quarta-feira, janeiro 07, 2009

A Autoridade da Concorrência suspendeu a promoção da ZON, ou de como este país não cessa de nos surpreender!

A ZON, do universo Lusomundo, decidiu, numa acção promocional, oferecer bilhetes gratuitos para os cinemas do grupo, em determinadas condições, a alguns dos seus clientes. À partida, nada parece ser mais legítimo, tratando-se de uma excelente ideia promocional para levar mais gente ao cinema onde ele deve ser visto – nos cinemas – criando até um hábito de que outros distribuidores poderiam vir a beneficiar.

Mas parece que a – neste caso – zelosa Autoridade da Concorrência, tão permissiva e pouco actuante em outras ocasiões, decidiu responder aos apelos de Paulo Branco e... zás, suspendeu a promoção durante os próximos 90 dias.

Apetece-me perguntar à dita Autoridade se, para defesa da livre e sã concorrência, também se prepara para entrar nas cadeias de supermercados e suspender as tão populares promoções “leve 2 e pague 1”, ou as chamadas promoções “on-pack”, isto é, “compre uma embalagem da marca X e leve também uma da marca Y”. Ou, já agora, se amanhã o Grupo Espírito Santo, por exemplo, que tem interesses na área do turismo, resolver legitimamente oferecer viagens aos seus melhores clientes do sector financeiro, qual será a reacção da A. da C.? Vai proibir? Ou se uma cadeia de hotéis oferecer estadas gratuitas nas suas unidades aos melhores clientes de uma agência de viagens onde tenha participações? Acha que não pode ser? E será que também vai suspender os cartões de fidelização das gasolineiras ou o meu clube quando, em determinado jogo, decide oferecer entrada gratuita à acompanhante de um sócio com bilhete de época?

O que me parece é que estamos aqui perante um notório caso de abuso de poder, em que a A. da C. exorbita das suas funções de regulação e resolve tomar partido por um dos players, assim impedindo uma saudável concorrência que é exactamente o contrário do objectivo que preside à sua existência. Faço notar que contra mim falo, pois sou bem mais consumidor da Medeia Filmes do que da Lusomundo. Mas o problema, o verdadeiro problema é que este país não cessa de nos surpreender...

2 comentários:

gin-tonic disse...

Não quero, de modo algum, dizer-lhe que não tem razão, caro JC. Mas não consigo ser imparcial nesta história. SEi que não abona mas é assim...Não morro de amores pelo Paulo Branco mas reconheço que faz mais pelo cinema de qualidade do que dez "Lusomundos" juntos. Acresce que, mera opinião pessoal, não vejo grande vantagem em o público ir ver o lixo da Lusomundo e enfrentar o cheiro a pipocas. E claro, também sou da opinião que o cinema exige a tal sala escura. Tirando algumas coisas esporádicas, que passam em outras salas, apenas na Cinemateca se pode usufruir de filmes de qualidade. Mas aqui há o problema de, na maior parte, das vezes ter que andar a reboque das manias, das birras do João Bénard da Costa.
Sim, mas o comentário já está a descambar!...

JC disse...

Caro Gin-Tonic:
Cada um deles tem o seu negócio e apenas compete à A da C zelar pelo cumprimento das leis da concorrência. Ora não me parece que a ZON oferecer bilhetes para o cinema seja algo que as ponha em causa mais do que qualquer das milhentas promoções que existem em outros mercados. Eu tb frequento mais os cinemas do PB, mas não tenho o direito de impor as minhas opções a quem quer que seja, com ou s/ pipocas, que, aliás, nada me incomodam talvez pq eu escolha filmes e horas onde isso não é mtº notório. Quem quer ver merda, vê merda: problema deles! E a Lusomundo, por vezes, até leva uns filmes aceitáveis.
De outra forma, se a distribuição de filmes - e a indústria de conteúdos em geral - está em regime de duopólio ou c/ concorrência insuficiente, com o que eu até posso concordar, então actue aí, a montante, e não a juzante impedindo uma delas de gerir eficazmente o seu negócio. Do tipo, "tens o negócio mas agora tens de gerir como eu quero!" Assim parece que voltamos ao condicionamento industrial salazarista. Com uma agravante: nesse tempo as regras do jogo (ou do não jogo) estavam definidas à partida!
Abraço