Ora vamos lá tentar abafar o ruído, remasterizar os escritos, resguardarmo-nos do ar do tempo e, assim, tentar uma análise mais aprofundada e, tanto quanto possível, distanciada do assunto do momento.
Tenho escutado e lido em “blogues”, jornais, rádios e etc, que José Pacheco Pereira terá razão e Cavaco Silva deveria pronunciar-se sobre o caso das escutas antes das eleições ou, até, como tenho ouvido frequentemente, vir a terreiro esclarecer o assunto. Um dos habituais leitores deste "blogue", normalmente de opinião sensata, deixou até por aqui um comentário exactamente nesse mesmo sentido. Pois vamos lá ver...
JPP não é isento, nem neutro (ninguém o é...). É militante do PSD, candidato a deputado, foi um dos responsáveis pela eleição de Ferreira Leite como presidente do partido e é, neste momento, o seu principal ideólogo. Nos últimos tempos, tem-se mesmo distinguido como um dos principais propagandistas do partido e da candidatura, mormente no que refere o lançamento e tratamento do tema da parcialidade e enviesamento do conteúdo “media”, assunto que estará na base da tão propalada teoria da “asfixia democrática”.
Se repararmos no que JPP escreve no seu “Abrupto”, nada é inócuo. O que se depreende desse seu pequeno texto, lançando a suspeição de que o PR terá na sua posse elementos de extrema gravidade, é que tendo Cavaco Silva interferido, de facto, na campanha eleitoral em favor do PS, com a demissão de Fernando Lima (é indiscutível que esta acção favorece o PS), o deve fazer agora num outro sentido, favorecendo o PSD através da apresentação desses hipotéticos elementos. Não pede, portanto, JPP que o PR esclareça, mas sim que intervenha num determinado sentido por si sugerido, o que os seus "posts" posteriores se limitam a confirmar. Sim, eu sei que nos últimos tempos tenho andado muito irritado com JPP, apenas porque me custa ver alguém de superior inteligência e cultura esbanjar talento como propagandista barato (por exemplo, e em contraponto, Augusto Santos Silva nem sequer me irrita: ignoro-o), mas não me parece isso tenha obliterado completamente a minha capacidade de raciocínio e a dose necessária e suficiente de lucidez.
Arrumada a questão JPP, analisemos agora os pedidos de esclarecimento, por tanta gente solicitados.
Cavaco Silva também não é neutral: é parte interessada, pois o problema partiu da Presidência da República, através da actuação de um seu assessor e homem de confiança desde há mais de duas décadas, e o facto de ser Presidente da República, por si só e neste caso específico, não lhe confere qualquer estatuto de isenção ou neutralidade. Significa isto estar a lançar alguma suspeição sobre o carácter de Cavaco Silva ou sobre a sua honestidade e integridade? De modo nenhum: constato apenas o facto de ele não estar colocado numa posição de neutralidade, tendo por isso qualquer seu esclarecimento um valor muito relativo. Pura e simplesmente, trata-se de uma questão de facto. Por exemplo, o facto de José Sócrates se ter declarado inocente no “caso” Freeport não significa que o seja, cabendo aos tribunais, se for caso disso, apurar a verdade. Idem no caso Dias Loureiro/Oliveira Costa/BPN. A palavra do PR vale, portanto, o que vale, num caso em que é “parte” interessada. Peço imensa desculpa, mas o PR, qualquer que ele seja, não é por inerência do cargo senhor de toda a verdade. Ninguém o é, muito menos quando pode ser beneficiado ou penalizado pelo que afirmar.
