Mais importante, muito mais importante do que o caso Freeport, a tão propalada “arrogância” de José Sócrates, os projectos que assinou, a sua licenciatura, o tio, o primo, a mãe, a sogra, o canário, o periquito, o cão e tantas cartas anónimas quanto as que Cristiano Ronaldo receberá por dia de admiradoras do seu dinheiro - assuntos frequentemente roçando a baixa-política, o populismo mais rasteiro - é saber em que se baseou o governo – em que análises, estudos e credibilidade dos mesmos - para conceder um financiamento de 100 milhões de euros a uma empresa (Quimonda) que um mês mais tarde declara falência e que, provavelmente, se verá forçada ao encerramento a muito curto prazo. É que não é só a Quimonda que está aqui em causa, mas de um modo mais geral o que este caso questiona, é a seriedade e eficácia (ou eventual ausência de ambas) com que o Estado utiliza o dinheiro dos contribuintes na louvável tentativa de minimizar os efeitos da crise.
É que não pondo em causa modelo e metodologia - muito menos a importância estratégica da Quimonda - talvez não fosse pedir demasiado ao ministro Manuel Pinho que o seu ministério adoptasse de uma maior profundidade e rigor de análise, em cada caso, de modo a possibilitar uma melhor e bem mais criteriosa escolha das soluções a encontrar. Nós, os donos do dinheiro, ficaríamos bem gratos.
Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
sexta-feira, janeiro 30, 2009
De como a Quimonda é bem mais importante do que toda a família de José Sócrates
História(s) da Música Popular (115)
Mas o que é um facto é que o mesmo aconteceu com o talentoso Howard Tate (1939), que gravou para etiquetas tão acima de qualquer suspeita (em termos de qualidade, entenda-se) como a Verve e a Atlantic, cujo maior sucesso aconteceu via Janis Joplin quando esta se lembrou de gravar um seu original também escrito por Ragovoy, “Get It While You Can”.
Mas é destas pequenas coisas, “enganos de alma”, que também se faz a vida. Injusta? Mas alguém duvida da justiça que fez triunfar Janis Joplin? E, além de tudo o mais, que graça teria a vida se, como nas histórias de cavalaria, os bons triunfassem sempre? De que se ocupariam então os “lutadores de causas perdidas”?
quinta-feira, janeiro 29, 2009
Duas pequenas notas sobre a "direita" política
- Tal é o afã do 31 da Armada na tentativa de incriminar o primeiro-ministro no caso Freeport que, vindo de onde vem, até alguém como eu, que me permito ter dúvidas, fica imediatamente convencido da tese socrática da cabala logo ao ler as primeiras linhas de qualquer um dos posts. Um mau serviço prestado à direita por um blog que dela se reclama. A tragédia é que normalmente é assim!
- Será que José Pacheco Pereira, um homem inteligente e de grande cultura, ainda consegue não se envergonhar pelo seu comportamento no "índice do situacionismo"? Ou será que, estando já na casa dos cinquenta e acho que muitos, estará a sofrer de alguma regressão e a voltar, fora de época, ao Pacheco Pereira (m-l)?
A política do carácter
Note-se que, ao fazer esta afirmação, não estou de modo algum a fazer nenhum juízo valorativo ou sequer a manifestar o meu acordo ou desacordo com tais práticas e respectivas consequências. Mas apenas a constatar um facto: o surgimento em força de uma nova era na política portuguesa em que as questões de carácter passam a ocupar um lugar relevante no combate político Por enquanto, as questões morais parecem permanecer felizmente fora deste modelo, não podendo, neste particular aspecto, evitar pronunciar-me soltando um muito sonoro e aliviado “ainda bem”!
Onde a propósito do caso Freeport se recordam Timor, Paulo Pedroso e o casal McCann
Há alguns anos (tudo parece ter-se passado já há muito), o país parou por uma antiga colónia, sem um povo, língua ou cultura próprias excepto aquelas que o colonizador católico tinha legado a uma pequena elite, a que não faltaram algumas vagas noções políticas aprendidas nas universidades europeias, tudo muito de acordo com o “ar do tempo”. Os "media" construíram rapidamente heróis - como só nas histórias de cavalaria existem - e esse jovem quase-país rapidamente conseguiu atingir os seus objectivos, aqueles a que se propunha. Não valerá muito a pena falar sobre o destino de tais heróis e de tal povo e jovem país, não muito diferente de muitos outros jovens países que nós, europeus, contribuímos para criar e sustentamos. Quaisquer notícias que de lá cheguem – e por vezes até conseguem ir chegando algumas – pouco mais merecem do que um encolher de ombros resignado e, dos "media", um lugar de pequeno destaque, que só não o será menor por razões de memória e para provarmos a nós próprios quanto as emoções combinam mal com a política.
Uns anos mais tarde, um juiz com aversão a “dress codes” apropriados à função, qual ar de boxeur saído do ginásio, Belarmino aprés la lettre, entrou com ar triunfante naquela que deveria ser – e eu acredito que seja – a casa da democracia e levou consigo um deputado acusado de um crime hediondo, daqueles que a actual civilização mais veementemente condena. Preso e enxovalhado por muitos “media”, pelo “povo da SIC”, foi uns meses mais tarde libertado sem sequer lhe ter sido deduzida qualquer acusação, exigindo indemnização a quem foi mandatário da sua prisão e enxovalho. Sendo meu vizinho, por vezes cruzo-me com ele e família, sempre pensando que pensará ele de mim e de todos os outros, nossos concidadãos. Quais e quantos destes, com que na rua se cruza, o terão invectivado, deverá interrogar-se?
Em Maio de 2007 um frémito de comoção quase fez parar o país por uma criança. Por uns jovens pais despedaçados. Todos corremos a proteger melhor os nossos e a duvidar do vizinho. Semanas mais tarde, aqueles por quem muitos de nós chorámos passaram a ser considerados suspeitos; assobiados na rua; julgados pelo “povo da SIC”, em directo e ao vivo. As “provas” apresentadas nos “media”; detalhes, considerados escabrosos, da sua vida sexual e privada sugeridos mediaticamente, em público; ambos apresentados ao mundo como era uso e costume nas freak parades de antanho. Ficou uma investigação incompetente, um nojo de xenofobia, uma criança por encontrar e criminosos por julgar. Uma família para sempre sob suspeita. Um inspector que, tal como o “macaco de rabo cortado”, de polícia se fez escritor, de escritor se fez arguido, de arguido se quis fazer político só não se sabendo se, seguindo os passos do seu inspirador, ta-ran-tan-tan se vai embora para Angola (onde estes pormenores por certo pouca relevância terão, acrescento).
