domingo, janeiro 31, 2010

Sword & Sandals (9)


"Helen of Troy", de Robert Wise (1956)

Manuel Alegre: a sua posição enquanto "challenger" e a estratégia de Cavaco Silva

Um dos problemas mais sérios que uma mais do que provável candidatura de Manuel Alegre terá que enfrentar é que, partindo de uma posição de “challenger”, isto é, apresentando-se contra o Presidente da República em funções, aparecerá necessariamente aos olhos dos eleitores como portador de uma ideia, uma mensagem, de “divisão”, de “ruptura”, enquanto Cavaco Silva se apresentará como uma "natural" candidatura de unidade entre todos os portugueses, conceito que estes associam facilmente ao cargo em questão independentemente de quem o exerce. Acresce que Cavaco Silva terá pela frente um ano para continuar a fazer desse apelo de unidade em período de crise, começado com as negociações sobre o orçamento (aos olhos dos portugueses, e com razão, uma sua indiscutível vitória), o “leit motiv” do exercício das suas funções, algo que esses mesmos portugueses, em termos abstractos e mais ainda na problemática situação económica e governativa actual (governo minoritário) sempre apreciam bem mais do que a autonomia partidária e a saudável luta democrática. Com esse objectivo não deixará Cavaco Silva de recorrer a uma excessiva dramatização e dose q.b de pessimismo quando isso se revelar necessário (o discurso de Ano Novo, a audiência a João Salgueiro e as declarações deste no final foram apenas o primeiro passo), não desdenhando mesmo algumas encenações de carácter mais solene no qual a próxima reunião do Conselho de Estado manifestamente se integra.

Nota: Cavaco Silva nunca conseguiu muito mais do que a metade (50%) dos votos expressos, quer como candidato a P. R., a primeiro-ministro ou à renovação da sua maioria enquanto chefe do governo em funções. Certo. Mas Cavaco Silva nunca foi a votos partindo da muito favorável posição de P. R. em funções, o que pode mudar muito as coisas. Fica o aviso aos mais optimistas apoiantes de Alegre.

Falemos então de arbitragem, mas com seriedade e de modo estruturado

Afirmei ontem aqui que o principal problema da má qualidade das arbitragens em Portugal, no futebol profissional, terá bem mais a ver com problemas de ordem psicológica – abstrair do ambiente inquinado em vive o futebol indígena e ter a capacidade para, psicologicamente, saber resistir a pressões directas e indirectas – do que técnica, isto é, da correcta interpretação das leis do jogo e da capacidade de as saber aplicar durante o seu decurso, gerindo-o (o árbitro é também um gestor do jogo, assegurando o espectáculo e o seu bom andamento). Terá também muito mais a ver com questões desse tipo do que com a adopção de novas tecnologias. Por exemplo: com recurso a novas tecnologias, a árbitro Carlos Xistra teria decidido de modo diferente nos, a olho nu, tão claros lances do Nacional-FCP de ontem? Ou Elmano Santos teria, porventura, mostrado o cartão encarnado, em vez do amarelo, ao jogador do V. de Guimarães que derruba Saviola, que se isolava, num lance em que, pelo facto da posição de Saviola não se poder considerar indiscutivelmente frontal, o critério do árbitro é decisivo e qualquer das duas decisões aceitável? Duvido...

Bom, vamos então ao que interessa, isto é, como ajudar a resolver ou, pelo menos, a minorar o problema. Tendo em atenção a livre circulação de pessoas na UE e o facto de a grande maioria dos jogadores que integram as equipas profissionais em cada Liga serem de nacionalidades diversas, europeias e não europeias, penso não existir nenhuma razão inultrapassável para que jogos das diversas Ligas nacionais não possam e devam dirigidos por equipas de arbitragem de nacionalidade diferente da Liga em questão, nomeadas pela UEFA ou por acordo entre duas ou mais estruturas de arbitragem nacionais (por exemplo, Portugal e Espanha). Dando um exemplo prático e ficando-me aqui pelos estados ibéricos, penso que um grupo de árbitros de elite portugueses e espanhóis, arbitrando indiferentemente em ambas as Ligas profissionais por nomeação de uma estrutura ibérica, teria uma qualidade bem mais homogénea e capacidade acrescida para manter um alheamento maior para com o “caldo de cultura” existente em cada um dos países. Acresce que a maior concorrência assim criada teria também com certeza reflexos no aumento da qualidade técnica dos árbitros de ambos os países e a cooperação deste modo iniciada só poderia ter efeitos positivos para uma futura e indispensável aproximação entre as duas Ligas com vista a uma eventual maior cooperação ou, até, integração. Seria uma interessante experiência a levar a cabo, até porque não consigo vislumbrar nela nada de negativo.

sábado, janeiro 30, 2010

Royal Mail album covers stamps (3)

Rolling Stones - "Let It Bleed"

Por excepção vi 1/2 jogo da Liga portuguesa em que o meu clube não participava e também por excepção falo de árbitros

Não costumo ver jogos da Liga portuguesa, excepto, claro está, os do meu clube e um ou outro SCP-FCP (ou vice-versa) se nada mais reclama a minha atenção e o meu tempo. A falta de qualidade dos jogos faz da sua visão uma espécie de cumprimento de promessa, coisa a que o meu ateísmo de furta.

Também não tenho por hábito falar de arbitragens, foras-de-jogo de milímetro e bolas na mão ou mãos na bola que só um extra-terrestre consegue deslindar da conformidade ou não com as leis do jogo: há gente de mais a preocupar-se com tal assunto e a cair no ridículo por tais análises. Além de tudo o mais, existem no futebol assuntos bem mais importantes e interessantes a merecerem análise.

Mas, almoço tardio em casa de amigos e desejo deles fez-me abrir uma excepção e lá dei comigo, frente ao televisor e na companhia de um LBV da Quinta do Noval, a ver a primeira parte do Nacional-FCP. Azar o meu, pois duas decisões do árbitro do jogo que me pareceram, grosseiramente, erradas (uma grande penalidade não assinalada a favor do Nacional e uma outra assinalada a favor do FCP que me pareceu - repito: pareceu - mais do que duvidosa e originou uma expulsão nos madeirenses) condicionaram completamente um jogo decisivo para o FCP e no qual, minha opinião, esta equipa até estava a ser francamente superior (custa-me dizê-lo mas é a verdade). Há pouco, ganhava por 3-0. Mas adiante...

O que me leva a escrever este “post” uns minutos antes de começar o jogo do meu clube é imaginar a pressão a que, por via dos erros cometidos pelo seu colega no jogo do FCP e que claramente beneficiaram esta equipa - e tendo em conta o ambiente que se vai vivendo no futebol português - o árbitro do SLB-V. Guimarães vai estar sujeito ao entrar em campo, escrutinado que será até ao milímetro nos lances que se vão desenrolar nas duas áreas. Que acontecerá se, em sua boa consciência, decidir algum um lance duvidoso nas áreas em favor do V. de Guimarães? Claro que um árbitro a este nível é treinado e pago para resistir a pressões de todo o género, mas também todos sabemos como a má qualidade dos árbitros portugueses tem frequentemente mais a ver com questões de ordem psicológica do que técnica. Não gostaria de estar no seu lugar...

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Elvis Presley, 75 anos - original SUN recordings (3)

"Good Rockin' Tonight" (Roy Brown), um original de Roy Brown.
Gravação de 11 de Setembro de 1954 editada a 25 desse mesmo mês como "A side" do seu segundo "single"


O original de Roy Brown (1947)

quinta-feira, janeiro 28, 2010

"On Connaît la Chanson" (1997) - a homenagem de Alain Resnais a Dennis Potter (1)


"Résiste", um original de France Gall
Playback de Sabine Azéma

"Waking the Dead" no AXN

"Waking the Dead" - genérico inicial
No meio de uma infindável quantidade de lixo televisivo e sem qualquer destaque, o canal AXN está a repetir a 1ª temporada de uma notável série policial inglesa, "Waking the Dead". Chama-lhe, vá lá saber-se dos quês e dos porquês, "Investigação Especial" e passa, aparentemente, de segunda a sexta-feira pelas 19.42h. A série já vai na 8ª temporada, mas em Portugal, que me lembre e entre vários canais do Cabo (BBC incluída), apenas chegou à 6ª. Indispensável.

Frases assassinas

Duas frases habitualmente escutadas nos fóruns de opinião e que põem liminarmente em causa os princípios mais elementares do Estado de Direito Democrático:

  1. “Não há fumo sem fogo” – normalmente utilizada para condenar os “ricos e poderosos” na praça pública sem necessidade de fazer prova em tribunal.
  2. “Quem não deve não teme” – para justificar os mais diversos atropelos às liberdades individuais, aos direitos e garantias dos cidadãos e fazer apelo ao securitarismo mais abjecto.

