; mantém as mãos livres para contestar as políticas de José Sócrates, assim criando as condições necessárias a uma certa instabilidade política que poderá ter repercussões negativas junto dos mercados financeiros e das agências de “rating” – logo, na acção governativa; aguarda calmamente os mais do que esperados aumento do desemprego e queda do crescimento económico, com a subsequente agitação social; e espera que tudo isso e mais alguma coisa de que me terei esquecido faça o partido subir consistentemente nas sondagens, neste momento demasiado e perigosamente próximas do empate técnico, dando oportunidade a Cavaco Silva, então já com a reeleição resolvida, de dissolver a Assembleia da República abrindo caminho a eleições que coroariam um governo PSD ou PSD/CDS. Resumindo: tudo leva a crer que, independentemente de “guerras de alecrim e manjerona” e/ou tricas de ocasião, seja esta a opção tomada: "o que tem que ser tem muita força"! Aliás, talvez seja exactamente em face desta estratégia que o PS se importaria muito pouco ou nada com um voto “contra” do PSD.

Será a melhor opção para o país? Claro que não parece ser: um estável e civilizado governo de coligação, a dois ou a três, seria bem mais adequado ao momento que o país e o mundo atravessam. Mas isso parece ser pormenor de pouca monta, ao qual, valha a verdade, nem o próprio PS, partido apoiante do governo, parece querer dar muita atenção. Tanto pior para todos...

Solomon Burke (1940-2010)

Solomon Burke - "Cry To Me"

The Rolling Stones - "Cry To Me"
Algumas notas:
  1. "Cry To Me" é um tema de Bert Berns, autor, entre outros, de "Here Comes The Night" (Them) e "Piece Of My Heart" (Erma Franklin - irmã de Aretha - e Big Brother & The Holding Company, c/ Janis Joplin). Também de "Twist And Shout" (Isley Brothers e Beatles). Berns foi também um produtor de sucesso, um dos nomes incontornáveis da Atlantic Records.
  2. O tema foi gravado pela primeira vez por Solomon Burke em 1962 (#5).
  3. Os Rolling Stones incluíram-no no seu álbum "Out Of Our Heads", de 1965. É a minha versão favorita.
  4. O que menos importa é a sua inclusão do filme "Dirty Dancing", de 1987, que nem sequer vi e a que o "Público" dá tanto destaque. Que me desculpem a arrogância, mas tristes daqueles que só nessa altura conheceram Burke e "Cry To Me".

sexta-feira, outubro 08, 2010

Portugal-Dinamarca ("agora é que não falha, nove a zero"!)

Beatriz Costa e Nascimento Fernandes - "Canção do Futebol". Do filme "O Trevo de Quatro Folhas", de Chianca de Garcia (1936)

Grindhouse Effect (11)

O "sobe & desce" do "Público" terá descoberto a quadratura do círculo?

Na última página do “Público” de hoje, na habitual e sempre idiota secção “sobe e desce”, pode ler-se a acompanhar a seta no sentido descendente que acompanha a foto de Teixeira dos Santos:

“Os caminhos da grave crise que o país vive vão todos dar ao ministro da Finanças, responsável por um duro plano de cortes. O pior é que o governo tudo faz para reduzir drasticamente o défice, mas, como se vê pelas várias projecções (ontem foi o Banco de Portugal), nada acontece no combate ao desemprego ou no crescimento da economia”

Pergunta: o “Público” descobriu a “quadratura do círculo” e é capaz de me explicar (e sobretudo ao ministro das Finanças) como se diminui drasticamente o défice e, simultaneamente, se combate o desemprego e faz crescer a economia? Ou a intenção era apenas colocar um “setinha” para baixo na foto de Teixeira dos Santos? É que, se era esse o caso, poderiam antes ter escolhido, com total a propósito, os 2.9% de aumento dos funcionários públicos, a diminuição de 1 p.p. no IVA, a cedência a Isabel Alçada na questão dos professores, etc, etc. Assim, apenas demonstram ignorância e dão uma triste imagem do jornalismo que se vai por aí praticando!

Sai uma "comissão de utentes"?

Já por aqui manifestei uma vez a minha estranheza perante umas auto-intituladas “comissões de utentes”. Ninguém sabe quem as compõe (excepção para o nome do respectivo porta-voz), como foram constituídas, como foram eleitas (se é que o foram), qual o regulamento que as rege, qual a sua representatividade e a intensidade necessária de utilização para se ser considerado um legítimo e honorável membro, etc, etc - e ainda mais etecéteras. Cá por mim, que não sou ingénuo, tenho umas suspeitas... mas o facto é que, com ou sem essas minhas suspeitas, lá põem sempre um microfone à frente do “fulano de tal”, da comissão de utentes da Calçada dos Barbadinhos ou do Centro de Saúde daquela terra da Maximiliana do Herman José, para o tal “fulano de tal” dizer o que lhe vai na alma (de Dr. Fausto?) em nome não se sabe bem de quem e de que princípios.

