quarta-feira, setembro 30, 2009

Cavaco Silva: pura e simples inépcia política

Penso, repenso, torno a pensar e, sendo um cidadão comum dotado, ao que também penso, de mediana inteligência, não percebo o que pretende Cavaco Silva. Forçar uma solução governativa que não passe pelo PS e entregue o poder a uma coligação PSD/CDS? Não vejo como: no seu conjunto, terão apenas mais três ou quatro lugares do que o PS e não têm a capacidade de, ao contrário deste último, agir como partido-charneira, procurando apoios ora à esquerda, ora à direita. Um governo de iniciativa presidencial com um primeiro-ministro da sua confiança e com o apoio de PS e PSD? Com a declaração de guerra de ontem só torna tal coisa ainda mais remota, até porque não será nos críticos internos de José Sócrates – a chamada "esquerda do PS" – que encontrará apoios para concretizar tal objectivo. Mas ainda, com a declaração de ontem, transformou um derrotado de domingo (Manuel Alegre) em vencedor dois dias depois. Pode ser que algo me escape, mas também não estou a ver o simpático general Carlos Reis (conheci-o nos meus tempos do serviço militar obrigatório, era eu alferes miliciano e ele tenente do “quadro”) a marchar sobre o Terreiro do Paço à frente de um punhado de generais reformados, hipoteticamente comandados pelo meu prezado consócio benfiquista Almeida Bruno. Então o que moverá Cavaco Silva?

Pura e simplesmente, nada! Ou melhor, uma total inépcia e incapacidade políticas, já bem demonstradas no tempo em que foi, mais do que primeiro-ministro, CEO de um governo/empresa de construção distribuidores (demasiadas vezes mal) de fundos estruturais e em que a maioria das reformas ficaram, já não digo por fazer, mas até por pensar; pelas más companhias que demasiadas vezes escolhe e pelo modo como resolve tais assuntos (e saber-se “rodear” é das primeiras qualidades de um político, sempre ouvi dizer); pelo modo, no mínimo estranho e desajustado, como geriu um caso em que lhe assistia razão (o estatuto dos Açores); pelo seu comportamento enviesado na visita à Madeira e pelo modo totalmente canhestro, indigno, como geriu o actual caso das alegadas escutas, deixando a um partido político (PS) a possibilidade de se assumir como garante da estabilidade e do normal funcionamento das instituições - benesse que, diga-se desde já, o PS, logo na comunicação de Silva Pereira, fez questão de aproveitar. Apenas incapacidade política de alguém que sempre se quis afirmar como um não-político.

Aliás, se este caso algo vem também demonstrar isso será por certo o desajustamento aos tempos actuais - da democracia mediática, de sociedades cada vez mais abertas e devassáveis, da internet 2.0, etc - daqueles que chegam à vida política pelo lado da tecnocracia, de um certo distanciamento e “nojo” para com essa política, pelo lado do “sacrifício”, como sempre foi, desde o início, desde a “rodagem do Citroën”, o caso de Aníbal Cavaco Silva, alguém a quem a política “pura e dura” sempre incomodou, nunca a tendo sabido gerir e sempre com ela tendo tido dificuldade em lidar. Todo este conceito de fazer política também terá levado ontem enorme machadada (felizmente, acrescento).

Resumindo: a inépcia de Cavaco Silva meteu-o num imbróglio e meteu-nos também num sarilho. Entregou a José Sócrates o bastão da defesa da estabilidade e do normal funcionamento das instituições. Fez os eleitores e fazedores de opinião (com excepção de Nuno Rogeiro, Maria João Avillez e respectivos reflexos no “povo da SIC”) perderem-lhe o respeito. Agora, provavelmente, não saberá o que fazer, como nunca soube o que fazer com o cargo que ocupa. Não sei que adjectivo usar; e se for "nada"?!...

Contrastes e tristezas de um não-monárquico...

Não sou monárquico. Mas confesso, ontem à noite, "após ouvir a declaração à comunicação social" do Presidente da República, por contraste, bem me lembrei desta Senhora. God Save the Queen!

terça-feira, setembro 29, 2009

Cavaco Silva ou a minha viagem no tempo

De repente, Cavaco Silva conseguiu a rara habilidade de me fazer transportar no tempo, aos anos setenta do século passado, era eu aluno do ISE (actual ISEG) e ele, Cavaco Silva, meu professor de Finanças Públicas (acho, na altura, nos anos pós-revolução, se chamava Economia Pública). De repente, perante mim, agora mais envelhecido e através da televisão, ali estava ele: o meu professor inseguro, desconfiado, de mentalidade mesquinha, que não fala claro nem directamente com as pessoas.

De facto, por muito que as suas funções variem no tempo, por muito que, por essa via, mundos amplos se lhes abram, há pessoas que, talvez porque demasiado marcadas pela pequenez da infância, são mesmo incapazes de mudar, de assumirem um estatuto que as transcende, de algum sinal ou gesto de grandeza.

História(s) da Música Popular (142)


Carl Perkins - "Matchbox"

Carl Perkins - "Everybody's Trying To Be My Baby"

Carl Perkins - "Honey Don't"
"Under the Influence" - The original songs of the "British Invasion" (XXV)
(Os Beatles e Carl Perkins)
Na sua discografia oficial editada ainda em vida do grupo, os Beatles apenas gravaram temas de um dos integrantes do chamado “million dollar quartet” (Presley, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins e Johnny Cash) da Sun Records. Mesmo de Roy Orbison, também ele um dos clássicos mais famosos da editora de Memphis onde Sam Philips terá feito nascer o "rockabilly", não me lembro o quarteto de Liverpool alguma vez tenha gravado qualquer “cover”. E de quem estamos efectivamente a falar? Carl Perkins, pois claro, do qual os Beatles gravaram não um mas três temas: “Honey Don’t” e “Everybody’s Trying To Be My Baby”, ambos integrados no seu 4º álbum, Beatles For Sale”, e “Matchbox”, editado em “single” nos USA em 1964.

Perkins (1932-1998) teve o chamado “azar dos Távoras” (peço desculpa aos descendentes dos ditos...), já que no auge do sucesso e quando o seu original “Blue Suede Shoes” (Janeiro de 1956) vendia meio milhão de cópias (venderia mais de um milhão), viu-se atirado para a cama de um hospital após um grave acidente de automóvel. Elvis, então já na RCA, veria a sua versão editada em Setembro e a distribuição e poder da “major” RCA face a uma editora local como a Sun fizeram o resto. Também era mais bem parecido do que Perkins, e a televisão e o cinema fizeram dele uma estrela.

Quanto a Perkins, desconhecido dos muitos que agora correm a comprar os Beatles “remasterizados”, permanecerá para sempre como uma das referências do “rockabilly” e o “rock and roll”. Fica aqui, para que se não esqueça.

Black Mask (8)

segunda-feira, setembro 28, 2009

Cavaco Silva: "declaração à comunicação social"?

Segundo se lê no "site" oficial da Presidência da República, Cavaco Silva fará amanhã às 20h uma “declaração à comunicação social”. Trata-se, portanto, de uma “declaração à comunicação social” e não de uma conferência de imprensa. Pergunta: se o PR é eleito por sufrágio directo e universal por todos os portugueses com capacidade eleitoral e o que está em causa será um problema tão grave como o das escutas (não vejo como possa ser outro), porque faz uma “declaração à comunicação social” e não fala directamente aos portugueses?

Bom, não querendo ser desde já definitivo, parece-me pelo menos estranho, mais parecendo indiciar que se poderá tratar apenas de uma breve explicação sobre a substituição do seu assessor de imprensa. Aguardemos...

Manuel Alegre: um dos derrotados da noite eleitoral

Para uma hipotética candidatura presidencial de Manuel Alegre, a vitória do PS sem maioria absoluta parece ser o pior cenário possível: um governo mais fragilizado precisa do apoio do Presidente da República, para tal adoptando uma atitude que oscilará entre a neutralidade e o apoio velado ou quase explícito, e um PR fragilizado pela sua própria inépcia política e por um PSD em frangalhos não vai arriscar uma atitude demasiado "high profile" ou conflitual para com o governo e o PS. Digamos que a tendência será para que se apoiem na desgraça.

Para o objectivo de Alegre, o melhor cenário possível teria sido, isso sim, a derrota do PS, colocando a conquista da presidência como objectivo essencial do partido no curto prazo, face à existência de “uma maioria e um presidente”. E a hipótese de ter Alegre em Belém seria algo que faria certamente um governo PSD (com ou sem CDS) ter pesadelos. Menos má teria também sido a vitória com maioria absoluta, podendo mais facilmente o PS afrontar um Cavaco Silva fragilizado por si próprio e pelo seu partido. Já agora também pela votação no PP.

Resumindo: as coisas vão andando mal, tanto para o actual presidente como para putativos, eventuais e futuros candidatos a tal.

"When I woke up this morning" - Original blues classics (24)

Son House - "Death Letter Blues"

Uma nota de optimismo...

No seu tradicional imediatismo (este “i” trama tudo), os “media” lá vão tratando de especular sobre com quem o PS fará acordos de governação. Claro que é importante, mas é apenas um meio e não um fim. Quem conhece o conceito de “ladder thinking” de imediato avançará um pouco e perguntará: “so what”? Então e depois? É que um governo, como o próprio nome indica, também não é um fim, é um meio, e serve, claro está, não apenas para existir, assim “a modos” como aconteceu nos tempos do pântano de António Guterres, a ver até que ponto conseguia aguentar-se, mas para governar, objectivo ainda mais premente nos tempos que vão correndo.