Perguntarão... “mas que tem isto a ver com José Sócrates e com o caso Freeport"? Apenas um pequeno aviso, um avivar de memórias, caso seja necessário.
quarta-feira, janeiro 28, 2009
sexta-feira, janeiro 23, 2009
O "Gato Maltês"
Freeport e a utopia (com minúscula e não estou a confundir Moore com Mann)
O primeiro-ministro poderá ou não ter responsabilidades criminais no caso Freeport. Esperemos a justiça deixe tudo bem claro, do que devo dizer, desde já, me permito duvidar. Já politicamente, caberá aos portugueses julgar. Mas o que, para já, este caso nos ensina é que é eticamente reprovável, e deveria estar vedado a quem exerce determinados cargos públicos, efectuar, salvo condições muito especiais e devidamente autorizadas, determinado tipo de negócios com empresas com cujos sócios, accionistas e gestores existissem laços de natureza familiar.
Complicado? Não muito. Sei que não será bem a mesma coisa, mas muitos grupos empresariais não permitem que familiares trabalhem na mesma organização, que executivos tenham familiares em lugares semelhantes em organizações concorrentes ou que se negoceie, sem uma justificação sólida e devidamente fundamentada e autorizada, com empresas detidas ou geridas por familiares.
Utópico? Talvez... mas não seria de espantar que neste momento José Sócrates preferisse esta utopia à realidade. Mesmo que esteja tão inocente como um anjo.
História(s) da Música Popular (114)
Bom, mas como estamos a falar de Ragovoy e todos mais ou menos conhecem Joplin, ficam por aqui os originais respectivos, de Erma e Mimms. É que não estou aqui para dizer ou fazer ouvir o que todos sabem ou ouviram!!!
Beat (1)
Dove sta amore
Where lies love
Dove sta amore
Here lies love
The ring dove love
In lyrical delight
Hear love's hillsong
Love's true willsong
Love's low plainsong
Too sweet painsong
In passages of night
Dove sta amore
Here lies love
The ring dove love
Dove sta amore
Here lies love
"Dove Sta Amore" - a poem by Lawrence Ferlinghetti
quinta-feira, janeiro 22, 2009
A indústria do futebol e a "vida dos pobrezinhos"
Convenhamos que estranho, estranho, é como a indústria ainda resiste. Como em tempos disse Herman José: "É como a vida dos pobrezinhos; um mistério"!!!
Turismo...
Fora isso, agências de viagens são algo que usava na era pré-internet para marcar as viagens de avião (nas companhias e voos que eu queria) e os hóteis que previamente já tinha decidido me acolheriam. Quando muito, neste caso – o dos hóteis -, permitia-lhes algumas sugestões, suficientemente justificadas, pois claro, não fosse isso dar lugar a decepção sem apelo e, tal como me aconteceu um dia em Nova York, “pega nas malas e zarpa já para outro”. Voos “charter”, isso, excepto na ocasião mencionada, era algo que pertencia à outra face da lua.
Talvez por isso, se não puxo da pistola de cada vez que oiço ou vejo os responsáveis pelo turismo no nosso país “usarem da palavra” (Associações, Regiões) , muito pouco faltará para o efeito, já que tudo me soa demasiado a pechisbeque, “banha de cobra” em frascos de caviar, conversa de vendedor de automóveis do século passado, que era sinónimo de quem tinha “parlapié”, mas honestidade, intelecto, reputação e vontade de trabalhar duvidosos. É tudo muito gravata lisa, sapatinho “afiambrado”, gel no cabelo e consultor de imagem, “vida feita a pulso” por escada sombria e esconsa.
E depois há os subsídios, a mão sempre demasiado estendida à caridade do Estado, as campanhas de promoção com resultados ignorados pelos cidadãos que para tal contribuem. Mas, pior ainda, resta a dúvida, essa malfadada e permanente dúvida: será que esta gente, gente como esta que nos sarrazina os ouvidos com conversa de “Vossa. Excelência já apreciou bem a qualidade deste nosso produto”, é capaz de fazer algo com rigor e qualidade? Peço desculpa, mas, para mim, são cidadãos ao contrário: terão que bem demonstrar a sua “inocência”. Se não...
quarta-feira, janeiro 21, 2009
Av. de Roma
Hoje é área envelhecida. Os seus primeiros habitantes vão pelos oitenta ou já desapareceram, os netos, quase todos, partiram para outras áreas pois as casas disponíveis são ainda poucas e caras e o filhos, os que por lá ficaram, agora reformados, continuam já velhos a viver nas esplanadas como se novos fossem, não tendo descoberto o segredo sábio do envelhecimento de uma geração que inventou a juventude. Adeus glamour!
As capas de Cândido Costa Pinto (53)
terça-feira, janeiro 20, 2009
c/o Mário Crespo
O Clube de Futebol "Os Belenenses" tem razão!
O Clube de Futebol “Os Belenenses” tem toda a razão ao contestar o apuramento do Vitória de Guimarães para as meias-finais da Taça da Liga, já que estipulando o regulamento que o desempate se efectua por “goal average” este ser-lhe-á mais favorável (2:1= 2) do que ao Vitória (3:2= 1,5).
O problema está, uma vez mais, na falta de rigor da terminologia utilizada, já que “goal average”, ou quociente entre golos marcados e sofridos, é algo completamente distinto da diferença entre golos marcados e sofridos, embora a nossa imprensa desportiva, e não só, utilize os termos de forma indistinta, normalmente referindo-se à diferença de golos já que o “goal average” caiu em desuso há já bastante tempo por favorecer as equipas mais defensivas. Já por mais do que uma vez chamei aqui, neste blog, a atenção para os perigos que esta confusão poderia vir a gerar. Nem de propósito.