Tendo dito isto, deve ou não Cavaco Silva falar antes das eleições? Quanto a mim, esta decisão deverá sempre passar por: mas para dizer o quê?, dependendo a resposta, o “sim” ou o “não”, daquilo que terá para afirmar. Tem provas inequívocas (repito: inequívocas) de que ele ou os serviços da Presidência terão sido escutados e por quem? Nesse caso, o assunto será suficientemente grave para que os portugueses o conheçam e o tenham em consideração quando da sua escolha no próximo dia 27. Deveria mesmo ter agido em devido tempo através dos poderes que a constituição lhe confere e os meios de que dispõe. Não está na posse dessas provas e vem levantar mais dúvidas, lançar suspeições, baralhar e tornar a dar, compensar um erro (o ter demitido Fernando Lima em plena campanha eleitoral) com outro erro, etc, etc? Então, se faz favor, poupe-nos, e à instituição que representa, a mais uma vergonha. Tal como disse Otelo a Vasco Gonçalves: “pense, leia, medite”. Acrescento: deixe passar algum tempo e tente arranjar uma saída o mais airosa possível para o imbróglio em que se meteu (ou o meteram). É que, provado está, e até agora ninguém o desmentiu, o seu assessor Fernando Lima, homem de confiança de muitos anos, conspirou contra o governo legítimo do país (nada importa se bom se mau) com a conivência de um jornal simpatizante. Se o fez com ou sem o consentimento do PR, não se sabe, por isso assume-se a inocência deste. Mas, ao não ter morto, em devido tempo, a serpente no ovo, Cavaco Silva foi demasiado tempo conivente, quanto mais não seja por omissão. Para além disso, prova-se mais uma vez (não é de agora), escolhe mal os colaboradores e, na sua actuação política, comete demasiados erros. Tem cometido mesmo muitos erros, alguns de principiante. Em qualquer país civilizado, muito especialmente naquela referência da democracia que dá pelo nome de USA, tudo isto, por si só, já seria demasiado grave. Num país como Portugal, com escassa capacidade para se regenerar, a si próprio e às instituições, pode mesmo provocar um cataclismo.
Tenho escutado e lido em “blogues”, jornais, rádios e etc, que José Pacheco Pereira terá razão e Cavaco Silva deveria pronunciar-se sobre o caso das escutas antes das eleições ou, até, como tenho ouvido frequentemente, vir a terreiro esclarecer o assunto. Um dos habituais leitores deste "blogue", normalmente de opinião sensata, deixou até por aqui um comentário exactamente nesse mesmo sentido. Pois vamos lá ver...
JPP não é isento, nem neutro (ninguém o é...). É militante do PSD, candidato a deputado, foi um dos responsáveis pela eleição de Ferreira Leite como presidente do partido e é, neste momento, o seu principal ideólogo. Nos últimos tempos, tem-se mesmo distinguido como um dos principais propagandistas do partido e da candidatura, mormente no que refere o lançamento e tratamento do tema da parcialidade e enviesamento do conteúdo “media”, assunto que estará na base da tão propalada teoria da “asfixia democrática”.
Se repararmos no que JPP escreve no seu “Abrupto”, nada é inócuo. O que se depreende desse seu pequeno texto, lançando a suspeição de que o PR terá na sua posse elementos de extrema gravidade, é que tendo Cavaco Silva interferido, de facto, na campanha eleitoral em favor do PS, com a demissão de Fernando Lima (é indiscutível que esta acção favorece o PS), o deve fazer agora num outro sentido, favorecendo o PSD através da apresentação desses hipotéticos elementos. Não pede, portanto, JPP que o PR esclareça, mas sim que intervenha num determinado sentido por si sugerido, o que os seus "posts" posteriores se limitam a confirmar. Sim, eu sei que nos últimos tempos tenho andado muito irritado com JPP, apenas porque me custa ver alguém de superior inteligência e cultura esbanjar talento como propagandista barato (por exemplo, e em contraponto, Augusto Santos Silva nem sequer me irrita: ignoro-o), mas não me parece isso tenha obliterado completamente a minha capacidade de raciocínio e a dose necessária e suficiente de lucidez.
Arrumada a questão JPP, analisemos agora os pedidos de esclarecimento, por tanta gente solicitados.
Cavaco Silva também não é neutral: é parte interessada, pois o problema partiu da Presidência da República, através da actuação de um seu assessor e homem de confiança desde há mais de duas décadas, e o facto de ser Presidente da República, por si só e neste caso específico, não lhe confere qualquer estatuto de isenção ou neutralidade. Significa isto estar a lançar alguma suspeição sobre o carácter de Cavaco Silva ou sobre a sua honestidade e integridade? De modo nenhum: constato apenas o facto de ele não estar colocado numa posição de neutralidade, tendo por isso qualquer seu esclarecimento um valor muito relativo. Pura e simplesmente, trata-se de uma questão de facto. Por exemplo, o facto de José Sócrates se ter declarado inocente no “caso” Freeport não significa que o seja, cabendo aos tribunais, se for caso disso, apurar a verdade. Idem no caso Dias Loureiro/Oliveira Costa/BPN. A palavra do PR vale, portanto, o que vale, num caso em que é “parte” interessada. Peço imensa desculpa, mas o PR, qualquer que ele seja, não é por inerência do cargo senhor de toda a verdade. Ninguém o é, muito menos quando pode ser beneficiado ou penalizado pelo que afirmar.