Pois é exactamente essa a questão sobre a qual nos deveremos interrogar – como irá governar o PS -, mas esse é um assunto que também estaria na ordem do dia no caso de uma nova maioria absoluta: continuando algumas reformas indispensáveis que iniciou (e que constituíram razão inicial da sua popularidade), começando outras em que não tocou ou das quais se foi esquecendo (Justiça e Administração Pública, por exemplo) ou continuando a política de não fazer muitas ondas dos últimos sete ou oito meses? Resumindo: tentando fazer de Portugal um país mais moderno, europeu e civilizado (objectivo e prática que conquistou o meu voto) ou esperando que a vontade de trabalhar lhe passe?

É neste ponto que peço licença para ser optimista, se não se importam, pois que pessimistas de serviço, de Medina Carreira a Pulido Valente, já temos de sobra. Se uma nova maioria absoluta daria a José Sócrates um certo sossego propiciador do “mar chão”, o facto de ter de fazer concessões certamente lhe dará pouco descanso e o obrigará a reformar num sentido liberalizante: à esquerda, não deixando passar em claro algumas promessas nas impropriamente denominadas questões fracturantes (casamento "gay", reprodução medicamente assistida, eutanásia, etc), que muitos consideram pouco importantes mas que são um indiscutível sinal de modernidade civilizacional comunicado à sociedade, bem como na diminuição das desigualdades sociais, à direita em questões da área empresarial, económica, mas também na educação (maior autonomia às escola na gestão e contratação de professores, por exemplo, bem como na definição de uma escala de remunerações para estes em função da sua efectiva responsabilidade e competência). É este equilíbrio negocial que a votação elevada no CDS (que certamente José Sócrates terá saudado...) veio proporcionar. Esperemos não entre em curto-circuito...

Optimismo? Talvez... mas também uma janela de oportunidade que um político hábil como José Sócrates não deixará de aproveitar. Se calhar, a única que, de momento, se pode vislumbrar. Aguardemos...

Três pequenas notas sobre a noite eleitoral

  1. O problema de uma certa pulverização partidária na composição da próxima Assembleia da República não seria grave em si mesmo. O verdadeiro problema consiste no facto de três desses partidos terem uma agenda política radical, dois deles colocando-se fora do quadro da democracia liberal e um terceiro apresentando um ticket eleitoral com laivos de um populismo muito próximo da extrema-direita europeia. Aquele que poderia constituir-se como oposição responsável perdeu e irá entrar em período sabático. A crer nas afirmações de Mira Amaral e de Jorge Neto, já terá mesmo começado a sua “Nacht der langen Messer”...
  2. Alguém vai ter pela frente tempos difíceis... Quem? Aníbal Cavaco Silva. Principalmente porque a capacidade e habilidade políticas estão longe de ser um dos seus activos mais evidentes.
  3. Bandeiras do movimento LGBT estiveram nas comemorações de vitória do PS, demonstrando que soube roubar ao “Bloco de Esquerda” um dos temas que fizeram este crescer. Resultado? Cada vez mais a agenda do Bloco tem dificuldade em se diferenciar da do PCP, valendo a imagem de pós-modernidade urbana que no tempo certo soube construir.

domingo, setembro 27, 2009

Tango aus Berlin (3)

Zarah Leander - "Sag´ mir nicht „Adieu"...

A 1ª parte do FCP-SCP de relance...

É habitual as críticas a Paulo Bento centrarem-se na ausência de um sistema de jogo alternativo àquele melancólico 4x4x2 em losango. Ontem, depois de ver a 1ª parte do FCP-SCP (ao intervalo, esgueirei-me rapidamente para o Estádio da Luz), fácil terá sido concluir para qualquer inteligência mediana que o problema é bem outro: o do modelo de jogo.

Pois é, aquele modelo baseado numa posse e circulação de bola efectuada de forma lenta e previsível (nem todos têm Xavi e Iniesta...), com pouca pressão alta, com transições, tanto ofensivas como defensivas, que demoram uma eternidade, até pode funcionar razoavelmente (e funciona) contra equipas que optam por jogar com um bloco baixo, “fechadinhas” mas com procedimentos atacantes mais ou menos incipientes. E são-no a maioria, no futebol português. Resumindo: contra as tais equipas do “double decker”. Como há espaço, a bola lá vai circulando à espera de um desequilíbrio defensivo contrário normalmente aproveitado por Liedson. Mas contra equipas da sua “igualha” ou superiores, que funcionam à base de transições muitos rápidas, como é o caso do FCP, viu-se... Como não há pressão alta, a equipa contrária sai a jogar como quer, as transições defensivas do SCP tornam-se penosas de ver e aquela lentidão de circulação de bola não conduz a parte alguma. Sinceramente, não percebo porque ainda não entenderam isto e insistem.

Nota: depois desta explicação, já perceberam porque Hulk jogou bem e nos grandes jogos internacionais só faz asneiras? Contra a lentidão daquelas transições defensivas e laterais como Abel e Grimmi, está como peixe na água. O problema que o FCP deve ter em conta antes de o pensar vender por 3 876 986 978 mil milhões (não é isso?) é que equipas a jogar como o SCP e com laterais do tipo Abel e Grimmi talvez só existam no Burkina Faso ou em alguns desses outros países em que os treinadores portugueses têm grande sucesso. E fretes como o que José Mourinho fez no caso da contratação de Ricardo Quaresma vão sendo raros em tempos de crise.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Reflexão...

Contrariamente ao que muita gente pensa e afirma, seria impossível para a grande maioria dos eleitores votar em função das propostas alternativas dos partidos e candidatos (ou da sua soma) para as várias áreas da governação – economia, justiça, segurança, política externa, emprego, etc, etc –, extensiva e aprofundadamente discutidas. Isto, pela simples razão de que essa enorme maioria não tem capacidade e/ou interesse para reter propostas plurais em todas essas áreas. Pelo contrário, tal como acontece quando se ouve um discurso, só têm capacidade para reter uma ou duas ideias-chave, neste caso construídas ao longo do exercício político e de vida de partidos e candidatos, e será sempre em função delas que formarão as suas opiniões e decidirão das suas escolhas.

António Preto, José Lello e o impacto mediático dos escândalos

A notícia de que José Lello e António Braga terão, alegadamente, trocado financiamento partidário por cargos políticos é grave. Em minha opinião, mais grave do que a também alegada história de compra de votos no PSD por parte de António Preto, pois não estamos a falar apenas de um processo interno de uma instituição (embora os partidos políticos façam parte do chamado “aparelho de estado”), mas da ocupação de cargos públicos. Tendo dito isto, o assunto mereceu pouca atenção. Porquê? Por algum conluio mediático protegendo o PS? Por razões que terão que ver com a tão propalada “asfixia democrática”? Não me parece... Vejamos:

Bom, em primeiro lugar porque surgiu na sequência desse outro caso - o de António Preto - e como ambos apresentam algumas características comuns, o segundo acabou por ficar a perder em termos de impacto e “novidade” – logo, notoriedade. Em segundo lugar, porque surgiu numa altura em que o caso das alegadas escutas a Belém ocupava o espaço mediático destinado a este tipo de temas e, em importância, não se conseguia a ele sobrepor. Por último, porque o caso da compra de votos no PSD colidia frontalmente com o “leit-motiv” de campanha do partido (verdade, honestidade, etc), o que não acontecia no caso do PS - o voto neste partido e em José Sócrates pouco ou nada terá a ver com questões desta ordem -, tornando-se assim, por força dessa contradição, mais importante em termos de notícia.

Eis, portanto, um bom exemplo de como os “timings” noticiosos e conexões circunstanciais podem contribuir para dar maior ou menor importância mediática a determinados acontecimentos. Aliás, a multiplicação de “escândalos” noticiados pelos “media”, nos últimos tempos, acabará por gerar um mecanismo idêntico à história dos lobos: verdadeiros ou falsos, serão desvalorizados e ninguém acabará por lhes prestar muita atenção.

"For sentimental reasons" - original doo wop classics (4)

The Moonglows - "Sincerely"

quinta-feira, setembro 24, 2009

Os portugueses e as línguas estrangeiras

Segundo uma notícia do “Público”, 51.3% dos portugueses entre os 25 e os 64 anos não falam qualquer língua estrangeira. Este é, seguramente, um dos factores potenciadores do nosso atraso. Mas, pior do que isso, e algo em que fui reparando ao longo da minha vida profissional, em média, entre pessoas qualificadas e ocupando lugares de responsabilidade em empresas ou instituições, o grau de domínio do inglês, para os que o falam, é consideravelmente inferior ao da maioria dos países do norte da Europa, e não superior ao de outros países latinos. Normalmente, na Europa, apenas os gregos demonstravam piores aptidões.

Acresce a tudo isto, o que já não é pouco em termos de “handicap”, o ter verificado, embora essa tendência se venha felizmente a atenuar, possuírem os portugueses, em média, menor aptidão para expressarem de forma organizada os seus raciocínios em público, mesmo na sua língua materna, facto cada vez mais penalizador tendo em conta as modificações operadas nos últimos anos na organização empresarial.

Estas são duas questões que a introdução do inglês no 1º e 2º anos de escolaridade e o intercâmbio através do programa Erasmus vão com certeza ajudar a resolver, mas que exigem também alguma actuação séria dos governos. Sugere-se a introdução do castelhano como segunda língua obrigatória no secundário (em substituição do francês) e de aulas de expressão oral.

Absolut album covers (5)

Sondagens, tendências e dinâmica

Como se tem dito repetidamente, as sondagens são uma fotografia, algo que espelha uma realidade num dado momento (o da realização do trabalho de campo) partindo do princípio as pessoas não mentem (ou não o fazem em quantidade significativa). Por isso mesmo, tão ou mais importante do que analisar isoladamente cada uma delas, é fundamental analisar a tendência que mostram ao longo de um determinado período de tempo.