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Grace Slick (3)

Grace Slick - "Pearl"

"Tipping the Velvet" (18 - final)

O essencial do orçamento em pouco mais do que uma frase

Ao mesmo tempo que tenta demonstrar ao mercado merecer, pelo menos, o benefício da dúvida, o governo espera que as grandes obras públicas incluídas em parcerias público/privadas (que não sobrecarregam o orçamento no curto-prazo) e alguma retoma internacional sejam suficientes para fazer crescer a economia e a subsequente receita fiscal de modo a evitar em anos vindouros medidas demasiado radicais para atingir os 3% de “déficit” em 2013. É um orçamento “wait & see”, que põe o país em “stand-by”. Se os antibióticos não resultarem, então opera-se. Percebe-se e aceita-se a ideia, embora sem demasiado entusiasmo.

terça-feira, janeiro 26, 2010

Orçamento 2010: duas pequenas notas em tempo real

  1. Percebe-se desde já o atraso na entrega e apresentação do orçamento, embora o Ministro das Finanças o não tenha mencionado: ao contrário do habitual, em que o governo tenta mascarar o “déficit”, deve ter estado à última hora a esticar o de 2009 até aos 9.3% com o objectivo de apresentar uma redução de 1% para 2010.
  2. É certamente louvável que Teixeira dos Santos dê uma conferência de imprensa a hora tão tardia para apresentação à comunicação social e, assim, aos portugueses de um documento tão importante como o orçamento de estado, principalmente na actual conjuntura. É bom que os portugueses se comecem a familiarizar com estas questões e a compreender melhor o que tem implicações no seu dia a dia. Mas pergunto: não o deveria fazer em primeiro lugar na Assembleia da República, aos deputados, legítimos representantes eleitos do povo português?

Os portugueses e os medicamentos

Segundo um estudo da DECO, seis em cada dez famílias portuguesas têm dificuldade em seguir os tratamentos médicos devido a problemas financeiros. Certo, é uma parte relevante do problema: a maior parte dos medicamentos é cara e, para o nível de rendimentos da maioria, insuficientemente participada.

Vejamos agora o outro lado desse mesmo problema: a um número significativo de doentes é normalmente prescrita sobremedicação (o caso dos ansiolíticos, por exemplo, é bem conhecido – mas não é único), que pouco ou nenhum efeito tem na melhoria do estado de saúde do doente. Prioridades questionáveis, doentes idosos e/ou pouco informados (é comum a recusa ou o baixo conceito em que são tidos os médicos que “pouco receitam”), médicos que não querem ter problemas ou cedem a esse facilitismo, pressão de laboratórios, etc, etc, são atitudes que, reconhecendo ser genericamente difícil alterar, contribuirão sem dúvida para este estado de coisas.

Falta de memória ou de vergonha...

Entre aqueles que foram os mais acérrimos defensores de disparates (face à situação portuguesa, entenda-se) como o “choque fiscal”, a “flat tax” e a desregulamentação total do mercado de trabalho (onde nos teriam levado?) encontramos agora alguns dos fundamentalistas do “déficit”, do endividamento e do emprego. E sem um estremecimento de vergonha, entenda-se... Chama-se a isto vogar ao sabor das modas do momento e do efémero. Valha-nos que agora sempre se aproximam um pouco mais da realidade...

"Tipping the Velvet" (17)

Pilotos da TAP não terão a noção do ridículo?

Parece que alguns pilotos da TAP, em vez de o fazerem lá em casa ao jantar ou, entre eles, à volta de um café enquanto esperam pelo próximo voo, terão decidido comentar assuntos internos da companhia para a qual trabalham em público (o Facebook é um local público), algo que infringe as mais elementares regras da ética, sigilo e comportamento profissionais. A companhia reagiu com moderação e, em vez de qualquer procedimento disciplinar ou de fazer (não sei se o fará; mas deveria) repercutir este comportamento incorrecto na evolução do seu salário e eventuais prémios, convocou-os, juntamente com outros colaboradores da empresa, para a frequência de um curso de ética profissional, algo perfeitamente adequado a quem de e por tal comportamento mostrou total desconhecimento e desprezo. Parece, entretanto, que tais pilotos se declaram humilhados e ofendidos (que dirá a companhia que foi enxovalhada na praça pública?!...) e resolveram amuar preparando-se a estrutura sindical respectiva para o “faz e acontece”, como diriam os Deolinda.

Bom, o assunto não passaria de um “fait divers” que cobriria os seus protagonistas de ridículo não fosse o relevo dado por uma comunicação social incapaz de fazer as perguntas certas na hora e local certos; o facto de existir sempre alguém capaz de dar guarida aos maiores disparates (um tal Paulo Pinto de Albuquerque, lembram-se?) e de, assim, se compor o ramalhete de um país em que a incapacidade de se hierarquizarem os assuntos e problemas e dele se extrair o que é verdadeiramente essencial parece ser doença crónica. É um país muito ruidoso e, como todos sabemos, nada melhor do que o ruído para abafar a melodia.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

"Licht und Schatten" - o expressionismo alemão no cinema (4)


"Der Golem" (Wie er im die Welt kam), de Carl Boese e Paul Wegener (1920)

Taça Africana das Nações (a propósito de um Angola-Gana)

Evito cuidadosamente ver os jogos da Taça Africana das Nações. Mas, faute de mieux, lá vi ontem uma grande parte do Angola-Gana dos quartos de final da tal Africa Cup of Nations.

Angola é assim uma equipa ao nível da Liga de Honra portuguesa, com jogadores com deficiências técnicas notórias (o que não se confunde a chamada “habilidade natural”), falta de escola e um notável pouco conhecimento do que é o jogo colectivo. Marcações deficientes, pouca ou nenhuma pressão alta e muitos espaços a meio-campo. Problemas nas transições defensivas, onde as deficiências do colectivo e do saber “pensar” o jogo mais se fazem notar, e uma dureza que parece a despropósito e só se compreende pelas limitações técnicas e de “escola”, individuais e colectivas, evidentes.

Ainda assim, o Gana, apesar da ausência de Essien, pareceu-me francamente uns furos acima no domínio dos princípios básicos do jogo, servido indiscutivelmente por jogadores mais evoluídos e, mesmo que jovens, apresentando um futebol mais adulto e colectivo. Pelo que vi, as “chances” de Angola vencer um jogo contra esta selecção ganesa seriam sempre bem escassas, apesar da “boa vontade” da imprensa desportiva portuguesa sempre pronta para os “fretes” do costume – “há sempre uma ditadura conhecida que espera por si...”

O que me espanta é que a FIFA obrigue alguns dos jogadores africanos que são estrelas mundiais a jogar em grandes clubes europeus (desnecessário citar nomes), pagos a peso de oiro por esses mesmos clubes, a representar as respectivas selecções num torneio de baixo interesse fora de África e nível futebolístico inferior que se disputa em plena época alta das competições europeias de clubes. Sim, eu sei que o fomento do futebol no continente africano é importante e a isso obriga, o mesmo acontecendo com a receita que a CAF pode arrecadar - e ainda bem para esse fomento - com o evento. Mas no interesse do “grande futebol”, do futebol espectáculo e, sim e sem medo das palavras, do futebol grande negócio, como o é hoje em dia e só isso permitiu que o jogo evoluísse até se tornar no espectáculo galvanizador dos nossos dias, seria talvez interessante que a FIFA pudesse rever os seus calendários, guardando estas acções promocionais e de recolha de fundos para datas mais apropriadas, sem grande prejuízo do objectivo a alcançar.

"Tipping the Velvet" (16)

domingo, janeiro 24, 2010

Noir (10)


"Scarlet Street", de Fritz Lang (1945)

Um exemplo interessante...

Ana Moura - "Não é um Fado Normal" (Amélia Muge)


O fado é cultura popular. Uma sua forma de expressão musical, a única com raízes urbanas em Portugal. Por isso mesmo sou normalmente avesso a tudo aquilo que o afasta – ao fado - dessas suas raízes populares e, assim, o desvirtua na sua essência: uma sua pseudo-intectualização, efectuada tantas vezes com recurso a formas poéticas vinda de fora desse universo popular ou a algumas formas musicais com ressonâncias “jazzísticas” ou eruditas, e, pior ainda, a sua transformação em música ligeira (de que o chamado “fado-canção” é expoente), como tão bem, ou tão mal, o fizeram, para citar um exemplo bem conhecido, Carlos do Carmo e José Carlos Ary dos Santos (não estou aqui a referir-me, como é óbvio, ao Ary dos Santos excelente letrista da renovação da canção ligeira portuguesa). Caminho inverso seguiu José Afonso, por exemplo, que vindo do fado e da canção de Coimbra, uma adaptação do fado de Lisboa ao universo vivêncial dos estudantes e tricanas de Coimbra, soube efectuar a sua miscegenação com outras formas musicais populares, rurais e coloniais, mantendo-se fiel, na essência, ao lugar de onde partiu.

