terça-feira, setembro 08, 2009

Onde se tenta demonstrar que o "timing" escolhido para o afastamento de MMG terá sido o correcto e as consequências políticas devidamente avaliadas

Confesso-me espantado quando leio que a Prisa/Media Capital, na sua ânsia de agradar ao PS e ao governo, teria acabado por escolher um “timing” incorrecto para o fazer, como se ambas as administrações fossem compostas por adolescentes inexperientes ou gestores politicamente virgens. Não o são, claro: compõem-nas pessoas altamente competentes e experimentadas, tanto nos negócios como na política (Cébrian foi durante muito tempo íntimo do PSOE), que não podem dar-se, e não se dão, a devaneios deste género. A questão é bem outra.

Pondo de parte as várias teorias da conspiração que sempre aparecem (bom, mas as bruxas...), o que pode explicar uma tal decisão? A gestão e a tecnocracia “pura e dura”? Sim, mas talvez não só. Vejamos...

Do lado da gestão sabemos que a Prisa terá assumido pesados compromissos financeiros em função de um empréstimo de 1.950 milhões concedido em Maio deste ano e que se vencerá em Março de 2010. Sabemos também que necessita de uma injecção de capital na ordem dos 300 milhões até Outubro e que pretende vender alguns dos seus activos. Ponto. Nada de muito surpreendente, portanto, que a administração pretenda sanear rapidamente a empresa, terminando um programa, que, apesar das audiências, poderia contribuir para “desvalorizar” o seu activo TVI no mercado, assim tornando a sua venda menos atractiva. A dupla Moniz/MMG, em termos de venda desse activo e do tradicional perfil da Prisa em termos de informação, fazia claramente mais parte do problema do que da solução. MMG terá sido apenas o preço a pagar pela Prisa para JEM fazer da TVI uma estação de televisão de sucesso.

Era assim tão mau o “timing”? Bom, em termos de gestão já concluímos que não. Pelo contrário, era algo que urgia e o tempo de decisão terá sido o correcto. E em termos políticos? Em primeiro lugar, face à urgência de resolução do problema principal, estes terão sido, talvez, conscientemente desvalorizados, considerados como um mal menor e sem influência decisiva naquele que terá sido definido como o principal objectivo do grupo em função dos compromissos financeiros assumidos e da estratégia empresarial definida. Em segundo lugar, ganhando o PS as eleições, provar-se-ia que o afastamento de JEM/MMG não teria sido assim tão gravoso para o partido, e uma vez ambos fora de cena nada poderia obstar então a um bom relacionamento entre a Prisa/Media Capital e um futuro governo dirigido por José Sócrates. E ganhando o PSD as eleições? A Prisa poderia sempre invocar que teria tido nessa vitória uma significativa quota-parte de responsabilidade, não existindo assim qualquer razão para um mau relacionamento ou estabelecimento de qualquer mal-estar entre esta e um futuro governo Ferreira Leite.

Raciocínio rebuscado, este? Francamente não me parece... Estando de fora e sem acesso a qualquer informação privilegiada, até me parece que fará, senão todo, pelo menos algum sentido. “Vale”?

3 comentários:

Anónimo disse...

cinismo por cinismo (ou realismo, para quem for mais sensível) até me parece mais simples aceitar que os custos do afastamento da MMG foram pura e simplesmente considerados baratos por parte do arco PS - PRISA face ao potencial problema de ter em plena campanha eleitoral a MMG a lançar bombas todas as semanas, que mesmo que fossem disparates ou meias verdades (que são sempre pelo menos meias mentiras) iriam centrar permanentemente o tema das discussões e tornar-se num incómodo crescente na altura menos conveniente...
carlos

JC disse...

Caro anónimo: 2 notas.
1. Não me parece ainda se possa falar de arco Prisa-PS. o fastamento do grupo Prisa do PSOE é, desde há uns tempos, uma realidade. Logo...
2. Penso que MMG foi perdendo a credibilidade e, hoje em dia, já só falará para os fiéis. Conheço mtªa gente (à esqª e à dirtª) que não votará PS e que já não lhe dava, ou nunca deu, qualquer credibilide. Aliás, o próprio ruído da campanha eleitoral iria acabar por abafar o ruído de MMG a não ser que esta pusesse no ar algumas notícias efectivamente credíveis e graves para José Sócrates e para o PS. E estas, se as tivesse, já as tinha posto no ar.
Esta é a minha opinião, mas... vale o que vale.Infelizmente, vamos chegar ás eleições sem nada de concreto neste caso, o que é pena.

JC disse...

"credibilidade" e não "credibilide". As minhas desculpas.