quinta-feira, maio 31, 2012

A "comunidade" de Nuno Crato

Pensava eu - que gosto de pensar coisas - que o melhor e mais produtivo trabalho a favor da comunidade que se poderia pedir um jovem do ensino obrigatório prestasse era tornar-se melhor aluno, melhorar os seus conhecimentos, progredir no sua carreira de estudante, melhorar o seu aproveitamento e chegar mais longe no seu percurso académico. Enfim, ensiná-lo a ser mais solidário, mas também mais competitivo, uma vez que ambas as características não é necessário se anulem mutuamente. Para tal, quando as coisas não corressem tão bem quanto seria de desejar, os alunos com problemas de aprendizagem ou de integração contariam com o apoio da sua escola, de professores, colegas e dos respectivos "stakeholders" (permitam-me designá-los assim), pais, autarquias, empresas e instituições da região e por aí fora. Assim funcionam as sociedades mais desenvolvidas e civilizadas, o que não exclui se não fomentem a disciplina, o rigor e a criação de um indispensável ambiente favorável à aprendizagem, sendo que pelo termo não se designam apenas a capacidade para saber demonstrar o teorema de Cauchy, conhecer a curva de Gauss ou, para ser mais prosaico, ler o Frei Luís de Sousa de fio a pavio - uma chatice. Tudo isso é importante, direi mesmo fundamental, mas acho uma das coisas a crise actual prova é que está longe de ser exclusivo para que se possa entender o mundo.

Mas parece que para o ministro Nuno Crato as coisas poderão não ser bem assim, e tremo só de pensar que a sua concepção de trabalho em favor da comunidade se possa vir a assemelhar demasiado a castigo penitenciário e contribuir assim para segregar e afastar ainda mais o jovem da escola e da comunidade na qual ele já manifesta dificuldade em se inserir. Quero acreditar não seja esse o caso, e por isso aguardo serenamente explicações adicionais vindas do Ministério da Educação. 

"ab origine" - esses originais (quase) desconhecidos (34)

"Keep On Running" - o original do jamaicano Jackie Edwards (1965)


O mega-êxito do Spencer Davies Group c/ a inconfundível voz de Stevie Winwood (Novembro de 1965 e #1 em Janeiro de 1966)

Frivolidades ou "coisas de gajo": "dress codes" (17) - a cor "beige"

Pois é, continuo a ver por aí gente, não diria bem vestida, pelas razões que vou apontar, mas com ar de quem foi pouco afectado pela crise, usando sapatos pretos com calças "beige" e de cores afins, sejam "chinos", calças de algodão menos informais ou até fatos, daqueles fantásticos de algodão bem adaptados aos calores "veraniegos". Asneira, e não só por questões estéticas que têm a ver com a combinação de cores. "Chinos", calças de algodão ou fatos de cor "beige" são indumentárias relativamente informais, pelo que requerem sapatos castanhos, de camurça ou pele lisa, "brogues", "monkstraps" ou "loafers". Se a combinação de cores o exigir, "bordeaux" é cor a ter em conta, pois claro, mas preto é que  nunca, jamais. Mandam as regras e o bom gosto.

A RTP e a oportunidade da privatização

Perante o clima geral de suspeição gerado pelo caso das "secretas" e as promiscuidades assim desnudadas entre grupos de comunicação, jornalistas e Estado/governo(s), não me parece seja apenas a capacidade do ministro Miguel Relvas para conduzir a privatização de um canal da RTP que esteja em causa. Penso há que ir mais longe e concluir que, independentemente de questões conjunturais técnicas e/ou de mercado que a possam desaconselhar (e desaconselham), é a própria oportunidade política para a privatização que está em causa, nestas circunstâncias, independentemente de quem a possa vir a conduzir. Aconselham o bom-senso e a capacidade de gestão política que se aguardem tempos mais propícios. Não tendo eu, em termos abstractos, qualquer posição de princípio contra tal privatização, sugiro qualquer coisa como sine die. Vale?

quarta-feira, maio 30, 2012

Desabafo

Tive tempo e paciência para ver a parte inicial da interpelação ao ministro Miguel Relvas na Comissão de Assuntos Constitucionais da Assembleia da República, a cargo dos deputados Cecília Honório (BE) e João Oliveira (PCP). Intervenções mal preparadas, preâmbulos confusos, perguntas pouco concisas, discurso nada fluente. E para não destoar da mediocridade geral, um presidente da Comissão (Fernando Negrão) demasiado mestre-escola e a descair para o parcial. Deprimente. 

Desisti, mas a continuar a interpelação neste estilo concluo o Ministro não terá qualquer dificuldade em sair incólume.

"Alice in Wonderland" by Sir John Tenniel (18)

Fish and Frog servants

A entrevista de Scolari e o "caso" Vítor Baía

aqui o tinha dito: o chamado "caso" Vítor Baía foi criado pelo próprio Luís Filipe Scolari como manifestação inicial da sua autonomia face aos poderes até aí dominantes no controlo da selecção nacional. Foi a partir dessa ruptura inicial por si criada, criando um inimigo externo, que Scolari começou a edificar a sua liderança, construindo um novo élan e agregando em torno da selecção uma maioria que não se reconhecia nesses poderes dominantes e nas suas práticas, incluindo muitos para quem o futebol estava longe de ser espectáculo que ocupasse muito tempo e gerasse grande entusiasmo nas suas vidas. Perder tempo a procurar outro racional é pois actividade perfeitamente inútil.

Claro que fazendo isto parte do seu "modelo de liderança", sendo mesmo dele parte essencial, o seu "santo dos santos", nunca Scolari o iria assumir publicamente, pelo que, na sua entrevista de ontem, lá alinhavou algumas explicações pouco credíveis sobre o "caso" Baía, deixando meio-Portugal jornalístico e elucubrar sobre o assunto. Sentado sobre uma fortuna entretanto acumulada e do alto de um título mundial, uma final e uns 1/4 de final de Europeus e um 4º lugar no Mundial, deve estar hoje a rebolar-se de gozo com as reacções suscitadas.

Sword & Sandals (13)



"Gold For The Caesars" (1963)

O caso da "secretas": "back to basics"

Ora vamos lá tentar afastar um pouco o ruído que tem envolvido o caso das "secretas", demasiado centrado, nos últimos dias, nas "pressões" de Miguel Relvas (não que não sejam importantes...), e tentar centrar-mo-nos naquilo que é essencial e está a montante, que determinou, portanto, todo este desencadear de factos e emoções. E aí chegados temos de concluir uma coisa bem simples: segundo tudo leva a crer, estamos perante um caso de utilização de meios públicos, pertencentes ao Estado, à comunidade, para fins pessoais e privados, não substancialmente diferente de quando alguém se apropria de dinheiro ou bens do Estado em proveito próprio ou de terceiros. Quanto a mim, que não sou jurista, um caso puro e simples de crime de "peculato". Pior: alguém se apoderou de uma parte do aparelho de Estado (os Serviços de Inteligência) para, além dos utilizar em proveito seu e de privados, violar princípios básicos do Estado de Direito Democrático, como o são o direito à privacidade e intimidade, outro crime de extrema gravidade. E, se quiserem, pior ainda: tendo como circunstância agravante o facto de se tratarem de serviços de natureza muito particular, destinados à defesa e segurança do Estado Democrático (de todos nós, portanto) e onde a confidencialidade e discrição das actuações deve constituir norma intransigente. Se para tal acção criminosa (repito: acção criminosa) os agentes do crime contaram com a cumplicidade de um ou mais membros deste ou de governos anteriores, é caso para se investigar, mas convenhamos que os indícios e as mentiras são, por si só, aterradores. 