Um muito pequeno exemplo, actual e interessante, desta procura de miscegenação do fado com outras formas de música popular, sem portanto alienar a sua essência, podemos encontrar neste tema de Ana Moura gravado com os “Gaiteiros de Lisboa”, “Não é um Fado Normal”. Está, claro, muito longe do abalo telúrico que José Afonso, Carlos Paredes, José Mário Branco ou, até, António Variações provocaram na música popular portuguesa (nada de confusões). Mas, à sua dimensão, é um muito pequeno e interessante exemplo que merece a pena ser apontado, inovando nas sonoridades graças ao recurso a sopros e percussão mas sem que isso ponha em causa a sua origem e características populares. Por isso mesmo, ganhou direito a divulgação neste “blog”.

sábado, janeiro 23, 2010

Governo: tributar as "mais-valias" bolsistas?

Na actual situação das contas públicas e face às medidas a que o governo será obrigado a recorrer numa conjuntura em que o desemprego se agrava e o país e o mundo ainda mal recuperam da crise mundial, o que significa a necessidade de congelar salários da função pública e o imperativo moral de não diminuir ou até de aumentar o apoio a quem - trabalhadores e/ou empresas - enfrenta dificuldades temporárias, o governo deveria estudar seriamente a hipótese de tributação das mais-valias bolsistas. Da minha parte, isto não significa desde já uma opção contrária ou favorável a essa tributação (tenho dúvidas), mas a necessidade urgente de a estudar e encarar e, posteriormente, qualquer que fosse a decisão tomada, explicar de forma clara aos portugueses as suas razões.

O abraço de morte de Louçã a Alegre

Manuel Alegre terá que decidir se quer ser o candidato do “Bloco de Esquerda” à Presidência da República, sem quaisquer hipóteses de ganhar, ou se quer antes ser um candidato independente apoiado pelo PS e, eventualmente, por outros partidos, com algumas hipóteses de chegar a Presidente da República. Neste último caso, seria absolutamente necessário que começasse a demarcar-se do autêntico abraço de morte com que Louçã o vai tolhendo, mais interessado o “Bloco” em colocar problemas ao PS do que em ver Alegre eleito.

Começa muito mal, Pedro Passos Coelho...

...com um apelo ao mais desbragado populismo

Elvis Presley, 75 anos - Original SUN recordings (2)

"Blue Moon of Kentucky" (Bill Monroe), um "bluegrass" original de Bill Monroe & The Blue Grass Boys.
Gravação de Julho de 1954 editada no dia 19 do mesmo mês como "B" side do seu primeiro "single".

"Apito Dourado": O mais do que triste papel da comunicação social e onde se aproveita também para falar de Vale e Azevedo

A comunicação social há muito conhecia o teor das escutas do processo “apito dourado”, agora “escarrapachadas” na internet: essas escutas – como tantas outras - foram em devido tempo publicadas nos seus jornais. Mais, a comunicação social, com acesso aos bastidores do futebol português, há muito sabia aquilo que toda a gente já sabia ou de que tinha, pelo menos, mais do que fortes suspeitas: quem eram alguns dos principais responsáveis e agentes do futebol português e o modo como se comportavam e o geriam. Nada de novo: alguns deles (será necessário citar o nome de Valentim Loureiro?) possuíam um longo registo (poderei dizer “cadastro”?) de factos e actos que falavam por si de modo bem explícito. Mas essa mesma comunicação social, em vez de investigar, denunciar e provar, como seria sua obrigação, factos e actos, preferiu, salvo muito raras excepções, promover figuras como Pinto da Costa e Valentim Loureiro (e cito estes por uma questão apenas factual: haverá muitos outros) a exemplos "ensinados às crianças e lembrados ao povo", enaltecendo a sua capacidade de empreendedores e o seu génio gestionário capaz levar clubes à conquista de títulos, internamente e na Europa, e à glória suprema - no caso de Valentim Loureiro também à falência; mas... who cares? Já a sabíamos – a uma grande parte da comunicação social - pouco séria, a desportiva servindo interesses clubistas e agenciais, mas agora também a sabemos conivente em tudo o que aconteceu. Deverão, pois, ser os primeiros a ter vergonha na cara.

Nota final: depois disto, importa-se a justiça, pelo menos por umas "semanitas", de deixar Vale e Azevedo em paz e sossego? Inocente? Quem o deve fazer - os tribunais - já disse o não era e por isso cumpriu pena. Mas, por isso mesmo e pelo que vimos e ouvimos, mais me parece ser apenas um pobre aprendiz de feiticeiro, inábil e desajeitado, um émulo de Jerry Lewis “pé no balde e bola na cara”, um pobre Charlot a quem o valentão da rua “passa permanentemente a perna”, uma espécie de coiote sem arte e sem sorte vítima das suas mal amanhados armadilhas, sem aquele traquejo de quem aprendeu o ofício nos becos e nas vielas, nas lutas de “ponta e mola”, nas casas de alterne e na pequena traficância de ocasião. Enfim... não é "um homem do norte", carago!!!

sexta-feira, janeiro 22, 2010

"Tipping the Velvet" (15)

História(s) da Música Popular (152)

Dixie cups

Mardi Gras indian



"Bubblegum" (III)

Ora continuando por este tema das influências mais ou menos longínquas da "bubblegum music" vindas da área das “novelty songs”, um dos temas normalmente citado é este “Iko Iko”, gravado pelas Dixie Cups (New Orleans) em 1965. Estas mesmas Dixie Cups (já agora: Dixie Cup é também uma marca de copos de papel descartáveis), um dos “girl groups” produzidos por Phil Spector e ligados umbelicalmente ao Brill Buildig, já tinham sido por aqui glosadas a propósito de “Chapel of Love” (1964), um original de Ellie Greenwich, Jeff Barry e do próprio Spector, que foi o seu maior êxito, atingindo o #1 do Billboard durante 3 semanas.

Pois este “Iko Iko”, sob o nome de “Jock-A-Mo” um original de 1953 escrito por um outro músico da “Crescent City”, James “Sugar Boy” Crawford”, parece ter algo que ver com o Carnaval (Mardi Gras) de New Orleans e o desfile de “tribos” (grupos) de afro-americanos com indumentárias inspiradas pelos índios norte-americanos, os chamados “Mardi Gras indians”. Digamos assim que algo de longinquamente mais ou menos parecido com o desfile das escolas de samba no Carnaval do Rio ou com as mais modestas lisboetas marchas de Stº António, igualmente com as suas hierarquias e personagens ("flag boy", "chief", etc) que assumem papéis específicos em cada grupo. Como a minha única visita a New Orleans não teve lugar no Carnaval local, a informação recolhida vale o que vale – mas acho vale alguma coisa. Mas o que é facto é que o que poderíamos chamar de efeito “novelty song” deriva em grande parte da sua “letra”, na sua maioria sem qualquer sentido e intraduzível para que, assim, se assuma baseada em qualquer língua nativa, o que não corresponde à realidade. Querem a prova?

“Talkin' 'bout
Hey now (hey now)
Hey now (hey now)
Iko iko an nay (whoah-oh)
Jockomo feena ah na nay
Jockomo feena nay”

Mas pronto: quem, nesta história das “novelty songs” e da sua parente mais ou menos próxima “bubblegum music,” se preocupa com qualquer realidade que não seja a de “curtir” o momento?

Giallo (3)


"4 Mosche di Velluto Grigio" aka "Four Flies on Grey Velvet", de Dario Argento (1972)

Pedro Passos Coelho

Fiquei sem perceber se a entrevista de Pedro Passos Coelho – que aguardava com expectativa já que, por tão atacado pela deplorável direcção actual do PSD, sempre imaginei algumas qualidades o homem deveria ter – terá sido mal conduzida ou se visou, propositadamente, a pedido deste ou por decisão unilateral da entrevistadora, apenas o “inner circle” do PSD e o esclarecimento de alguns pontos que só a este dizem respeito. Quanto ao projecto global que propõe para o país, para além de ficarmos a saber, em termos de grandes obras públicas, concordar apenas com a linha alta velocidade Lisboa-Madrid, (bem vindo ao clube), o que denota bom senso mas é insuficiente como alternativa política , nada mais se ficou a conhecer. Foi pena. Resta-me a leitura ou pelo menos um relance atento ao seu livro, o que prometo farei. Mas, infelizmente, perdeu-se uma oportunidade, já que nada substitui uma comunicação de viva voz. Até porque me pareceu ser esse um dos seus indiscutíveis activos.

quinta-feira, janeiro 21, 2010

"Tipping the Velvet" (14)