Portanto alegar, como o faz a LPFP, que "expressão goal-average reporta-se à diferença entre golos marcados e sofridos", o que "corresponde ao entendimento comum na linguagem corrente do futebol" é pactuar com a confusão, a falta de rigor e a irresponsabilidade. Trata-se, pois, de uma questão de facto (“goal average” é o quociente entre golos marcados e sofridos; ponto final!) e, em função disso, não pode o CFB deixar de lhe ver reconhecida razão.
A música em Kubrick (10)
O filme, um dos meu Kubrick favoritos mas na altura um pouco mal amado pela crítica, integra apenas uma versão instrumental, embora no original a marcha inclua também uma “letra” de homenagem ao 5º Regimento de Dragões, de Bayreuth. É esta versão que aqui se publica. As imagens, essas, serão, talvez, de "Fridericus" o filme de 1937 de Johannes Meyer.
segunda-feira, janeiro 19, 2009
Professores e "crise económica"
Se aqui há uns meses se poderia discordar ou concordar, com maior ou menor dose de razão e por aqui exprimi a minha discordância argumentando até à exaustão, com a chamada “luta dos professores”, hoje, depois das últimas revisões “em baixa” dos indicadores macro-económicos e do avolumar da crise financeira internacional, ela assume um carácter quase de afronta perante os muitos milhares trabalhadores que vão perder o emprego ou ser obrigados a trabalhar menos horas, de empresários que vão ver falir as suas empresas e de trabalhadores independentes e liberais que vão ter dificuldades em sobreviver. Se alguma vez as suas posições recolheram a concordância geral dos portugueses, o que as sondagens estão longe de demonstrar, arriscam-se agora ao isolamento ou esquecimento. Apetece-me dizer que bem o merecem!
Put the blame on her, please!
A moção de Sócrates: fumar sem inalar?
De qualquer modo, uma ou outra nota.
- Não me parece que o principal problema da educação seja “extensivo”, do número de anos do ensino obrigatório, mas sim organizativo e de conteúdo. Por isso mesmo, aumentar para 12 anos o ensino obrigatório sem consolidar algumas reformas em curso e iniciar e aprofundar outras, parece-me despropositado. Contraproducente e uma fuga para a frente que pode vir a ter maus resultados.
- Admitir o casamento homossexual sem o direito á adopção parece-me um pouco como fumar sem inalar, ou sexo sem penetração. Um pouco à Bill Clinton... No seu lado pior, entenda-se. Não me parece exista alguma conclusão científica ou sociológica que vivamente o desaconselhe, mas apenas o conservadorismo atávico da sociedade portuguesa. Digo eu, heterossexual com filhos e netos.
domingo, janeiro 18, 2009
sexta-feira, janeiro 16, 2009
Só não digo gostava de ter escrito isto porque passo a vida a dizê-lo e escrevê-lo por outras palavras
História(s) da Música Popular (113)
Irma Thomas - "Time Is On My Side" (Jerry Ragovoy)
Jerry Ragovoy (I)
Jerry Ragovoy (1935, Philadelphia PA) não será o “mais custoso”, o “número da bola”, mas é seguramente um nome quase desconhecido destas andanças da música popular e do "rock and roll". E no entanto...
E no entanto bastariam dois temas para o fazer entrar para a História, embora a sua importância seja bem maior do que isso: “Time Is On My Side”, que escreveu sob o pseudónimo de Norman Meade e foi êxito pelos Rolling Stones, e “Piece Of My Heart”, um original de Emma Franklin (sim, a irmã da outra, da Aretha) e tornado mega sucesso na interpretação de Janis Joplin com The Big Brother and the Holding Company. E não ficaremos por aqui! É também co-autor de “Pata Pata”, a “pedrada no charco” da sul-africana Miriam Makeba.
Mas, para além disso, foi também produtor, orquestrador, autor de arranjos musicais e uma das mais importantes personalidades da cena musical americana dos anos 60.
“Time Is On My Side” foi escrito inicialmente para o trombonista de jazz Kai Winding, em 1963, apenas com uma letra reduzida e só mais tarde gravado por Irma Thomas, primeiro, e pelos Rolling Stones, depois, já em 1964, com letra completada por um tal de Jimmy Norman. Com a confusão entre discografia UK e USA a baralhar sempre as contas dos Rolling Stones, penso que “Time Is On My Side” fará parte do álbum dos Stones 12x5 nos USA (de certeza, pois é uma das minhas versões em CD), com uma introdução de orgão e a assinatura Norman Meade, enquanto no CD “Hot Rocks” 1 aparece com a assinatura Ragovoy e uma introdução em guitarra (que é a da versão inglesa) e no “Got Live If You Want It” também com a assinatura Ragovoy e sem qualquer introdução! No UK acho que faz parte do seu segundo álbum, já que como não me apetece ficar com as mãos cheias de pó por ir vasculhar nos “vinis”, por aqui me fico!
Mas como este é um texto sobre Jerry Ragovoy e não sobre os Rolling Stones, deixo-me disso de introduções com orgão ou guitarra (devo dizer, prefiro esta última) e ficam aqui as duas versões menos conhecidas do tema, a de Kai Winding, com Dionne Warwick no coro, pois claro, e a de Irma Thomas.
quinta-feira, janeiro 15, 2009
"When I woke up this morning" - original blues classics (21)
Helena Matos ao nível do "Zé Manel taxista"
Gostaria fosse "linkável", mas infelizmente não é. Uma vez mais, Helena Matos assume no “Público” o lugar de porta-voz de uma extrema-direita que pensávamos já extinta: ignorante, “trauliteira” , burra, ressabiada. Ao nível de um qualquer “Zé Manel taxista”, já que isso de chauffeuse “fia mais fino” e allumeuse não pode ser quem quer. Pretender, focando o caso de Cristiano Ronaldo, com a excepção justificar o erro da regra é o mesmo que pôr o rabo a abanar o cão, a terra como centro do universo, a chuva a cair para cima. Pior, muito pior, porque neste último caso ainda nos restaria algo de surrealmente divertido, e não apenas alguma tristesse sem bonjour.