Quanto ao ministro Relvas, se se vier a provar ameaçou uma jornalista do "Público" com a divulgação de assuntos da sua vida privada, estamos, neste assunto, e ainda assim, perante o menos grave dos crimes, mas ainda assim crime e agravado pelas funções que desempenha. Mas digamos que em função da gravidade das acções acima descritas e perante os fortes indícios que o poderiam envolver em tais actos, não me admira alguém com a experiência política do ministro tenha perdido a cabeça: a provar-se o seu envolvimento, num país civilizado tal corresponderia ao fim da sua carreira política e constituiria forte machadada na credibilidade do governo. Além de tudo o mais, parece que "espiolhar" a vida privada de jornalistas e dirigentes de grupos de comunicação se tinha tornado no "core business" e "way of doing the things" dos serviços portugueses de inteligência. Fraca inteligência, pois claro, que por isso mesmo não merece tanto dinheiro investido. 

terça-feira, maio 29, 2012

Grand Prix (6)

"Les haricots sont pas salés" - old time cajun music (17)

Cleoma Falcon - "J'ai Passé Devant Ta Porte"

Lagarde e os miserabilismos

Arriscando ser politicamente incorrecto, que me atirem ovos podres e etc e tal, devo dizer que não acho nenhum escândalo Christine Lagarde, enquanto responsável máxima de uma instituição como o FMI, ganhe 380 mil euros líquidos por ano. Confesso estar farto de miserabilismos e de tudo ser medido pelo seu custo e não em função de uma análise custo-benefício, das responsabilidades que cada um assume e lhe são pedidas, dos resultados alcançados e por aí fora. Digo mais: fiquei estarrecido quando li nos jornais, em títulos mais ou menos acusatórios, o facto do Estado português ter gasto meia-dúzia de milhões de euros para assegurar o repatriamento dos seus nacionais no caso do conflito na Guiné-Bissau ter dado ainda mais "para o torto". Se isso tivesse acontecido e os nossos concidadãos tivessem sido abandonados à sua triste sorte, gostaria de ver o que se não diria.

Mas voltando a Christine Lagarde... Escandalosas são as suas afirmações demagógicas e populistas a propósito da Grécia, dos gregos e dos seus impostos. Escandalosas, populistas e, pior, politicamente desadequadas para a resolução da crise da UE. Mas, devo também dizer, tal coisa tem a ver com o cargo que exerce e é independente do ordenado que ganha, o que significa essas afirmações seriam igualmente censuráveis e politicamente inadequadas se Lagarde ganhasse mil, cem ou trabalhasse "pro bono": com elas apenas demonstrou não estar à altura das responsabilidades do cargo para a qual foi nomeada. Portanto, se for necessário pagar um ou dois milhões para a substituir por alguém competente, façam favor. Já tarda.

segunda-feira, maio 28, 2012

As capas de Cândido Costa Pinto (78)

Capa de CCP para "O Bando Terrível", de Edgar Wallace, nº 106 da "Colecção Vampiro"

O inenarrável presidente do ACP

Não sei se as nova regulamentação para o trânsito no Marquês de Pombal e na Avenida da Liberdade vai ou não resolver alguns dos problemas de congestionamento de tráfego e poluição no sector. Veremos o que nos vai ensinar o previsto período experimental. Mas o que sei é que não tenho paciência para aturar os dislates permanentes do inenarrável presidente do ACP, Carlos Barbosa, desde o querer processar os políticos dos anteriores governos até ao afirmar agora, e a propósito das tais modificações na circulação automóvel, que "acabar com a poluição é facílimo: façam um eléctrico rápido do Marquês até ao Rossio ou ao Terreiro do Paço e deixam de ter este problema”. Será que não lhe ocorre que o tal eléctrico rápido já existe, chama-se Metropolitano e tem uma linha que vai exactamente do Marquês de Pombal aos Restauradores e à Baixa-Chiado, com uma estação a meio da Avenida, estando aquelas duas estações a cerca de 200 metros do Rossio e do Terreiro de Paço, respectivamente? Mas acho não deve ter percebido, ou então acha que quem utilizar o eléctrico rápido pode pedir ao guarda-freio que pare ali num instantinho à porta da Louis Vuitton para comprar uma carteira. Haja pachorra...

Gilbert & Sullivan (12)

Gilbert & Sullivan - "Trial By Jury"
"The Question gentlemen Is..." 

domingo, maio 27, 2012

Rock n' Roll Renegades (6/6)

Pequenas notas de um domingo à tarde (5) - o Senhor Presidente

Então andam o Senhor Presidente mais a sua Maria tão entretidos lá por Timor, Indonésia, Austrália e Singapura (a Lua é um pouco mais longe, mas, enfim, até o Senhor Presidente tem limitações, compreendem...?) e alguém se vai lembrar de lhe perguntar sobre o caso das secretas, o ministro Relvas e mais não sei o quê? Então isso é coisa que se faça ao Senhor Presidente, sempre tão preocupado com a sua imagem e em ficar na História como grande e patriótica personalidade, perguntar sobre um assunto que fede à distância? Tanto que o cheiro até se deve sentir no avião do Senhor Presidente, mesmo que lá nos longínquos céus do Índico? Então já não bastava o Senhor Presidente ter sido apanhado pelo desconforto do raio desta crise (sim, ele que apesar de ter sido primeiro-ministro dez anos e Senhor Presidente há... há... ??? até em nada contribuiu para o estado actual do país), e ainda lhe vão fazer perguntas dessas, tão "custosas"? Oh, Bárbara Baldaia, mas então não se via logo que o Senhor Presidente, que não tem acesso à "net", nem ao telemóvel, coitado, até porque ambos podem estar sob escuta (o que fazem ao Senhor Presidente, que horror, tantas maldades), só quando chegasse a Portugal  ia "olhar para esse dossier com olhos de ver"? Que quer que o Senhor Presidente diga, que o Senhor Presidente faça? Agora que José Sócrates já não lhe ensombra o caminho, "rien", pois claro, como terá escrito o Senhor Luís XVI no seu diário enquanto Paris e Versailles caminhavam já no futuro.

Pequenas notas de um domingo à tarde (4) - o Banco Alimentar Contra a Fome

Tenho-me mantido fiel aos meus princípios e depois destas afirmações políticas de Isabel Jonet de ataque ao Estado Social deixei de contribuir para o Banco Alimentar Contra a Fome, uma ideia e uma organização que até aí tinham sempre merecido a minha simpatia e colaboração. Este fim de semana lá tive de explicar novamente aos voluntários da organização presentes no supermercado as razões da minha recusa. E confesso tenho mesmo pena de ter sido obrigado a esta decisão. Paciência... 

