O jornalismo português, e até mesmo o "económico", descobriu agora que o "Pingo Doce" vai repercutir, total ou parcialmente, em alguns dos seus fornecedores os custos da sua promoção do 1º de Maio. Acordaram tarde, pois desde sempre tal acontece em todas as promoções da "grande distribuição", quer se tratem de localizações especiais nas lojas, descontos nos preços, inserção em folhetos, acções de promotoras ou menções em campanhas publicitárias (e por aí fora). Aliás, até já o tinha afirmado neste "blog" em comentário de resposta a algumas questões pertinentes levantadas por um leitor. No entanto, esquece-se a comunicação social de acrescentar que os próprios fornecedores também beneficiam com tais promoções, por via do acréscimo de vendas assim gerado. Compete-lhes fazer contas (e fazem-no) para verificarem se o acréscimo de vendas obtido compensa ou não o investimento que realizam ao participarem nessas acções. Claro que o que aqui digo não obsta a que não exista um desequilíbrio evidente entre a "grande distribuição" e os fornecedores, por via da situação oligopolista do lado da oferta, deixando aos fornecedores uma reduzida margem de manobra. E também, como por aqui já tenho repetido, é esse o grande problema, e não os tais "dumping", "margens de lucro escandalosas" e outros disparates que se tornaram comuns nos últimos dias e aos quais nem a impreparada ministra Assunção Cristas escapou.
Já agora... Durante todo este processo os sindicatos tiveram um comportamento patético, começando com os apelos a uma greve e um boicote que sabiam nunca seriam cumpridos e acabando agora numa queixa à Autoridade para as Condições de Trabalho por "discriminação". Ainda não devem ter percebido que este é o modo mais fácil e directo para descredibilizarem e conduzirem ao isolamento o movimento sindical, num momento em que o fortalecimento de um sindicalismo reformista seria desejável.
4 comentários:
Caro JC
Quando a cabeça não tem juízo os fornecedores/produtores é que pagam.
Mas alguém acredita em milagres ?
O negócio da grande distribuição, nomeadamente a do sector alimentar (como já referiu em post anterior) é financeiro. Ponto. A venda das batatas, cebolas, whiskies... são "fait-divers".
Basta consultar um relatório de contas da JM, por exemplo.
Cumprimentos
Enfim, não é apenas financeiro nem a venda dos produtos é "fait divers". Mas já que fala do whisky, foi interessante verificar que, tal como o vinho, foi dos 1ºs produtos a desaparecer das prateleiras, não sendo propriamente bens de 1ª necessidade e ao alcance da bolsa dos pobres. O que se passou é que mtºs dos que aproveitaram a promoção eram pequenos e médios retalhistas (pastelarias, cafés, restaurantes, mercearias) que assim compraram mais barato. Nada tenho contra, até pq podem fazer repercutir esses preços + baixos no consumidor ou ter margens um pouco maiores que permitam a sobrevivência do negócio. Mas não vi quase ninguém falar do assunto.
Cumprimentos
No fundo o que escreve, e subscrevo, implica que na prática a grande distribuição "arrumou" com o pequeno comércio.
Não arrumou, mas provocou uma profunda reestruturação do sector.
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