José Eduardo Bettencourt, Sá Pinto e o populismo

Ricardo Sá Pinto não foi um jogador de eleição; um Luís Figo ou um Rui Costa que pelo seu virtuosismo, pela sua carreira internacional e títulos e prémios conquistados pudesse constituir uma referência a esse nível. Muito menos foi um Mário Coluna, um Humberto Coelho, mesmo um Vítor Damas (para citar alguém do SCP) , líderes que pelo seu profissionalismo e atitude dentro e fora de campo eram respeitados por companheiros, adversários, árbitro e dirigentes, constituindo um exemplo para todos eles. Pelo contrário: foi um jogador mediano, com uma carreira internacional sem grande relevância, mais notado pelo seu feitio irascível e pela sua instabilidade emocional do que pela qualidade técnica do seu futebol ou o respeito que inspirava. Por último, protagonizou um dos episódios mais lamentáveis do futebol português, ao agredir, de forma premeditada, o então seleccionador nacional. O ter voltado, depois disso, a vestir a camisola da selecção, apenas demonstra a falta de rigor e a pusilanimidade com que episódios deste tipo são normalmente resolvidos em Portugal – e não só no futebol, infelizmente. Por menos do que isso, apenas porque acontecido no “calor” de um jogo e não de forma premeditada, foi João Pinto afastado – e muito bem - dessa mesma selecção nacional. Nada, portanto, recomendaria o profissional Ricardo Sá Pinto para a cargo que veio a ocupar na estrutura dirigente do SCP. Ao chamá-lo a ocupar o lugar de director desportivo, José Eduardo Bettencourt nada mais fez do que ceder ao populismo da rua sportinguista, a mesma que forçou o despedimento de Paulo Bento, tentou invadir instalações privadas do estádio e exigiu o investimento em contratações no mercado de Janeiro cujo retorno o futuro se encarregará de analisar. Agora, ao manter Liedson no activo ao mesmo tempo que despede o respectivo superior hierárquico, apenas continua esse caminho de cedências, já que a mesma rua sportinguista que exigiu Sá Pinto lhe não perdoaria futuras derrotas atribuíveis ao afastamento do avançado.

Vindo JEB da Banca, onde o rigor e a seriedade são (ou eram, pelo menos até há bem pouco tempo) valores intocáveis, e tendo em atenção a sua formação académica, não deixa de ser estranha esta sua opção gestionária, só compreensível, mas não aceitável, como tentativa de se distanciar do perfil e práticas do seu antecessor. Faz mal- digo eu, seu adversário benfiquista: quem cede ao populismo mais desbragado acaba sempre por perecer às suas mãos.

PSD: um retrato da regionalização?

O PSD pós-Sá Carneiro, ou melhor, o PSD pós-normalização democrática de 1982 – o “partido autárquico”, o “partido mais português de Portugal” – uma nebulosa de interesses locais e regionais, muitas vezes contraditórios entre si, ancorados nas velhas estruturas locais da ANP marcelista e cujo único objectivo parece ser o da transferência de recursos do Estado central para o esbanjamento das autarquias e para os “self made men” dos pequenos e médios negócios a elas ligados, que desde que acabou o dinheiro fácil dos fundos estruturais do final dos anos 80 e do início dos anos 90 do século passado entrou em crise mais ou menos crónica, dá-nos pelo menos um belo retrato do que seria o país da regionalização. Livra!

As escutas...

Apenas duas palavras e um pequeno comentário sobre as escutas a Pinto da Costa, que hoje pela primeira vez ouvi. As palavras são “sórdido” e “rasca”, para definir tudo aquilo que me foi dado escutar e o mundo à sua volta. O pequeno comentário para dizer que o que ouvi hoje me fez sentir, acho que pela primeira vez, envergonhado por gostar de futebol. É que por muito que tente ou me digam que uma coisa nada tem a ver com a outra, não consigo deixar de identificar o futebol português, pelo menos nos últimos trinta anos, com aquilo que ouvi.

Nota: acho muitíssimo bem que o Procurador-Geral da República, face à ilegalidade da publicação das escutas, abra o respectivo inquérito para apuramento de responsabilidades: a minha cor clubista e o entusiasmo que por ela nutro, felizmente, não chegam para me toldar o raciocínio. Mas uma pergunta: se as escutas já tinham sido, pelo menos parcialmente, transcritas nos “media”, porquê só agora? Será porque a sua publicação de viva voz, sem o manto diáfano da transcrição a cobrir a rasquice forte dos diálogos, torna tudo ainda mais cru e infamante?

quarta-feira, janeiro 20, 2010

"Tipping the Velvet" (13)

A Cinemateca respondeu! E com prontidão!

Segundo informação do Gabinete de Relações Públicas da Cinemateca Portuguesa, ao qual agradeço a prontidão do esclarecimento, a exibição de "Cross of Iron" está programada para o mês de Fevereiro, em continuação do ciclo dedicado a Sam Peckinpah, informação omissa no "site" respectivo. Recomendo.

Sam Peckinpah na Cinemateca e uma ausência importante

"Cross of Iron", de Sam Peckinpah (1977)
A Cinemateca Portuguesa está a exibir um ciclo sobre a obra de Sam Peckinpah, o que é desde já muito recomendável. Até porque o cinema de Peckinpah não é coisa para se ver na TV (algum cinema o é?), por muito LCD, HD, Home Cinema, etc, que a dita TV seja. Pode não ser talvez tão “bigger than life” como o é algum cinema de alguns outros; mas de certeza “much bigger” do que essas geringonças que agora nos impingem para ver cinema no “conforto do lar”. E que se lixem as pipocas que nunca me incomodaram!

Mas, infelizmente, o ciclo não inclui aquela que é para mim uma das obras emblemáticas do autor, talvez só comparável a “The Wild Bunch”. Estou a referir-me, claro está, a esse épico rafeiro e sujo que dá pelo nome de “Cross of Iron”, a par com alguns dos filmes de Fuller (“The Big Red One”, por exemplo), um dos melhores filmes de sempre sobre a WWII. Em vão o procurei no - aliás pobrezinho - “site” da Cinemateca, até porque desde a estreia em Portugal (vi-o naquele cinema do Campo Grande – Caleidoscópio?) só tive oportunidade de o rever uma vez, e via malfadada TV ainda sem LCD, Home Cinema e etc: nada!

Bom, enviei “e-mail” para uma tal Antónia Fonseca, RP da Cinemateca, a perguntar dos quês e dos porquês de tão notória ausência. Veremos se me responde... Entretanto, fica aqui o “trailer” e a recomendação: mesmo os mais impressionáveis,vejam, nem que só mesmo o possam fazer lá em casa, no desconforto cinéfilo do “home, sweet home”.

Bi-centenário da nascimento de Frédéric Chopin (1810-2010) - II

Idil Biret - Nocturno op. 9, nº 2

terça-feira, janeiro 19, 2010

A gestão do FCP e a contratação de Rúben Micael

Os seis pontos de atraso do FCP no campeonato e a pressão a que isso sujeita a administração do clube já obrigaram esta a um acto de gestão que pode ser considerado um pouco contra-natura em função do seu modo de funcionamento dos últimos anos e independentemente do valor e da adequação do jogador Rúben Micael aos princípios e modelo de jogo da equipa: efectuar contratações significativas e numa óptica de curto-prazo no mercado de Inverno. Se não estou a errar, assistiremos ainda a algo mais e também pouco habitual no FCP: tentar uma rápida integração e rentabilização de Rúben Micael, assim colocando sobre jogador, treinador e equipa uma pressão extra. Claro que ambas as coisa aumentam a probabilidade de erro... Bem mais fácil é gerir quando se lidera e possui uma almofada de amortecimento.

"Tipping the Velvet" (12)

Alegre vs Cavaco: parlamentarismo vs presidencialismo?

Um provável apoio do PS á candidatura presidencial de Manuel Alegre e a também provável recandidatura de Cavaco Silva poderão não somente significar um confronto entre esquerda e direita, embora numa eleição muito específica e personalizada como o é a eleição presidencial - como aqui disse - Alegre seja bem capaz de colher apoios à direita e Cavaco Silva, apesar da desastrada gestão que tem feito do seu mandato, à esquerda - ou, pelo menos, no centro-esquerda. Aliás, não estando já o país, ao contrário do que acontecia em 1985 na eleição Soares - Freitas do Amaral, na ressaca da revolução e do PREC, não me parece inteligente que qualquer dos candidatos enverede por esse caminho.

Se atentarmos bem nas afirmações de Alegre quando do lançamento da sua “disponibilidade” - "alguém que traga consigo uma nova liderança não pela interferência nas áreas do Governo, mas pela pedagogia do gesto, da palavra e da acção" –, poderão igualmente estar em causa duas concepções antagónicas do regime: aquelas que, maioritariamente à direita mas não só, acentuam o seu carácter presidencial ou, até, nos últimos tempos, a necessidade de caminhar para um reforço dos poderes constitucionais do Presidente da República numa espécie de caudilhismo terceiro-mundista ou para-Gaulista, ou a daqueles que têm do regime uma visão mais aberta, parlamentar e europeia.

domingo, janeiro 17, 2010

Gilbert & Sullivan (9)

Gilbert & Sullivan - "The Pirates of Penzance"
"Poor Wonderin' One" (sugestão de "A Gota de Ran Tan Plan", a quem agradeço)

Ainda Marcelo Rebelo de Sousa, António Vitorino e "tutti quanti"

A pergunta que gostava de fazer e ainda não vi feita (talvez tenha estado pouco atento, admito-o): faz sentido que o serviço público de televisão contribua de forma notória através de um seu programa sob a forma de solilóquio para a auto-promoção de alguém que, independentemente das suas capacidades comunicacionais e dos seus méritos (que são elevados), e, logo, da sua vocação para gerar audiências, é, de facto, um reconhecido player político e partidário, normalmente sempre apontado como potencial candidato a líder do seu partido e, até, como candidato à Presidência da República? Ou não será que tal programa faz muito mais sentido numa estação privada que não se obriga nem é obrigada a critérios de equidade e onde o poder das audiências é, por princípio, bem mais determinante?