Pequenas notas de um domingo à tarde (3) - o EURO 2012

A não ser em casos muito especiais, não me vão ver aqui a analisar com grande entusiasmo e "amor à causa" os jogos da selecção portuguesa no EURO 2012. Acima de tudo gosto de futebol e sou do SLB - não da selecção - e assim sendo confesso a tal "equipa de todos nós" (começo por detestar a ideia de algo que é "de todos nós") e a habitual histeria patrioteira à sua volta não me dizem grande coisa. Gosto da personalidade de Paulo Bento, mas entretanto também ele já me começou a desiludir com aquela trapalhada da convocatória de Hugo Viana e as explicações nada convincentes sobre as razões da sua chamada de última-hora.  Digamos que este meu desprendimento tem as suas vantagens: para sofrer "que nem um cão" a ver "bola" chegam-me os jogos do "Glorioso". Digamos que sofrer pela selecção só mesmo nos tempos de Scolari, e aí porque já não se tratava da tal "equipa de todos nós" mas apenas a de todos os que não eram do FCP.

Pequenas notas de um domingo à tarde (2) - alpercatas

As alpercatas parecem ter entrado mesmo na moda ("fishing for compliments", direi que desde há vários anos as uso no Verão) e já vejo lojas a vender modelos supostamente sofisticados a preços de 60 e mais euros. Um disparate, já que o "chique" das alpercatas é mesmo o seu aspecto rústico e artesanal e o seu baixo preço, o que permite se comprem vários pares de cores diversas e se deitem fora sem remorsos quando ficam velhas. Já as tenho comprado, "made in Bangladesh", a €1 o par, mas a Loja Real vende-as de melhor qualidade, "spanish made", a pouco mais de uma dezena de euros. Mais do que isso, esqueça.  

Pequenas notas de um domingo à tarde (1) - a Fórmula Um

Olho para o Grande Prémio de Mónaco, o único que é possível identificar através da televisão (os outros são todos iguais), e lembro-me de já uma vez ter por aqui perguntado se os carros actuais precisam mesmo de piloto ou se poderiam ser teleguiados através das "boxes". Não querendo ser tão exagerado, pergunto agora se os pilotos precisam mesmo de saber guiar automóvel ou basta-lhes serem bons com a "playstation". 

sexta-feira, maio 25, 2012

A estratégia eleitoral de Luís Filipe Vieira

Com estas suas afirmações, dizendo "alto e bom som" o que todos os benfiquistas pensam e já desesperavam por ver publicamente assumido por quem legitimamente os representa, Luís Filipe Vieira está também a dar o tom para aquela que será a sua estratégia eleitoral: transformar a derrota num campeonato onde, para além dos inúmeros erros próprios, foi evidente a "mão invisível" do FCP, numa oportunidade para unir todos os benfiquistas na luta contra a hegemonia portista nos bastidores do futebol, fazendo-se porta-voz e vanguarda dessas luta e indignação. Espero passe das palavras aos actos e actue finalmente de forma consequente nesse campo, já que estas suas afirmações, sendo justas, constituem também elas uma manifestação da impotência do actual "regime" benfiquista, no poder há cerca de dez anos: o não ter conseguido, até ao momento, resultados significativos e sustentáveis na luta contra a hegemonia do FCP nos bastidores da política, da magistratura e do futebol (a ordem não é arbitrária). Espero que LFV tenha finalmente percebido que sem desarmadilhar esse campo dificilmente o SLB conseguirá resultados desportivos que não passem de esporádicos.

quinta-feira, maio 24, 2012

Do "Público" e do privado

O "Público" é um jornal privado. Aliás, e se não estou em erro, dos principais, o único não pertencente a um grupo de comunicação, mas a um dos maiores empresários do país. Talvez por isso, as suas redacção e direcção tiveram a autonomia e liberdade para vir a público denunciar uma atitude condenável de um governante para com esse jornal. Agora imaginem lá que se tratava de um jornal pertencente ao Estado, sendo, portanto, o governo em funções e o ministro da tutela, na prática, os seus patrões. Pois...

The Crash of 1929 & The Great Depression (6/6)

"Arte Popular" e o Estado Novo (20)

Ilustração de Paulo Ferreira

História(s) da Música Popular (200)

Cliff Richard - Dynamite" (M. Garson - T. Glazer)


Cliff Richard - "Pointed Toe Shoes" (Carl Perkins)


British Rock & Roll (XI) - Cliff "rocker" (6 e último)


O caminho de saída de Cliff Richard do "rock & roll", em favor da estrela do espectáculo, não será feito de forma brusca e, ao contrário do que aconteceu com Elvis Presley onde o seu recrutamento militar é muitas vezes tido como um "marco", não é fácil, no caso de Cliff, encontrar uma data. De qualquer modo, eu diria que nos meses finais de 1959 já poderemos encontrar alguns indícios. Com o risco de ter de enfrentar desacordos substanciais, eu diria que o seu 6º "single" (Outubro desse ano) e, principalmente, o seu "B" side "Dynamite", um original de Brenda Lee, será talvez o último que poderei integrar sem esforço no Cliff "rocker". Mas é no seu 2º álbum, Cliff Sings (o título é já por si significativo), editado em Novembro desse mesmo ano de 1959 e grande parte dele preenchido com baladas "melosas" com recurso a acompanhamento orquestral, que o passo decisivo será dado. De qualquer modo, estamos ainda na presença de um disco "misto", onde têm lugar de destaque "covers" de alguns temas emblemáticos do "rock" americano: "Blue Suede Shoes" e "Pointed Toe Shoes", de Carl Perkins - um dos nomes emblemáticos da SUN Records - um original de Doc Pomus e Mort Shuman ("The Snake And The Bookworm"), outro de Eddie Cochran ("Twenty Flight Rock") e até uma bem escusada versão de "I'm Walking", do grande Fats Domino.

Claro que no seu 3º álbum, Me and My Shadows, em Outubro do ano seguinte, ainda podemos assistir a um certo regresso a Ian Samwel e a alguns temas "rock" interessantes ("Choppin' N' Changin", por exemplo), mas, no essencial, o passo estava dado e não existiria regresso.  

Como eram bem melhores os "saudosos" tempos do Guarda Abel...


Pergunta: Se eu gritar com um polícia e ameaçar as forças encarregues de manter a ordem pública o que me acontece? Desrespeito e ofensas à autoridade já não são crime público?
E o MAI? Não vai efectuar um inquérito sobre as razões que impediram a PSP de manter a ordem? E a Procuradoria Geral da República? 