No fundo, querendo parecer o contrário, a crónica de Helena Matos - que teve o mérito de aqui há uns tempos aparecer a agitar um pouco as águas mas que se mostra incapaz de algo mais e assim se esgotou - constitui a melhor das justificações para que no ensino obrigatório, e por rejeição da patetice tornada escrita, os defensores do statu quo tenham uma boa razão para que tudo fique na mesma. É que só assim acontecendo Helena Matos poderá continuar a escrever disparates. O que obviamente agradece.
quarta-feira, janeiro 14, 2009
Ai, ai, Sr. Cardeal: como é diferente o amor em Portugal!...
A candidatura conjunta ao Mundial de 2018 e os benefícios não tangíveis
Uma hipotética candidatura vencedora de Portugal e Espanha ao Mundial de 2018 não terá qualquer impacto na rentabilização dos estádios construídos para o Euro 2004; apenas se utilizariam os estádios dos três grandes, que não precisam disso para se rentabilizarem, e, possivelmente, mais um (Algarve?), e não seria por aí se realizarem mais dois ou três jogos que ele seria rentabilizado.
Mais: sem ter números para afirmar o que digo, arrisco que o valor de um tal evento para o turismo seria – tal como o foi com a realização do Euro 2004 – relativamente residual, já que, hoje em dia, existe uma indústria de viagens a operar neste tipo de realizações que se limita a transportar as pessoas para verem os jogos, poucas sendo as que aproveitam a deslocação para outro tipo de actividade turística complementar que não seja "emborcar" umas cervejas. Mais ainda, não me parece que a muito abstracta promoção do país, tantas vezes, nestes casos, propagandeada, tire de eventos deste tipo benefícios claros e sustentáveis.
Bom, tendo dito isto penso que os benefícios de uma candidatura conjunta Portugal-Espanha estarão muito mais perto de uma questão pouco ou nada tangível do que de qualquer outra coisa mais directamente mensurável: o aprofundamento da colaboração e cooperação política e institucional entre os dois países ibéricos e o acentuar da imagem da Península como um grande mercado e espaço únicos (o que em parte já é) multifacetado nas suas várias nacionalidades em termos culturais e linguísticos. Para já, penso que apenas a Espanha o percebeu.
É exactamente por esse motivo que – e já por aqui o tenho dito – a única das grandes obras públicas previstas que efectivamente tem uma justificação política e estratégica – e que defendo - é a ligação por TGV Lisboa-Madrid, claramente aquela que se revela de mais difícil rentabilização económica. Um aviso para as vistas curtas daqueles que têm da política uma visão puramente contabilística.
terça-feira, janeiro 13, 2009
Cristiano Ronaldo e Portugal
segunda-feira, janeiro 12, 2009
Armando Vara e a demagogia do "Público"
Tendo dito isto, e falando agora em termos gerais e abstractos, não me parece exista lugar para qualquer tipo de escândalo pelo facto de ele – Vara -, ou qualquer outro quadro em situação idêntica, ser promovido ao escalão máximo de vencimento a posteriori, uma vez isso sendo prática comum da sua entidade empregadora. Trata-se de um fringe benefit ao qual acedeu quando da sua admissão na categoria que exerce, fazendo parte das regalias que a “Caixa” concederá aos seus directores e administradores tal como, eventualmente, neste e/ou noutros casos, muitas empresas proporcionam carro para uso particular, seguros de vida e de saúde, taxas de juro bonificadas, casa e viagens gratuitas para si e família (se "expatriados"), signing bonus, stock options, etc, etc. Nada de especialmente estranho, portanto. E o “Público” bem o sabe, como também sabe que está a ser demagógico e que Vara é um alvo fácil.
O que pode estar em causa, isso sim, são, a montante, as qualificações de Vara para as funções que exerce e o seu eventual papel de comissário político. Tal como poderiam estar os bónus eventualmente atribuídos sem justificação pelos resultados alcançados ou os vencimentos exessivos face às práticas do mercado. Mas isso são questões gerais e abstractas e, portanto, não personificáveis. Ou, como diriam os nossos amigos(?) de além-atlântico, “serão outros quinhentos” que no seu devido tempo já foram analisados e questionados.
Novas tecnologias e arbitragem: os limites
Sou adepto da introdução das novas tecnologias na arbitragem de futebol: bolas que entram e não entram na baliza, saem ou não do terreno de jogo, faltas dentro ou fora da grande área tudo isso beneficiaria com a sua utilização. Mas atenção aos limites. Exemplo? Dos últimos lances polémicos em jogos do “meu” SLB – golo anulado a Cardozo contra o Nacional, de David Luiz contra o Sp. de Braga, penalty sobre Di Maria e alegados penalties de Katsouranis e Luisão também contra o Sp. de Braga – apenas um deles seria obrigatoriamente julgado de modo diferente com o recurso às novas tecnologias: o golo de David Luiz, obtido em fora-de-jogo claro mas de difícil julgamento a “olho nu”. Em todos os outros casos – para mim também de difícil discernimento -, com ou sem novas tecnologias, prevaleceria sempre o critério do árbitro.
Tendo isto em atenção, e independentemente da questão das novas tecnologias sempre dependente de FIFA e UEFA, penso que a Liga deveria um esforço sério de preparação dos árbitros e de uniformização de critérios, área em que me parece existir muito a melhorar.
domingo, janeiro 11, 2009
De ex-inspector incompetente e futuro autarca
Não é conhecida ou reconhecida ao ex-inspector da PJ Gonçalo Amaral qualquer experiência ou militância política relevante. Aliás, ele próprio o reconhece. Da sua experiência profissional conhecida do grande público sobra a incompetência revelada no “caso McCann” e o facto de estar a contas com a justiça pelo seu alegado comportamento desrespeitador dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, dos fundamentos do estado democrático, no “caso Joana”. Em ambos e no conteúdo do livro que publicou, revelou pouca ou nenhuma sensibilidade política e uma atitude populista mais próxima de um qualquer “Jornal do Crime” do que de um lugar de dirigente numa polícia de investigação criminal do século XXI, factos que em nada o recomendariam para ocupar um cargo político de responsabilidade num dos partidos do chamado “arco governamental”. A sua candidatura à presidência da câmara de Olhão, apresentada pelo PSD, é, pois, um péssimo exemplo que é dado ao país, estabelecendo padrões que em nada dignificam os partidos, a política e o poder autárquico - este, já de si, com uma reputação duvidosa. Uma atitude que vale muito mais do que mil palavras.
