Há alguns anos (tudo parece ter-se passado já há muito), o país parou por uma antiga colónia, sem um povo, língua ou cultura próprias excepto aquelas que o colonizador católico tinha legado a uma pequena elite, a que não faltaram algumas vagas noções políticas aprendidas nas universidades europeias, tudo muito de acordo com o “ar do tempo”. Os "media" construíram rapidamente heróis - como só nas histórias de cavalaria existem - e esse jovem quase-país rapidamente conseguiu atingir os seus objectivos, aqueles a que se propunha. Não valerá muito a pena falar sobre o destino de tais heróis e de tal povo e jovem país, não muito diferente de muitos outros jovens países que nós, europeus, contribuímos para criar e sustentamos. Quaisquer notícias que de lá cheguem – e por vezes até conseguem ir chegando algumas – pouco mais merecem do que um encolher de ombros resignado e, dos "media", um lugar de pequeno destaque, que só não o será menor por razões de memória e para provarmos a nós próprios quanto as emoções combinam mal com a política.
Uns anos mais tarde, um juiz com aversão a “dress codes” apropriados à função, qual ar de boxeur saído do ginásio, Belarmino aprés la lettre, entrou com ar triunfante naquela que deveria ser – e eu acredito que seja – a casa da democracia e levou consigo um deputado acusado de um crime hediondo, daqueles que a actual civilização mais veementemente condena. Preso e enxovalhado por muitos “media”, pelo “povo da SIC”, foi uns meses mais tarde libertado sem sequer lhe ter sido deduzida qualquer acusação, exigindo indemnização a quem foi mandatário da sua prisão e enxovalho. Sendo meu vizinho, por vezes cruzo-me com ele e família, sempre pensando que pensará ele de mim e de todos os outros, nossos concidadãos. Quais e quantos destes, com que na rua se cruza, o terão invectivado, deverá interrogar-se?
Em Maio de 2007 um frémito de comoção quase fez parar o país por uma criança. Por uns jovens pais despedaçados. Todos corremos a proteger melhor os nossos e a duvidar do vizinho. Semanas mais tarde, aqueles por quem muitos de nós chorámos passaram a ser considerados suspeitos; assobiados na rua; julgados pelo “povo da SIC”, em directo e ao vivo. As “provas” apresentadas nos “media”; detalhes, considerados escabrosos, da sua vida sexual e privada sugeridos mediaticamente, em público; ambos apresentados ao mundo como era uso e costume nas freak parades de antanho. Ficou uma investigação incompetente, um nojo de xenofobia, uma criança por encontrar e criminosos por julgar. Uma família para sempre sob suspeita. Um inspector que, tal como o “macaco de rabo cortado”, de polícia se fez escritor, de escritor se fez arguido, de arguido se quis fazer político só não se sabendo se, seguindo os passos do seu inspirador, ta-ran-tan-tan se vai embora para Angola (onde estes pormenores por certo pouca relevância terão, acrescento).
Perguntarão... “mas que tem isto a ver com José Sócrates e com o caso Freeport"? Apenas um pequeno aviso, um avivar de memórias, caso seja necessário.
Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
quinta-feira, janeiro 29, 2009
Onde a propósito do caso Freeport se recordam Timor, Paulo Pedroso e o casal McCann
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