Actualização pelas 14.50h:
A Federação Portuguesa de Basquetebol fala em "futebolização das modalidades". Está errada a FPB e tenta assim ignorar o essencial: e existência em Portugal de um clube que se diz desportivo (o FCP), com todas as modalidades que pratica, que constitui um autêntico "Estado dentro do Estado", ao qual as leis da República se não aplicam e com a sua própria milícia privada, as Sturmabteilung do Stabschef Fernando Madureira.

quarta-feira, maio 23, 2012

Adenda para o crescimento? "All quiet on the western front"

No fundo, no fundo, o que nos disse a votação de hoje na Assembleia da República é que apenas o PS acredita que a "adenda para o crescimento", por proposta sua acrescentada ao Tratado Orçamental, representará uma contribuição efectiva e trará algo de novo para a resolução da crise. Como seria de esperar, PCP e Bloco de Esquerda votaram contra e os partidos que apoiam o governo, normalmente tão radicais e intransigentes na defesa do essencial da sua linha ideológica, abstiveram-se, piscando o olho à ala cristã-democrata do PSD, "flirtando" com a ideia da moda, mas, simultaneamente, revelando bem a sua indiferença perante o documento, desse modo colocando a nu a sua inocuidade. Digamos que esta aprovação por uma pequena minoria está longe de permitir ao PS cantar vitória, e dificilmente autoriza o seu líder parlamentar a afirmar que "se trata de um dos momentos mais relevantes desta legislatura". Demasiado pouco para o ser... 

Como conclusão, o PS aproveita o momento Hollande e cumpre assim a necessidade de mostrar que é oposição e tem uma proposta alternativa (o que está longe de ser verdade), Cavaco Silva vê satisfeito o seu desejo de "consenso", melhorando a sua imagem (a sua permanente aspiração), e o governo, mostrando aos cidadãos uma dose qb de boa vontade (o que irá rapidamente rentabilizar), encolhe os ombros e continua o caminho seguido até aqui e no qual só ele parece acreditar. Enfim, nada de novo no rectângulo ocidental, e digamos que mesmo como encenação já temos visto coisas melhores...

The Crash of 1929 & The Great Depression (5/6)

Link Wray & Dick Dale (12)

Link Wray - "Ace of Spades"

Paulo Bento e Hugo Viana

Segundo Paulo Bento, Hugo Viana não teria sido convocado para o Euro 2012 por o seu futebol não se integrar nos princípios e modelo de jogo da equipa, ideia que partilho. Aliás, acrescento que Viana pertence àquele tipo de jogadores a três velocidades (devagar, devagarinho e parado) que muito dificilmente terá lugar numa equipa do "grande futebol", como o deve ser a selecção portuguesa. Entretanto, Carlos Martins, cujas características são tão parecidas com as de Viana como as de um crocodilo com um hipopótamo (ambos jogam futebol tal como estes últimos gostam de água), lesiona-se e Hugo Viana é chamado para o substituir. Paulo Bento, que tinha outras opções como Manuel Fernandes, por exemplo, importa-se de explicar o que mudou ou será que foi só a pedido para satisfazer o respectivo "clube de fans", leia-se, o interesse do SC Braga em o transferir?

terça-feira, maio 22, 2012

Vichy (4)


The Crash of 1929 & The Great Depression (4/6)

O regresso do velho "Coelhone"


O mínimo que se pode dizer desta afirmação de Jorge Coelho, agora do alto da sua posição de CEO da Mota-Engil onde, recorde-se, chegou por via das funções públicas que exerceu, é que é muito feio renegar e denegrir os seus. E que, partindo do princípio estaria então em pleno gozo das suas faculdades mentais - do que não duvido -, teria sido bem melhor se tivesse lembrado de fazer esta afirmação antes de ter exercido as tais funções públicas de que fala e que o guindaram à posição que hoje ocupa. Ou será que Portugal e o mundo mudaram assim tanto ao ponto de ser hoje verdade o que não o era há dez ou quinze anos? No fundo, são estas afirmações e percursos como o de Jorge Coelho (note-se que está longe de ser caso único) que acabam por contribuir para o desprestígio da vida política e de quem exerce... as tais funções públicas. De um ex-político esperar-se-ia exactamente o contrário: um apelo às participações cívica e política e um contributo para a sua valorização e prestígio. Mas pergunto-me se uma actividade política valorizada e prestigiada teria permitido a Jorge Coelho o seu conhecido percurso.

O SLB, a crise e a estratégia de Vieira

É um facto incontroverso que o SLB tem investido fortemente nos anos finais da última década e nos primeiros anos da actual na sua equipa de futebol profissional. Esse investimento tem sido realizado essencialmente com recurso ao endividamento bancário, em conjuntura favorável de dinheiro disponível a preços baixos, sendo que o modelo de negócio baseado na compra de jogadores, sua valorização e posterior venda, realizando assim receitas extraordinárias, tem evitado o recurso sistemático ao crédito para cobrir os sucessivos "déficits" de exploração, libertando assim mais recursos para o investimento. Em termos gerais, tem sido esta a estratégia seguida, tendo como objectivo essencial, em termos de resultados desportivos, retirar ao FCP a hegemonia conseguida nos últimos trinta anos no futebol português. No fundo, quando Luís Filipe Vieira falava, não em uma, mas num ciclo de vitórias, era a isto que se referia. Uma vez alcançada essa hegemonia e criada uma dinâmica de vitória, com reflexos a vários níveis do futebol português, seria então possível reduzir esse investimento sem grande ou apenas com um pequeno prejuízo dos resultados desportivos, sendo óbvio que as receitas obtidas com a participação sistemática na Champions League e com a renegociação em forte alta dos direitos televisivos, para as épocas de 2013/2014 e subsequentes, contribuiriam para que o desinvestimento não atingisse valores que penalizassem demasiado os resultados desportivos. Vieira poderia assim deixar a presidência e "designar" o seu sucessor, inscrevendo o seu nome na galeria dos mais notáveis presidentes do clube. Basicamente, em termos muito gerais, é esta a estratégia, e não se pode dizer esteja errada ou tivesse sido mal concebida.

Mas acontece que... Acontece que algumas coisas (nem todas, note-se) que poderiam correr mal, correram mesmo mal.  A saber:
  1. Em primeiro lugar, fruto em grande parte de enormes erros próprios, a equipa não conseguiu ser campeã mais do que uma época, não conseguindo assim questionar a hegemonia portista a todos os níveis.
  2. O FCP respondeu ao forte investimento do SLB... investindo, e o seu orçamento é hoje bem superior ao do SLB. Sustentável ou não, veremos. Problema deles.
  3. Se na presente época as receitas da Champions League atingiram valores superiores ao previsto, na época passada, com resultados desportivos desastrosos, estiveram a um nível bastante inferior ao esperado.
  4. A negociação dos direitos televisivos parece ter entrado num impasse e um pesado manto de silêncio parece agora cobri-la. A crise económica e um mercado recessivo também não ajudarão a que se alcancem os valores a que o clube, justamente, aspiraria.
  5. Por último, a Banca... Acabou-se o dinheiro fácil (agora, nem fácil nem difícil) e barato, o que terá sérias consequências no investimento, actual e futuro, e, muito provavelmente, na amortização da dívida (juros e prazos).
Sendo assim claro que Luís Filipe Vieira não vai querer abandonar o barco nestas circunstâncias, resta agora saber como vai o clube enfrentar esta nova conjuntura, também ele desincentivadora do surgimento de uma oposição credível. Uma coisa é certa: o clube vai ter que realizar maiores receitas extraordinárias e investir menos, o que significa que, para se conseguirem alcançar resultados desportivos significativos, será necessário rigor acrescido numa área de gestão (a desportiva) onde Vieira nunca se mostrou muito à vontade. É exactamente este o desafio, o derradeiro desafio, para si próprio e para o clube.

