O 25º aniversário da morte de José Maria Pedroto parece ser o pretexto para alguns tentarem recuperar um dos maiores mitos do futebol nacional bem como a ideologia (e prática) que o suportou. Tempo também, portanto, de recuperar um “post” por aqui publicada a 11 de Outubro de 2006 em resposta ao “blog” nortenho “Blasfémias”.
”Chega a ser espantoso o facciosismo com que a as gentes ligadas ao FCP (aka “tripeiros”) analisam o futebol (os jornalistas diriam o “fenómeno futebolístico”). Então não é que agora os simpáticos "blasfemos" (nunca o nome se terá revelado tão apropriado) pretendem elevar à categoria de “grande português" um dos maiores mitos do futebol “cá da terrinha” (refiro-me à “piolheira” do Senhor D. Carlos, claro) que dá pelo nome de José Maria Pedroto aka “Zé do Boné”? Blasfémias não faltam por lá, algumas bem interessantes, outras engraçadas e ainda as restantes nem por isso, mas esta é seguramente a “one million dollar blasfémia”! Bingo! Pois, oh! meus caros "blasfemos", não exagerem porque senão nem um estágio ao Purgatório vão fazer; vão directamente para o Inferno sem passarem pela casa da partida e sem receberem os dois contos!...
Ora vamos lá a ver... José Maria Pedroto treinou o Vitória de Setúbal no final dos anos sessenta, início dos setenta. O tal “Vitória europeu”, que espantou a Europa ( dizem os jornais desportivos, não é?). Mas, de facto, esse Vitória - que, aliás, já vinha de Fernando Vaz - "dito" europeu, nunca passou dos... quartos de final, ou seja, na altura, a 3ª eliminatória. Estão a ler bem: dos quartos de final! Ora pois, dirão vocês convencidos que têm o argumento definitivo: “mas era o Vitória, um clube modesto e blá, blá, blá”. Pois, digo eu: mas um Vitória pujante, económica e socialmente, correspondendo ao período que se vivia em Portugal em que a Península de Setúbal era a zona de maior crescimento económico do País. Uma zona em pleno apogeu, também política e socialmente, portanto! É que isto de estar no lugar certo na altura exacta dá algum jeito, não é? Dirão que existe algum mérito na escolha, claro, e acreditemos que sim. Mérito de Pedroto nesse campo, não o nego, mas pronto, fica-se por aí.
E aí vai ele, JMP, então para o Boavista e para o FCP. Quando? Claro está, na época em que o norte (leia-se os Distritos do Porto e de Braga, principalmente) adquire um importância fundamental na vida do país fruto da nacionalização dos grandes grupos económicos anteriores ao 25 de Abril e da implementação de uma política fundamentalmente voltada para o fomento do sector exportador, o que “arrasta” consigo uma afirmação desse mesmo norte em termos sociais e políticos. Ainda por cima, era necessário reconstituir o “tecido” económico e isso, conjunturalmente, só era possível realizar no norte do país. É que convém ver estas coisas com alguma atenção e profundidade de análise. Mais ainda, no FCP, quando este finalmente atinge uma final europeia (da Taça das Taças, a terceira em grau de dificuldade) já não é Pedroto que dirige a equipa, pelo menos na Final.
E na selecção? Bom, estão preparados? Dezasseis jogos, seis vitórias, quatro empates e seis derrotas. Seis, uma por cinco a zero na “defunta” Checoslováquia - que Deus tenha a sua alma em descanso. E dessas seis vitórias, uma é contra uma selecção de Góias(!?), duas são contra Chipre e a terceira contra a Dinamarca, em casa. E estas três últimas foram as únicas vitórias em jogos oficiais! E se quiserem ver a perfomance do FCP nos jogos das competições europeias, vá lá, uma tarefa extra, que eu nem pertenço à tribo: vão ao site do FCP que deve estar lá tudo. Eu não preciso, tenho uma vaga ideia...
Bom, para terminar que esta já vai longa. O estilo de jogo implementado por Pedroto no futebol português é aquele que mais directamente corresponde ao “chico espertismo” nacional. Como dizem os jornalistas desportivos, da “sagacidade”, da “malandrice”, da “habilidade” e do “desenrascanço”. Dos pequeninos contra os grandes, David contra Golias, etc. É o futebol provinciano da nossa inferioridade e de tudo o que isso representa e se quer mudar no Portugal de hoje - e é, e tem sido ao longo dos anos, um factor potenciador do nosso atraso. Pedroto foi, por isso mesmo, responsável por um atraso de vinte anos no futebol português, que só Eriksson começou a combater e Mourinho definitivamente enterrou."