Nóbrega e Sousa e a "música ligeira"
Na chamada música ligeira, de entretenimento, o caso era diferente: existia a Emissora Nacional, estação oficial do regime, vivendo do orçamento de um Estado a quem interessava esse tipo de música mais em consonância com os valores conservadores a promover e com o mercado tradicional, ainda muito marcado pela ruralidade. E os “Serões Para Trabalhadores” da FNAT, o circuito da emigração e, depois, os espectáculos para os soldados asseguravam a sobrevivência de autores e intérpretes. Por isso mesmo, à sombra da E.N. e do seu Centro de Preparação de Artistas da Rádio (o nosso Actor’s Studio) acabaram por surgir uma plêiade de compositores e intérpretes variados, na sua grande maioria também de qualidade inferior mas que – alguns deles - iriam estar na base, fruto da estratégia habitual do PCP de se infiltrar nas estruturas do regime, de um certo movimento de renovação da "música ligeira" portuguesa no final da década de 60, centrado nos “Festivais TV da Canção” e num certo movimento de renovação da “Revista à Portuguesa”, talvez o seu último fôlego.
Convém, no entanto, assinalar que já antes desse movimento de renovação ter tido lugar se tinha produzido algo do melhor que a "música ligeira" portuguesa, de entretenimento, nos tinha legado no pós-guerra, por razões conjunturais injustamente esquecido e remetido para o baú das velharias imprestáveis do chamado “nacional-cançonetismo”, já que estava “fora” e “contra a corrente” do que “estava a dar”: o Ié-Ié, o nascimento de novas formas de música popular – com base do fado de Coimbra - e o tal “movimento de renovação da música ligeira”. Estou a referir-me a Nóbrega e Sousa – com uma carreira longa e muito irregular - que, em parceria com Jerónimo Bragança, foi autor de dois dos melhores temas que a música ligeira portuguesa alguma vez nos legou: “Vocês Sabem Lá”, gravado por Maria de Fátima Bravo, e “Sol de Inverno”, apresentado por Simone de Oliveira no Festival RTP da Canção de 1965.
sábado, janeiro 10, 2009
Pedro Adão e Silva ou a importância de se chamar Pedro
sexta-feira, janeiro 09, 2009
A Guerra Aqui (Mesmo) Ao Lado (38)
The Falange was an extreme nationalist movement formed in Madrid in October 1933 by José Antonio Primo de Rivera. Shortly after its formation, the Falange merged with the Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalist (JONS) and expanded its name to Falange Española de las JONS. In 1934, the new Falange laid out its main principles in a twenty-seven point program that stressed Spanish unity, strong government, an incorporated state national syndical system, nationalization of banks and credit, military strength, traditionalism, and imperial expansion. In opposition to the socialist or Marxist revolutions, the Falange declared its support for the "national revolution" and, initially, identified itself as a fascist movement. As the term fascism became increasingly associated with foreign movements, the Falange distanced itself from the label in order to further its nationalist agenda.
When the Popular Front, a political coalition of socialists, communists and republicans, won the February 1936 elections, the Falange had only 10,000 members. The organization would grow significantly during the war. At the moment of the initial uprisings of Franco and other generals throughout Spain, Falange leaders pledged their support for the Nationalist insurgents. Between 1937-1939, over 250,000 volunteers served in Falange military units with many serving in Falange civilian units in the rearguard. In April 1937, Franco seized control of the organization, merged it with the Carlists, and renamed it Falange Española Traditionalista (FET) or the FET de las JONS (as listed on the poster). Consequently, the FET was elevated to the status of official state party.
It is clear that the FET de las JONS produced this poster as evidenced by the yoke and arrows - a common symbol of the organization."
Da música popular portuguesa
Tal como os pioneiros do "rock and roll" e um tal Sam Philips (que deveria ter direito a figurar entre os vultos da cultura do século XX) fizeram, amalgamando a música negra dos "blues" e "gospel" com as formas musicais dos "hillbillies" do midwest e ilustrando-a com “letras” que evidenciavam os compromissos culturais e a forma de vida da nova geração, entre os quais se contava um novo modo de exprimir e viver a sexualidade que já estava presente nos "blues" ("rock and roll" não é mais do que um eufemismo para designar uma relação sexual), José Afonso pegou na única forma de música popular urbana conhecida (o fado, na sua mais intelectualizada versão coimbrã), juntou-lhe o melhor da música rural presente nas recolhas de Michel Giacometti e algo da influência recolhida durante o seu “exílio” moçambicano e, também ele e os que se lhe seguiram, com destaque para Adriano Correia de Oliveira e os poemas de Manuel Alegre, a ilustraram com “letras” que iam ao encontro dos dois principais problemas da geração então adolescente ou jovem adulta: a ditadura e a guerra.
Mais tarde, já após o 25 de Abril, é o GAC que adapta essa nova música popular àquelas que seriam vivências e preocupações de momento dessa mesma geração, ao que a esquerda radical designava por “lutas populares”. Cerca de uma década depois, apesar do inegável interesse sociológico de uma geração que, com o chamado “novo rock português, tentou criar, servindo-se de formas musicais importadas no auge do movimento "punk", uma cultura musical suburbana, na fase de maior expansão das cidades e da sua “tomada” pelos subúrbios, é António Variações, uma vez mais recorrendo a formas e mitos da música popular (Amália), que dá voz a uma nova forma de marginalidade, onde a cultura LGBT assume já um papel de destaque. Diria que, mais do que uma música entre o Minho e Nova Iorque, o seria entre a Lisboa do Bairro Alto de então e a S. Francisco do “Castro”.
Hoje, com a imigração e a desertificação lisboeta a par com o aparecimento de formas de expressão musical especificamente negras nos subúrbios, a diferença entre a cultura dos filhos daqueles portugueses brancos que povoaram esses mesmos subúrbios nos anos 60 do século XX e a da cidade esbate-se, funde-se, criando uma nova música popular, ou pelo menos o seu embrião. Os Deolinda não são mais do que expressão desta nova realidade.