segunda-feira, maio 21, 2012

The Crash of 1929 & The Great Depression (3/6)

Les Belles Anglaises (62)







 Unipower GT (1966-1975)

A final da Taça e o Jamor

Ok, gosto das tradições. Costumo mesmo dizer que sou um tradicionalista não conservador, querendo com isto talvez dizer que a tradição só tem significado enquanto acrescente valor, mesmo que apenas simbólico (digamos que nunca é apenas simbólico...), a um qualquer acontecimento ou instituição. Por isso não concebo Wimbledon sem o branco do(a)s jogadore(a)s, a ausência de publicidade e os morangos com natas (a obrigatoriedade da "vénia" já desapareceu), a final da FA Cup sem Wembley e o hino "Abide With Me", o "Masters" de Augusta sem o "blazer" verde e a Fórmula Um sem o Grande Prémio de Mónaco. E, acho, a monarquia  britânica só pode continuar a fazer algum sentido mantendo a sua "pompa e circunstância", já que no dia em que se tornar tão burguesa como a de outros países europeus, então venha a república que terá outras vantagens.

Tudo isto a propósito da final da Taça no Jamor, claro, e a pergunta que deixo é a seguinte: continuará a fazer sentido manter a tradição disputando a final num estádio sem condições de segurança, maus acessos e fraca comodidade, má visibilidade para os espectadores (a pouca inclinação das bancadas, a pista de atletismo e aquele largo corredor de acesso tornam o jogo num espectáculo que se vê "lá ao longe"), só porque alguns espectadores aproveitam para um "picnic" com o velho garrafão substituído pelo moderno "bag in box"? Isto quando existem uma mão cheia de estádio modernos, sendo que num deles até se irá disputar em 2014 a final da mais importante competição europeia de clubes? O Jamor ainda acrescenta valor à prova? Por quanto tempo e até quando? Faz sentido remodelá-lo, com os custos inerentes, para manter essa tradição? (o "court" central de Wimbledon foi remodelado, por exemplo).  Durante muito tempo, antes da construção dos estádios para o Euro 2004, fui um defensor da manutenção da final da Taça de Portugal no Jamor na medida em que as alternativas não eram muito melhores. Mas antes que a FPF tenha de tomar uma decisão pressionada pelas circunstâncias (Inglaterra remodelou os seus estádios na sequência do desastre de Hillsborough), seria bom que gastasse algum do seu tempo a pensar um pouco sobre o assunto.

domingo, maio 20, 2012

London Public Houses (9)





The Argyll Arms
18 Argyll Street, Soho, WestminsterLondon W1F 7TP
Tel :020 7734 6117

"This eighteenth century pub had a 'makeover' in 1895. The result is one of the most magnificently decorated pub interiors in England. What makes it so special is that it has survived at all, when so many of its contemporaries were either destroyed by wartime bombing, or brewery blunder. 

Most rare are the small cubicles that line the front bar. Lavish etched and cut glass screens in crafted hardwood frames, form cosy, discreet boxes. Their purpose was to separate the different social classes and were commonplace in the late 19th century. 

At every turn are decorative mirrors and richly carved mahogany joinery, under a heavily embossed ceiling, over-the-top by today’s standards, but the height of sophistication in its day. Fashions may change but the quality and craftsmanship are breathtaking. This makeover would have cost a small fortune. 

Pubs like this were designed to attract the discerning drinker. There was plenty of competition, Oxford Street alone had more than 20 pubs. So it is surprising how ordinary its exterior, easily missed if rushing to Oxford Street tube next door. If you are not in a hurry, take time to explore the Argyll's ample assets.

The pub and street take their name from the Duke of Argyll who had a mansion where the London Palladium now stands. Its location just off Oxford Circus mean it's busy most of the day, later morning or mid afternoon are quietest. There's a good selection of real ales and reasonably priced food."

Rock'n Roll Renegades (4/6)

Um título contra Villas-Boas

Caros jornalistas e comentadores desportivos:

Uma equipa que vira em casa um resultado negativo de 1-3 contra o Nápoles, elimina o Barça com uma vitória e um empate e, por fim, vai ganhar a final da Champions League a casa de um adversário que tinha eliminado o Real Madrid tem forçosamente de ter mérito. Enorme mérito. E, convém lembrar, André Villas-Boas não pode partilhar desse mérito, porque esta vitória na Champions League, como o já tinha sido, em certa medida, a conquista da FA Cup, foi conseguida exactamente com recurso a uma metodologia de gestão, um estilo de liderança e princípios e modelo de jogo que estão nos antípodas dos que, sem êxito, o ex-treinador do FCP tinha tentado implementar no Chelsea F. C. Se alguém, para além de Roberto Di Matteo, pode partilhar uma ínfima parte do sucesso obtido, esse alguém chama-se José Mourinho, de quem, pelo futebol praticado e comportamento dos jogadores mais carismáticos, o Chelsea actual ainda guardará alguns traços identitários,

sábado, maio 19, 2012

Rock'n Roll Renegades (3/6)

Miguel Relvas, o público e o privado

O ministro Miguel Relvas deveria demitir-se ou ser demitido a provarem-se as alegadas pressões sobre um jornalista do "Público" e sobre o próprio jornal? Enfim, que um ministro actue deste modo, com a agravante de se tratar do responsável pelo o sector em causa, constitui facto grave e inaceitável, mas também todos sabemos, desde que o país vive em democracia, que o caso não é virgem e, podendo estar a ser atraiçoado pela memória, não me lembro que qualquer dos casos anteriores tenha tido, infelizmente, quaisquer consequências depois de esgotado o ruído conjuntural. Certo que também não estamos, de um ou outro lado, a falar de virgens vestais, e se existem vários tipos de pressões e até promiscuidades, com respectivas gradações, que eu saiba nunca nenhum jornalista chegou ao ponto, felizmente, de acordar de manhã com uma cabeça de cavalo entre os lençóis. De qualquer modo, parece-me (e acho já o escrevi a propósito de um outro assunto) acto politicamente bem mais gravoso ameaçar jornais e jornalistas do que contar uma anedota de mau gosto sobre alentejanos ou fazer "corninhos" a um deputado eleito, o que me parece até bem dentro da tradição parlamentar oitocentista. Isto, claro está, já não falando de alguns acontecimentos tão ou mais graves acontecidos no parlamento madeirense; mas a quem gosta de assumir o papel de "louco da aldeia" quase todos parecem dar desconto e ficar felizes por isso.

