quinta-feira, junho 25, 2009

24 de junho: o "dies horribilis" de José Sócrates (3)

A Manuela Ferreira Leite não se lhe reconhecem grandes qualidades políticas e foi governante medíocre. Com a agravante de essa mediocridade ter ficado demonstrada em pastas (finanças e educação) onde este governo tem algumas reformas e sucessos para mostrar. Ao criticar as grandes obras públicas num sentido puramente contabilístico/financeiro e não político, isto é, não integrando nessa crítica questões como a competitividade do país e uma análise ao modelo de desenvolvimento que elas subentendem, continua a demonstrar essa sua menoridade política e, mais ainda, abre a porta a uma mudança de ideias quando, eventualmente no governo, for de opinião que as condicionantes financeiras se alteraram.

Tendo dito isto, considero que a sua actuação na entrevista de ontem na SIC, esteve perto do muito bom. Porquê? Porque reconhecendo estas suas fraquezas e também os pontos fortes e fracos do seu oponente eleitoral José Sócrates, soube retirar o foco da sua comunicação do terreno da política “pura e dura” e colocá-lo no campo que mais a favorece: a “honestidade”, os “princípios”, o “rigor”, a “verdade”, a “seriedade”, valores que os portugueses dificilmente reconhecerão, com ou sem razão pouco importa (lá está: “o que parece é”), no actual primeiro-ministro, mais identificado como um político com todos os vícios que os portugueses lhes atribuem. E, convenhamos, não só Manuela Ferreira Leite, ao contrário do que acontece com o seu percurso político, terá no seu trajecto pessoal o “supporting evidence” necessário para apoiar esta sua imagem, que evidencia e transpira autenticidade, como também sabemos que o povo português é normalmente sensível a este tipo de perfis. Sintoma do seu atraso, evidentemente, mas é o povo - que, ao contrário do que se diz, não é inteligente nem sábio - que numa democracia elege os seus governantes. E pouco importa se Ferreira Leite mostrou insuficiências aqui e ali, fez análises incorrectas acolá. Claro que fez. Mas numa entrevista longa de uma hora, pouco mais os eleitores apreendem do que uma ou duas ideias-força, ficando a “descodificação” a cargo dos comentadores com níveis de audiência inferiores e escuta normalmente reservada aos já iniciados.

José Sócrates terá visto a entrevista e os seus assessores com ela (a entrevista) devem ter dormido ontem. Para já, João Tiago Silveira mostrou insegurança na análise, não sei se por ser a sua estreia na ingrata missão de “porta-voz”. Mas a entrevista foi, seguramente, a terceira má notícia do dia para o primeiro-ministro. Curiosamente, todas elas na área mediática, terreno onde o PS e José Sócrates há muito perderam a iniciativa e a hegemonia que com o “caso” Prisa tentam agora reconquistar. Aos encontrões. Mau sinal; muito mau sinal...

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