Não se trata, portanto, e ao contrário do que afirma e ERC, de contrapor na RTP a Marcelo Rebelo de Sousa (ou a António Vitorino), em “tempos de antena” semelhantes, personalidades de outros partidos, já que não é o equilíbrio inter-partidário que está em causa mas a própria natureza do que deve ser um comentador e um comentário político, como disse, melhor entregue a jornalistas, académicos, politólogos e outros especialistas oriundos de diversas ideologias ou áreas de pensamento político, com visões diferenciadas sobre os problemas, mas sem, tanto quanto possível, um tão vincado perfil de player partidário.
Nota: já agora, o que diriam as actuais direcções do PSD e do PS se a Pedro Passos Coelho e Manuel Alegre fossems oferecida tais benesses em horário nobre?

Elvis Presley, 75 anos - Original SUN recordings (1)

"That's All Right" (Arthur Crudup), um "blues" original de Arthur "Big Boy" Crudup.
Gravação de Julho de 1954 editada no dia 19 do mesmo mês como "A" side do seu primeiro "single".

sábado, janeiro 16, 2010

"Oh Boy"! (2)

Slippin 'n' Slidin' (Dickie Pride)
When I Grow Too Old To Dream (Peter Elliott)
When the Saints Go Marching In (Complete cast for close of first half)
I Had A Dream (Start of 2nd half with Vernons Girls & Dallas Boys)
Woman From Liberia (Bill Forbes)
Dirty Old Town (Mike Preston)

Alegre, o "Bloco" e o PS

Vitalino Canas declarou que uma candidatura de Alegre à Presidência de República dividiria profundamente o PS. Entretanto, Francisco Louçã já tratou de anunciar o apoio do "Bloco de Esquerda" a Alegre. Claro como a água!

sexta-feira, janeiro 15, 2010

"Tipping the Velvet" (10)

Marcelo Rebelo de Sousa, o serviço público de televisão e os políticos-comentadores

Nunca fui leitor ou ouvinte muito fiel e atento dos comentários políticos de Marcelo Rebelo de Sousa, o que nada tem a ver com concordâncias ou discordâncias políticas, muito menos com menor consideração intelectual ou pessoal. Pura e simplesmente, o estilo e o género de comentário (melhor diria, o conteúdo e a forma), muito “a espuma dos dias e das coisas”, embora perfeitamente legítimo, não faz o meu género, embora lhe reconheça mérito e esteja muito longe de o menosprezar e às suas ímpares qualidades de comunicador (antes pelo contrário). Por isso mesmo, não vou aumentar o ruído de fundo com qualquer juízo valorativo sobre a decisão da RTP. Porquê? Porque prefiro realçar o problema não é de agora, é de longa data, o que significa que o serviço público de televisão desde sempre se deveria ter abstraído de ter como comentadores políticos dirigentes, ex-dirigentes, deputados, militantes destacados, etc, etc, de partidos políticos, com agenda política própria, deixando essa tarefa a quem de direito: jornalistas, politólogos, sociólogos, académicos e ”ofícios correlativos”. O debate político, esse, deveria ser entregue a programas específicos ao estilo “Corredor do Poder” (se possível, algo que, ao contrário de tal programa, não ofendesse a nossa inteligência), com participantes designados por cada partido político. Tudo seria mais transparente e acabavam-se, ou minoravam-se, os problemas.

Por isso mesmo, espero que a RTP – enquanto serviço público de televisão - aproveite agora a ocasião para proceder desse modo e, já agora, com o balanço adquirido, trate também de pôr termo àqueles programas de pseudo-debate desportivo com comentadores a defender as cores de cada um dos três maiores clubes (neste caso, penso ser só um, “Trio de Ataque”, na RTPN). Deixe essas coisas para os canais privados, se faz favor, que são livres de o fazer...

A LPFP e o C.S. Marítimo parecem ter endoidecido...

Lido em “A Bola” ”on-line" por transcrição de uma informação publicada no "site" do Clube Sport Marítimo e referente ao jogo do próximo domingo com o SLB:

”Pede-se que não sejam utilizados elementos identificativos do adversário no sector central do estádio, tais como camisolas, cachecóis, bandeiras ou outros. Os adeptos que, na porta do estádio, utilizem elementos como aqueles acima referidos deverão dirigir-se, por questões de segurança, para a bancada reservada aos simpatizantes do adversário.”

Comentário: aceito e, mais do que isso, até defendo que não seja autorizada a entrada de guarda-chuvas nos estádios, pelo perigo que podem constituir, em caso de altercação, para a integridade física de terceiros; defendo a proibição de entrada e venda de bebidas alcoólicas nos estádios e, até, a realização de testes de alcoolemia e a proibição da entrada a quem manifeste sintomas claros de embriaguez , escusado será adiantar os motivos; mas que num espectáculo desportivo, que também vive - e muito - do entusiasmo e apoio dos adeptos, se chegue ao ponto de proibir que um espectador que comprou o seu bilhete para um determinado sector do estádio ostente símbolos do clube de que é adepto (mesmo um simples cachecol) e seja obrigado a ver o jogo numa espécie de jaula junto com os energúmenos das claques – o que me parece mesmo manifestamente ilegal - atinge as raias do absurdo, ao ponto de merecer, como retaliação, que ninguém lá “ponha os pés”. Não é certamente assim, com medidas deste tipo e tratando um jogo de futebol como se de uma guerra civil se tratasse, que se chamam os espectadores e suas famílias aos estádios e se valoriza o produto que a LPFP tem para vender e tem cada vez maior concorrência: um espectáculo de futebol profissional chamado Liga “Sagres”.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

"Tipping the Velvet" (9)

Função Pública e salários: mais rigor, s.f.f

Uma vez mais: é absolutamente incorrecto avaliar a variação de poder de compra da função pública e o impacto orçamental dos pagamentos efectuados aos servidores do estado apenas em função da variação global de valor dos seus salários e da sua comparação com a inflação. O que tem obrigatoriamente de ser considerado, em ambos os casos, é a variação da massa salarial total, distribuída por salários, subsídios, progressão nas carreiras, etc, etc. Nas empresas privadas é desse modo que se fazem as contas.

Isto significa, por exemplo e “trocado por miúdos”, que, caso não exista congelamento de subsídios e de progressão nas carreiras, a um aumento de salários de 0.7% com uma inflação esperada de igual valor não corresponde necessariamente uma estagnação do poder de compra dos servidores do estado, pois o aumento da massa salarial total será sempre, em função dessa progressão nas carreiras e da eventual actualização de alguns subsídios, superior a esses 0.7%. Entendidos?

Os aviões às cambalhotas e uma vereação de "pernas para o ar"

Nos últimos quinze anos os “alfacinhas” habituaram-se a utilizar a zona ribeirinha do concelho como área de lazer. Foi uma indubitável conquista, numa cidade que vivia de costas voltadas para o seu rio. Hoje, principalmente nos fins de semana de tempo aprazível, a população de Lisboa passeia, anda de bicicleta ou de patins, namora, almoça, janta ou, pura e simplesmente, bebe um café, toma uma bebida e dança ou ouve música à beira-rio. Alguns deles, inclusivamente, praticam desporto (vela, remo, canoagem) utilizando esse mesmo rio como espaço.

Depois deste longo preâmbulo, a pergunta que faço é: com que direito a vereação da CML – eleita pelos “alfacinhas” para servir a cidade – se prepara para gastar as suas energias e o dinheiro dos contribuintes para impedir que a população de Lisboa usufrua do seu rio – espaço público por excelência - durante um fim de semana em troca de uns quaisquer aviões a dar cambalhotas poluindo o ar? Mais: sem qualquer pudor e em descarado conúbio político com um autarca vizinho já condenado em 1ª instância por crime exercido no exercício das suas funções.

Já não falo em questões de segurança, no sossego dos que vivem na zona, dos que, pela ponte ou de barco, têm de atravessar o rio em lazer ou trabalho, do desplante com que a CML interfere, sem lhes perguntar o que quer que seja, na vida dos habitantes da cidade. etc, etc. No mínimo, o que a vereação da CML e o seu presidente serão obrigados a fazer perante os munícipes, o mais rápido possível e antes que seja tarde, é explicar bem “explicadinho”, preto no branco e com contas (bem)feitas, qual o retorno que os “alfacinhas” irão ter de tanto dispêndio e gasto em euros e energias, bem como do sacrifício a que se irão sujeitar durante um fim de semana. Ou será que António Costa e a sua vereação (espanta-me o silêncio de gente civilizada como Manuel Salgado e Helena Roseta) acham que somos todos “bimbos” e assim conquista votos?