No entanto, existe neste caso Miguel Relvas um facto novo que, a confirmar-se (repito: a confirmar-se), ultrapassa aquela linha, nem sequer assim tão ténue, que separa a civilização da barbárie, a decência da rasquice, um cavalheiro de um burgesso, a liberdade do totalitarismo, o que é do domínio público e o que diz respeito ao privado e que não pode, sob nenhum pretexto, ser ultrapassada, muito menos por um governante: ameaçar um cidadão com a devassa da sua vida privada. Caso se prove Miguel Relvas ultrapassou esse limite, ameaçando relatar factos da vida privada da jornalista Maria José Oliveira, deverá nesse preciso momento abandonar o governo bem como quaisquer outros cargos políticos públicos. Caso contrário, já não é apenas a decência (uma questão moral) governamental que está em causa, mas a natureza democrática de um governo que se permite acolher entre os seus quem tais actos pratica.

sexta-feira, maio 18, 2012

The Crash of 1929 & The Great Depression (2/6)

Dietrich Fischer-Dieskau (28 Maio 1925 – 18 Maio 2012)

W. A. Mozart -  "Finch'han dal vino"
Da ópera Dom Giovanni (gravação de 1961)

W. A. Mozart: Die Zauberflöte - Papageno 

Orquestra Filarmónica de Berlim dirigida por Karl Böhm - gravação de 1964

A RTP e Duarte Lima

O cidadão Domingos Duarte Lima - pessoa pela qual não nutro qualquer simpatia pessoal ou política, antes pelo contrário - viu alterada a medida de coacção a que estava sujeito no âmbito de processo-crime pelo qual foi constituído arguido em Portugal, tendo deixado o estatuto de preso preventivo e passado à condição de detenção domiciliária com utilização de pulseira electrónica. Diga-se que embora melhore significativamente as suas condições de vida, não deixa de ser uma situação difícil e humilhante (o que não implica não seja a adequada às circunstâncias), competindo-me lembrar que Duarte Lima, apesar das gravíssimas acusações que sobre ele recaem em Portugal e no Brasil, continua a ser tão inocente como o mais inocente dos cidadãos. 

Esta alteração seria com certeza merecedora de notícia de destaque nas televisões, com o enumerar das razões que levaram a esta decisão judicial, respectiva explicação por um jurista conhecedor e, claro, um breve resumo da carreira política de Duarte Lima e das razões que o levaram à prisão em Portugal e à acusação de homicídio no Brasil. E ponto final...

Em vez disso vimos a RTP, Serviço Público de Televisão, numa semana que deixa a UE e a Zona Euro à beira da implosão e consequentemente o futuro dos portugueses "feito num molho de bróculos", ocupar os primeiro dez minutos (pelo menos) do seu Telejornal da passada 4ª feira, esbanjando recursos, com directos do DCIAP, da PJ, da casa de Duarte Lima onde, claro, nada de relevante se passava que pudesse contribuir para um melhor esclarecimento dos espectadores. Que as privadas TVI e SIC o façam, problema deles. Já a RTP é paga por todos nós, e assim sendo temos como dever de cidadãos exigir-lhe responsabilidades não só pelo modo como gasta o nosso dinheiro, mas também sobre a sua orientação editorial. E neste último caso, não me parece seja do âmbito do Serviço Público contribuir para a gratuita "caça ao político" ou para o já de si desbragado populismo à solta. Políticos por políticos, seria bem mais útil que a RTP tentasse indagar e esclarecer, também sem populismos rasteiros, das razões que levaram à prescrição dos processos que envolvem Isaltino Morais e do racional que está na base da sua eleição no concelho onde se concentra o maior número de licenciados do país. Mas parece que o autarca de Oeiras passou de moda ou não existe interesse em remexer em tais coisas.

quinta-feira, maio 17, 2012

5 filmes 5 sobre a WW II + um extra sobre a Guerra da Coreia (5+1 - 3ª parte de 3)

"Fixed Bayonets", de Samuel Fuller (1951)
Filme completo c/ legendas em castelhano - 3ª e última parte de 3

The Crash of 1929 & The Great Depression (1/6)

Frivolidades para tempos de crise: o café


Os portugueses bebem muito café. E isto é apenas uma constatação. Mas será que gostam mesmo de café? Será que, em vez de irem ao supermercado da esquina e comprarem o Sical cinco estrelas do costume, são capazes de ir a uma boa loja de cafés, experimentarem ou fazerem eles os próprios lotes ou, como gosto de fazer, irem comprando cafés das suas várias origens, em grão, moendo mais ou menos à medida das necessidades e assim irem aprendendo a conhecer as suas diferenças? E será que preferem um bom café de balão ou "saco" feito em casa ao "expresso" indiferenciado da cafetaria do bairro? Tenho dúvidas, mas serve tudo isto para dizer a quem efectivamente gosta de um bom café e não prescinde do açucar que se deixe dessa história de açucar branco ou amarelo, mais ou menos refinado. Só existe no mundo um tipo de açucar adequado para o café, que não altera, interfere muito pouco e até realça os seus sabores e aromas, e esse é o açucar em cristais, como o da fotografia acima.


Claro que, em época de crise, me vão perguntar se tudo isto não acaba por se tornar bem mais caro... Claro que não, desde que não opte pelo Jamaica Blue Mountain ou pelo Kona (chama-se e escreve-se mesmo assim) do Hawaii (por exemplo, sugiro o Colômbia Supremo, o Arábica Maragogype da Guatemala ou o Moka Harrar etíope). E até pode ficar bem mais barato desde que abdique dos inexpressivos "expressos" bebidos regularmente na leitaria do bairro. Bebe melhor café, com maior sofisticação, no conforto de sua casa e ainda poupa dinheiro. Uma verdadeira "quadratura do círculo". 

The best of SUN rockabilly (17)

Roy Orbison & The Teen Kings - "Go, Go, Go" (aka "Down The Line") - 1956

quarta-feira, maio 16, 2012

Ex-votos (6)


A crise da UE e algumas questões geo-estratégicas fora de moda

Estou muito longe de ser um especialista em questões geo-estratégicas; por isso não deixo respostas. Mas como cidadão interessado nestas coisas da política e - permitam-me - com alguns conhecimentos da História europeia, não deixo de me questionar sobre este assunto e de me permitir levantar algumas questões desta ordem num tempo em que os economistas parecem monopolizar a política e secar tudo à sua volta. Pois aí vão, "politique d'abord" (sim, sei que o autor da frase não é "flor que se cheire", mas a expressão dá jeito):