Assim sendo, o que mostram as últimas sondagens da Marktest e, a crer no que se ouve, um pouco todas as outras? Fundamentalmente, e ao contrário do que aconteceu nos últimos dias da campanha para as europeias em que a evolução favorecia o PSD, uma tendência para o crescimento da votação no PS, que assim aparece mais destacado. E porque é assim tão importante esta análise em termos dinâmicos? Porque, existindo um hiato temporal entre a data da realização do trabalho de campo das sondagens e o dia das eleições, ela permite ter uma ideia mais clara ou um maior grau de certeza sobre quais poderão ser os resultados do próximo domingo.

Significa isto que essa tendência continuará a acentuar-se até domingo e que o PS ganhará de certeza as eleições sendo impossível ao PSD inverter a situação? Não necessariamente: a tendência poderá acentuar-se, sofrer algum abrandamento, parar ou até inverter-se muito ligeiramente. Mas o que a dinâmica mostra é que, uma vez criada uma certa inércia de movimento, apenas um ou mais acontecimentos de carácter absolutamente excepcional a poderão inverter de modo significativo. É exactamente este racional que está na base dos apelos vindos de algumas personalidades do PSD para que o Presidente da República se pronuncie em seu favor.

quarta-feira, setembro 23, 2009

A democracia e os problemas essenciais dos portugueses

Também tenho ouvido por aí que a questão das alegadas escutas é algo de lateral, um fait-divers, petite politique que afasta os portugueses da discussão dos seus problemas essenciais , do desemprego, do "déficit", da dívida externa, etc, etc. Não penso assim. Penso, mesmo, que quem o afirma tem da democracia uma concepção apenas instrumental, e não essencial.

A questão das alegadas escutas tem que ver com o funcionamento da democracia e das instituições do Estado que asseguram o seu normal funcionamento, indispensável a que a discussão de todos os assuntos que, de várias formas e em diferentes graus, interessam aos portugueses, se possa fazer de uma forma aberta, ampla e, tanto quanto possível, em condições de igualdade ou proporcionalidade. Em última análise, é esse normal funcionamento das instituições democráticas, que as alegadas escutas, a provarem-se, poriam em causa, que permite a partidos e associações, “media” e cidadãos apresentarem as suas ideias e, finalmente, aos portugueses fazerem as suas escolhas e opções em condições de liberdade e equidade. A liberdade de escolha que permite reunir as condições necessárias à resolução desses problemas essenciais.

Stax/Volt Tour of Norway, 1967 (3)

Sam & Dave

Uma reflexão mais profunda s/ o assunto do momento. Onde se pretende responder às questões: JPP tem razão? Deve o PR pronunciar-se?

Ora vamos lá tentar abafar o ruído, remasterizar os escritos, resguardarmo-nos do ar do tempo e, assim, tentar uma análise mais aprofundada e, tanto quanto possível, distanciada do assunto do momento.

Tenho escutado e lido em “blogues”, jornais, rádios e etc, que José Pacheco Pereira terá razão e Cavaco Silva deveria pronunciar-se sobre o caso das escutas antes das eleições ou, até, como tenho ouvido frequentemente, vir a terreiro esclarecer o assunto. Um dos habituais leitores deste "blogue", normalmente de opinião sensata, deixou até por aqui um comentário exactamente nesse mesmo sentido. Pois vamos lá ver...

JPP não é isento, nem neutro (ninguém o é...). É militante do PSD, candidato a deputado, foi um dos responsáveis pela eleição de Ferreira Leite como presidente do partido e é, neste momento, o seu principal ideólogo. Nos últimos tempos, tem-se mesmo distinguido como um dos principais propagandistas do partido e da candidatura, mormente no que refere o lançamento e tratamento do tema da parcialidade e enviesamento do conteúdo “media”, assunto que estará na base da tão propalada teoria da “asfixia democrática”.

Se repararmos no que JPP escreve no seu “Abrupto”, nada é inócuo. O que se depreende desse seu pequeno texto, lançando a suspeição de que o PR terá na sua posse elementos de extrema gravidade, é que tendo Cavaco Silva interferido, de facto, na campanha eleitoral em favor do PS, com a demissão de Fernando Lima (é indiscutível que esta acção favorece o PS), o deve fazer agora num outro sentido, favorecendo o PSD através da apresentação desses hipotéticos elementos. Não pede, portanto, JPP que o PR esclareça, mas sim que intervenha num determinado sentido por si sugerido, o que os seus "posts" posteriores se limitam a confirmar. Sim, eu sei que nos últimos tempos tenho andado muito irritado com JPP, apenas porque me custa ver alguém de superior inteligência e cultura esbanjar talento como propagandista barato (por exemplo, e em contraponto, Augusto Santos Silva nem sequer me irrita: ignoro-o), mas não me parece isso tenha obliterado completamente a minha capacidade de raciocínio e a dose necessária e suficiente de lucidez.

Arrumada a questão JPP, analisemos agora os pedidos de esclarecimento, por tanta gente solicitados.

Cavaco Silva também não é neutral: é parte interessada, pois o problema partiu da Presidência da República, através da actuação de um seu assessor e homem de confiança desde há mais de duas décadas, e o facto de ser Presidente da República, por si só e neste caso específico, não lhe confere qualquer estatuto de isenção ou neutralidade. Significa isto estar a lançar alguma suspeição sobre o carácter de Cavaco Silva ou sobre a sua honestidade e integridade? De modo nenhum: constato apenas o facto de ele não estar colocado numa posição de neutralidade, tendo por isso qualquer seu esclarecimento um valor muito relativo. Pura e simplesmente, trata-se de uma questão de facto. Por exemplo, o facto de José Sócrates se ter declarado inocente no “caso” Freeport não significa que o seja, cabendo aos tribunais, se for caso disso, apurar a verdade. Idem no caso Dias Loureiro/Oliveira Costa/BPN. A palavra do PR vale, portanto, o que vale, num caso em que é “parte” interessada. Peço imensa desculpa, mas o PR, qualquer que ele seja, não é por inerência do cargo senhor de toda a verdade. Ninguém o é, muito menos quando pode ser beneficiado ou penalizado pelo que afirmar.

Tendo dito isto, deve ou não Cavaco Silva falar antes das eleições? Quanto a mim, esta decisão deverá sempre passar por: mas para dizer o quê?, dependendo a resposta, o “sim” ou o “não”, daquilo que terá para afirmar. Tem provas inequívocas (repito: inequívocas) de que ele ou os serviços da Presidência terão sido escutados e por quem? Nesse caso, o assunto será suficientemente grave para que os portugueses o conheçam e o tenham em consideração quando da sua escolha no próximo dia 27. Deveria mesmo ter agido em devido tempo através dos poderes que a constituição lhe confere e os meios de que dispõe. Não está na posse dessas provas e vem levantar mais dúvidas, lançar suspeições, baralhar e tornar a dar, compensar um erro (o ter demitido Fernando Lima em plena campanha eleitoral) com outro erro, etc, etc? Então, se faz favor, poupe-nos, e à instituição que representa, a mais uma vergonha. Tal como disse Otelo a Vasco Gonçalves: “pense, leia, medite”. Acrescento: deixe passar algum tempo e tente arranjar uma saída o mais airosa possível para o imbróglio em que se meteu (ou o meteram). É que, provado está, e até agora ninguém o desmentiu, o seu assessor Fernando Lima, homem de confiança de muitos anos, conspirou contra o governo legítimo do país (nada importa se bom se mau) com a conivência de um jornal simpatizante. Se o fez com ou sem o consentimento do PR, não se sabe, por isso assume-se a inocência deste. Mas, ao não ter morto, em devido tempo, a serpente no ovo, Cavaco Silva foi demasiado tempo conivente, quanto mais não seja por omissão. Para além disso, prova-se mais uma vez (não é de agora), escolhe mal os colaboradores e, na sua actuação política, comete demasiados erros. Tem cometido mesmo muitos erros, alguns de principiante. Em qualquer país civilizado, muito especialmente naquela referência da democracia que dá pelo nome de USA, tudo isto, por si só, já seria demasiado grave. Num país como Portugal, com escassa capacidade para se regenerar, a si próprio e às instituições, pode mesmo provocar um cataclismo.

terça-feira, setembro 22, 2009

Liberal?

Ao escrever isto, José Pacheco Pereira está a admitir que sem uma intervenção favorável do Presidente da República a derrota do PSD será quase inevitável. Mais, solicita-a agora, quando se vê numa posição de fraqueza. Para quem advoga uma muito menor interferência do Estado na regulação da vida dos cidadãos, não deixa de ser curioso.

"Alice in Wonderland" by Sir John Tenniel (7)

Alice with mouse in pool of tears

Onde se sugere ao PSD uma bem elaborada teoria da conspiração

Em “post” anterior salientei as semelhanças que encontro entre o modo como comentadores e jornalistas ligados a Belém e ao PSD explicam o “caso” das escutas e idênticas rebuscadas explicações sobre a vida na URSS e países afins expressas por militantes e simpatizantes do PCP. Ontem, por exemplo, as irmãs Avillez foram patéticas, o que muito me entristece pois tinha – e tenho – Mª José Nogueira Pinto em boa conta. Mas adiante.

