domingo, janeiro 31, 2010

Falemos então de arbitragem, mas com seriedade e de modo estruturado

Afirmei ontem aqui que o principal problema da má qualidade das arbitragens em Portugal, no futebol profissional, terá bem mais a ver com problemas de ordem psicológica – abstrair do ambiente inquinado em vive o futebol indígena e ter a capacidade para, psicologicamente, saber resistir a pressões directas e indirectas – do que técnica, isto é, da correcta interpretação das leis do jogo e da capacidade de as saber aplicar durante o seu decurso, gerindo-o (o árbitro é também um gestor do jogo, assegurando o espectáculo e o seu bom andamento). Terá também muito mais a ver com questões desse tipo do que com a adopção de novas tecnologias. Por exemplo: com recurso a novas tecnologias, a árbitro Carlos Xistra teria decidido de modo diferente nos, a olho nu, tão claros lances do Nacional-FCP de ontem? Ou Elmano Santos teria, porventura, mostrado o cartão encarnado, em vez do amarelo, ao jogador do V. de Guimarães que derruba Saviola, que se isolava, num lance em que, pelo facto da posição de Saviola não se poder considerar indiscutivelmente frontal, o critério do árbitro é decisivo e qualquer das duas decisões aceitável? Duvido...

Bom, vamos então ao que interessa, isto é, como ajudar a resolver ou, pelo menos, a minorar o problema. Tendo em atenção a livre circulação de pessoas na UE e o facto de a grande maioria dos jogadores que integram as equipas profissionais em cada Liga serem de nacionalidades diversas, europeias e não europeias, penso não existir nenhuma razão inultrapassável para que jogos das diversas Ligas nacionais não possam e devam dirigidos por equipas de arbitragem de nacionalidade diferente da Liga em questão, nomeadas pela UEFA ou por acordo entre duas ou mais estruturas de arbitragem nacionais (por exemplo, Portugal e Espanha). Dando um exemplo prático e ficando-me aqui pelos estados ibéricos, penso que um grupo de árbitros de elite portugueses e espanhóis, arbitrando indiferentemente em ambas as Ligas profissionais por nomeação de uma estrutura ibérica, teria uma qualidade bem mais homogénea e capacidade acrescida para manter um alheamento maior para com o “caldo de cultura” existente em cada um dos países. Acresce que a maior concorrência assim criada teria também com certeza reflexos no aumento da qualidade técnica dos árbitros de ambos os países e a cooperação deste modo iniciada só poderia ter efeitos positivos para uma futura e indispensável aproximação entre as duas Ligas com vista a uma eventual maior cooperação ou, até, integração. Seria uma interessante experiência a levar a cabo, até porque não consigo vislumbrar nela nada de negativo.

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