Haiti

Peço desculpa. Mas governos como os do Haiti (e estou a lembrar-me do tristemente célebre "Papa Doc", de seu filho, dos “tontons macoute” mas também de Jean-Bertrand Aristide e do exército) que mantêm o povo na maior miséria, não criam as infra-estruturas e as condições mínimas que coloquem os seus compatriotas ao abrigo de serem dizimados por catástrofes naturais mais ou menos regulares e que em outros países teriam um impacto infinitamente menor, que não têm quaisquer condições para lhes proporcionar a mínima assistência em caso de emergência, não podem ser acusados de genocídio ou qualquer coisa semelhante? Por favor, digam-me que não estou a ser demagógico...

quarta-feira, janeiro 13, 2010

"Tipping the Velvet" (8)

Anglophilia (70)

Swaine, Adeney & Brigg - umbrellas

Nota para uma época de tempestades: por sugestão de um amigo que já era o feliz proprietário de um, comprei há alguns anos um guarda-chuva Swaine, Adeney & Brigg. Depois disso, amigos comuns seguiram o mesmo conselho. Todos os exemplares continuam a prestar bons e leais serviços nas piores intempéries e a proporcionarem-nos um sorriso trocista e a suscitarem um olhar de espanto alheio quando, perante os piores vendavais e "cargas de água", se mantêm firmes no cumprimento do seu dever de nos resguardar. Aconteceu mesmo com o exemplar de uma amiga surgir um pequeno problema de pontos de ferrugem (mínimos) na inserção das varetas. Consequência: guarda-chuva para Londres e devolução tempos depois com o problema devidamente resolvido - sem quaisquer encargos, evidentemente.

Já sei que vão perguntar o preço... Pois, tal como acontece com os Rolls Royce, existem para vários preços. Mas, digam-me lá, quando alguém compra um Rolls Royce estará porventura minimamente preocupado com tais minudências? Até porque, como disse António Champalimaud, o Rolls Royce é o carro mais barato do mundo. E quem sou eu para o desmentir?

Apenas um conselho: num lugar público nunca o deixe naquelas "valas comuns" destinadas a guarda-chuvas. É que não vá o diabo tecê-las...

Grindhouse Effect (8)


História(s) da Música Popular (151)

David Seville - "Witch Doctor"
Bubblegum (II)
“Novelty songs” (o termo nasceu na Tin Pan Alley, o quarteirão de NY onde se localizavam as grandes editoras musicais nos anos pré-depressão) e “bubblegum music” não são bem a mesma coisa, embora frequentemente as denominações possam coincidir na mesma canção. Se formos consultar a “wikipedia” esta define como “novelty song” a comical or nonsensical song, performed principally for its comical effect, alertando-nos, contudo – e tem razão -, para o facto de nem todas as canções humorísticas serem “novelty songs. E eu acrescento que nem todas as "novelty songs" pertencem à categoria de “bubblegum music”. E, então, qual a diferença entre "bubblegum" music e “novelty song”? Eu diria, com todas as ressalvas de algo que aprendemos e sabemos distinguir mas temos sempre dificuldade em definir por palavras, que “bubblegum”, sendo música especialmente dirigida ao mercado adolescente e pré-adolescente, com algumas características infantis - “mastiga e deita fora - não integra necessariamente um elemento de humor (lá iremos no futuro). Mas o que é um facto é que a fronteira é por vezes difícil de marcar, a integração dos dois elementos ajuda ao sucesso e temos no passado uma série de exemplos em que “novelty songs” e “bubblegum music” coincidem nas características e propósitos.

O “post” anterior [Patti Page, “(How Much Is) That Doggie In The Window”] é disso bom exemplo e o de hoje também: David Seville (nome artístico de Ross Bagdasarian, 1919-1972) e o seu tema de 1958 “Witch Doctor” são este outro exemplo. Aliás, Seville, que tinha obtido o seu primeiro sucesso com “Come on-a My House” (Rosemary Clooney, 1951), começou com este “Witch Doctor”, conseguido pela reprodução do tema gravado a uma velocidade mais elevada, uma bem sucedida carreira na área das “novelty songs”, alargando o negócio e tornando-se “pai” e “avô” (o conceito e o negócio continuam e alargou-se ao vídeo e cinema, agora nas mãos de Bagdasariam Jr e, salvo erro, da Fox) de Alvin & The Chipmunks. Quanto a “Witch Doctor”, para surpresa geral chegou a #1 e por lá se manteve durante duas semanas. Foi o início da "caixa registadora".

terça-feira, janeiro 12, 2010

"Tipping the Velvet" (7)

1ª Liga (Sagres) - "ranking" orçamental e classificação no final da 1ª volta: análise comparativa

Classificação vs. "ranking" orçamental (milhões de euros e pontos conquistados)
1º FCP - 40M
1º SC Braga 36p
2º SLB – 30M
2º SLB 36p
3º SCP – 22.5M
3º FCP 32p
4º SC Braga – 9M
4º SCP 24p
5º Marítimo – 7M
5º Nacional 22p
6º V. Guimarães – 6.9M
6º V. Guimarães 22p
7º Nacional – 5M
7º União Leiria 20p
8º Rio Ave – 4M
8º Rio Ave 19p
9º União Leiria – 4M
9º Marítimo 19p
10ºCFB – 3.7M
10º AAC - 16p
11º AAC - 3.6M
11º Naval 1º Maio 15p
12º P. de Ferreira – 2.5M
12º P. de Ferreira 15p
13º V. Setúbal – 2.5M
13º V. Setúbal 11p
14º Naval 1º Maio – 2.4M
14º Olhanense 11p
15º Leixões – 2M
15º Leixões 11p
16º Olhanense – 1.2M
16º CFB 11p

Análise:

  1. Seis clubes (a azul) ocupam exactamente o mesmo lugar do que o ditado pelo respectivo orçamento: SLB, V. de Guimarães, Rio Ave FC, P. de Ferreira, V. de Setúbal e Leixões SC.
    Igualmente seis clubes (a verde) estão acima do seu lugar no “ranking” orçamental: SC Braga, Nacional, União de Leiria, Naval 1º de Maio, AAC e Olhanense.
    Consequentemente, apenas quatro (a encarnado) ocupam uma posição inferior: FCP. SCP, Marítimo e CFB.
  2. Os quatro primeiros orçamentos ocupam exactamente os quatro primeiros lugares, embora apenas o SLB o seu lugar de “origem” em igualdade pontual com o primeiro classificado: SC Braga ""salta de quarto para primeiro, FCP de primeiro para terceiro e SCP de terceiro para quarto. De qualquer modo, dificilmente os quatro primeiros clubes no final do campeonato deixarão de ser estes, por esta mesma ou outra ordem, e talvez apenas esteja longe de uma correspondência perfeita com o “ranking” de orçamentos a hipótese do SCP vir a ocupar no final o terceiro lugar e o SC Braga o quarto. Tendo em atenção que o SC Braga tem um orçamento quase seis vezes inferior ao do FCP, mais de quatro vezes inferior ao do SLB e cerca de três vezes inferior ao do SCP, é a verdadeira equipa sensação.
  3. Os nove primeiros classificados no final da primeira volta correspondem aos nove maiores orçamentos. Entre o quinto e o nono lugares apenas o Marítimo ocupa uma posição significativamente inferior ao seu lugar no “ranking” orçamental: passa de quinto para nono embora a uma distância de apenas três pontos.
  4. Os sete últimos classificados correspondem aos sete orçamentos mais baixos e digamos que a “colher de pau” vai para o CFB, que sendo décimo no “ranking” orçamental cai para último na classificação (o CFB já nos habituou à sua péssima gestão). Em contrapartida, a Naval 1º de Maio consegue estar quatro pontos acima do seu lugar “orçamental” e a AAC, apesar da boa imprensa de André Vilas-Boas, está muito perto do lugar que lhe corresponde.

Conclusões gerais:

  1. Salvo acontecimentos excepcionais, os orçamentos das esquipas parecem ser muito mais determinantes para a sua classificação do que qualquer outro elemento: são eles que permitem contratar os melhores jogadores, o melhor treinador, etc.
  2. Parece que dificilmente existem treinadores “mágicos”. “Mais coisa, menos coisa”, e salvo uma ou outra rara excepção e tendo também em conta que se trata de um desporto – com algum grau de aleatoriedade, portanto -, desde que o treinador seja razoavelmente competente e as contratações façam sentido a posição de uma equipa tem muito mais a ver com o orçamento de que dispõe do que com a acção do treinador. Domingos Paciência será excepção? Parece ser, indiscutivelmente, um treinador acima da média, mas as contas fazem-se no fim.
  3. Tendo em atenção a correlação entre orçamentos e classificação, não faz qualquer sentido integrar no mesmo campeonato equipas com orçamentos de 30 ou 40 M e com expressão nacional ou mundial e outras que mal ultrapassam o milhão ou os dois milhões e quase não têm inserção local.
  4. Decorre do ponto 3. uma chamada de atenção para a UEFA e para a necessidade de, num futuro próximo, autorizar a fusão de ligas. Em função dos seus orçamentos e da sua expressão nacional, dentro e fora de portas, faria muito mais sentido as principais equipas portuguesas integrarem a Liga de Espanha (tornada Ibérica).