Continuando a explorar este tipo de semelhanças, e já que uma das explicações dadas pelo PCP para a implosão da URRS seria a traição de Gorbachev e o facto de este pertencer à CIA, sugiro ao PSD e a Belém afirmem que, afinal, Fernando Lima nada mais era do que um espião ao serviço do PS e de São Bento (no mínimo, agente duplo), tendo traído e congeminado toda esta maquinação em troca de alguns milhões colocados ao seu dispor num qualquer "off-shore" onde também José Sócrates teria depositado as “luvas” recebidas no “caso” Freeeport. Para isso, para a efectivação dessa traição, Lima terá seduzido o ingénuo José Manuel Fernandes com a promessa de que, finalmente, estaria na posse da localização exacta das célebres armas de destruição massiva iraquianas (que ainda hoje, na sua ingenuidade, JMF jura existirem), o que proporcionaria ao jornal uma “cacha” capaz de inverter a sua actual queda de vendas, catapultando finalmente JMF para director da Fox News e assessor de comunicação do Partido Republicano e José Pacheco Pereira para director do “Público” (Reconstruído), com direito a editar semanalmente um suplemento intitulado: “sobre o insubstituível papel do combate ao situacionismo informativo na luta pelo triunfo da Verdade” – “A Verdade é só uma, a RTP não fala verdade”.

Demasiado inverosímil? Demasiado rebuscado? Talvez... Mas, meus caros amigos do PSD, pior do que a figura que têm andado a fazer com certeza não será. Olhem, pelo menos tentem, e bem poderão acabar por dizer à laia de desculpa: “si non è vero è bene trovato”, provando assim a vossa criatividade e sentido de humor. E, já agora, depois de acabarem de expor esta teoria soltem finalmente uma boa gargalhada! É que esse sempre foi o melhor remédio para afastar os maus espíritos... E se bem precisam!...

segunda-feira, setembro 21, 2009

Comentadores, jornalistas e o "caso" Fernando Lima

Interessante constatar que a argumentação de comentadores, jornalistas e políticos ligados ao PSD e à Presidência da República no caso da demissão do assessor Fernando Lima não difere muito daquela que estávamos habituados a escutar a militantes e simpatizantes do PCP sobre a URSS e países da sua órbita: "não conhecemos todos os factos, haverá certamente razões ponderosas que ignoramos e que serão esclarecidas a devido tempo, é inoportuno falar para já sobre o assunto, a estatura das pessoas em questão leva a crer não teriam este tipo de actuação se algo de muito grave não estivesse em causa", etc, etc. Sabemos como tudo acabou...

Já agora: para essas mesmas pessoas Cavaco Silva é personalidade acima de toda e qualquer suspeita, pessoa de elevada estatura moral, político exemplar, presidente isento na sua actuação, cidadão de excepção. Poderá ser isso tudo (e já vimos que, no mínimo, algumas fragilidades políticas terá), mas este tipo de elogios e culto da personalidade remete-nos bem mais para um passado já distante, para regimes e regiões do mundo que queremos nos sejam estranhos e não para os que se reconhecem na democracia e liberdade.

Pergunta de perguntar...

Agora, já com o exemplo concreto de uma campanha e pré-campanha tão intensas, como aliás seria de esperar, qual a opinião daqueles que defendiam haver “espaço” para a simultaneidade de eleições legislativas e autárquicas? Continuam a defender a mesma tese ou já se arrependeram?

21 de Setembro de 2009: um dia muito triste para Portugal e para a democracia

Ao demitir Fernando Lima por um acto praticado no exercício das suas funções de assessor para o qual foi nomeado pelo próprio Presidente da República, Cavaco Silva está a admitir as responsabilidades da Presidência por aquele que é, talvez, o acto mais grave alguma vez praticado em Portugal por um orgão de soberania ou um seu titular desde a normalização democrática. Independentemente da minha opinião pessoal e política sobre o actual PR, como português e democrata tento desesperadamente pensar numa solução que não desprestigie ainda mais as instituições da República e, desse modo, não passe pelo enxovalho de uma demissão forçada do actual PR ou pela sua continuidade no cargo até às próximas eleições presidenciais em condições que nos envergonhem enquanto cidadãos. Infelizmente, e até ao momento, não encontrei alternativa. Ficarei feliz se ela existir, o que significaria que a democracia pode ter ainda uma chance de não sair fragilizada.

"O invencível pensamento do camarada Mao ilumina o palco da arte revolucionária" (3)

domingo, setembro 20, 2009

José Pacheco Pereira e a estratégia pós-eleitoral do PSD

Não sei se no período pós-eleitoral se irão ou não conhecer alguns factos que possam comprometer o primeiro-ministro em actividades ilícitas ou ilegais em que ele ou a sua governação tenham estado envolvidos. Se esses ilícitos existem, apenas posso pretender, ao contrário do acontecido até aqui, sejam deles dadas provas inequívocas e o país saiba disso tirar todas as devidas consequências. Mas entretanto, este “post” José Pacheco Pereira, limitando-se, à boa maneira totalitária e estalinista, a lançar suspeições sobre uma série acontecimentos passados, parece constituir todo ele, para além de um desejo inequívoco, um programa de acção do PSD para esse período pós-eleitoral, quer José Sócrates continue primeiro-ministro, quer Ferreira Leite não consiga governar com maioria absoluta mesmo que em coligação com o CDS: continuar a fazer sair para os “media” notícias que possam ir “cozinhando” um PS, fragilizado por uma maioria apenas relativa ou por uma derrota eleitoral, em lume mais ou menos brando e com isso criar as condições necessárias para levar um Cavaco Silva conivente a dissolver a Assembleia da República e convocar um novo acto eleitoral que poderia, em conjuntura de escândalo político envolvendo o PS, dar a vitória ou a desejada maioria absoluta ao PSD (som ou sem CDS).

Já agora acrescento... Ao contrário do que afirma JPP, não é por não querer perturbar o período eleitoral que Cavaco Silva não se pronuncia sobre o caso Fernando Lima. Tal acontece apenas porque, dissesse o PR o que dissesse, isso apenas o poderia prejudicar, e por extensão ao PSD, neste momento. Que pode dizer Cavaco Silva? Que suspeitava de escutas e que, em vez de utilizar, legitimamente, os poderes que o cargo lhe confere, resolveu entrar numa conspiração contra o primeiro-ministro utilizando para tal os serviços de um assessor de imprensa e de um jornal simpatizante? Demitir Fernando Lima - desde sempre um dos seus - transformando-o em “bode expiatório” e saindo, no mínimo, chamuscado? Apresentar agora, dezassete meses depois, queixa na Procuradoria Geral da República? É em função disto mesmo que Cavaco Silva opta pelo quase-silêncio, lançando para a comunicação social meias-frases que vão alimentando a suspeição e ganhando tempo para que possa actuar de modo diverso em função de resultados eleitorais favoráveis ou desfavoráveis. É que nenhum de nós é ingénuo, Senhor Presidente. Nem burro, ao contrário do que JPP, um homem inteligente mas que parece querer actuar apenas como o esperto de serviço, possa pensar!

Les Belles Anglaises (XXXIV)






MG TB Midget (1939-1940)

sexta-feira, setembro 18, 2009

Tango aus Berlin (2)

O comportamento do Presidente da República e a actualidade do parlamentarismo

O que o comportamento do Presidente da República, nos últimos tempos, tem vindo a pôr a nu e o actual caso das alegadas escutas torna ainda mais visível, para além das análises de curto-médio prazo que já inundam “blogs” e caixas de comentários e da questão do papel dos "media" nas sociedades actuais (neste último caso, passo: não sou especialista) é a inadequação e incapacidade do nosso sistema semi-parlamentar (ou semi-presidencial, ou de parlamentarismo mitigado, o que quiserem embora ache a designação semi-parlamentar a mais correcta), com a concessão de amplos poderes ao PR e a sua eleição por sufrágio directo e universal, para assegurar a estabilidade política e o chamado “normal funcionamento das instituições”. Independentemente de questões que possam ter que ver com a orientação e preparação políticas de Cavaco Silva e dos seus antecessores na função, das suas personalidades e modos de actuação e estar na vida, das suas fidelidades pessoais e partidárias, o próprio sistema, principalmente quando governo e PR partilham ligações partidárias e/ou orientações políticas diferentes, ou, apenas, agendas políticas antagónicas, contém em si próprio os genes da instabilidade, da potencial ingovernabilidade e da tendência para a sua própria autodestruição.

Tem sido por aqui um dos meus “cavalos de batalha”, não me parecendo que quase quarenta anos depois do período de estabilização democrática e enterrados os fantasmas da 1ª República, que estiveram na génese do actual semi-parlamentarismo, se não caminhe para uma clarificação do regime nesta área. Defenderão (e têm-no feito) os mais sensíveis a um certo pessoalismo e autoritarismo populista (ou bonapartista...) a presidencialização do regime; os mais liberais, entre os quais me incluo, que se caminhe, tal como acontece nas democracias mais estruturadas e antigas da UE (a França é uma excepção que teve que ver com a entrega do poder a De Gaulle num país à beira do golpe de estado) no sentido de um parlamentarismo puro, com um PR eleito por sufrágio indirecto (ou um monarca constitucional hereditário onde for essa a tradição) e sem efectivos poderes para além dos de representação do Estado.

Penso que os acontecimentos dos últimos anos, desde a demissão do governo Santana Lopes (não é o facto de essa demissão ter tido o meu apoio que me obriga, em termos estruturais, a pensar diferente) até ao comportamento conspiratório e politicamente enviesado de Cavaco Silva, e independentemente da opinião valorativa que tenhamos sobre cada um deles, apenas contribuem para provar esta minha tese. Mais ainda, sou de opinião que a manutenção do actual sistema apenas se deve ao calculismo e vistas curtas dos partidos do chamado “arco constitucional”, receando perder alguma capacidade para actuarem como um efectivo contra-poder quando, não sendo governo, possam vir a conquistar a Presidência da República.