”Chega a ser espantoso o facciosismo com que a as gentes ligadas ao FCP (aka “tripeiros”) analisam o futebol (os jornalistas diriam o “fenómeno futebolístico”). Então não é que agora os simpáticos "blasfemos" (nunca o nome se terá revelado tão apropriado) pretendem elevar à categoria de “grande português" um dos maiores mitos do futebol “cá da terrinha” (refiro-me à “piolheira” do Senhor D. Carlos, claro) que dá pelo nome de José Maria Pedroto aka “Zé do Boné”? Blasfémias não faltam por lá, algumas bem interessantes, outras engraçadas e ainda as restantes nem por isso, mas esta é seguramente a “one million dollar blasfémia”! Bingo! Pois, oh! meus caros "blasfemos", não exagerem porque senão nem um estágio ao Purgatório vão fazer; vão directamente para o Inferno sem passarem pela casa da partida e sem receberem os dois contos!...
Ora vamos lá a ver... José Maria Pedroto treinou o Vitória de Setúbal no final dos anos sessenta, início dos setenta. O tal “Vitória europeu”, que espantou a Europa ( dizem os jornais desportivos, não é?). Mas, de facto, esse Vitória - que, aliás, já vinha de Fernando Vaz - "dito" europeu, nunca passou dos... quartos de final, ou seja, na altura, a 3ª eliminatória. Estão a ler bem: dos quartos de final! Ora pois, dirão vocês convencidos que têm o argumento definitivo: “mas era o Vitória, um clube modesto e blá, blá, blá”. Pois, digo eu: mas um Vitória pujante, económica e socialmente, correspondendo ao período que se vivia em Portugal em que a Península de Setúbal era a zona de maior crescimento económico do País. Uma zona em pleno apogeu, também política e socialmente, portanto! É que isto de estar no lugar certo na altura exacta dá algum jeito, não é? Dirão que existe algum mérito na escolha, claro, e acreditemos que sim. Mérito de Pedroto nesse campo, não o nego, mas pronto, fica-se por aí.
E aí vai ele, JMP, então para o Boavista e para o FCP. Quando? Claro está, na época em que o norte (leia-se os Distritos do Porto e de Braga, principalmente) adquire um importância fundamental na vida do país fruto da nacionalização dos grandes grupos económicos anteriores ao 25 de Abril e da implementação de uma política fundamentalmente voltada para o fomento do sector exportador, o que “arrasta” consigo uma afirmação desse mesmo norte em termos sociais e políticos. Ainda por cima, era necessário reconstituir o “tecido” económico e isso, conjunturalmente, só era possível realizar no norte do país. É que convém ver estas coisas com alguma atenção e profundidade de análise. Mais ainda, no FCP, quando este finalmente atinge uma final europeia (da Taça das Taças, a terceira em grau de dificuldade) já não é Pedroto que dirige a equipa, pelo menos na Final.
E na selecção? Bom, estão preparados? Dezasseis jogos, seis vitórias, quatro empates e seis derrotas. Seis, uma por cinco a zero na “defunta” Checoslováquia - que Deus tenha a sua alma em descanso. E dessas seis vitórias, uma é contra uma selecção de Góias(!?), duas são contra Chipre e a terceira contra a Dinamarca, em casa. E estas três últimas foram as únicas vitórias em jogos oficiais! E se quiserem ver a perfomance do FCP nos jogos das competições europeias, vá lá, uma tarefa extra, que eu nem pertenço à tribo: vão ao site do FCP que deve estar lá tudo. Eu não preciso, tenho uma vaga ideia...
Bom, para terminar que esta já vai longa. O estilo de jogo implementado por Pedroto no futebol português é aquele que mais directamente corresponde ao “chico espertismo” nacional. Como dizem os jornalistas desportivos, da “sagacidade”, da “malandrice”, da “habilidade” e do “desenrascanço”. Dos pequeninos contra os grandes, David contra Golias, etc. É o futebol provinciano da nossa inferioridade e de tudo o que isso representa e se quer mudar no Portugal de hoje - e é, e tem sido ao longo dos anos, um factor potenciador do nosso atraso. Pedroto foi, por isso mesmo, responsável por um atraso de vinte anos no futebol português, que só Eriksson começou a combater e Mourinho definitivamente enterrou."
Acrescento hoje, se me permitem: José Maria Pedroto é, portanto, património apenas de alguém e de alguns – do FCP e dos seus adeptos – em nome dos quais combateu o futebol português: o seu progresso, a sua afirmação e a sua modernidade. Os seus verdadeiros interesses no seu todo.