Tendo dito isto, deve ou não Cavaco Silva falar antes das eleições? Quanto a mim, esta decisão deverá sempre passar por: mas para dizer o quê?, dependendo a resposta, o “sim” ou o “não”, daquilo que terá para afirmar. Tem provas inequívocas (repito: inequívocas) de que ele ou os serviços da Presidência terão sido escutados e por quem? Nesse caso, o assunto será suficientemente grave para que os portugueses o conheçam e o tenham em consideração quando da sua escolha no próximo dia 27. Deveria mesmo ter agido em devido tempo através dos poderes que a constituição lhe confere e os meios de que dispõe. Não está na posse dessas provas e vem levantar mais dúvidas, lançar suspeições, baralhar e tornar a dar, compensar um erro (o ter demitido Fernando Lima em plena campanha eleitoral) com outro erro, etc, etc? Então, se faz favor, poupe-nos, e à instituição que representa, a mais uma vergonha. Tal como disse Otelo a Vasco Gonçalves: “pense, leia, medite”. Acrescento: deixe passar algum tempo e tente arranjar uma saída o mais airosa possível para o imbróglio em que se meteu (ou o meteram). É que, provado está, e até agora ninguém o desmentiu, o seu assessor Fernando Lima, homem de confiança de muitos anos, conspirou contra o governo legítimo do país (nada importa se bom se mau) com a conivência de um jornal simpatizante. Se o fez com ou sem o consentimento do PR, não se sabe, por isso assume-se a inocência deste. Mas, ao não ter morto, em devido tempo, a serpente no ovo, Cavaco Silva foi demasiado tempo conivente, quanto mais não seja por omissão. Para além disso, prova-se mais uma vez (não é de agora), escolhe mal os colaboradores e, na sua actuação política, comete demasiados erros. Tem cometido mesmo muitos erros, alguns de principiante. Em qualquer país civilizado, muito especialmente naquela referência da democracia que dá pelo nome de USA, tudo isto, por si só, já seria demasiado grave. Num país como Portugal, com escassa capacidade para se regenerar, a si próprio e às instituições, pode mesmo provocar um cataclismo.
4 comentários:
Meu caro,
Considero a sua análise interessante, pese embora ter uma opinião diferente da sua. Gostaria em primeiro lugar que me acompanhasse num exercicio de separar as águas, desligando-se da questão relativa a quem o PR queria beneficiar, a quem beneficia a demissão de FL e a quem beneficiaria o romper de mais um tabu. A questão é bem mais grave do que isso. Trata-se de saber se fomos enganados, como e por quem. Trata-se de saber a verdade. Se dela tirarmos conclusões, isso já serão outros quinhentos.
Não me interessa pois saber qual o partido que beneficia disto ou daquilo, ou se PP é assim ou assado. Interessa-me é saber agora e sobretudo depois da demissão de FL, o que se passou. A verdade dos factos. Como português, sinto que estou a ser usado e isso para mim, é intoleravel. Exije-se pois uma explicação imediata do PR. E, se no fim, se chegar á conclusão que não havia nada para dizer e que foi "baralhar e tornar a dar". os cidadãos que não são burros, saberão concerteza perceber em quem podem confiar ou não.
De acordo quanto a saber se estamos ou não a ser usados. Mas se o PR não tem provas inequívocas s/ as escutas, mais vale falar depois das eleições em vez de vir agora emendar um erro c/ outro erro, lançando mais gasolina para a fogueira das suspeições.
cumprimentos
Não concordo nada consigo. Quer saber porquê? Então siga o raciocínio. Se o PR tem provas inequívocas s/ as escutas, tanto melhor: fica tudo esclarecido, temos PR e haverá oportunidade, para muitos, de corrigir o tiro à boca das urnas. Se não tem (tal como você e eu suspeitamos), tanto melhor também: ficamos a saber quem ele é e se o PSD sair penalizado, paciência... Pôs-se a jeito... e não há remorsos...
Como se escreve bem em El País "La opinión mayoritaria es que el presidente tardó en reaccionar y debe una explicación al país, porque ahora las sospechas recaen sobre el jefe del Estado."
Portanto o Sr ACS tem que falar e quanto antes!
Francamente, acho difícil de contestar o meu raciocínio...
Eu tb gostava de saber a verdade, caro Rui, e acho ACS deveria ter falado logo em Agosto. Agora, ou tem provas inequívocas ou só vem lançar mais confusão e desprestigiar ainda mais o cargo. Além de que, deixe-me ser cínico, se a coisa mete serviços secretos e espionagem política, só nos filmes se apura mesmo a verdade. e nem em todos...
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