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Royal Mail album covers stamps (2)

The Clash - "London Calling"

"Die Flucht", ou o mau serviço público da RTP

"Die Flucht" (2007)
A RTP 2 exibiu ontem uma razoável mini-série (2007) de ficção, de origem alemã (“Die Flucht” – “A Fuga”), sobre um episódio relativamente pouco conhecido da WWII: a fuga e evacuação, em Janeiro de 1945, da população civil e do exército nazi da Prússia Oriental perante o avanço do exército soviético e as atrocidades por ele cometidas, como represália, sobre militares e civis, principalmente mulheres crianças que seria o que restava do alistamento compulsivo de todos os homens e adolescentes capazes(?) de combater. A série, com dois episódios, começou a ser exibida cerca das 22.30h e acabou perto da 01.30h da madrugada, hora imprópria para quem trabalha no dia seguinte.

Dado o interesse do tema, o seu grande desconhecimento e alguma celeuma que provocou quando da sua estreia (a História é sempre escrita pelos vencedores), teria sido bem mais interessante que a RTP a tivesse desdobrado em 2 ou 4 episódios - o que permitiria terminar a sua exibição a uma hora bem mais decente - e a tivesse feito preceder ou alternar com alguns esclarecimentos adicionais por parte de historiador especialista (é série é um pouco romanceada mas, na generalidade, apresenta alguma rigor face aos acontecimentos históricos). Penso que, desse modo e enquanto serviço público de televisão, teria cumprido bem melhor a sua dupla missão de informar e “entreter”. Assim, ficou-se pelo entretenimento.

"Bem haja", senhor bastonário!

Não tenho especial apreço pelo estilo demasiado populista, por vezes mesmo a roçar o justicialismo e um pouco trauliteiro de Marinho Pinto, embora me pareça reconhecer nele um defensor intransigente do Estado de Direito Democrático e dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, o que já não é nada pouco. Digamos que a forma prejudica demasiadas vezes o conteúdo, o que é pena, embora, também neste ponto – no conteúdo -, não possa dizer que partilhe sempre da sua visão do mundo. Mas basta ouvir de passagem o fórum TSF de hoje e as pulsões securitárias e anti-democráticas mais primárias manifestadas pelo “povo da SIC” para dar graças a todos os deuses do céu e anjinhos dos infernos da Terra pelo facto de o país ter como bastonário da Ordem dos Advogados alguém com as convicções liberais e democráticas – pelo menos, neste campo - de Marinho Pinto. Nós, cidadãos, ficamos a dever-lhe isso, o que, nos tempos que vão correndo, é tudo menos negligenciável. Por mim, sempre durmo um pouco mais descansado.

"Tipping the Velvet" (6)

domingo, janeiro 10, 2010

Futebol(zinho) português...

Capacidade média dos estádios, média de espectadores por jogo e percentagem de ocupação dos estádios em Dezembro nas 15 principais ligas europeias, incluindo o "Championship" (2ª Divisão inglesa), a "League One" (3ª Divisão de Inglaterra) e a II Divisão da Bundesliga.
Nota: Portugal ocupa o 12º lugar em média de espectadores (atrás estão a "League One", a Áustria e a Dinamarca), mas o último em percentagem de ocupação dos estádios. Pode estabelecer-se alguma comparação com uma fábrica com excesso de capacidade de produção instalada: ou procura novos mercados e/ou aumentar a sua quota no mercado existente, ou esse excesso de capacidade instalada repercutir-se-á negativamente no agravamento de custos dos produtos produzidos tornando-os menos competitivos. É neste quadro que se deve analisar o "desconforto" da AAC com a utilização do Cidade de Coimbra, a intenção de venda do Magalhães Pessoa, as repetidas manifestações de desagrado do Beira-Mar para com o novo Mário Duarte e o facto do Olhanense não utilizar o Estádio Algarve.

As "chances" de Alegre

Pedro Marques Lopes (recomendo sempre o seu - e de Pedro Adão e Silva - bem interessante “Bloco Central”, o melhor programa de debate político actualmente nos “media”) tem afirmado que o melhor presente que o PS poderia dar a Cavaco Silva para e renovação do seu mandato seria apresentar Manuel Alegre como candidato presidencial. Pensa PML que, para além dos anticorpos que Alegre tem gerado no PS e que poderiam limitar a mobilização dos eleitores da área socialista, muito dificilmente Alegre, por via do seu muito recente “namoro” bloquista, poderia conquistar simpatia e votos em muitos dos eleitores do PS de José Sócrates, isto é, dificilmente poderia “abrir-se” ao centro.

Não deixa de ter razão PML: o seu racional é, de facto, inatacável na sua lógica. Mas atenção: por muito que esta afirmação possa, numa primeira análise, escandalizar, Alegre é, na sua essência, um conservador, um republicano tradicional que gosta de apelar aos valores da pátria e da História, e esta sua aproximação ao “Bloco” e ao PCP parece ser apenas uma manobra táctica em busca do segmento de mercado onde julga (e talvez bem) situar-se a sua “oportunidade de negócio” primária. Por isso mesmo, naquilo que são os seus valores essenciais, Alegre, se não colherá enormes simpatias no centro-esquerda e centro-direita mais liberais e nos self made men dos negócios, mantém intacto, até pela sua origem social, o potencial de conquista de algumas franjas conservadoras à direita, que nunca se reviram inteiramente em algumas características do actual Presidente da República. Por outro lado, é um erudito. Um humanista. Uma personalidade muito mais culta e interessante do que Cavaco Silva e, assim, com possibilidade de se tornar bem mais familiar, abrangente e atractiva para alguns sectores de um eleitorado. Mais ainda: por força dessas suas características essenciais, e parecendo ser a sua aproximação à esquerda apenas uma manobra táctica (Alegre esteve sempre da chamada “direita” do PS), ao contrário do que muita gente diz seria para o PS um Presidente da República muito menos interveniente e incómodo do que Cavaco Silva, quase agindo como se de um monarca constitucional se tratasse.

Voltando ao que acima disse, não deixa PML de estar certo no seu racional; mas existem ainda muitos “ses” e alguma irracionalidade nas decisões de políticos e eleitores que poderão alterar os dados do problema. O primeiro dos quais será assistirmos, a partir de agora e por parte de Alegre, a um piscar de olhos ao centro liberal e, principalmente, à direita conservadora. Como parece o PS não ter alternativa, estejamos atentos aos próximos episódios.

Deixem-me lá falar do meu clube...

Pode bem ser coincidência, mas nos dois últimos jogos (FCP e Rio Ave), com Carlos Martins no lugar de Pablo Aimar, se o SLB perdeu alguma espontaneidade e fluência nas transições ofensivas, em contrapartida a equipa pareceu mais equilibrada, mais consistente defensivamente. Curiosamente, em ambos o SLB ganhou pela diferença mínima, marcando apenas um golo e não sofrendo qualquer um, controlando o jogo sem grandes aflições e concedendo ao adversário poucas ou nenhumas chances de marcar, e ambas em lances fortuitos: contra o FCP apenas num remate “de tabela” e contra o Rio Ave por via de uma desconcentração individual.

São bons augúrios...

sábado, janeiro 09, 2010

"Oh Boy"! (1)

"TV Hop" (Cliff Richard, Marty Wilde, Billy Fury, Bill Forbes & Dickie Pride)
"Rip It Up" (2 Vernons Girls)
"Lonesome Traveller" (4 of Lord Rockingham's XI + Cliff et al)
"Rah Rah Rockingham" (Lord Rockingham's XI)
"Let's Rock While the Rockin's Good" (Cuddly Dudley)
"Don't Knock Upon My Door" (Billy Fury)
"Looby Doo" (Cherry Wainer)
"All American Boy" (Marty Wilde)

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Madaíl, Queiroz e o jantar do FCP

Gilberto Madaíl e Carlos Queiroz, presidente da FPF e seleccionador nacional de futebol, respectivamente, estiveram ontem presentes num jantar em que, com o pretexto de homenagear José Maria Pedroto no 25º aniversário da sua morte, se celebrou, de facto, o poder e a hegemonia de um clube em prejuízo e à revelia dos interesses de outros clubes e instituições e de todo o futebol português, poder esse afirmado em circunstâncias nem sempre muito claras e cujo presidente, em função disso, foi suspenso por dois anos pela LPFP, suspensão essa que, segundo julgo, ainda cumpre. Nesse jantar foram proferidas expressões como “roubos de catedral”, entre outras acusações de gosto mais do que duvidoso dirigidas a instituições filiadas na FPF (clubes, árbitros, etc).