  1. A queda do Muro de Berlim como que empurrou a centralidade europeia para leste, tornando os países do sul/sudoeste mais periféricos. De que modo, em termos também ele geo-estratégicos mas também económicos, pensam esses países, entre eles Portugal e Espanha, responder a esse desafio? Uma resposta, no caso de Portugal e Espanha, privilegiando o "eixo atlântico", numa aproximação à América do Sul e África Ocidental, poderia minimizar o problema ou arriscar-se-ia a aprofundar essa condição periférica? E o fortalecimento do chamado "Bloco Ibérico", caminhando no sentido de uma federalização da Península? Assistiremos a uma certa centrifugação europeia com Itália e França sugestionadas pelo Magreb?
  2. Se a Grécia sair do Euro e da UE, enfraquecendo a sua posição face ao tradicional inimigo turco, qual a sua futura relação com a Rússia, em certa medida derrotada na guerra civil grega de 1946/49? E poderíamos assistir à constituição de um bloco balcânico Grécia/Sérvia sob a influência russa? E o frágil equilíbrio de Chipre no meio de tudo isto?
  3. Será que esta nova Alemanha reunificada a leste estará mesmo interessada na UE ou a sua prioridade não estará antes  na reedificação da sua tradicional esfera de influência, uma nova versão do Lebensraum englobando Polónia, Áustria, República Checa, Hungria, Eslováquia, Croácia e Eslovénia?
  4. E os USA, tradicionais aliados de UK e França em duas guerras contra a Alemanha, que pensarão sobre tudo isto e como irão agir? De que modo a presidência ser ocupada por democratas ou republicanos, com pensamentos estratégicos eventualmente diferentes sobre as questões internacionais e europeias,  influenciará as suas decisões neste campo?
Pois, tendo dito isto, apetece-me dizer que há muito mais vida antes e depois da economia. E era bom que quem de direito pensasse um pouco sobre este tipo de assuntos antes de se decidir a abrir a caixa da tal Pandora... 
 

5 filmes 5 sobre a WW II + um extra sobre a Guerra da Coreia (5+1 - 2ª parte de 3)


"Fixed Bayonets", de Samuel Fuller (1951)
Filme completo c/ legendas em castelhano -  parte de 3

terça-feira, maio 15, 2012

O FCP e a satelização dos clubes da 1ª Liga

Enquanto o meu clube prepara a formação de uma equipa "B" para jogar na II Liga e até, numa operação de contornos pouco e mal explicados, já comprou(!) um campo de futebol especificamente para esse efeito, o FCP continua o seu processo de satelização das equipas da I Liga. Depois de SC Braga, AA Coimbra, SC Olhanense e não me lembro se algum mais, Rio Ave FC e Paços de Ferreira, por via de Fenando Couto e Nuno Espírito Santo, são os senhores que se seguem. Seguir-se-ão, também, os habituais empréstimos de jogadores, num sentido, ou a contratação de outros cuja razão ninguém entende, em sentido inverso, neste último caso apenas tendo como objectivo dar cobertura a uma autêntica injecção de dinheiro nos clubes satelizados. 

Significa isto que o FCP se prepara para competir, na próxima época, num campeonato onde cerca de 1/3 dos participantes poderão ser clubes por si controlados, provando-se assim que o tão falado "sistema" está cada vez mais longe de se restringir apenas ao controlo da arbitragem. Perante este quadro, já não espero qualquer reacção da LPFP, FPF ou até do Governo. Muito menos da UEFA. Mas, pelo menos, gostaria de ouvir o que têm a dizer sobre este estado de coisas Luís Filipe Vieira  e a direcção do meu "glorioso", que mais uma vez se prepara para investir alguns milhões para que, como se verifica, tudo fique na mesma.

5 filmes 5 sobre a WW II + um extra sobre a Guerra da Coreia (5+1)



"Fixed Bayonets", de Samuel Fuller (1951)
Filme completo c/ legendas em castelhano - 1ª parte de 3

Um clássico de um cineasta que é sempre citado em primeiro lugar quando se fala de filmes de guerra. E uma guerra (Coreia) quase esquecida que, em minha opinião, será o conflito mais emblemático da "Guerra Fria" (apesar do Vietnam). Indispensável.

"ab origine" - esses originais (quase) desconhecidos (33)


"This Little Bird" (John D. Loudermilk) - o original de John D. Loudermilk incluído no seu segundo álbum "12 Sides of John D. Loudermilk" (1962)


A famosa e inesquecível versão de Marianne Faithfull - do seu segundo álbum "Marianne Faithfull" (Abril de 1965)

A selecção e o Euro 2012: análise SWOT

Strengths
Cristiano Ronaldo
- Alguns jogadores oriundos de grandes clubes, habituados às grandes competições e a ganhar (além de CR, Nani, Pepe, Coentrão e Meireles)
- O melhor e mais consensual treinador da selecção desde que me lembro de existir. Reúne a liderança e personalidade de Scolari e junta-lhe competência técnica
- Grupo coeso e equipa com dinâmica positiva desde a entrada de Paulo Bento
-  Futebol mais colectivo e dominando com maior equilíbrio as várias situações de jogo do que em selecções anteriores
- Meio-campo equilibrado nas funções defesa/ataque
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Weaknesses
- Uma 2ª linha de prováveis titulares  (João Pereira, Carlos Martins, Postiga) ou de prováveis 2ªs opções (Hugo Almeida, Rolando, Ricardo Costa, Quaresma, Veloso, Varela) mtº inferior à 1ª, pouco fiável e sem o “andamento” das “grandes equipas” 
- Falta de um “ponta de lança” de categoria internacional
- Ausência de Bosingwa e lesão de Dany
- Laterais baixos e pouco fiáveis a defender
- Ausência de um nº 6 de indiscutível categoria
- Ausência de hábito de ganhar grandes competições
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Opportunities
-Tradição de vitórias sobre a Holanda nas últimas fases finais
- Possibilidade de todas as equipas do grupo perderem pontos nos jogos entre si
- Selecção portuguesa não defronta nenhuma das equipas “da casa” na fase de grupos
- Menor pressão: Será perfeitamente aceitável se a equipa não se conseguir qualificar para os ¼ final
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Threats
- Alemanha mtº forte, talvez o principal candidato ao título
- Holanda parte para o Euro 2012 talvez como o principal “outsider”
- Vitória da Dinamarca no grupo de qualificação de Portugal
- A selecção portuguesa é a única do grupo sem títulos europeus ou mundiais
- Jogos disputados num país longínquo, previsívelmente sem grande apoio dos adeptos portugueses

segunda-feira, maio 14, 2012

5 filmes 5 sobre a WW II + um extra sobre a Guerra da Coreia (5)

"Sands of Iwo Jima", de Allan Dwan (1949)
Filme completo c/ transcrição áudio (inglês)
Para accionar a transcrição áudio clicar no ícone CC na barra da parte inferior do vídeo e seleccionar a opção

1ª Liga: orçamentos e classificação final

(valores em milhões de euros)
1º FC Porto: 95 -
2º SL Benfica: 50 -
3º Sporting CP: 40 -
4º SC Braga: 17 -
5º Vitória Guimarães: 9 -
6º Maritimo: 6 -
7º Nacional: 5 -
8º União de Leiria: 4.5 - 16º
9º Rio Ave: 4 - 14º
10º Gil Vicente: 3.7 -
11º Académica de Coimbra: 3.5 - 13º
12º Paços de Ferreira: 2.5 - 10º
13º SC Beira-Mar: 2 - 12º
14º CD Feirense: 2 - 15º
15º Olhanense: 1.4 -
16º Vitória Setúbal: 1.3 - 11º

Legenda: Do lado esquerdo, antecedendo o respectivo nome, o lugar dos clubes no "ranking" orçamental. Do lado direito a respectiva classificação final. A azul aqueles cuja classificação final corresponde ao respectivo lugar no "ranking" orçamental, a verde os que obtêm uma classificação superior e a encarnado inferior.

