O relacionamento entre o Presidente da República e o secretário-geral do PS está transformado numa barganha política de activos com pouco valor. Para Cavaco Silva, pondo, como de costume, à frente de tudo os seus exclusivos interesses políticos, tentando, como sempre, passar incólume por entre os pingos da maior borrasca da democracia portuguesa, o bom relacionamento com António José Seguro, a quem não reconhecerá estatura e estatuto para lhe fazerem sombra, significa a possibilidade de fazer passar aos portugueses a imagem de que não está demasiado comprometido com um governo cuja estratégia política o actual Presidente da República sabe penaliza os portugueses e de cujo sucesso seriamente duvida. Claro que Cavaco Silva, como é habitual, não deixará de aplicar a Seguro a sua habitual estratégia "chewing-gum": mastiga enquanto tem gosto para deitar fora quando começar a amargar.
Quanto ao secretário-geral do PS (que parece ir a Belém como quem vai ao psiquiatra), não querendo acreditar tenha apenas como horizonte marcar lugar num qualquer eventual futuro governo de unidade "pró-europeia" (ou lá o que quer que seja), condenando desse modo o partido à irrelevância política e deixando, como na Grécia, a contestação em exclusivo ao populismo (em Portugal parece estarmos livres da extrema-direita, pelo menos para já) e aos partidos da esquerda radical, talvez pretenda apenas ganhar alguns galões de respeitabilidade, ultrapassar algumas das suas inseguranças e influenciar a governação por via presidencial, servindo-lhe tais coisas para aligeirar a contestação interna de Assis e Costa e subir um pouco nas sondagens e na consideração dos portugueses. No fundo, Seguro gostaria de ser o Hollande português, mas sobra-lhe a "troika" e falta-lhe a França.
Digamos que tudo isto é muito pouco; demasiado pouco para o que o país precisa.
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