Tudo isto vem a propósito de me ter dado de repente a vontade de pertencer a uma das tais “comissões de utentes” - que raio!, já agora gostava de saber como é (“curiosity killed the cat”?) - e não fazer a mínima ideia do que fazer. Tentando lembrar-me de que sou utente, pelo menos nesta vida, será, por exemplo, que existirá uma comissão de utentes do Metropolitano de Lisboa, que utilizo de 15 em 15 dias para ir à “catedral” e, de vez em quando, para ir almoçar ao Chiado? E do Jardim da Estrela e do eléctrico 28, o mais cosmopolita de Lisboa? E da Livraria “Leya na Barata”, do São Carlos, dos passeios da Av. de Roma e das ruas de Campo de Ourique? Dos supermercados Pingo Doce ou do Cacau Sampaka das Amoreiras? Isto para não falar de coisas mais sofisticadas, como, por exemplo, uma comissão dos utentes portugueses da Swaine, Adeney Brigg & Sons, do nº 54 de St. James's Street - London, que aí, lembrando-me dos meus amigos, já conseguiria angariar, sem grande esforço, pelo menos uns quatro ou cinco membros permanentes e com guarda-chuva comprovativo... E tinha cá um sainete!!!

Bom, mas como esta já vai longa, prefiro deixar uma sugestão: que tal uma comissão de utentes do “blog” “O Gato Maltês”? Vá lá, vá lá, eu sei que não são assim tantos, por isso não se acanhem! Não custa nada e depois vamos todos à TSF! "Bute" lá?

Vai uma rapidinha? - classic uptempo doo wop (7)

The Spaniels - "Stormy Weather"

Luís Marques Mendes e a extinção de organismos públicos

Luís Marques Mendes, o melhor presidente do PSD dos últimos (largos) anos, apresentou uma lista de organismos públicos que podem ser extintos sem prejuízo significativo para os serviços prestados ao cidadão e à comunidade. Na generalidade, e de acordo com aquilo que conheço e sei de tais organismos (existirão mais), concordo com Luís Marques Mendes. Mas seria importante que, simultaneamente, o ex-presidente do PSD apresentasse também um cálculo dos valores que se poderiam poupar com tal extinção. É que não podendo os funcionários com vínculo ao serviço público e que nesses organismos exercem funções ser, pura e simplesmente, despedidos, e desconhecendo os restantes custos envolvidos e a possibilidade de cessarem ou diminuírem drasticamente, no curto/médio prazo, com a extinção das referidas instituições, sou levado a concluir que, embora essa extinção seja saudável quer como princípio quer e em termos organizativos e de rigor, os valores de poupança assim obtidos ficariam muito longe do que por vezes se imagina, quase não “dando a mecha para o sebo”. Como disse, aplaudo o princípio, mas permito-me duvidar da eficácia até que me apresentem os custos... Fica o desafio.

quinta-feira, outubro 07, 2010

A entrevista de José Eduardo Bettencourt

Depois de José Eduardo Bettencourt ter afirmado que a primeira década do século XXI tinha sido, do ponto de vista de resultados desportivos, a segunda mais bem sucedida da história do SCP, Judite Sousa deveria ter contraposto uma pergunta muito simples: “então o que levou o clube a mudar de estratégia, deixando de apostar fundamentalmente na consolidação financeira e na formação e passando a tentar, com armas desiguais, competir no mercado com os seus rivais SLB e FCP?” Eu sei a resposta: tratava-se de uma estratégia só passível de sucesso enquanto a péssima gestão desportiva do SLB o permitisse e a posição de Portugal no “ranking” da UEFA possibilitasse a entrada directa de duas equipas na Champions League. Mas gostava de saber como teria JEB respondido à questão...

Já agora: é comum ouvir por aí a pergunta sobre quem será o 4º grande. Já foi o Belenenses, depois o Boavista e agora talvez o Braga. Seria bem mais interessante se a imprensa desportiva se interrogasse sobre se ainda haverá lugar para três grandes no futebol português e, sendo a resposta negativa, qual dos três clubes (SLB, FCP e SCP) irá a prazo mais ou menos curto abandonar o grupo.

Fado - Património Imaterial da Humanidade (6)

Dina Teresa - "Novo Fado da Severa"

quarta-feira, outubro 06, 2010

O "Gato Maltês" convida:


Se os amigos são para as ocasiões, os grandes amigos são para todos os momentos. Por isso mesmo, o “Gato Maltês” não poderia deixar de se associar a uma grande amiga no lançamento da sua (dela) nova marca “Urban Lavender”, cuja apresentação terá lugar no próximo sábado, dia 9 de Outubro, pelas 19h no “Em Nome da Rosa” (ver convite).