2 comentários:
Caro JC
Eu "nasci" para o futebol vendo, na tv, os desafios do V.Setúbal na Taça das Cidades com Feira, depois Taça UEFA. E o que vi, permita-me dizer, pouco corresponde à imagem aqui dada.
Lembro-me, por exemplo, o V. Setúbal, em 73/74, a eliminar o Leeds United, na altura líder incontestado da liga inglesa onde acabaria por se sagrar campeão. Eliminou também a Fiorentina.
O Caro JC pode dizer que o Vitória apenas chegou aos quartos-de final, mas omite que esta competição abrangia os segundos e terceiros classificados dos grandes campeonatos, que agora competem na Liga dos Campeões.
Tomara os clubes lusos actuais cheguarem regularmente tão longe como tão regularmente chegou o V. Setúbal de Pedroto - nunca mais repetiria a façanha que ainda hoje lhe garante um lugar nos rankings da UEFA -.
No plano nacional chegou a vice-campeão, logo atrás do invencível Benfica de Jimmy Hagan.
Também omite que Pedroto garantiu um título europeu de juniores para a selecção portuguesa.
Se existem verdades na estatística, uma delas é que, foi com a chegada de Pedroto que V. Setúbal, Boavista e FCP passaram a contar desafiando regularmente o clássico dueto da segunda circular - a bem da competição -.
Se dúvidas houvessem, foi um FCP burilado por Pedroto, ainda em período de nojo da respectiva morte, que chegou à mencionada primeira final europeia.
É evidente que hoje tudo é diferente. A qualidade técnica e competitiva melhorou muito.
Pudemos até aceitar que seria melhor que o papel que Pedroto desempenhou fosse desempenahdo por outro com uma visão mais moderna e premonitória acompanhando ou antecipando os progressos técnicos dessa europa futebolística.
Porém, no momento, esse "outro" não apareceu, como não apareceu alguém, prejudicado, a reivindicar que, na altura, fizesse melhor.
Daí que, a propósito de efeméride, me curvo à memória de alguém que, goste-se ou não, marcou o futebol da minha geração e me deu algumas alegrias - no que toca ao V. Setúbal europeu da minha infância -.
Com os cumprimentos
JR
Caro JR:
1. Em 1º lugar, mtº obrigado pelo seu inteligente comentário; caso raro, quando se fala de "bola".
Mas vamos lá à substância. Não se podem comparar os campeonatos de então com os de agora, ou seja, antes e depois da entrada em força das TVs e da lei Bosman. Na altura, em que o financiamento dos clubes era efectuado apenas c/ recurso aos seus associados e receitas de bilheteira - para além dos mecenas -, ou seja, o financiamento e a âmbito dos clubes era apenas nacional e/ou local, o campeonato português não apresentava a "décalage" que hoje tem para c/ esses campeonatos. Não pode, pois, efectuar-se uma comparação assim tão linear c/ os dias de hoje. E, como afirmo no "post", a região de Setúbal era a mais pujante do país e uma das que mais crescia na Europa. Acrescento que por via das colónias, onde existiam estruturas criadas e controladas pelos clubes metropolitanos, os clubes portugueses tinham aí um campo de recrutamento privilegiado. Mais do que por responsabilidade de JMP, o V. de Setúbal cresceu com essas condições e definhou com a sua decadência até aos dias de hoje. Normal.
2. Até vi essa final de juniores - era criança - contra a Polónia no Estádio da Luz. Mas, meu caro, o coordenador e mentor era David Sequerra e, além do mais, os títulos de juniores, sub-20, sub-21, etc, valem o que valem. Veja as estatísticas...
3. Como tb digo no "post", Boavista e FCP projectaram-se, tal como o V. de Setúbal com o "boom" da península onde se situa, quando a região norte se fortaleceu em termos políticos, económicos e sociais, após o 25 de Abril. Pedroto aproveitou o "momentum" e dotou-o, e ao FCP, de uma ideologia estruturada de suporte (o "norte" contra o sul, etc, etc - v. conhece-a). Aí, foi inteligente. E veja, em abono da minha teoria, que JMP nunca conseguiu repetir, ou sequer aproximar, esses resultados c/ a selecção nacional.
4. JMP tinha uma visão provinciana do país e do futebol, mtº diferente, por exemplo, de Mourinho, que conseguiu as grandes vitórias do FCP num contexto mtº mais complicado: o "norte" já não tinha a mesma pujança e na Europa dominam os grandes campeonatos e as grandes equipas. Ele e Eriksson são, por isso, os 2 grandes treinadores renovadores da mentalidade do futebol português.
Cumprimentos
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