terça-feira, setembro 15, 2009

"Gato Fedorento": um José Sócrates sem "panache"

Confesso vi os “Gato Fedorento” á “vol d’oiseau”, e mesmo assim só na parte reservada a José Sócrates: uma final de Flushing Meadows não há todos os dias e programas do “Gato Fedorento”, mesmo com o primeiro-ministro, bem podem esperar. Devo dizer, no entanto - e do que vi -, achei deprimente a participação de José Sócrates. Esteve correcto, não cometeu “gaffes”? Mas a um político profissional, com o traquejo do actual primeiro-ministro, só se poderia exigir como serviços mínimos que estivesse correcto e não escorregasse - e para “gaffeuse” já nos basta Ferreira Leite. Fasquia muito baixa, portanto.

E que poderia eu então exigir a José Sócrates? Bom, algum sentido de humor, uma dose certa de ironia, um mínimo de "panache", até talvez mesmo, aqui e ali, conseguisse chegar a ser um pouco cáustico. No fundo, que não estivesse tanto na defensiva; que, sem perder pose de estado, percebesse que estava num programa de humor – onde era um dos participantes – e não, qual "Vasquinho da anatomia", sujeito a um qualquer exame oral do qual, se tudo decorresse com normalidade e se portasse como vem nos livros, sairia com um suspiro de alívio e a estafada frase “vamos embora Bobby que já enganámos mais estes...”

Por exemplo - e para entrar nos casos concretos que ajudarão e entender o que digo - que tivesse tido o à vontade e grandeza de espirito suficientes para entrar no jogo quando Ricardo Araújo Pereira lhe pediu uma “cunha” para conseguir lugar para o carro. Aí, por exemplo, José Sócrates deveria ter aproveitado a "deixa" para brincar com a situação e as analogias a que se prestava, inclusivamente, fazendo em directo, e em tom de brincadeira, o pedido a Clara de Sousa, talvez mesmo usando de algum “charme” e fazendo reverter, com ironia e algum "non-sense", a situação a seu favor. No fundo, pedia-se a José Sócrates aquilo que ele e a maioria da sua geração de políticos não tem: uma certa concepção aristocrática do mundo e da política que não se adquire nas “jotas” mas vem do “berço”, do mundo, da cultura e da vida. Que o diga Mário Soares, não é assim?

É que o ar “à vontade” e descontraído não é só dado (muito longe disso!) por um “dress code” informal e uma pequena anedota ensaiada sobre Berlusconi. Há, muito para além disso, o “saber estar” em qualquer situação. José Sócrates não sabe (não soube), e quando o quer fazer soa a falso. Não terá talvez perdido votos, mas, sem que desse por isso e até pensando o contrário, também não terá ganho foros de estadista.

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