Curiosamente, em toda esta história da música popular portuguesa que aqui brevemente se “resenhou”, embora de forma menos evidente no percurso do GAC que valoriza a música de expressão rural, o fado tem um papel predominante. Quem diria?
quinta-feira, janeiro 08, 2009
História(s) da Música Popular (112)
É já na sua fase descendente que o grupo decide gravar uma versão do tema de Bacharach e David “Trains And Boats And Planes” (1966), cujo título mais parece dedicado a um qualquer ministro dos transportes ou instituição semelhante. A canção tinha sido gravada nesse mesmo ano por Dionne Warwick, e a versão de Billy J Kramer chegou a #12 no UK e #47 nos USA. Aqui fica, sendo de bom tom dizer que não adoro o tema. Muito longe disso, mas um bom exemplo de um Bacharach e David muito, mas muito, "música ligeira". Mas que disse eu logo no primeiro capítulo?
Mário Nogueira e a Câmara Corporativa
Lembrando Arafat
Está à vista, hoje, qual seria a intenção. Com todos os seus muitos defeitos, Arafat, prova-se agora, seria o único político com prestígio suficiente para manter, simultaneamente, alguma unidade em conjunto com alguma moderação no movimento palestiniano. Um opositor credível do Estado Judaico, em suma. E isso – um movimento palestiniano com alguma coesão interna e suficiente moderação, dirigido por alguém com um mínimo de credibilidade - é algo que não convém ao últimos dirigentes do Estado de Israel e a quem, nos últimos oito anos, ocupou a Casa Branca.
Terrorista? Quem, entre os dirigentes israelitas, pelo menos aqueles a quem a guerra e o poder não destruiram completamente a memória, será capaz de lhe atirar a primeira pedra?
quarta-feira, janeiro 07, 2009
De como os jogos com o V. de Guimarães são essenciais para se compreender o Benfica de Quique Flores
Isso permite ao SLB explanar com mais nitidez e hipóteses de sucesso aquele que é o seu modelo de jogo actual, de tentativa de pressão alta e transições ofensivas rápidas, com avançados móveis, explorando os espaços abertos, as perdas de bola do adversário e apanhando a equipa contrária desposicionada. Se não consegue sucesso de forma directa, provoca faltas e todos sabemos como a equipa é forte nessas situações. Foi por este motivo que ganhou os dois jogos com o Vitória, em Guimarães, sem grandes dificuldades.
Quando isso não sucede, contra equipas que jogam com um bloco muito baixo e só “saem” pela certa, revelando maior segurança de bola e provocando assim menos faltas na sua zona defensiva, a equipa revela inúmeras dificuldades. Desse modo enerva-se, balanceia-se demais no ataque e desposiciona-se. Desequilibra-se, sendo apanhada com facilidade no chamado contra-pé. Sucedeu assim contra o Nacional e contra o Trofense, por exemplo (não vi o jogo contra o Metalist).
Esta é a questão fundamental - e penso Quique Flores já o entendeu -, depois de despojada de questões de menor importância (o que não quer dizer que não a tenham) relacionadas com sistemas, rendimento de jogadores, empenho, etc, etc. Portanto, é em função dela e sabendo que o Benfica terá que disputar 80 ou 90% dos seus jogos contra equipas perfilhando um modelo de jogo idêntico ao do Trofense, Leixões, etc, que deve também ser colocada a Quique a pergunta fundamental, à qual ele deverá responder convicta e justificadamente: “será que o modelo de jogo actual do Benfica pode responder com sucesso a esta questão?” “Porquê e de que modo o pode fazer?” É apenas uma questão de tempo, treino e entrosamento?; de ajuste nos recursos humanos – até? Ou é algo desajustado face á realidade e, assim, condenado ao insucesso quase certo?
Já agora duas questões mais acessórias:
- David Luiz é a melhor opção do Benfica para defesa esquerdo, principalmente quando a equipa adopta um 4X4X2 clássico.
- Miguel Vítor é o central mais rápido do plantel. Algo a ter em conta.
A Autoridade da Concorrência suspendeu a promoção da ZON, ou de como este país não cessa de nos surpreender!
A ZON, do universo Lusomundo, decidiu, numa acção promocional, oferecer bilhetes gratuitos para os cinemas do grupo, em determinadas condições, a alguns dos seus clientes. À partida, nada parece ser mais legítimo, tratando-se de uma excelente ideia promocional para levar mais gente ao cinema onde ele deve ser visto – nos cinemas – criando até um hábito de que outros distribuidores poderiam vir a beneficiar.
Mas parece que a – neste caso – zelosa Autoridade da Concorrência, tão permissiva e pouco actuante em outras ocasiões, decidiu responder aos apelos de Paulo Branco e... zás, suspendeu a promoção durante os próximos 90 dias.
Apetece-me perguntar à dita Autoridade se, para defesa da livre e sã concorrência, também se prepara para entrar nas cadeias de supermercados e suspender as tão populares promoções “leve 2 e pague 1”, ou as chamadas promoções “on-pack”, isto é, “compre uma embalagem da marca X e leve também uma da marca Y”. Ou, já agora, se amanhã o Grupo Espírito Santo, por exemplo, que tem interesses na área do turismo, resolver legitimamente oferecer viagens aos seus melhores clientes do sector financeiro, qual será a reacção da A. da C.? Vai proibir? Ou se uma cadeia de hotéis oferecer estadas gratuitas nas suas unidades aos melhores clientes de uma agência de viagens onde tenha participações? Acha que não pode ser? E será que também vai suspender os cartões de fidelização das gasolineiras ou o meu clube quando, em determinado jogo, decide oferecer entrada gratuita à acompanhante de um sócio com bilhete de época?
O que me parece é que estamos aqui perante um notório caso de abuso de poder, em que a A. da C. exorbita das suas funções de regulação e resolve tomar partido por um dos players, assim impedindo uma saudável concorrência que é exactamente o contrário do objectivo que preside à sua existência. Faço notar que contra mim falo, pois sou bem mais consumidor da Medeia Filmes do que da Lusomundo. Mas o problema, o verdadeiro problema é que este país não cessa de nos surpreender...
Era uma vez...
