Que posso eu, cidadão que não é técnico de sondagens ou estudos de mercado (uma sondagem mais não do que um estudo do mercado eleitoral) mas que toda a vida aprendeu a lê-los, interpretá-los e a neles basear decisões estratégicas na sua profissão, dizer de relevante sobre o último “barómetro” Marktest?
- Bom, em primeiro lugar que penso para alguns (muitos ou poucos, não sei) cidadãos interrogados, as sondagens tenderão a ser um pouco como as eleições europeias: permitem-lhes expressar o que vai na alma sem que isso tenha grandes (neste caso, nenhumas) consequências. Por não existirem essas tais consequências, também alguns eleitores tenderão a definir o seu sentido de voto mais baseados em questões de natureza conjuntural ou nas suas antipatias ou embirrações pessoais de momento (como um castigo) do que em função dos seus desejos de escolha efectiva de um determinado governo para o país, isto é, baseados em questões de ordem eminentemente estrutural. Este é o primeiro cuidado a ter na análise destes resultados.
- Em segundo lugar, nota-se uma clara opção por declarar que se vota nos partidos que se reconhecem como vencedores, que estão, digamos assim, na “mó de cima”: PSD, que ganhou as “europeias”, e “Bloco de Esquerda”, que foi o outro vencedor conseguindo mais dois deputados quando o país perdeu igual número de mandatos. Se as urnas confirmarão tal coisa é algo que só a eleição efectiva dirá. Mas... segunda precaução a tomar, porque na privacidade da cabina de voto, quando o eleitor apenas se confronta com a sua própria consciência, esta motivação perde algum do seu valor.
- A soma das percentagens de votação nos partidos da direita (PSD e CDS) não é muito diferente da verificada nas europeias, o que pode indiciar alguma estabilidade no voto nesta área política. Apenas indiciar, entenda-se! Se levarmos em linha de conta a tradicional sub-avaliação do voto no CDS, e caso o fenómeno venha a repetir-se nas próximas legislativas (repito: se isso tornar a acontecer, o que está longe de ser um dado adquirido), isto pode significar que em eleições efectivas a percentagem de votantes no PSD pode descer para níveis inferiores aos do PS, já que a diferença entre ambos é no “barómetro inferior a 2% (1.3%). Isto significa que o “balanço” (distribuição) de votos à direita entre PSD e CDS pode decidir o vencedor das eleições e o primeiro-ministro e governo de Portugal.
- Existe uma boa hipótese do vencedor das eleições se vir a decidir na distribuição de votos entre o PSD e o CDS, por um lado, e o PS e o “Bloco”, por outro, o que não poderá deixar de condicionar as estratégias eleitorais dos partidos do chamado “bloco central”.
- Fora isto, e talvez o mais importante, verifica-se claramente a existência de uma dinâmica de recuperação por parte do PSD, qual corredor de fundo na recta final que tenta chegar-se e ultrapassar um adversário liderante mas agora desgastado. Melhor do que ninguém (???), José Sócrates e o PS saberão como é difícil contrariar qualquer dinâmica deste tipo.
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