terça-feira, maio 22, 2012

O SLB, a crise e a estratégia de Vieira

É um facto incontroverso que o SLB tem investido fortemente nos anos finais da última década e nos primeiros anos da actual na sua equipa de futebol profissional. Esse investimento tem sido realizado essencialmente com recurso ao endividamento bancário, em conjuntura favorável de dinheiro disponível a preços baixos, sendo que o modelo de negócio baseado na compra de jogadores, sua valorização e posterior venda, realizando assim receitas extraordinárias, tem evitado o recurso sistemático ao crédito para cobrir os sucessivos "déficits" de exploração, libertando assim mais recursos para o investimento. Em termos gerais, tem sido esta a estratégia seguida, tendo como objectivo essencial, em termos de resultados desportivos, retirar ao FCP a hegemonia conseguida nos últimos trinta anos no futebol português. No fundo, quando Luís Filipe Vieira falava, não em uma, mas num ciclo de vitórias, era a isto que se referia. Uma vez alcançada essa hegemonia e criada uma dinâmica de vitória, com reflexos a vários níveis do futebol português, seria então possível reduzir esse investimento sem grande ou apenas com um pequeno prejuízo dos resultados desportivos, sendo óbvio que as receitas obtidas com a participação sistemática na Champions League e com a renegociação em forte alta dos direitos televisivos, para as épocas de 2013/2014 e subsequentes, contribuiriam para que o desinvestimento não atingisse valores que penalizassem demasiado os resultados desportivos. Vieira poderia assim deixar a presidência e "designar" o seu sucessor, inscrevendo o seu nome na galeria dos mais notáveis presidentes do clube. Basicamente, em termos muito gerais, é esta a estratégia, e não se pode dizer esteja errada ou tivesse sido mal concebida.

Mas acontece que... Acontece que algumas coisas (nem todas, note-se) que poderiam correr mal, correram mesmo mal.  A saber:
  1. Em primeiro lugar, fruto em grande parte de enormes erros próprios, a equipa não conseguiu ser campeã mais do que uma época, não conseguindo assim questionar a hegemonia portista a todos os níveis.
  2. O FCP respondeu ao forte investimento do SLB... investindo, e o seu orçamento é hoje bem superior ao do SLB. Sustentável ou não, veremos. Problema deles.
  3. Se na presente época as receitas da Champions League atingiram valores superiores ao previsto, na época passada, com resultados desportivos desastrosos, estiveram a um nível bastante inferior ao esperado.
  4. A negociação dos direitos televisivos parece ter entrado num impasse e um pesado manto de silêncio parece agora cobri-la. A crise económica e um mercado recessivo também não ajudarão a que se alcancem os valores a que o clube, justamente, aspiraria.
  5. Por último, a Banca... Acabou-se o dinheiro fácil (agora, nem fácil nem difícil) e barato, o que terá sérias consequências no investimento, actual e futuro, e, muito provavelmente, na amortização da dívida (juros e prazos).
Sendo assim claro que Luís Filipe Vieira não vai querer abandonar o barco nestas circunstâncias, resta agora saber como vai o clube enfrentar esta nova conjuntura, também ele desincentivadora do surgimento de uma oposição credível. Uma coisa é certa: o clube vai ter que realizar maiores receitas extraordinárias e investir menos, o que significa que, para se conseguirem alcançar resultados desportivos significativos, será necessário rigor acrescido numa área de gestão (a desportiva) onde Vieira nunca se mostrou muito à vontade. É exactamente este o desafio, o derradeiro desafio, para si próprio e para o clube.

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