Cavaco Silva, na sua mensagem de Ano Novo e na sequência da sua comunicação ao país sobre o Estatuto dos Açores, tenta perfilar-se, uma vez mais, como uma fonte de poder institucional alternativo, com um programa político e um discurso que lhe são próprios, não resistindo a uma visão populista que desvaloriza “os políticos”, como se o não fosse – mas sempre assim se quis apresentar -, a luta partidária - vista como meras “querelas” à semelhança do que acontecia na ditadura de Salazar e Caetano - logo a democracia que, reafirmo, tem para si tem apenas um valor instrumental.
O que é curioso é que, uma vez mais, tem razão no diagnóstico-base que apresenta sobre as questões económicas e sociais - condição essencial para o seu projecto de diferenciação face aos "políticos" é ser considerado como aquele que "fala verdade" - mas também, uma vez mais, serve-se dessa mesma razão que, como não executivo, não tem que transformar em medidas concretas de governação, politicamente exequíveis, para se apresentar quase como um último recurso, um denominador comum para aqueles que “realmente” se preocupam com os “destinos da pátria”, quase nos transportando a 1925. O problema é que, ao entrar assim no jogo político, se arrisca a enfraquecer aquele que deveria ser o seu papel de árbitro e moderador, perturbando e, no limite, podendo pôr em causa o “regular funcionamento das instituições”. Ou será que, na eventual perspectiva de o PS falhar uma nova maioria absoluta, se prepara para apadrinhar um governo de Bloco Central amarrando o PS a um acordo com um PSD, na prática, embora por interposta pessoa, por si dirigido?
Como disse aqui, tudo isto nos remete para um problema-base gerado pelo regime semi-parlamentar que preside à constituição da República, e que se agrava em situações de crise e/ou quando o Presidente tem do seu papel e da democracia uma visão e leitura muito próprias. Como conclusão, José Sócrates faria bem em começar a pensar na hipótese de eleições antecipadas, deste modo tentando reforçar a sua legitimidade política na luta que se adivinha.
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