domingo, janeiro 24, 2010

Um exemplo interessante...

Ana Moura - "Não é um Fado Normal" (Amélia Muge)


O fado é cultura popular. Uma sua forma de expressão musical, a única com raízes urbanas em Portugal. Por isso mesmo sou normalmente avesso a tudo aquilo que o afasta – ao fado - dessas suas raízes populares e, assim, o desvirtua na sua essência: uma sua pseudo-intectualização, efectuada tantas vezes com recurso a formas poéticas vinda de fora desse universo popular ou a algumas formas musicais com ressonâncias “jazzísticas” ou eruditas, e, pior ainda, a sua transformação em música ligeira (de que o chamado “fado-canção” é expoente), como tão bem, ou tão mal, o fizeram, para citar um exemplo bem conhecido, Carlos do Carmo e José Carlos Ary dos Santos (não estou aqui a referir-me, como é óbvio, ao Ary dos Santos excelente letrista da renovação da canção ligeira portuguesa). Caminho inverso seguiu José Afonso, por exemplo, que vindo do fado e da canção de Coimbra, uma adaptação do fado de Lisboa ao universo vivêncial dos estudantes e tricanas de Coimbra, soube efectuar a sua miscegenação com outras formas musicais populares, rurais e coloniais, mantendo-se fiel, na essência, ao lugar de onde partiu.

Um muito pequeno exemplo, actual e interessante, desta procura de miscegenação do fado com outras formas de música popular, sem portanto alienar a sua essência, podemos encontrar neste tema de Ana Moura gravado com os “Gaiteiros de Lisboa”, “Não é um Fado Normal”. Está, claro, muito longe do abalo telúrico que José Afonso, Carlos Paredes, José Mário Branco ou, até, António Variações provocaram na música popular portuguesa (nada de confusões). Mas, à sua dimensão, é um muito pequeno e interessante exemplo que merece a pena ser apontado, inovando nas sonoridades graças ao recurso a sopros e percussão mas sem que isso ponha em causa a sua origem e características populares. Por isso mesmo, ganhou direito a divulgação neste “blog”.

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