terça-feira, outubro 05, 2010

1ª República: um regime fora do seu espaço e do seu tempo?

Uma das razões que ajuda a explicar o sucesso do Estado Novo e da ditadura salazarista foi o sólido e abrangente sistema de aliança de classes que, se bem com contradições ao longo do tempo, conseguiu estabelecer entre a aristocracia agrária, a burguesia industrial e financeira emergente, os sectores da pequena e média burguesia urbana mais conservadores desiludidos com a República e a Igreja Católica - e com esta a enorme maioria da população rural. No fundo, deixou apenas de fora o proletariado rural do Alentejo e Ribatejo, o operariado da Cintura Industrial de Lisboa e da Marinha Grande, bem como alguma burguesia urbana republicana que viria a constituir o “reviralho”.

Pelo contrário, é normalmente afirmado que é a incapacidade de forjar um sistema de alianças que acaba por muito contribuir para “tramar” a República, alienando o apoio operário, confrontando a Igreja Católica e radicalizando-se no seu anti-clericalismo. O regime republicano ter-se-ia assim deixado isolar no seu núcleo essencial, nos seus fiéis de sempre.

O problema que coloco é se poderia ter sido de outra maneira, isto é, se perante um país rural com 75% de analfabetos, uma Igreja Católica que, mesmo sem os excessos radicais do jacobinismo, teria de ser despojada obrigatoriamente de muito do poder que lhe estava atribuído, uma burguesia industrial e financeira frágil e um operariado onde o anarco-sindicalismo era largamente dominante teria sido possível à República e ao seu ideário forjarem uma aliança sólida e subsistirem duradouramente. Em suma, se a 1ª República não terá sido um regime fora do seu espaço e do seu tempo.

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