O bom gosto está garantido por este “blog” e o champagne por deferência da Pernod-Ricard, que também se associa ao evento.

A minha amiga Alexandra agradece a vossa presença e eu também por lá estarei, como convidado, a dar o meu apoio e uma ajuda para que não sobre champagne.

Conto convosco!

"Trio d'Ataque": vão e não voltem!

Não posso pedir tal coisa aos canais privados com programas semelhantes, mas depois do que se passou ontem a RTP tem uma boa oportunidade de acabar com um pseudo-programa sobre futebol que dá pelo nome de “Trio d’Ataque”, prestando, enquanto serviço público de televisão, um inestimável serviço ao futebol, ao país e à inteligência. Mais, concede também aos seus intervenientes a possibilidade de se dedicarem a tempo inteiro àquilo que melhor saberão fazer: António Pedro Vasconcelos ao cinema, Oliveira e Costa às sondagens e Rui Moreira a dirigir a associação comercial da sua cidade. A nós, os telespectadores que gostamos de futebol, abre a possibilidade de vermos, num futuro que espero próximo e em sua substituição, um programa com gente que contribua para nos tornarmos mais conhecedores e amigos do melhor jogo do mundo.

História(s) da Música Popular (167)

Sir Douglas Quintet - "Mendocino"

"Tex
-Mex" (II)

Embora durante bastante tempo activos e com vários álbuns na discografia, Doug Sham e o seu Sir Douglas Quintet tornaram-se especialmente notados por dois êxitos: o já por aqui assinalado “She’s About A Mover”, com o qual “romperam” no ambiente do pop/rock em 1965, e, três anos depois, este seu segundo êxito, “Mendocino”, ambas composições de Doug Sham mas em que o orgão de Augie Meyers está não só bem presente como, muito mais do que isso, dá o “tom” definitivo. Foi um #27 nos “charts”, já em 1969, e o último fôlego bem sucedido do grupo. Mas, claro, a década prodigiosa estava também já no seu fim.

Foi assim!...

...com este extraordinário "putt" no buraco 16 que o irlandês Graeme McDowell praticamente selou a vitória da equipa europeia na Ryder Cup 2010. Reparem na multidão e nos gritos "Europe, Europe".

terça-feira, outubro 05, 2010

1ª República: um regime fora do seu espaço e do seu tempo?

Uma das razões que ajuda a explicar o sucesso do Estado Novo e da ditadura salazarista foi o sólido e abrangente sistema de aliança de classes que, se bem com contradições ao longo do tempo, conseguiu estabelecer entre a aristocracia agrária, a burguesia industrial e financeira emergente, os sectores da pequena e média burguesia urbana mais conservadores desiludidos com a República e a Igreja Católica - e com esta a enorme maioria da população rural. No fundo, deixou apenas de fora o proletariado rural do Alentejo e Ribatejo, o operariado da Cintura Industrial de Lisboa e da Marinha Grande, bem como alguma burguesia urbana republicana que viria a constituir o “reviralho”.

Pelo contrário, é normalmente afirmado que é a incapacidade de forjar um sistema de alianças que acaba por muito contribuir para “tramar” a República, alienando o apoio operário, confrontando a Igreja Católica e radicalizando-se no seu anti-clericalismo. O regime republicano ter-se-ia assim deixado isolar no seu núcleo essencial, nos seus fiéis de sempre.

O problema que coloco é se poderia ter sido de outra maneira, isto é, se perante um país rural com 75% de analfabetos, uma Igreja Católica que, mesmo sem os excessos radicais do jacobinismo, teria de ser despojada obrigatoriamente de muito do poder que lhe estava atribuído, uma burguesia industrial e financeira frágil e um operariado onde o anarco-sindicalismo era largamente dominante teria sido possível à República e ao seu ideário forjarem uma aliança sólida e subsistirem duradouramente. Em suma, se a 1ª República não terá sido um regime fora do seu espaço e do seu tempo.

O 5 de Outubro e a autonomia partidária

O que de mais interessante se disse nas comemorações oficiais do cinco de Outubro? A afirmação clara de Miguel Macedo vincando a autonomia do PSD face a Cavaco Silva e aos seus apelos ao diálogo e entendimento interpartidário. Algo que seria impensável ouvir vindo da direcção de Ferreira Leite e que, apesar de poder vir a criar sérios problemas de governabilidade e de eu, neste aspecto, estar de acordo com Cavaco Silva quanto à necessidade de um entendimento político alargado, me parece saudável como manifestação da autonomia partidária face a tutelas exteriores, mais ou menos messiânicas.