Por estas enunciadas razões, será pois o tempo de repensar o assunto de uma forma estruturada e não olhando apenas o umbigo de cada um. Em minha opinião, já por aqui várias vezes expressa, esta é a ocasião indicada para, findo o mandato e período legal de reeleição do actual PR, se caminhar decisivamente no sentido da adopção de um regime parlamentar, caminho este que é também o da modernidade, de uma sociedade mais democrática, da civilização e da Europa.

"Noir" (7)



"The Lady From Shangai", de Orson Welles (1947)
Final, c/ a célebre sequência dos espelhos

quinta-feira, setembro 17, 2009

O TGV ibérico e o "eurocepticismo"

Vejamos, mais uma vez... A questão do TGV ibérico (o único que defendo), conforme Manuela Ferreira Leite a colocou e José Sócrates contraditou, é apenas fait-divers, fogo de artificio de campanha ou esconderá algo de mais profundo, não comportável, por motivos de realpolitik, pelos programas eleitorais e decisões de governos?

Que quero dizer com isto? Bom... Sendo este, talvez (e aqui estou de acordo com José Sócrates e espero não ter de pedir desculpa por isso), o PSD mais à direita de que tenho memória, será que este discurso, ou pelo menos “este sair da boca para fora” nacionalista (já entrevisto em algumas afirmações “não oficiais” quando do caso TVI), corresponde mesmo, e apenas, a uma táctica eleitoral sem consequências ou tem, efectivamente, a ver com esse deslizar para a direita do partido, tendo na sua base uma ideologia “atlantista” e "eurocéptica" - e evidenciando também uma muito envergonhada simpatia por uma “España: una, grande y libre” - tão cara a alguns dos sectores do partido e, principalmente, à inteligenzia mediática que o apoia?

Não, não me estou só a referir a José Pacheco Pereira, actualmente o ideólogo de serviço e cujas posições anti-europeias (hesitei, mas acho chamar-lhe “eurocéptico” pecaria por defeito) são por demais conhecidas. Se estivermos atentos aos jornalistas e comentadores que, de uma forma mais ou menos militante, têm estado na linha da frente, ideologicamente falando, da campanha do PSD, desde a chegada de Ferreira Leite à sua presidência (e estou a lembrar-me de José Manuel Fernandes, Vasco Pulido Valente e muita gente na “blogosfera”), o “eurocepticismo” ou a ausência de "euroentusiasmo", sob a forma de uma UE politicamente mitigada, e o “atlantismo”, este menos evidente e esperando “melhores dias” desde a saída de W. Bush, são ambos bem evidentes.

Uma versão do “ovo da serpente”? O futuro o dirá...

Mary Travers (1936 - 2009)

Mary Travers - "The First Time Ever I Saw Your Face"
Live at the Sidney Opera House (1970)

quarta-feira, setembro 16, 2009

A morte de José Manuel de Mello, a CUF e o século XX português

"O Bairro da CUF" - documentário da autoria de Isabel Teixeira e Rui Durão da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha.
A propósito da morte do empresário José Manuel de Mello, deixo aqui, em repetição, um "post" e um vídeo publicados a 14 de Outubro de 2008 neste "blogue", tentando, entre os elogios de alguns e os insultos de outros, visíveis nas caixas de comentários de alguns jornais "on-line", mostrar que, felizmente, o mundo (e Portugal) não é - nem era - a preto e branco.

"A RTP exibiu há um par de semanas um excelente documentário sobre a CUF (que, penso, passou um pouco esquecido), o que significa também uma igualmente excelente visão sobre uma realidade incontornável do século XX português e, que me lembre, sobre o único dos grandes grupos económicos, do período anterior ao 25 de Abril, que nasceu e cresceu ancorado numa base eminentemente industrial e muito em função das necessidades de crescimento e consolidação dessa sua base, mesmo tendo-se estendido rapidamente à banca, seguros, navegação, etc. A CUF correspondia a um modelo daquilo que Alvin Toffler denominava de "segunda vaga industrial", característico da primeira metade do século XX. Foi um conglomerado de empresas que cresceu e se desenvolveu com a ditadura, o corporativismo e o “condicionamento industrial”, e que o final destes – com a liberdade empresarial e a abertura de mercados - veio a pôr em causa, por muito que as nacionalizações e o período conturbado pós 25 de Abril possam também ter dado - e deram - o seu contributo, em minha opinião não mais do que um acelerador conjuntural e acessório. À CUF e ao modelo empresarial que consubstanciava está também ligada uma parte da história do Barreiro e do PCP (este era a outra face de uma mesma moeda), das lutas operárias do Portugal do século passado, da oposição democrática e das eleições de 1958. Por isso mesmo, muito mais do que uma empresa ou um grupo económico, a CUF foi, mais do que qualquer outro ou de qualquer outra coisa, um modo de vida que cresceu, teve o seu apogeu e declínio e depois morreu, deixando em muitos a saudade do tempo de uma vida cheia. Morreu como morreram a Marinha Grande, a cintura industrial de Lisboa - quer a de Belém/Alcântara/Marvila quer a posterior de Venda Nova a Vila Franca - como desapareceu o proletariado agrícola do Couço ou de Albernoa, as operárias conserveiras de Olhão. Mas com uma diferença: a CUF, com os seus bairros operários, a sua despensa, as colónias de férias, as escolas e hospitais, o desporto, a formação de operários e quadros, mas também a repressão e as lutas, deixou por certo uma saudade que não é só memória da juventude perdida: é que era mesmo o fulcro de toda uma vida. Dizê-lo é a melhor forma de homenagear todos aqueles que a fizeram: fundadores, accionistas, dirigentes e trabalhadores.

O “Gato Maltês” foi descobrir no "You Tube" este pequeno e excelente documento (trabalho final de curso) realizado por Isabel Teixeira e Rui Durão, alunos da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, sobre “O Bairro da CUF”, que ilustra bem o que acima digo. Com a devida vénia o apresento."

Grace Slick (1)

Grace Slick - "Oh no, oh no Humpty Dumpty don't fall"

A "nova versão" da Champions League

As modificações introduzidas na Champions League por Michel Platini, dando mais oportunidades aos “pequenos” em desfavor da “classe média”, digamos assim, numa versão “uefeira” da demagogia e do populismo eleitoral à portuguesa da “Pequenas e Médias Empresas”, apesar e uma ou outra rara surpresa que no futebol pode sempre acontecer, ameaçam tornar a fase de grupos numa sensaboria entediante, com quase tudo resolvido à partida. Quando as audiência começarem a sofrer e os patrocinadores a fugirem ou a pagarem menos, Platini terá de encarar de frente o falhanço e alguém pagará a factura. Os custos da demagogia eleitoralista são, neste caso, bem fáceis de avaliar.

terça-feira, setembro 15, 2009

Sword & Sandals (7)



"Cartagine in Fiamme", de Carmine Gallone (1960)

"Gato Fedorento": um José Sócrates sem "panache"

Confesso vi os “Gato Fedorento” á “vol d’oiseau”, e mesmo assim só na parte reservada a José Sócrates: uma final de Flushing Meadows não há todos os dias e programas do “Gato Fedorento”, mesmo com o primeiro-ministro, bem podem esperar. Devo dizer, no entanto - e do que vi -, achei deprimente a participação de José Sócrates. Esteve correcto, não cometeu “gaffes”? Mas a um político profissional, com o traquejo do actual primeiro-ministro, só se poderia exigir como serviços mínimos que estivesse correcto e não escorregasse - e para “gaffeuse” já nos basta Ferreira Leite. Fasquia muito baixa, portanto.

E que poderia eu então exigir a José Sócrates? Bom, algum sentido de humor, uma dose certa de ironia, um mínimo de "panache", até talvez mesmo, aqui e ali, conseguisse chegar a ser um pouco cáustico. No fundo, que não estivesse tanto na defensiva; que, sem perder pose de estado, percebesse que estava num programa de humor – onde era um dos participantes – e não, qual "Vasquinho da anatomia", sujeito a um qualquer exame oral do qual, se tudo decorresse com normalidade e se portasse como vem nos livros, sairia com um suspiro de alívio e a estafada frase “vamos embora Bobby que já enganámos mais estes...”

Por exemplo - e para entrar nos casos concretos que ajudarão e entender o que digo - que tivesse tido o à vontade e grandeza de espirito suficientes para entrar no jogo quando Ricardo Araújo Pereira lhe pediu uma “cunha” para conseguir lugar para o carro. Aí, por exemplo, José Sócrates deveria ter aproveitado a "deixa" para brincar com a situação e as analogias a que se prestava, inclusivamente, fazendo em directo, e em tom de brincadeira, o pedido a Clara de Sousa, talvez mesmo usando de algum “charme” e fazendo reverter, com ironia e algum "non-sense", a situação a seu favor. No fundo, pedia-se a José Sócrates aquilo que ele e a maioria da sua geração de políticos não tem: uma certa concepção aristocrática do mundo e da política que não se adquire nas “jotas” mas vem do “berço”, do mundo, da cultura e da vida. Que o diga Mário Soares, não é assim?

É que o ar “à vontade” e descontraído não é só dado (muito longe disso!) por um “dress code” informal e uma pequena anedota ensaiada sobre Berlusconi. Há, muito para além disso, o “saber estar” em qualquer situação. José Sócrates não sabe (não soube), e quando o quer fazer soa a falso. Não terá talvez perdido votos, mas, sem que desse por isso e até pensando o contrário, também não terá ganho foros de estadista.