Na sequência inicial são esses ruídos que se tornam o elemento sonoro exclusivo durante muito tempo e nos preparam para o climax da acção (embora eles próprios, esses ruídos, constituam já acção e ajudem a definir personagens): em 6.06’ minutos de duração total da sequência eles preenchem os primeiros 3.30’ (uma eternidade em cinema), surgindo então a música - mas quase como, ela própria, também mais um ruído que rompe e irrompe da paisagem - e a palavra, esta apenas passados 4.20’ mas reduzida a um mínimo indispensável. Pouco antes do final da sequência surge novamente o ruído (o moinho de água) como elemento obsessivo, confundindo-se, contudo, com a música de Morricone, cujos acordes já ouvimos, como para nos lembrar, uma vez mais, que por enquanto o papel essencial ainda é dos ruídos, dos sons ambiente, embora a música nos deva ficar já gravada na memória, em simbiose.
No final, só a música, a música de Morricone. Quando em muitos momentos semelhantes, em outros westerns, se prefere o silêncio. E é a música, apenas a música que a personagem que pergunta só ouvirá na sua memória, que responde à interrogação que justifica todo um filme, e nos remete finalmente para os acordes já ouvidos na sequência inicial.
Ah, o filme chama-se “Once Upon A Time in The West” e é o western operático por excelência (vejam, para além do papel da música, as marcações teatrais!). Italiano, pois claro!
terça-feira, janeiro 06, 2009
SLB: de uma vez por todas e para que não restem dúvidas
Para que esse objectivo seja conseguido ele nunca deve ser sacrificado ao curto prazo, e a estratégia e os planos de acção que o servem ser preteridos ou subalternizados por questões conjunturais, laterais e inconsequentes. Antes pelo contrário: definido o objectivo, ajustada a estratégia e os planos de acção adequados, estes devem ir sofrendo pequenas modificações e aperfeiçoados, entre Rui Costa e Quique Flores, à medida das necessidades: total flexibilidade táctica desde que em consonância com a estratégia e os objectivos; inflexibilidade estratégica, o que significa, entre outras coisas, “nenhuma concessão à “rua” ou a quem internamente a representa (à bom entendeur...). Ser governado pela “rua” ou por quem a tem representado, ao mais alto nível, nos orgãos dirigentes do SLB tem sido sempre parte do problema e do seu agravamento, nunca da solução.
Para ser ainda mais claro: mudar de treinador e de plantel à primeira decepção ou em resultado da opinião da inconsequente imprensa desportiva ou dos interesses que esta conjunturalmente representa tem sido a receita que conduziu o SLB ao descalabro, depois de um dos piores presidentes da história do SLB ter dado o pontapé de saída para a decadência ao decidir trocar uma equipa de futebol por mais uns degraus de cimento no estádio; prometer “os amanhãs que cantam”, já ali ao virar da esquina, é apenas mais uma miragem. O despedimento de um treinador, talvez demasiado humilde e com ausência de carisma, mas competente como Fernando Santos, depois de uma época aceitável e só porque no último minuto o Leixões conseguiu empatar, por troca com mais um “Messias”, foi uma cedência à “rua” benfiquista que apenas prova o que aqui digo.
Neste sentido, seria talvez a altura de Rui Costa garantir que a receita não é mais do mesmo. De explicar claramente a todos os benfiquistas, de forma solene e institucional, o que está em causa. De lhes dar a escolher, e de garantir publicamente a Quique Flores o seu apoio para além dos resultados conjunturais. Rui Costa tem de entender que a sua credibilidade enquanto dirigente passa por este projecto e, assim, agir em conformidade, provando que “é vermelho e competente”. E do seu benfiquismo nunca ninguém pôde ter dúvidas.
A entrevista da SIC ao 1º ministro
Lamento dizer não me parece ter sido esse o caso da entrevista (direi melhor, o exame ao bom estilo da “Canção de Lisboa” e do “Vasquinho” do mastóideo) de José Sócrates à SIC, pelo que se me afigura quase inútil a dissecação efectuada ad nauseam na própria SIC e nos restantes meios nos minutos e no dia seguinte à entrevista. Muito para além das verdades e mentiras, explicações mais ou menos convincentes, incongruências ou consonâncias, arrogância ou humildade (as características de personalidade costumam ser os últimos argumentos a ser arremessados quando todos os outros falham), "se sabia ou não sabia o mastóideo", o que estava ali em causa era fundamentalmente uma coisa, e essa “coisa” era um assunto a ser ajustado, derimido, directamente entre o primeiro-ministro e o país e, por muito que nos custe, relativamente independente daquele tipo de questões: se José Sócrates conseguia transmitir, comunicar, aquilo que os portugueses mais esperam numa conjuntura gravíssima de crise internacional: segurança! Isto é, se e em que medida José Sócrates conseguiria convencer os cidadãos de que ele seria a pessoa indicada para conduzir com mais segurança do que qualquer outro os destinos do país numa situação de excepção, de conduzir o barco a bom porto durante a tempestade minimizando os estragos e sem ou com um número mínimo de náufragos.
Esta é a questão-chave a qual, lamento dizer, será pouco ou quase nada influenciada pela opinião pessoal de comentadores, analistas, politólogos, jornalistas, minha ou do meu amigo "Gastão", “Labrador” LOP com pedigree assegurado. Só os portugueses, perguntados através dos métodos de consulta habituais (sondagens, estudos de mercado, etc), por meio de pergunta directa e de intenções de votos expressas, lhe poderão dar uma resposta convincente e esclarecedora. O resto são com certeza exercícios mais ou menos interessantes, mais ou menos inteligentes de debate e de polémica, mas onde a opinião pessoal pouco conta a não ser na sua soma. Com curiosidade, aguardo a próxima sondagem, que gostaria incluísse pergunta específica.
segunda-feira, janeiro 05, 2009
Srs. ministro Rui Pereira, Director-Geral da PSP e Inspector Geral da Administração Interna:
PSP à rédea solta
Nota: A uma criança (pois de uma criança se trata) de 14 anos nem sequer pode ser imputada responsabilidade criminal. Foi punida com a pena de morte por decisão de um polícia incompetente.
Um "post" de mau humor. Mas como é que queriam que eu me sentisse hoje?
O que disse não tem nada de ingénuo, e admito seja fruto de um ressentimento lúcido. De facto, custa-me muito ver a condução do futebol do meu “glorioso”, dentro de campo, ser entregue a um desses reconhecidos flops, um tal Carlos Martins.