Principais conclusões:
  1. Aos sete primeiros classificados correspondem os sete maiores orçamentos, sendo que SCP e SCB, bem como CSM e VSC trocam de posições. Se nos lembrarmos dos problemas financeiros e de gestão sofridos pelo VSC durante a época e do facto do SCP estar no início de um projecto também ele não isento de sobressaltos, compreende-se sejam estas as excepções à regra que, em provas de regularidade, faz normalmente corresponder orçamentos e classificações. Mesmo assim a diferença pontual entre SCB e SCP é apenas de três pontos
  2. O 8º lugar da UDL no "ranking" orçamental e o seu último lugar na classificação nada significam face ao que é conhecido: o orçamento apresentado será completamente fantasioso e a gestão foi desastrosa.
  3. Abaixo de GVFC e AAC, ambos a variarem um e dois lugares, respectivamente, as diferenças entre orçamentos são demasiado irrelevantes para que possam sustentar qualquer tese.
  4. Conclui-se que se existisse atribuição de "handicaps" em função dos orçamentos, o SCO seria indiscutivelmente o vencedor da Liga e o único caso de significativa excepção à regra geral.

As afirmações de Pedro Passos Coelho, a política e os negócios

As já célebres afirmações de Pedro Passos Coelho sobre a oportunidade que pode significar uma situação de desemprego, algo que parece retirado da prelecção de um gestor de recursos humanos, de uma acção de formação de uma empresa de "outplacement" ou, pior, de um daqueles manuais do tipo "50 dicas para se você ficar desempregado", demonstram ainda uma outra coisa: a colonização a que têm sido sujeitas a linguagem e prática políticas, nos últimos anos, por conceitos e um "way of thinking" oriundos da área empresarial, dos negócios e da gestão, algo que não está desligado do próprio domínio crescente da política por esse mundo dos negócios. Claro que não nego a importância positiva que a experiência, metodologias e pensamentos típicos da gestão empresarial poderão ter na actividade política, antes pelo contrário: penso que elas fazem falta a muitos dos seus actuais protagonistas. Mas uma coisa é "influência", outra, bem diferente, é "colonização"; e política e negócios são áreas bem diferentes de actividade, como tal devendo adoptar lógicas de funcionamento e linguagens diferenciadas. Caso isso não aconteça, e não sendo, nem podendo ser, as empresas terreno de eleição da actividade democrática, é a própria democracia que pode começar a estar em perigo.

domingo, maio 13, 2012

Proença e a final

Nomear um árbitro português (Proença ou qualquer outro) para uma final da Champions League que opõe Bayern Munique a uma equipa até bem há pouco dirigida por um português e onde jogam, se as minhas contas estão certas, quatro portugueses (Meireles, Bosingwa, Paulo Ferreira e Hilário), para além dos "aparentados" Ramires e David Luiz, que passaram há pouco tempo pelo SLB, não me parece lá muito avisado. Parece que a memória é curta, e a UEFA já não se lembra do Ajax-Real Madrid de Dezembro do ano passado apitado por Jorge Sousa. Ou então, como a final é em Munique, está a ver se equilibra um pouco as coisas... Bom, espero que se saiam ambos bem, Proença e a UEFA.

Rock'n Roll Renegades (2/6)

Onde se lembra a António José Seguro a sua condição de líder do PS

"Foi mau demais e eu penso que os portugueses estão todos chocados com estas declarações do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. Isto é próprio de um primeiro-ministro que está ausente da realidade e que não sente o sofrimento e o drama dos milhares de portugueses que neste momento não têm um emprego", condenou.
Ora vamos lá ver... António José Seguro não é um analista ou comentador político. Um académico a preparar um qualquer paper ou a sua tese de mestrado. António José Seguro é o líder do principal partido da oposição, o único que tem constituído alternativa de governo aos que formam a actual coligação. Um partido europeísta, defensor de uma economia baseada na livre iniciativa e no Estado Social, progressivo e cosmopolita nas questões de costumes. Portanto, não pode Seguro limitar-se a exprimir uma opinião, sobre este ou qualquer assunto da acção governativa, num sentido positivo ou negativo, sem que isso se deva reflectir no comportamento político do seu partido e no seu relacionamento com o governo. E isto será ainda mais verdadeiro numa situação de enorme gravidade, nacional e internacional, como é a que actualmente vivemos, em que uma grande maioria dos portugueses não gostará de se sentir "entalada" entre uma política governamental que parece deixar pouca esperança de poder vir a ser bem sucedida e o radicalismo anti-sistema e desafiador da democracia liberal de PCP, BE e alguns populismos que por aí de vez em quando teimam em espreitar. É este o recado, simples, que me permito deixar ao actual líder do PS: que ocupe de vez o espaço político que lhe compete.

sexta-feira, maio 11, 2012

O "homem novo" de Pedro Passos Coelho

As afirmações de hoje do primeiro-ministro sobre o desemprego vão muito para além da "arrogância" ou da "insensibilidade" que têm sido assinaladas. Embora inaceitáveis, tais "arrogância" e "insensibilidade" acabam por ser "apenas" qualificações de ordem moral, quando o que está em causa é político e bem mais grave e profundo: uma visão ideológica do mundo e dos homens que, embora de sinal contrário, radica num conceito que não é assim tão diferente do das ditaduras comunistas quando resolviam enviar dissidentes, burgueses e opositores para reeducação pelo trabalho, junto do povo, na tentativa para moldar o "homem novo". Para Pedro Passos Coelho o desemprego constituiria uma oportunidade/penalização semelhante, digamos que uma reeducação pela ausência de trabalho numa sociedade em que o "executivo" despedido retomaria mais tarde a sua vida "reeducado", fosse a criar o porco ibérico no Alentejo ou frutos silvestres em Sintra. Tal como a operária têxtil desempregada facilmente deixaria o Vale do Ave e iniciaria o seu próprio negócio de limpezas domésticas ou arranjos de roupa em Lisboa, enquanto o ex-empregado de hotelaria algarvio conseguiria arranjar ocupação semelhante no Douro, em Benidorm ou na Côte d'Azur - caso ambos se decidissem a deixar "a sua zona de conforto", claro.

Problema ainda maior é que esta ideia do e para o país não se restringe ao mercado de trabalho e ao emprego, mas, totalitária, ela impregna toda a actividade governativa. E, claro, como acontece em todos os casos em que o radicalismo ideológico assume o comando e a realidade tarda em provar a justeza das ideias, nada como tentar ajustar essa realidade pela violência. Neste caso, a violência da pobreza e da exclusão.