"For sentimental reasons" - original doo wop classics (3)

The Tune-Weavers - "Happy Happy Birthday Baby"

segunda-feira, setembro 14, 2009

História(s) da Música Popular (141)

Ian & Sylvia - "You Were On My Mind"

We Five - "You Were On My Mind"

Crispian St. Peters - "You Were On My Mind"
"Under the Influence" - The original songs of the "British Invasion" (XXIV)
Em 1966 (corrijo: 1965 - obrigado LT), um tal Robin Peter Smith (1939), natural do condado de Kent, ali bem perto de Londres e em cujos céus se travaram alguns dos mais terríveis duelos da Battle of Britain, rompeu na cena musical britânica sob o nome de Crispian St. Peters e com um tema que chegaria a #2 do “hit parade” britânico. O nome? “You Were On My Mind”, uma canção original do duo canadiano Ian & Sylvia, gravada em 1964 e regravada no ano seguinte pelos americanos “We Five”, numa versão um pouco “mais rápida”, como se diz por aqui (os americanos chamam-lhe “up tempo”). St. Peters insistiria e chegaria no ano de 1966 a obter sucesso nos dois lados do Atlântico com aquele que é o seu tema mais conhecido, também ele escrito por americanos mas virtualmente desconhecido antes de Peters ter gravado a sua versão: “The Pied Piper”. Ficou assim Peters para a posteridade não como um “one hit wonder” mas como um “two hit wonder”, já que não tornaria a alcançar sucesso semelhante.

O que é curioso verificar é o tratamento tão diferente dado a um mesmo tema, mesmo, no caso de Ian & Sylvia e dos We Five, tratando-se de um duo e um grupo ambos da área da "folk music". De qualquer modo, muito mérito para Crispian St. Peters, que fez do tema aquilo que ficou nas nossas memórias e, sem dúvida, intérprete da minha versão favorita. De longe!...

A Guerra Aqui (Mesmo) Ao Lado (41)

Salvar la cosecha es tanto como ganar una batalla al enemigo
Signed: Jesús Helguera. Ministerio de Instrucción Pública. Dirección Gral. de Bellas Artes.
Asociación de Obreros Litógrafos. Lit. GAL. Lithograph, 3 colors; 100 x 70 cm.

"This poster proclaims that harvesting the land is as important for the war effort as winning battles. The message comes to life in the images of the hard working fighter and peasant. The rifle carried by the fighter (probably a German-made Karabiner 98k) and the sickle used by the peasant intersect near the center of the scene, underscoring the need for their joint effort.
The outbreak of the Spanish Civil War in July 1936 was followed by economic upheaval. In the area of agriculture, most of the grain-producing areas of the country were soon controlled by the Nationalists. On the loyalist side, revolutionary takeover of much of the land produced irregular results, and often made it difficult to supply the large cities and the front. Many peasants abandoned their land, and refugees from the advancing rebel army crowded into urban areas. The ensuing food shortage was made worse by problems in the distribution of foodstuffs. It was this situation that caused the government and other organizations to put out messages like the one in this poster. The poster was issued by the Ministry of Public Instruction, one of the most active agencies in the production of propaganda during the war. The ministry issued many of its posters in Madrid between early September and early November 1936.
The type of cap worn by the fighter in this poster, with a short tassel hanging in front, became a symbol of the popular militias during the first months of the war. The rolled-up sleeves of the same figure serve to emphasize the informal nature of his outfit. The portrayal of what appears to be a member of a militia (and not of the regular army) in a poster issued by the government reflects the lack of homogeneity and organization in the republican forces in the early part of the war.
Hardly anything is known of Jesús Helguera, the author of this poster. During 1936, he worked in the production of propaganda for the government in Madrid. Later, he worked with the youth organization Juventudes Socialistas Unificadas in Barcelona. The fact that his name is not otherwise recorded suggests that he may have come from the advertising arts, where there was little room for name recognition. The dynamic poses of the militiaman and the peasant in this scene, and the suggestion of a narrative sequence that stems from the use of different colors in the juxtaposed figures, is reminiscent of images used in billboards."

domingo, setembro 13, 2009

Os debates... (2)

Afinal parece que a Aximage realizou algo semelhante ao que aqui se propunha, embora em formato muito mais reduzido e só para o debate “José Sócrates - Ferreira Leite”. E também sem “medir” a influência desse debate no sentido de voto dos inquiridos, o que seria bem importante. Mas, better than nothing e por isso se saúda.

Os debates...

Com as intermináveis análises sobre quem venceu ou perdeu os debates, com painéis de comentadores que chegam a roçar o patético (a Sic Notícias chegou a juntar Graça Franco, Luís Delgado e Bettencourt Resendes – salvou-se Ricardo Costa...), psicanalizando cada frase, cada trejeito ou gesto, as cadeias de televisão apenas pretendem preencher algum do seu tempo de antena e, simultaneamente, reivindicar o seu quinhão, o seu papel de intermediários naquilo que deveria ser, na sua essência, algo a dirimir de forma directa entre os intervenientes nos debates (políticos/candidatos) e os cidadãos eleitores.

Assim sendo, a avaliação dos debates deveria ser efectuada, isso sim, junto de quem os viu, através da utilização de uma metodologia do tipo “day after recall” e perguntando aos cidadãos, incluídos numa amostra, se irão votar, se já decidiram o seu voto e em quem, se os debates os fizeram mudar de opinião e porquê, se alteraram a sua decisão de ir votar em função do que viram e ouviram. Também o que retiveram como mensagem essencial de cada debate e da intervenção de cada um dos intervenientes, bem como o modo como avaliam e valorizam a qualidade da participação de cada político em alguns “items” ou “dimensões” previamente definidas.

Porque não o fazem? Bom, em primeiro lugar porque é caro; muito mais do que pagar a comentadores e politólogos que as televisões tentam assim valorizar aos olhos do público, conquistando audiências. Em segundo lugar, porque desse modo estariam a abdicar desse papel de “mediação”, de formatação da opinião pública que justifica a sua própria existência. O problema é que assim, um destes dias, os debates irão passar a processar-se como que em circuito fechado, falando os intervenientes cada vez mais para os “media” e menos para os eleitores. Perderão a sua razão de ser...

Stax/Volt tour of Norway, 1967 (2)

Arthur Conley, Sam and Dave, etc

sábado, setembro 12, 2009

No país dos sovietes (12)

E. Mirzoev, 1938
December 5 (Lithography, 89x60 cm., inv.nr. BG E11/935)
A giant Stalin amid Azerbaijani peoples celebrating the anniversary of the introduction of the new constitution of the Soviet Union.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Ainda as PMEs

Finalmente, há uns dias (ou seriam semanas?) vi alguém com responsabilidades chamar a atenção para a falta de rigor da definição PME e a demagogia com que o tema é abordado. Estou a falar de José Luís Saldanha Sanches, que o fez, ou pelo menos tentou fazer porque mal o deixaram, num daqueles “frente a frente”, na sua maioria desinteressantes, da SIC Notícias. Inclusivamente, não deixou de se referir à origem, se não do termo, pelo menos da categoria tal qual ela é, hoje em dia, considerada: o PCF e o “Programa Comum de Esquerda” já lá uns bons quarenta ou mais anos. Pois uma boa oportunidade para deixar aqui excertos de dois “posts” do “Gato Maltês” sobre o assunto, datados de 2 e 19 de Fevereiro deste ano, respectivamente.

"Post" de 2 de Fevereiro de 2009: "A crise financeira e económica trouxe para a ordem do dia as chamadas “pequenas e médias empresas” (PME) concedendo-lhes uma visibilidade e uma oportunidade únicas para aumentarem o seu poder reivindicativo em função do número de postos de trabalho que representam e da sua aparente fragilidade que os pode facilmente pôr em risco. No entanto, dizem-me teoria e experiência que o sector está muito longe de se poder considerar homogéneo, isto é, enquadrável numa categoria que se poderia caracterizar, a traço grosso, por empresas familiares, de gestão incipiente ou pouco rigorosa, antiquada, demasiado centralizada na figura do “patrão” e sem pessoal qualificado, com dificuldades de crédito (a montante) e de acesso aos mercados em condições de competitividade (a jusante). Mais, usando uma terminologia cara ao PCP (aliás, penso que esta definição pouco rigorosa de PME tem origem ou foi desenvolvida no PCF dos anos 60, preparando o caminho para o Programa Comum da Esquerda), sector (as tais PME) vivendo espartilhado, em termos de proveitos e capacidade de desenvolvimento, pelo “grande capital”.

Se este “quadro” poderá ajudar a caracterizar muitas delas, existe um largo número que dele está bem longe: não só possuem uma gestão moderna e eficiente, com pessoal qualificado, como desenvolveram know how avançado no seu sector de negócio e acesso e conhecimento aprofundado dos mercados em que operam. Mais ainda, operam em pequenos segmentos e nichos altamente competitivos e a sua existência e desenvolvimento não só não é espartilhado pelo “grande capital” (ou “capital monopolista”) como o seu crescimento e lucratividade depende quase exclusivamente - também ele - do sucesso das grandes empresas e dos grupos económicos."

"Post" de 19 de Fevereiro de 2009: "Sugerir o apoio preferencial às PMEs é o mesmo do que manifestar solidariedade para com os mais desfavorecidos ou apelar à paz no mundo: fica sempre bem mesmo quando nada mais significa do que a manifestação de piedosas intenções.

