É um facto incontroverso que o SLB tem investido fortemente nos anos finais da última década e nos primeiros anos da actual na sua equipa de futebol profissional. Esse investimento tem sido realizado essencialmente com recurso ao endividamento bancário, em conjuntura favorável de dinheiro disponível a preços baixos, sendo que o modelo de negócio baseado na compra de jogadores, sua valorização e posterior venda, realizando assim receitas extraordinárias, tem evitado o recurso sistemático ao crédito para cobrir os sucessivos "déficits" de exploração, libertando assim mais recursos para o investimento. Em termos gerais, tem sido esta a estratégia seguida, tendo como objectivo essencial, em termos de resultados desportivos, retirar ao FCP a hegemonia conseguida nos últimos trinta anos no futebol português. No fundo, quando Luís Filipe Vieira falava, não em uma, mas num ciclo de vitórias, era a isto que se referia. Uma vez alcançada essa hegemonia e criada uma dinâmica de vitória, com reflexos a vários níveis do futebol português, seria então possível reduzir esse investimento sem grande ou apenas com um pequeno prejuízo dos resultados desportivos, sendo óbvio que as receitas obtidas com a participação sistemática na Champions League e com a renegociação em forte alta dos direitos televisivos, para as épocas de 2013/2014 e subsequentes, contribuiriam para que o desinvestimento não atingisse valores que penalizassem demasiado os resultados desportivos. Vieira poderia assim deixar a presidência e "designar" o seu sucessor, inscrevendo o seu nome na galeria dos mais notáveis presidentes do clube. Basicamente, em termos muito gerais, é esta a estratégia, e não se pode dizer esteja errada ou tivesse sido mal concebida.
Mas acontece que... Acontece que algumas coisas (nem todas, note-se) que poderiam correr mal, correram mesmo mal. A saber:
- Em primeiro lugar, fruto em grande parte de enormes erros próprios, a equipa não conseguiu ser campeã mais do que uma época, não conseguindo assim questionar a hegemonia portista a todos os níveis.
- O FCP respondeu ao forte investimento do SLB... investindo, e o seu orçamento é hoje bem superior ao do SLB. Sustentável ou não, veremos. Problema deles.
- Se na presente época as receitas da Champions League atingiram valores superiores ao previsto, na época passada, com resultados desportivos desastrosos, estiveram a um nível bastante inferior ao esperado.
- A negociação dos direitos televisivos parece ter entrado num impasse e um pesado manto de silêncio parece agora cobri-la. A crise económica e um mercado recessivo também não ajudarão a que se alcancem os valores a que o clube, justamente, aspiraria.
- Por último, a Banca... Acabou-se o dinheiro fácil (agora, nem fácil nem difícil) e barato, o que terá sérias consequências no investimento, actual e futuro, e, muito provavelmente, na amortização da dívida (juros e prazos).
Sendo assim claro que Luís Filipe Vieira não vai querer abandonar o barco nestas circunstâncias, resta agora saber como vai o clube enfrentar esta nova conjuntura, também ele desincentivadora do surgimento de uma oposição credível. Uma coisa é certa: o clube vai ter que realizar maiores receitas extraordinárias e investir menos, o que significa que, para se conseguirem alcançar resultados desportivos significativos, será necessário rigor acrescido numa área de gestão (a desportiva) onde Vieira nunca se mostrou muito à vontade. É exactamente este o desafio, o derradeiro desafio, para si próprio e para o clube.
Sem comentários:
Enviar um comentário