Bernardo Marques (10)
Da aceitação por Israel de um futuro estado palestiniano
Trata-se de uma falácia: na prática, Israel – ao qual ninguém de bom senso nega hoje em dia direito à existência até porque, quanto mais não seja, está lá há 60 anos e é um aliado estratégico do ocidente em terra estranha e incerta - faz tudo para evitar o nascimento de um estado palestiniano viável, assim atirando para o desespero e para os braços do fundamentalismo terrorista islâmico, de Hamas e Hezbollah, uma parcela significativa do povo palestiniano. Claro que, por sua vez, isto só contribui para adiar ou inviabilizar tal solução desejada(?). Tem sido este, na pratica, o resultado da sua política, e não me parece isso aconteça por inépcia comprovada.
Acidentes de trânsito, prevenção e GNR
domingo, janeiro 04, 2009
"Australia"
Só que Kidman tem tanto de aristocrata inglesa como eu de vaqueiro australiano (vê-la aos gritinhos de incomodada quando chega à Austrália – algo que uma aristocrata inglesa nunca faria – e a conduzir uma manada de vacas vestida com um fato de tweed como se tivesse acabado de sair do J. C. Cordings e, depois, da loja do “El Caballo” é patético), as personagens são apenas caricaturas grosseiras (os bons são de facto muito bons e os maus muito péssimos) e a cultura aborígene não passa de um traço de folclore para dar cor local e um pretexto para o pedido de desculpas final pelo passado. Os “cordelinhos”, esses, desde cedo se adivinham. Resulta uma colagem de “Gone With The Wind”, com um “Out Of Africa” sem Meryl Streep e sem o texto de Karen Blixen, passando por uns laivos do “Cowboy” de Delmer Daves e do último “Pearl Harbour” - este último, já de si, nada digno de ser visto.
Não chega bem a ser maçador, mas é perfeitamente dispensável.
sábado, janeiro 03, 2009
Futurologia presidencial
Entremos, por um breve momento, no terreno da futurologia, coisa que devo dizer, desde já, não ser algo que frequentemente pratique e de um modo particular me agrade. Mas façamos uma pequena concessão e um pequeno ensaio esporádico, já que a isso o novo ano quase nos obriga.
Uma candidatura vencedora de Manuel Alegre, apoiada pelo PS, nas próximas presidenciais, deixaria este, em certa medida, nas mãos do Bloco, das ideias de Alegre (o que não será muito diferente) e mais exposto à influência do PCP. Algo que não parece muito atractivo para José Sócrates, para o PS actual e, deixem-me acrescentar uma opinião pessoal, para a resolução dos problemas do país. Por outro lado, a apresentação pelo PS de um candidato “virtual”, para perder para Cavaco Silva, reforçará a legitimidade deste para se afirmar, na sequência do que paulatinamente tem vindo a ensaiar, como um poder alternativo ao governo e à Assembleia da República, inclusivamente podendo forçar José Sócrates, em caso de perda da maioria absoluta, a uma aliança formal ou “de facto” com um PSD, na prática, por si dirigido, perdendo o PS qualquer possibilidade de caução ou afirmação á esquerda através dos chamados “temas de sociedade” (eutanásia, casamento gay, etc.). Cruel dilema, como gosto sempre de dizer citando Vasco Santana e a sua Dona Rosa.
Tendo em atenção este cenário, não só faz portanto todo o sentido que o PS tente, desde já, enfraquecer Cavaco Silva, como suspeito que uma decisão sobre a candidatura presidencial muito dependerá dos resultados das legislativas. Caso José Sócrates repita a maioria absoluta, as hipóteses de Alegre ser o candidato do PS parecer-me-ão bem menores.
Claro que daqui a quinze dias nada disto poderá fazer sentido. Mas isso é o preço de brincar ao Oráculo de Delfos nas penosas circunstâncias actuais. Mas lá que, de momento, tem alguma lógica...
sexta-feira, janeiro 02, 2009
A música em Kubrick (9)
Pois aqui fica, como excepção integrada numa das sequências do filme o que torna a sua audição “mais acessível”. Boa sorte, caro leitor!
quinta-feira, janeiro 01, 2009
Cavaco Silva: um projecto político alternativo?
Cavaco Silva, na sua mensagem de Ano Novo e na sequência da sua comunicação ao país sobre o Estatuto dos Açores, tenta perfilar-se, uma vez mais, como uma fonte de poder institucional alternativo, com um programa político e um discurso que lhe são próprios, não resistindo a uma visão populista que desvaloriza “os políticos”, como se o não fosse – mas sempre assim se quis apresentar -, a luta partidária - vista como meras “querelas” à semelhança do que acontecia na ditadura de Salazar e Caetano - logo a democracia que, reafirmo, tem para si tem apenas um valor instrumental.
O que é curioso é que, uma vez mais, tem razão no diagnóstico-base que apresenta sobre as questões económicas e sociais - condição essencial para o seu projecto de diferenciação face aos "políticos" é ser considerado como aquele que "fala verdade" - mas também, uma vez mais, serve-se dessa mesma razão que, como não executivo, não tem que transformar em medidas concretas de governação, politicamente exequíveis, para se apresentar quase como um último recurso, um denominador comum para aqueles que “realmente” se preocupam com os “destinos da pátria”, quase nos transportando a 1925. O problema é que, ao entrar assim no jogo político, se arrisca a enfraquecer aquele que deveria ser o seu papel de árbitro e moderador, perturbando e, no limite, podendo pôr em causa o “regular funcionamento das instituições”. Ou será que, na eventual perspectiva de o PS falhar uma nova maioria absoluta, se prepara para apadrinhar um governo de Bloco Central amarrando o PS a um acordo com um PSD, na prática, embora por interposta pessoa, por si dirigido?
Como disse aqui, tudo isto nos remete para um problema-base gerado pelo regime semi-parlamentar que preside à constituição da República, e que se agrava em situações de crise e/ou quando o Presidente tem do seu papel e da democracia uma visão e leitura muito próprias. Como conclusão, José Sócrates faria bem em começar a pensar na hipótese de eleições antecipadas, deste modo tentando reforçar a sua legitimidade política na luta que se adivinha.