A primeira dificuldade é: como definir PMEs? Em função do volume de negócios? Do número de trabalhadores? Poderia parecer um bom princípio, mas... é suficiente? De ambos e, simultaneamente, não integrarem grandes grupos económicos? “Idem” e por serem empresas maioritariamente de capital nacional? Por serem empresas familiares? Uma história ridícula e que revela essa dificuldade: trabalhei na subsidiária portuguesa de uma multinacional líder no seu sector de actividade que recebeu financiamentos do PEDIP por ser considerada, em Portugal, uma PME!

Segunda dificuldade: uma vez ajustada a definição, é o sector homogéneo? Claro que não. Como
aqui afirmei, coexistem pequenas empresas familiares, de gestão incipiente, produzindo bens de baixo valor acrescentado, sem trabalho qualificado, condenadas a prazo e empresas tecnológicas de gestão eficiente e altamente qualificada, capital intensivas, pertencentes a grandes grupos económicos ou a sectores emergentes, de enorme potencial futuro. Da economia do conhecimento. De multinacionais. Altamente competitivas em mercados exigentes. Respeitadoras do ambiente e sustentáveis. Misturar “alhos com bugalhos” só poderá levar ao descalabro e a falta de rigor nunca foi boa conselheira.

Tendo dito isto... Devem ser apoiadas de igual modo? Mesmo tendo em conta a necessidade de manter o emprego, no curto prazo, a níveis razoáveis, a resposta só pode ser uma: claro que não. Caso contrário estaríamos a financiar a ineficiência, o desperdício, a falta de qualidade e a má gestão, o passado e não o futuro. Isto é, a desperdiçar o dinheiro de todos nós, contribuintes, em projectos inviáveis.

Uma provocação em relação à questão das quotas sugeridas pelo PSD: se um ministério quiser encomendar uma campanha de publicidade deve fazê-lo a uma dessas pequenas agências de “amigos”, muitas vezes constituídas apenas para esse projecto, ou a uma outra, profissional, pertencente a um grande grupo de comunicação? E se uma autarquia quiser montar ou reestruturar a sua rede informática? A quem é competente, assegura um serviço de qualidade, ou a uma pequena empresa amadora, de alguém relacionado com o presidente da câmara local?

Sim, eu sei que são pequenas provocações. Mas necessárias para chamar a atenção de que nem tudo que luz é oiro, nem tudo o que parece é. Por vezes, é mesmo o seu contrário e trará consigo consequências perversas."

Beat (7)

The Mad Yak - a poem by Gregory Corso

I am watching them churn the last milk they'll ever get from me.
They are waiting for me to die;
They want to make buttons out of my bones.
Where are my sisters and brothers?
That tall monk there, loading my uncle, he has a new cap.
And that idiot student of his--
I never saw that muffler before.
Poor uncle, he lets them load him.
How sad he is, how tired!
I wonder what they'll do with his bones?
And that beautiful tail!
How many shoelaces will they make of that!

Sondagem do CESOP: apesar de tudo, algumas boas notícias para José Sócrates

Como aqui tenho afirmado, se algo as sondagens parecem indicar no últimos tempos, com algum grau de estabilidade, é que a decisão de voto dos portugueses parece tomada no que diz respeito à opção entre a esquerda ou direita, dependendo o resultado das eleições e o nome do futuro primeiro-ministro do modo como esse voto será distribuído entre os partidos concorrentes em cada uma dessas áreas. Assim sendo, a última sondagem do CESOP trará, apesar do empate técnico com apenas uma ligeiríssima vantagem para o PS (que é sempre uma vantagem...), algumas boas notícias para os socialistas e para José Sócrates. Porquê? Vejamos...

Com 6% de intenções de voto e tendo em atenção a subvalorização tradicional dos resultados do partido nas sondagens, dificilmente o resultado eleitoral do CDS será inferior a este valor. Pelo contrário, poderemos mesmo assumir que tenderá até para um valor um pouco mais elevado nas urnas, o que poderá significar alguma canibalização do eleitorado PSD que, assim, veria o seu resultado um pouco reduzido. Pelo contrário, alcançando o BE um resultado de 11% (que, a verificar-se, constituiria, de longe, o “score” mais elevado do partido em termos eleitorais) e tendo em atenção a tendência habitual para uma sobrevalorização dos resultados deste partido nas sondagens, parece existir aqui algum terreno onde o PS poderá, no dia 27, recuperar um ou dois pontos percentuais na sua votação, se funcionar o voto útil. Acresce, em confirmação deste raciocínio, que a sondagem também conclui que é no BE que se encontra a maior percentagem de votantes que afirma “ainda poder mudar de ideias”. Mas há mais...

Se passarmos à avaliação dos diversos líderes políticos pelo eleitorado, veremos que nas “top two boxes” (avaliação “bom” e “mtº bom”) apenas no “item” “é uma pessoa séria e em quem se pode confiar” Manuela Ferreira Leite obtém melhor “score” do que José Sócrates (43% vs 32%, um excelente resultado), o que confirma a boa escolha que o PSD fez do “posicionamento” da sua líder. Em todos os outros “items” é José Sócrates que lidera: 56% vs 34% em “é um líder forte”, 35% vs 32% em “preocupa-se com as pessoas que mais precisam”, 42% vs 28% em “tem o que é preciso para ser um bom primeiro-ministro” e 38% vs 32% em “pode ajudar o país a sair da crise económica”. Se restringirmos essa pergunta aos eleitores que afirmam de certeza irão votar os resultados não seriam decisivamente diferentes: 63% vs 37%, 38% vs 37%, 48% vs 32%, 37% vs 57% (“uma pessoa séria e em quem se pode confiar", favorável a Ferreira Leite) e 43% vs 38%. Ora sabendo quanto a “fulanização” é importante para o eleitorado numa escolha deste tipo, estes valores parecem indicar que esse mesmo eleitorado tende a considerar José Sócrates como mais indicado para o lugar a que ambos, ele e Ferreira Leite, se candidatam.

Falando agora da avaliação do governo, 37% consideram que a sua actuação foi “boa” ou “mtº boa” (em princípio um resultado que, convertido em votos, seria suficiente para uma vitória eleitoral tangencial) e apenas 31% consideram que um partido da oposição faria melhor. Em tempo de crise poderá funcionar aqui um certo “conservadorismo” de sentido de voto, que tenderá também a favorecer a aritmética eleitoral socialista.

Veremos, no entanto, se os resultados do dia 27 confirmam ou alteram este raciocíno. Em última análise, serão mesmo eles que contam...

Anglophilia (64)

Church's Slippers

quinta-feira, setembro 10, 2009

Tango aus Berlin (1)

Hilde Hildebrand - "Liebe ist ein Geheimnis"

Pronúncias jornalísticas...

Claro que não exijo de jornalistas e comentadores desportivos uma pronúncia em línguas estrangeiras semelhante ao “received english” do carismático Fernando Pessa; exigir-lhes-ia, isso sim, maior rigor e mais conhecimentos, mas isso é outra conversa. Mas acho todos podemos e devemos pedir-lhes para que, mesmo em línguas com menos afinidades e menos conhecidas dos portugueses do que o inglês, francês e castelhano, tentem dizer algo de aproximado à pronúncia na língua de origem. Por exemplo, e reportando-me ao Hungria-Portugal de ontem, não crismem de “Ferenk Puskas” (nome do estádio onde o jogo se disputou) o grande jogador húngaro dos anos 50 do século passado que, na realidade, se chamava Ferenc Puskás, mas se lê "Ference Puskás" (muito fácil de pronunciar, aliás). Aliás, no que diz respeito à língua magiar, já de si bem estranha, parece existir uma concertada tentativa de a complicar ainda mais, pois, por exemplo, sempre me lembro de ouvir chamar "Gabriela Cezábo" à grande atleta romena "Gabriela Sábô" – escreve-se Szabo e o nome é húngaro.

Muito complicado, senhores jornalistas? Não; apenas preguiça. É que existe pelo menos um "site" onde se pode aprender a pronúncia correcta. Depois disso, com algum ouvido, basta tentar imitar. Importam-se de experimentar? Olhem que não custa nada...

quarta-feira, setembro 09, 2009

Nazi exploitation (6)


Eine Armee Gretchen (1973)

Os Beatles remasterizados ("post" baseado num meu comentário (revisto e aumentado) deixado no "blog" "Ié-Ié")

Beatles - "Love Me Do"
Não sou um fanático ou incondicional dos Beatles. Aliás, não serei incondicional de ninguém e alguma dose de fanatismo que os já muitos anos de vida ainda não arredondaram deixo-a para o meu “glorioso”, que bem dela tem andado necessitado. Mas, voltando aos Beatles, devo dizer, de ente a sua discografia prefiro francamente os seus 1ºs "singles" e álbums (aqueles que por vezes ainda oiço na base de um acto de vontade), talvez porque, em algum do seu ainda primarismo (no bom sentido) e menor sofisticação, mais perto das raízes do "rock and roll original", o que não quer dizer os considere "os melhores", o que quer que a palavra queira dizer em todo o seu relativismo subjectivo.

