Por razões que têm fundamentalmente que ver com o papel importante sempre desempenhado pela construção civil e pela especulação imobiliária em Portugal, bem como pelo desenfreado incentivo ao consumo que o dinheiro fácil pós adesão à CEE e os juros baixos pós-euro geraram, desenvolveu-se no país uma estrutura de distribuição comercial que pouco tem de europeia, mais semelhante a muitos países do "novo mundo", muito baseada em enormes centros comerciais onde os hipermercados funcionam como lojas-âncora. Ora este tipo de comércio tem uma lógica e filosofia próprias de funcionamento e de gestão empresarial, apenas podendo ser inteiramente rentabilizado com o recurso a horários muito alargados de funcionamento e a vários tipos de actividades complementares (cinemas, por exemplo) que atraiam largos grupos de pessoas para um conjunto de actividades lúdicas que fomentem a compra por impulso.
Claro que este modelo - que, aliás não só não é indissociável como se integra no modelo de desenvolvimento que nasceu com o chamado “cavaquismo” e se prolongou até hoje - está muito longe de não ser contestável, e não serei eu a contar-me entre os seus mais acérrimos defensores. Mas também, em função da filosofia que lhe é própria, não me parece que tivesse alguma lógica permitir a abertura ao domingo dos centros comerciais onde esses hipermercados se inserem e desempenham uma função essencial na sua rentabilização e obrigar esses mesmos ""hipers a fechar as suas portas enquanto todo o restante comércio do mesmo empreendimento continuava a funcionar. Do mesmo modo que não fazia qualquer sentido que fosse a área ocupada a determinar uma decisão, dando origem, por exemplo, a situações absurdas, como o facto do Pão de Açucar das Amoreiras se manter aberto enquanto os Jumbo e Continente se viam obrigados a fechar as suas portas.
A abertura dos hipermercados ao domingo acaba por ser, assim, apenas o desenlace lógico para um modelo de negócio comercial, centrado na grande distribuição, que, em Portugal, se tornou dominante a partir dos anos oitenta do século XX, e a coroação de um modelo de desenvolvimento económico, iniciado com Cavaco Silva, no preciso momento em que ele parece ter chegado ao impasse há tanto tempo previsto. Algo, convenhamos, no mínimo curioso, para não dizer irónico...
Claro que este modelo - que, aliás não só não é indissociável como se integra no modelo de desenvolvimento que nasceu com o chamado “cavaquismo” e se prolongou até hoje - está muito longe de não ser contestável, e não serei eu a contar-me entre os seus mais acérrimos defensores. Mas também, em função da filosofia que lhe é própria, não me parece que tivesse alguma lógica permitir a abertura ao domingo dos centros comerciais onde esses hipermercados se inserem e desempenham uma função essencial na sua rentabilização e obrigar esses mesmos ""hipers a fechar as suas portas enquanto todo o restante comércio do mesmo empreendimento continuava a funcionar. Do mesmo modo que não fazia qualquer sentido que fosse a área ocupada a determinar uma decisão, dando origem, por exemplo, a situações absurdas, como o facto do Pão de Açucar das Amoreiras se manter aberto enquanto os Jumbo e Continente se viam obrigados a fechar as suas portas.
A abertura dos hipermercados ao domingo acaba por ser, assim, apenas o desenlace lógico para um modelo de negócio comercial, centrado na grande distribuição, que, em Portugal, se tornou dominante a partir dos anos oitenta do século XX, e a coroação de um modelo de desenvolvimento económico, iniciado com Cavaco Silva, no preciso momento em que ele parece ter chegado ao impasse há tanto tempo previsto. Algo, convenhamos, no mínimo curioso, para não dizer irónico...
2 comentários:
Caro JC
Análise objectiva e do meu ponto de vista inteirament correcta.
Permita-me citar: "estrutura de distribuição comercial que pouco tem de europeia, mais semelhante a muitos países do "novo mundo", muito baseada em enormes centros comerciais..."
Tem tudo a ver com a nossa "coltura"...Ir para o shopping (que termo bonito) passear a "famelga" de fato de treino e ténis (adquiridos numa qualquer feira do relógio).
Também há aspectos positivos...lojas FNAC (nalguns) mas essa é outra história.
Claro que não faz (nunca fez) sentido fechar lojas âncora (como os hipermercados) com base nos metros quadrados ocupados e justificando a protecção do pequeno comércio local. A "protecção" ao comércio local desta forma acabou por constituir uma machada no comércio local, que só sobreviviria e se desenvolveria se se tivesse adaptado à realidade e necessidade dos consumidores.
Cumprimentos
A FNAC não precisa de grandes CCs. No Chiado está num pequeno CC à europeia. Em paris, já no final dos anos 60/início dos 70 eu fazia compras na FNAC, em loja de "rua".
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