"O Bairro da CUF" - documentário da autoria de Isabel Teixeira e Rui Durão da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha.
A propósito da morte do empresário José Manuel de Mello, deixo aqui, em repetição, um "post" e um vídeo publicados a 14 de Outubro de 2008 neste "blogue", tentando, entre os elogios de alguns e os insultos de outros, visíveis nas caixas de comentários de alguns jornais "on-line", mostrar que, felizmente, o mundo (e Portugal) não é - nem era - a preto e branco.
"A RTP exibiu há um par de semanas um excelente documentário sobre a CUF (que, penso, passou um pouco esquecido), o que significa também uma igualmente excelente visão sobre uma realidade incontornável do século XX português e, que me lembre, sobre o único dos grandes grupos económicos, do período anterior ao 25 de Abril, que nasceu e cresceu ancorado numa base eminentemente industrial e muito em função das necessidades de crescimento e consolidação dessa sua base, mesmo tendo-se estendido rapidamente à banca, seguros, navegação, etc. A CUF correspondia a um modelo daquilo que Alvin Toffler denominava de "segunda vaga industrial", característico da primeira metade do século XX. Foi um conglomerado de empresas que cresceu e se desenvolveu com a ditadura, o corporativismo e o “condicionamento industrial”, e que o final destes – com a liberdade empresarial e a abertura de mercados - veio a pôr em causa, por muito que as nacionalizações e o período conturbado pós 25 de Abril possam também ter dado - e deram - o seu contributo, em minha opinião não mais do que um acelerador conjuntural e acessório. À CUF e ao modelo empresarial que consubstanciava está também ligada uma parte da história do Barreiro e do PCP (este era a outra face de uma mesma moeda), das lutas operárias do Portugal do século passado, da oposição democrática e das eleições de 1958. Por isso mesmo, muito mais do que uma empresa ou um grupo económico, a CUF foi, mais do que qualquer outro ou de qualquer outra coisa, um modo de vida que cresceu, teve o seu apogeu e declínio e depois morreu, deixando em muitos a saudade do tempo de uma vida cheia. Morreu como morreram a Marinha Grande, a cintura industrial de Lisboa - quer a de Belém/Alcântara/Marvila quer a posterior de Venda Nova a Vila Franca - como desapareceu o proletariado agrícola do Couço ou de Albernoa, as operárias conserveiras de Olhão. Mas com uma diferença: a CUF, com os seus bairros operários, a sua despensa, as colónias de férias, as escolas e hospitais, o desporto, a formação de operários e quadros, mas também a repressão e as lutas, deixou por certo uma saudade que não é só memória da juventude perdida: é que era mesmo o fulcro de toda uma vida. Dizê-lo é a melhor forma de homenagear todos aqueles que a fizeram: fundadores, accionistas, dirigentes e trabalhadores.
O “Gato Maltês” foi descobrir no "You Tube" este pequeno e excelente documento (trabalho final de curso) realizado por Isabel Teixeira e Rui Durão, alunos da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, sobre “O Bairro da CUF”, que ilustra bem o que acima digo. Com a devida vénia o apresento."
"A RTP exibiu há um par de semanas um excelente documentário sobre a CUF (que, penso, passou um pouco esquecido), o que significa também uma igualmente excelente visão sobre uma realidade incontornável do século XX português e, que me lembre, sobre o único dos grandes grupos económicos, do período anterior ao 25 de Abril, que nasceu e cresceu ancorado numa base eminentemente industrial e muito em função das necessidades de crescimento e consolidação dessa sua base, mesmo tendo-se estendido rapidamente à banca, seguros, navegação, etc. A CUF correspondia a um modelo daquilo que Alvin Toffler denominava de "segunda vaga industrial", característico da primeira metade do século XX. Foi um conglomerado de empresas que cresceu e se desenvolveu com a ditadura, o corporativismo e o “condicionamento industrial”, e que o final destes – com a liberdade empresarial e a abertura de mercados - veio a pôr em causa, por muito que as nacionalizações e o período conturbado pós 25 de Abril possam também ter dado - e deram - o seu contributo, em minha opinião não mais do que um acelerador conjuntural e acessório. À CUF e ao modelo empresarial que consubstanciava está também ligada uma parte da história do Barreiro e do PCP (este era a outra face de uma mesma moeda), das lutas operárias do Portugal do século passado, da oposição democrática e das eleições de 1958. Por isso mesmo, muito mais do que uma empresa ou um grupo económico, a CUF foi, mais do que qualquer outro ou de qualquer outra coisa, um modo de vida que cresceu, teve o seu apogeu e declínio e depois morreu, deixando em muitos a saudade do tempo de uma vida cheia. Morreu como morreram a Marinha Grande, a cintura industrial de Lisboa - quer a de Belém/Alcântara/Marvila quer a posterior de Venda Nova a Vila Franca - como desapareceu o proletariado agrícola do Couço ou de Albernoa, as operárias conserveiras de Olhão. Mas com uma diferença: a CUF, com os seus bairros operários, a sua despensa, as colónias de férias, as escolas e hospitais, o desporto, a formação de operários e quadros, mas também a repressão e as lutas, deixou por certo uma saudade que não é só memória da juventude perdida: é que era mesmo o fulcro de toda uma vida. Dizê-lo é a melhor forma de homenagear todos aqueles que a fizeram: fundadores, accionistas, dirigentes e trabalhadores.
O “Gato Maltês” foi descobrir no "You Tube" este pequeno e excelente documento (trabalho final de curso) realizado por Isabel Teixeira e Rui Durão, alunos da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, sobre “O Bairro da CUF”, que ilustra bem o que acima digo. Com a devida vénia o apresento."
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