O que fará então de um grupo que nem sequer se pode dizer tivesse executantes excepcionais (ao nível de um Jimmy Page, ou de um Eric Clapton, por exemplo, já não falando de um baterista como Ginger Baker) um fenómeno único na cultura dos anos 60 e do século XX? Os Beatles estavam no local certo na altura certa? Sim: como tantos outros grupos britânicos, aproveitaram a época de enorme refluxo do "rock" americano original no final dos anos 50 (dos pioneiros Elvis, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, Little Richard, Buddy Holly, Chuck Berry, etc), do fim das restrições do pós-guerra na Europa e da abertura social e nova cultura de massas que o desenvolvimento económico gerou, para se imporem perante um América mais entorpecida pelo segregacionismo, o conservadorismo e a guerra fria (JFK tinha sido assassinado, lembram-se?), onde essa nova cultura tinha sido comprimida artificialmente numa panela de pressão cujo vapor necessitava expandir-se. Foram para Hamburgo, tocar nos bares de St. Pauli, no que também nada os distingue de tantos outros grupos da “British Invasion”. Mas fizeram algo mais que os distingue desses outros grupos: porque, ao contrário dos Rolling Stones, Manfred Mann, Yardbirds ou Animals, por exemplo, com origem fora daquilo que era nessa altura a cena dos “blues” britânicos (muito centrada no Marquee Club e em Chris Barber, John Mayall, Cyril Davies, etc), mergulhando algumas das suas raízes no Skiffle, foram aqueles que melhor souberam casar o "rock n' roll" com a música ligeira, de variedades (tão presente em algumas das suas melodias) digamos assim, e a rebeldia com o "establishment" em doses adequadas. Usavam o cabelo comprido mas não partiam guitarras em palco; tinham um ar “compostinho” mas irreverência q.b.; e procuraram sempre algum tipo de compromisso. Isso esteve na base do seu "posicionamento" único, que os fez serem aceites, em termos musicais e sociais, por sectores mtº mais alargados do que outros grupos seus contemporâneos como os Rolling Stones, por exemplo. Last, souberam, e puderam, ser musicalmente inovadores e experimentalistas sem perderem esse seu "posicionamento" original como referência. Foram simultaneamente marginais e "mainstream", num equilíbrio difícil cujo rompimento se tornou visível nos últimos tempos do grupo.

Bom, não ouvi ainda a remasterização hoje lançada, que vem muito na sequência da tentativa de rentabilizar e esticar até ao limite o património finito do grupo. Quem ouviu diz que vale bem a pena. Por mim, cá ficarei com os meus LP’s e CD’s originais; cada um que decida por si.

terça-feira, setembro 08, 2009

O meio-campo da selecção e o jogo com a Hungria

Vou lendo e ouvindo por ai grandes interrogações sobre quem deve sair do meio-campo da selecção portuguesa no jogo com a Hungria para entrar Liedson, Tiago ou Simão. A minha opção? Nenhuma delas. Digamos que, contra uma equipa menos do que mediana, como é a da Hungria, e que não é propriamente constituída por rapazes “altos e loiros”, o problema chama-se... Duda, uma invenção de Queiroz.

Como assim?, dirão... Muito simples: com um lateral esquerdo mais consistente defensivamente (repararam no golo de Bendtner?), a selecção não teria de jogar com dois laterais demasiado ofensivos e nada justificaria então a manutenção de Pepe como “pivot” defensivo neste jogo, podendo Raúl Meireles assumir esse papel e mantendo-se Tiago, Simão e Deco no meio-campo. Ou não será assim? Para mim, é!

Onde se tenta demonstrar que o "timing" escolhido para o afastamento de MMG terá sido o correcto e as consequências políticas devidamente avaliadas

Confesso-me espantado quando leio que a Prisa/Media Capital, na sua ânsia de agradar ao PS e ao governo, teria acabado por escolher um “timing” incorrecto para o fazer, como se ambas as administrações fossem compostas por adolescentes inexperientes ou gestores politicamente virgens. Não o são, claro: compõem-nas pessoas altamente competentes e experimentadas, tanto nos negócios como na política (Cébrian foi durante muito tempo íntimo do PSOE), que não podem dar-se, e não se dão, a devaneios deste género. A questão é bem outra.

Pondo de parte as várias teorias da conspiração que sempre aparecem (bom, mas as bruxas...), o que pode explicar uma tal decisão? A gestão e a tecnocracia “pura e dura”? Sim, mas talvez não só. Vejamos...

Do lado da gestão sabemos que a Prisa terá assumido pesados compromissos financeiros em função de um empréstimo de 1.950 milhões concedido em Maio deste ano e que se vencerá em Março de 2010. Sabemos também que necessita de uma injecção de capital na ordem dos 300 milhões até Outubro e que pretende vender alguns dos seus activos. Ponto. Nada de muito surpreendente, portanto, que a administração pretenda sanear rapidamente a empresa, terminando um programa, que, apesar das audiências, poderia contribuir para “desvalorizar” o seu activo TVI no mercado, assim tornando a sua venda menos atractiva. A dupla Moniz/MMG, em termos de venda desse activo e do tradicional perfil da Prisa em termos de informação, fazia claramente mais parte do problema do que da solução. MMG terá sido apenas o preço a pagar pela Prisa para JEM fazer da TVI uma estação de televisão de sucesso.

Era assim tão mau o “timing”? Bom, em termos de gestão já concluímos que não. Pelo contrário, era algo que urgia e o tempo de decisão terá sido o correcto. E em termos políticos? Em primeiro lugar, face à urgência de resolução do problema principal, estes terão sido, talvez, conscientemente desvalorizados, considerados como um mal menor e sem influência decisiva naquele que terá sido definido como o principal objectivo do grupo em função dos compromissos financeiros assumidos e da estratégia empresarial definida. Em segundo lugar, ganhando o PS as eleições, provar-se-ia que o afastamento de JEM/MMG não teria sido assim tão gravoso para o partido, e uma vez ambos fora de cena nada poderia obstar então a um bom relacionamento entre a Prisa/Media Capital e um futuro governo dirigido por José Sócrates. E ganhando o PSD as eleições? A Prisa poderia sempre invocar que teria tido nessa vitória uma significativa quota-parte de responsabilidade, não existindo assim qualquer razão para um mau relacionamento ou estabelecimento de qualquer mal-estar entre esta e um futuro governo Ferreira Leite.

Raciocínio rebuscado, este? Francamente não me parece... Estando de fora e sem acesso a qualquer informação privilegiada, até me parece que fará, senão todo, pelo menos algum sentido. “Vale”?

"For sentimental reasons" - original Doo Wop classics (2)

The Dubs - "Could This Be Magic"

segunda-feira, setembro 07, 2009

A sondagem da Aximage

Comparando as duas últimas sondagens da Aximage, confirma-se aquilo que por aqui já tinha afirmado: parece clara uma certa estabilidade do voto à esquerda (PS + PCP + “Bloco de Esquerda”= 52, 7% contra 53.3%) e à direita (PSD + CDS= 37% contra 36.4%). A decisão das eleições, aparentemente, estará na distribuição dos votos entre os partidos de cada uma destas duas áreas e é isso que explica que o PS apareça agora como vencedor (34.5% vs 30.5% quando o BE desce de 13.3% para 10.4% e o PCP de 9.5% para 7.8%) e o PSD como vencido: 28.9% vs 30.3% quando o CDS sobe de 6.1% para 8.1%. Irá funcionar o voto útil?

Grindhouse Effect (7)

domingo, setembro 06, 2009

"Inglourious Basterds"

"Inglourious Basterds" - soundtrack
Já li que terá muito de “Dirty Dozen” e “Kelly’s Heroes". É talvez uma primeira conclusão mais apressada, pouco ou nada para além da superfície. Mas eu acho nem tanto assim ou muito mais do que tal (seria tão pouco...), para além de uma ou outra aparência. Tem, isso sim, muito mais de... Major Alvega (Battler Briton). Até uma cena que parece retirada de “Allo, Allo”. Para não falar de "western spaghetti" - esta última, semelhança que toda a gente já referiu. E uma piscadela de olho a “Apocalypse Now”, pois claro, naquela cena dos escalpes e na marginalidade do tenente Aldo Reiner. E também a “Pulp Fiction”, naquelas conversas intermináveis do espantoso coronel SS antes de apanhar a sua vítima. E... e...

Para além disso, que dizer daquele sentimento dúbio, de sedução, fascínio e repelência (nosso e de uma Shosanna que se metamorfoseia numa Danielle Darrieux), perante o cinema de Riefenstahl? (“Die weiße Hölle vom Piz Palü”).

Tratando-se de Tarantino seria redundante dizer que é uma homenagem ao cinema. É que é ele próprio cinema: fiel às suas raízes, aos seus ícones, à sua História. Àqueles, cinéfilos, que nele moldaram a sua personalidade.

João Vieira (1934-2009)

sábado, setembro 05, 2009

O Dinamarca-Portugal e o erro-base de Queiroz

Com Liedson a selecção portuguesa ganhou finalmente um ponta-de-lança capaz de integrar e compreender com facilidade os seus princípios de jogo, de bola de pé para pé, num futebol apoiado de trocas rápidas de bola, privilegiando os desequilíbrios conseguidos no “um para um” ou nas desmarcações em pequenos espaços de terreno.

Para melhor integrar o jogador, Queiroz adoptou um sistema de jogo (4x4x2) que servisse de suporte a um modelo mais baseado na posse e circulação de bola, efectuada mais à frente, permitindo, desse modo, também ganhar mais vezes a bola no meio–campo adversário e assim criando com mais facilidade desequilíbrios no ataque, ao mesmo tempo que evita as cavalgadas contrárias no meio–campo português, responsáveis por algumas das derrotas dos últimos anos. Claro, last but not least, permitindo que Liedson tivesse companhia no ataque, como mais gosta de jogar.

Estranhamente, acabou por deixar Liedson no banco durante a 1ª parte, quando a equipa ainda mantinha o equilíbrio emocional (já agora: porque o perde com tanta facilidade?) que lhe permitia jogar de acordo com esses princípios. É nesse seu erro de base que Carlos Queiroz deve procurar a principal razão para o insucesso da equipa.
Nota: Bruno Alves que reveja com atenção a sua movimentação(?) no golo dinamarquês. Talvez assim compreenda porque continua no FCP.