sábado, janeiro 03, 2009

Futurologia presidencial

Entremos, por um breve momento, no terreno da futurologia, coisa que devo dizer, desde já, não ser algo que frequentemente pratique e de um modo particular me agrade. Mas façamos uma pequena concessão e um pequeno ensaio esporádico, já que a isso o novo ano quase nos obriga.

Uma candidatura vencedora de Manuel Alegre, apoiada pelo PS, nas próximas presidenciais, deixaria este, em certa medida, nas mãos do Bloco, das ideias de Alegre (o que não será muito diferente) e mais exposto à influência do PCP. Algo que não parece muito atractivo para José Sócrates, para o PS actual e, deixem-me acrescentar uma opinião pessoal, para a resolução dos problemas do país. Por outro lado, a apresentação pelo PS de um candidato “virtual”, para perder para Cavaco Silva, reforçará a legitimidade deste para se afirmar, na sequência do que paulatinamente tem vindo a ensaiar, como um poder alternativo ao governo e à Assembleia da República, inclusivamente podendo forçar José Sócrates, em caso de perda da maioria absoluta, a uma aliança formal ou “de facto” com um PSD, na prática, por si dirigido, perdendo o PS qualquer possibilidade de caução ou afirmação á esquerda através dos chamados “temas de sociedade” (eutanásia, casamento gay, etc.). Cruel dilema, como gosto sempre de dizer citando Vasco Santana e a sua Dona Rosa.

Tendo em atenção este cenário, não só faz portanto todo o sentido que o PS tente, desde já, enfraquecer Cavaco Silva, como suspeito que uma decisão sobre a candidatura presidencial muito dependerá dos resultados das legislativas. Caso José Sócrates repita a maioria absoluta, as hipóteses de Alegre ser o candidato do PS parecer-me-ão bem menores.

Claro que daqui a quinze dias nada disto poderá fazer sentido. Mas isso é o preço de brincar ao Oráculo de Delfos nas penosas circunstâncias actuais. Mas lá que, de momento, tem alguma lógica...

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