Quer queiram quer não, com atitudes como esta de defesa da autonomia dos partidos como elementos organizativos essenciais de livre expressão da cidadania, é a democracia que sai sempre a ganhar. Caberá a estes mesmos partidos, principalmente os que se reconhecem na democracia liberal, demonstrar que possuem a maturidade suficiente para chegar ao entendimento possível sempre e quando as circunstâncias o exigem. É este o desafio que PS, PSD e CDS devem assumir em defesa de si próprios e da cidadania que justifica a sua existência.

segunda-feira, outubro 04, 2010

O governador do Banco de Portugal e os orçamentos plurianuais

Percebo que Carlos Costa proponha seis anos como quadro orçamental plurianual. Aliás, ele próprio explica as razões da sua proposta: “garantir melhor a sustentabilidade das finanças públicas”. Na conjuntura actual e vindo de um governador do Banco de Portugal, com preocupações fundamentalmente de ordem financeira, tal é perfeitamente entendível.

Mas do ponto de vista da política – à qual tudo o resto se deve subordinar – penso seria bem mais correcto que se considerasse o período de uma legislatura (4 anos), sendo o governo eleito obrigado a apresentar na Assembleia da República (o que é o mesmo que dizer “ao país”), junto com o seu programa de governo, o orçamento plurianual que funcionasse como seu suporte. Os orçamentos anuais funcionariam assim como verdadeiras revisões do orçamento quadrienal, apresentando sempre o governo, em conjunto com aqueles, também a revisão orçamental até ao final da legislatura.

A ler...

Vale a pena ler o artigo de Sarsfield Cabral no “Público” de hoje (não linkável). Extremamente crítico do governo; mas rigoroso, lúcido, sem “partis-pris” assumidos. Longe, muito longe, do populismo desbragado, da má-língua leviana e ligeirinha, do ressabiamento e do tom politiqueiro (ou devo dizer futeboleiro?) que, infelizmente, com uma ou outra rara excepção, tem dominado a opinião publicada entre os críticos situados à direita do governo.

É nossa!!!



A equipa europeia acaba de vencer a Ryder Cup 2010 (última jornada - singulares - adiada para hoje devido ao mau tempo) batendo a sua congénere norte-americana por um escasso ponto (14 1/2-13 1/2). No último encontro, o irlandês Graeme McDowell derrotou o norte-americano Hunter Mahan por 3&1, isto é, uma vantagem de três buracos quando faltava apenas um para jogar.

Ópera não é só música para operários (3)

W. A. Mozart - "Die Entführung aus dem Serail" (final)

domingo, outubro 03, 2010

Gene Vincent & Eddie Cochran (6)

Eddie Cochran - "Stockings and Shoes"

José Pacheco Pereira e a "razão" de Manuela Ferreira Leite

José Pacheco Pereira continua a insistir no tema da “razão” de Manuela Ferreira Leite, ou seja, na dele próprio. Esquece, contudo, algo de essencial em política: é que numa democracia, em que o governo depende da opinião pública e do voto dos eleitores, não basta ter razão para se ser bem sucedido; é, antes de tudo o mais, absolutamente necessário convencer os outros dessa nossa razão, fazendo a respectiva pedagogia.

Agitar essa “razão” pode servir a JPP para ficar melhor com a sua consciência. Mas ao não conseguir levar os eleitores a perceber e aceitar essa mesma “razão”, JPP e MFL devem reconhecer o seu estrondoso falhanço e, como consequência dessa inépcia, que acabam por ser co-responsáveis pela actual situação do país. Resumindo: talvez fiquem melhor; mas deixam o país indiscutivelmente pior.

sábado, outubro 02, 2010

Vasco Pulido Valente Correia Guedes - "Laus Deo Semper!"

A “pátria” está mal? proponho Vasco Pulido Valente C.G. para primeiro-ministro. As finanças idem? proponho VPVCG para ministro das finanças. A economia não cresce? que tal VPVCG para ministro da economia? A República foi uma balbúrdia? obviamente, porque VPVCG não foi por ela responsável. A monarquia estava moribunda? só porque VPVCG não era rei! Assim sucessivamente? claro, porque nem VPVCG é “assim” e muito menos “sucessivamente”.

Que fazer então para salvar a "pátria" da decadência e da desgraça? Nomear, de imediato, VPVCG como “governanta”, “arranjador”, “faz-tudo”, “caretaker”, “toubib” e, por fim, historiador oficial da “pátria”, qual Fernão Lopes do século XXI! “Bora” lá?

“Ditosa pátria que tal filho (VPVCG - LDS) tem”!!!

Ryder Cup 2010


A Ryder Cup "ao vivo" na Sky Sports