Se a FPF achasse José Maria Pedroto - que foi seleccionador nacional - digno de homenagem, teria toda a legitimidade para o fazer. Autonomamente. Assim, com a sua presença neste evento, Madaíl e Queiroz nada mais fizeram do que pactuar e dar caução a determinado tipo de procedimentos e às afirmações proferidas. Lamentável.

"Tipping the Velvet" (5)

Ministério da educação: uma ministra "public relations" e uma política sem princípios

Pronto, enganei-me. Embora não humildemente porque não gosto de falsas modéstias, confesso que me enganei: afinal a Fenprof acabou por assinar um acordo com o Ministério da Educação. Talvez porque a vox populi sobre a dita Fenprof começasse já a dar indícios claros de estar farta e esta estrutura sindical corresse sérios riscos de se isolar e perder capacidade de mobilização e apoio entre os professores. Talvez. Mas pronto, no excuses: assinaram e eu enganei-me.

Mas vamos lá ao que interessa: o que é facto é que o Ministério, dirigido por uma public relations, cedeu em toda a linha. Aliás, nem a ministra estava lá para outra coisa ou com mandato diferente: a esmagadora maioria dos professores (todos os com “Bom”, “Muito Bom” ou “Excelente”) acederá ao topo da carreira e apenas os classificados com “Bom” (mais de 80% no último ano, o que de imediato remete para a total falta de rigor nas avaliações) sofrerão um pequeno e quase insignificante abrandamento. Os que “cairão” fora dessa esmagadora maioria serão apenas meia dúzia (literalmente: meia dúzia), os mais inaptos de entre os inaptos. Significa isto que não haverá um verdadeiro incentivo ao mérito que funcione como base da melhoria da qualidade do ensino e de um real progresso no funcionamento das escolas públicas.

Como conclusão, voltou-se praticamente à estaca de partida para um percurso agora inexistente e, assim, perderam-se quatro anos em que o esforço de todos os intervenientes poderia, e deveria, ter sido canalizado para outras tarefas igualmente ou bem mais importantes numa verdadeira reforma do ensino público, salvando-se no naufrágio apenas uma ou outra realização avulsa: inglês, maior estabilidade nas colocações, aulas de substituição e extensão do horário escolar. Quantas mais? Pior: os professores saem desprestigiados ao olhos da opinião pública em função das tristes figuras feitas ao longo da sua “luta” e de se terem exposto urbi et orbi como detentores de privilégios fora do alcance de outros funcionários com qualificações semelhantes e o governo revelou, em toda a linha, a sua fraqueza e falta de convicção política numa área por si eleita como crucial para a modernização do país. Não mais José Sócrates poderá apresentar a educação como uma bem sucedida área de actuação reformista do seu governo. Mas parece que, de momento, apenas a sobrevivência lhe importa.

Apenas mais uma nota: pasmo como os sindicatos conseguem – com algum sucesso, diga-se – apresentar como convincente a argumentação de que o objectivo do ministério na questão das carreiras seria apenas “poupar dinheiro”. Como se poupar o dinheiro do contribuinte, principalmente no actual estado das finanças do estado e sem diminuição evidente da qualidade dos serviços prestados, em prejuízo de todos aqueles que revelam menos brio ou aptidão para o desempenho das suas funções como servidores públicos, constituísse um crime, algo moral ou eticamente condenável e não uma decisão da mais elementar justiça e bom senso. Bem gostaria de saber que força argumentativa restará ao governo quando, mais cedo ou mais tarde (espero bem que mais cedo) e depois de ter esbanjado dinheiro com as soluções agora acordadas com os professores, tiver de congelar por um ou mais anos (tão certo como amanhã ser sábado) os salários da função pública. É que navegar á vista, como todos sabemos, dá sempre mau resultado e talvez o governo venha a pagar caro este acordo.

Royal Mail album covers stamps (1)

Blur - "Parklife"

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Os 25 anos da morte de José Maria Pedroto e as tentativas de ressuscitar o mito

O 25º aniversário da morte de José Maria Pedroto parece ser o pretexto para alguns tentarem recuperar um dos maiores mitos do futebol nacional bem como a ideologia (e prática) que o suportou. Tempo também, portanto, de recuperar um “post” por aqui publicada a 11 de Outubro de 2006 em resposta ao “blog” nortenho “Blasfémias”.

”Chega a ser espantoso o facciosismo com que a as gentes ligadas ao FCP (aka “tripeiros”) analisam o futebol (os jornalistas diriam o “fenómeno futebolístico”). Então não é que agora os simpáticos "blasfemos" (nunca o nome se terá revelado tão apropriado) pretendem elevar à categoria de “grande português" um dos maiores mitos do futebol “cá da terrinha” (refiro-me à “piolheira” do Senhor D. Carlos, claro) que dá pelo nome de José Maria Pedroto aka “Zé do Boné”? Blasfémias não faltam por lá, algumas bem interessantes, outras engraçadas e ainda as restantes nem por isso, mas esta é seguramente a “one million dollar blasfémia”! Bingo! Pois, oh! meus caros "blasfemos", não exagerem porque senão nem um estágio ao Purgatório vão fazer; vão directamente para o Inferno sem passarem pela casa da partida e sem receberem os dois contos!...

Ora vamos lá a ver... José Maria Pedroto treinou o Vitória de Setúbal no final dos anos sessenta, início dos setenta. O tal “Vitória europeu”, que espantou a Europa ( dizem os jornais desportivos, não é?). Mas, de facto, esse Vitória - que, aliás, já vinha de Fernando Vaz - "dito" europeu, nunca passou dos... quartos de final, ou seja, na altura, a 3ª eliminatória. Estão a ler bem: dos quartos de final! Ora pois, dirão vocês convencidos que têm o argumento definitivo: “mas era o Vitória, um clube modesto e blá, blá, blá”. Pois, digo eu: mas um Vitória pujante, económica e socialmente, correspondendo ao período que se vivia em Portugal em que a Península de Setúbal era a zona de maior crescimento económico do País. Uma zona em pleno apogeu, também política e socialmente, portanto! É que isto de estar no lugar certo na altura exacta dá algum jeito, não é? Dirão que existe algum mérito na escolha, claro, e acreditemos que sim. Mérito de Pedroto nesse campo, não o nego, mas pronto, fica-se por aí.

E aí vai ele, JMP, então para o Boavista e para o FCP. Quando? Claro está, na época em que o norte (leia-se os Distritos do Porto e de Braga, principalmente) adquire um importância fundamental na vida do país fruto da nacionalização dos grandes grupos económicos anteriores ao 25 de Abril e da implementação de uma política fundamentalmente voltada para o fomento do sector exportador, o que “arrasta” consigo uma afirmação desse mesmo norte em termos sociais e políticos. Ainda por cima, era necessário reconstituir o “tecido” económico e isso, conjunturalmente, só era possível realizar no norte do país. É que convém ver estas coisas com alguma atenção e profundidade de análise. Mais ainda, no FCP, quando este finalmente atinge uma final europeia (da Taça das Taças, a terceira em grau de dificuldade) já não é Pedroto que dirige a equipa, pelo menos na Final.

E na selecção? Bom, estão preparados? Dezasseis jogos, seis vitórias, quatro empates e seis derrotas. Seis, uma por cinco a zero na “defunta” Checoslováquia - que Deus tenha a sua alma em descanso. E dessas seis vitórias, uma é contra uma selecção de Góias(!?), duas são contra Chipre e a terceira contra a Dinamarca, em casa. E estas três últimas foram as únicas vitórias em jogos oficiais! E se quiserem ver a perfomance do FCP nos jogos das competições europeias, vá lá, uma tarefa extra, que eu nem pertenço à tribo: vão ao site do FCP que deve estar lá tudo. Eu não preciso, tenho uma vaga ideia...

Bom, para terminar que esta já vai longa. O estilo de jogo implementado por Pedroto no futebol português é aquele que mais directamente corresponde ao “chico espertismo” nacional. Como dizem os jornalistas desportivos, da “sagacidade”, da “malandrice”, da “habilidade” e do “desenrascanço”. Dos pequeninos contra os grandes, David contra Golias, etc. É o futebol provinciano da nossa inferioridade e de tudo o que isso representa e se quer mudar no Portugal de hoje - e é, e tem sido ao longo dos anos, um factor potenciador do nosso atraso. Pedroto foi, por isso mesmo, responsável por um atraso de vinte anos no futebol português, que só Eriksson começou a combater e Mourinho definitivamente enterrou."
Acrescento hoje, se me permitem: José Maria Pedroto é, portanto, património apenas de alguém e de alguns – do FCP e dos seus adeptos – em nome dos quais combateu o futebol português: o seu progresso, a sua afirmação e a sua modernidade. Os seus verdadeiros interesses no seu todo.