quarta-feira, setembro 30, 2009

Cavaco Silva: pura e simples inépcia política

Penso, repenso, torno a pensar e, sendo um cidadão comum dotado, ao que também penso, de mediana inteligência, não percebo o que pretende Cavaco Silva. Forçar uma solução governativa que não passe pelo PS e entregue o poder a uma coligação PSD/CDS? Não vejo como: no seu conjunto, terão apenas mais três ou quatro lugares do que o PS e não têm a capacidade de, ao contrário deste último, agir como partido-charneira, procurando apoios ora à esquerda, ora à direita. Um governo de iniciativa presidencial com um primeiro-ministro da sua confiança e com o apoio de PS e PSD? Com a declaração de guerra de ontem só torna tal coisa ainda mais remota, até porque não será nos críticos internos de José Sócrates – a chamada "esquerda do PS" – que encontrará apoios para concretizar tal objectivo. Mas ainda, com a declaração de ontem, transformou um derrotado de domingo (Manuel Alegre) em vencedor dois dias depois. Pode ser que algo me escape, mas também não estou a ver o simpático general Carlos Reis (conheci-o nos meus tempos do serviço militar obrigatório, era eu alferes miliciano e ele tenente do “quadro”) a marchar sobre o Terreiro do Paço à frente de um punhado de generais reformados, hipoteticamente comandados pelo meu prezado consócio benfiquista Almeida Bruno. Então o que moverá Cavaco Silva?

Pura e simplesmente, nada! Ou melhor, uma total inépcia e incapacidade políticas, já bem demonstradas no tempo em que foi, mais do que primeiro-ministro, CEO de um governo/empresa de construção distribuidores (demasiadas vezes mal) de fundos estruturais e em que a maioria das reformas ficaram, já não digo por fazer, mas até por pensar; pelas más companhias que demasiadas vezes escolhe e pelo modo como resolve tais assuntos (e saber-se “rodear” é das primeiras qualidades de um político, sempre ouvi dizer); pelo modo, no mínimo estranho e desajustado, como geriu um caso em que lhe assistia razão (o estatuto dos Açores); pelo seu comportamento enviesado na visita à Madeira e pelo modo totalmente canhestro, indigno, como geriu o actual caso das alegadas escutas, deixando a um partido político (PS) a possibilidade de se assumir como garante da estabilidade e do normal funcionamento das instituições - benesse que, diga-se desde já, o PS, logo na comunicação de Silva Pereira, fez questão de aproveitar. Apenas incapacidade política de alguém que sempre se quis afirmar como um não-político.

Aliás, se este caso algo vem também demonstrar isso será por certo o desajustamento aos tempos actuais - da democracia mediática, de sociedades cada vez mais abertas e devassáveis, da internet 2.0, etc - daqueles que chegam à vida política pelo lado da tecnocracia, de um certo distanciamento e “nojo” para com essa política, pelo lado do “sacrifício”, como sempre foi, desde o início, desde a “rodagem do Citroën”, o caso de Aníbal Cavaco Silva, alguém a quem a política “pura e dura” sempre incomodou, nunca a tendo sabido gerir e sempre com ela tendo tido dificuldade em lidar. Todo este conceito de fazer política também terá levado ontem enorme machadada (felizmente, acrescento).

Resumindo: a inépcia de Cavaco Silva meteu-o num imbróglio e meteu-nos também num sarilho. Entregou a José Sócrates o bastão da defesa da estabilidade e do normal funcionamento das instituições. Fez os eleitores e fazedores de opinião (com excepção de Nuno Rogeiro, Maria João Avillez e respectivos reflexos no “povo da SIC”) perderem-lhe o respeito. Agora, provavelmente, não saberá o que fazer, como nunca soube o que fazer com o cargo que ocupa. Não sei que adjectivo usar; e se for "nada"?!...

6 comentários:

Anónimo disse...

Este ACS fez-me lembrar ontem o Carlos Queirós.

Por que será ?

JC disse...

A analogia não deixa de ser interessante... Mas ACS é Presidente da República, pequeno pormenor que lhe confere a máxima responsabilidade.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Pode ou não o PM convidar outro partido a constituir Governo? Sem outras eleições?
Esclarecim,ento que solicito,
Obrigado
JG

Anónimo disse...

""...Agora, provavelmente, não saberá o que fazer, como nunca soube o que fazer com o cargo que ocupa. Não sei que adjectivo usar; e se for "nada"?!...""
Muito bom este seu comentário. Começa bem e termina melhor.
Saudações benfiquistas.
JJ Grade

Anónimo disse...

Não é obrigatório convidar o líder do partido vencedor

Pode ser independente (tivemos o exemplo de Mª Lourdes Pintasilgo e não só) ou ser de outro partido

Mas se ACS convidasse PSD + CDS o governo ainda seria mais precário pois motivaria a união da Esquerda e provavelmente morreria à nascença

JC disse...

Melhor do que qualquer explicação minha, remeto-o para a constituição da República, art. 187:"O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais."
É suficientemente vago, mas nunca qualquer PR procedeu de outra forma, mormente depois da revisão de 82. depois do que se passou, não sacredito ACS proceda de outro modo. De qualquer forma, como digo no meu texto, PSD+CDS apenas terão mais 3 ou 4 deputados, nunca poderão funcionar como partidos-charneira e teriam contra, no caso vertente, BE, PCP e PS, uma clara maioria.
E saudações benfiquistas ao leitor JJ Grade, pois claro...